A religião da opinião pública

Notas: Artigos Práticos sobre o Cristianismo – Art.VII. 1836

“Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus”João 12:43.

Estas palavras foram ditas com referência a certos indivíduos que recusaram que Jesus era o Cristo, porque era um extremo impopular entre os escribas e fariseus e gente principal de Jerusalém.

Há uma distinção clara entre o amor a si mesmo, ou seja, o simples desejo da felicidade, e o egoísmo. O amor a si mesmo, o desejo da felicidade e o temor da desgraça, é constitucional; é uma parte do marco mental dentro do qual Deus nos fez e é tal como se espera que sejamos; e podemos mover-nos nele dentro dos limites da lei de Deus, sem que seja pecaminoso. Sempre que nos permitimos algo contrário à lei de Deus, incorremos em pecado. Quando o desejo de felicidade e o temor a desgraça passam a ser o princípio que controla nossa vida, e preferimos nossa satisfação a outros interesses mais importantes, somos egoístas. Quando para evitar a dor ou procurar nossa felicidade sacrificamos outros interesses maiores, infringimos a lei maior da benevolência desinteressada, e já não se pode falar de amor a alguém, senão de egoísmo.

Descrevi em uma conferência anterior aos que professam religião que são movidos a executar sua atividade religiosa por esperança e temor. Eles são movidos por amor a si mesmos, e algumas vezes por egoísmo. Seu objetivo supremo não é glorificar a Deus, senão o assegurar sua própria salvação. Lembremos que esta classe, e os verdadeiros amigos de Deus e do homem se parecem em muitas coisas, e que caso se olhe só as coisas em que estão de acordo não se pode distinguir uns de outros. É só quando se observam de perto naquelas coisas em que diferem que se vê que o desígnio principal desta classe não é a glória de Deus senão assegurar sua própria salvação. Desta forma podemos ver seu objetivo supremo desenvolvido, e vemos que quando fazem as mesmas coisas que fazem aqueles cujo objetivo supremo é glorificar a Deus, o fazem por motivos inteiramente diferentes, e por conseguinte os atos mesmo são de caráter distinto também, à vista de Deus.

Vamos ver agora as características da terceira classe de cristãos professos, os que “amam mais a glória dos homens do que a glória de Deus”.

Não estou dizendo que o que tem conduzido a esta gente para a religião é a mera consideração de sua reputação. A religião sempre foi impopular entre as grandes massas da humanidade para que isto possa ser um incentivo. Senão que quero dizer que quando não é geralmente impopular o professar religião, e não diminuirá a popularidade e alguém, senão que vai aumentá-la, em muitos opera um motivo complexo: a esperança de assegurar a felicidade no mundo futuro, e de aumentar a reputação aqui. Assim muitos são levados a professar religião quando, na realidade, caso se lhes examina com cuidado, se verá que seu objetivo principal é a boa opinião que merecem de seus próximos. Se tivessem que perder esta boa opinião, prefeririam não ser cristãos. Por isso, ainda que professam ser, o que conta mais para eles é não perder a boa opinião que os demais têm deles. Não encontram a oposição e reprovação que encontrariam caso se dessem a desarraigar o pecado do mundo.

Observe-se que os pecadores impenitentes sempre estão influenciados por uma dessas duas coisas, em tudo o que se refere a religião. Ou bem o fazem com objetivo aos meros princípios naturais, como amor a si mesmo ou autocompaixão, princípios que são constitucionais deles, ou por egoísmo. O fazem ou bem com objetivo a sua própria reputação ou felicidade, ou para a satisfação de algum princípio natural neles, sem caráter moral; e não por amor a Deus. Amam “mais a glória dos homens do que a glória de Deus”.

Vou mencionar várias coisas por meio das quais se pode averiguar o verdadeiro caráter desta classe de pessoas das que estou falando, que fazem da glória dos homens um ídolo, apesar de que professam amar a Deus de modo supremo. E são coisas pelas quais se pode ver eu verdadeiro caráter.

1. Fazem o que o apóstolo Paulo disse que faziam certas pessoas em seus dias, e por cuja razão permaneciam na ignorância das verdadeiras doutrinas; “se medem a si mesmos e se comparam entre si.”

Há um grande número de indivíduos que, em vez de fazer de Jesus Cristo o critério de comparação e da Bíblia a regra de vida, evidentemente, seguem outro critério. Mostram que nunca tinham pensado seriamente em fazer da Bíblia seu critério. A grande questão para eles é se fazem tantas coisas em religião como os outros fazem, ou se são tão piedosos como os outros, ou como outras igrejas que lhes rodeiam. Seu objetivo é manter uma profissão de religião respeitável, em vez de inquirir seriamente sobre eles mesmos, o que a Bíblia realmente requer, e de perguntar-se como atuaria Jesus Cristo neste ou naquele caso, olham simplesmente ao cristão professo corrente, e estão satisfeitos com fazer o que é digno de louvor em sua estimação. Demostram que seu objetivo não é fazer o que a Bíblia apresenta como dever, senão o que fazem a grande massa de cristãos professos, que se considera respeitável, que assim está bem.

2. Esta classe de pessoas não se preocupam de elevar os padrões de piedade ao seu redor.

Não lhes preocupa o fato que os padrões de piedade se sua igreja sejam baixos, ou que é impossível trazer a grande massa de pecadores ao arrependimento. Crêem que os padrões dos tempos presentes são bastante altos. Sempre estão satisfeitos com os padrões presentes. Quando os verdadeiros amigos de Deus e dos homens se queixam da igreja porque os padrões da piedade são tão baixos, e tratam de elevá-los, lhes parece a estes que se trata de críticas, de entretenimento, de falta de sossego e de uma má atitude, como quando Jesus Cristo denunciou aos escribas e fariseus, estes disseram dEle: “Tem um demônio.” “Como! Ele está denunciando a nosso doutores, e a nossos melhores teólogos, e inclusive se atreve a chamar-nos escribas e fariseus hipócritas, e nos diz que a menos que nossa justiça exceda a desses, não podemos entrar no reino dos céus. Que atitude tão péssima é esta?”.

Uma grande parte da igreja nos dias de hoje tem este espírito, e os esforços para abrir os olhos da igreja e fazer que os cristão vejam que vivem a um nível espiritual baixo e mundano, como hipócritas, que impede realizar a obra de Deus, lhes levam a má vontade e reprovações. Se esquecem que Jesus Cristo derramou sua maldições contra os que se consideravam piedosos em seu tempo. Sua alma se enchia de indignação e as censuras brotavam de sua boca como uma enchente. Sempre se queixava daqueles que deviam dar exemplo de piedade, e os chamava hipócritas e lhes perguntava: “COMO ESCAPAREIS DA CONDENAÇÃO DO INFERNO?”

Não é de estranhar que quando tantos amam a glória dos homens mais do que a de Deus, as pessoas se excitem e altere quando se lhes diz a verdade. Alguns estão muito satisfeitos com os padrões da piedade presentes, e crêem que se faz muito nas Escolas Dominicais, e nas missões, e em tratados. Pra que vem este para agitar as coisas? Ai! Ai! Quanta cegueira! Não se dão conta que a vida da maioria dos que se dizem cristãos é quase tão diferente dos padrões de Jesus Cristo quanto a luz é das trevas.

3. Fazem uma distinção entre os requerimentos de Deus que o sentimento público põe em vigor e os que não são muito observados.

São muito escrupulosos em observar os requerimentos de Deus quando o sentimento público os favorece de modo claro, mas não se preocupam no mais mínimo daqueles que o sentimento público não realça. Vou dar uma ilustração disto. Me refiro aos esforços por fazer prevalecer a temperança. Quantos tem que cedem ao sentimento público nisto. Se por exemplo o sentimento público é a abstenção de bebidas alcoólicas do tipo de licores, por sua parte, eles se absteriam, mas se o sentimento público não se importa com este assunto, o fazem. Mostram que seu objetivo ao juntar-se a uma sociedade de temperança não é eliminar o monstro da intemperança, senão manter sua reputação. “Amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus.”

O mesmo podemos dizer de guardar o Dia de repouso; o fazem não porque amam a Deus, senão porque é respeitável. Isto é evidente, porque o guardam enquanto estão entre seus conhecidos ou onde se lhes conhece. Mas quando vão a pontos em que não se lhes conhece ou não há opinião pública desfavorável, eles não têm inconveniente em viajar e fazer outras coisas assim no Dia de repouso.

De todas as coisas que são reprovadas pela opinião pública, estas pessoas se abstém, mas fazem outras coisas, iguais e piores, sobre as que não há uma atitude de censura por parte do público. Fazem aqueles deveres que a opinião pública espera, mas deixariam de fazê-los se mudasse esta opinião. Não deixariam de assistir ao serviço religioso nos domingos, porque não poderiam manter sua reputação pela religião se o fizessem. Mas descuidam de fazer outras coisas que também são ordenadas pela palavra de Deus. Quando um indivíduo desobedece habitualmente uma ordem de Deus, sabendo que é, é quase seguro que sua alma vive não por consideração a autoridade de Deus, ao amor a Deus, senão por outros motivos. O mesmo pode dizer-se da obediência que rende. O apóstolo deixou bem claro o assunto. “Qualquer que guarda toda a lei e ofende em um ponto é culpável de toda ela”; isto é, dizer que não guarda nenhum preceito da lei. A obediência às ordens de Deus implica um estado de obediência do coração, e portanto, nada é obediência que não implique uma consideração suprema a autoridade de Deus. Agora bem, se o coração de um homem é reto, considera tudo o que Deus manda mais importante que qualquer outra coisa. E se um homem considera que há algo que tem mais peso que a autoridade de Deus, isto é seu ídolo. Tudo o que consideramos de modo supremo, este é nosso bem, seja a reputação, a comodidade, as riquezas, a honra, o que seja, isto é o deus de nosso coração. Se um homem descuida habitualmente algo que sabe que é uma ordem de Deus, ou que vê que se requer para impulsionar adiante o reino de Cristo, há uma demonstração absoluta de que considera aquilo como supremo. Não há possibilidade de que Deus aceite seus serviços. Pode estar seguro que toda a religião de tal é religião de um sentimento público. Se descuida de algo requerido pela lei de Deus ou faz algo incompatível com ela, meramente porque a opinião pública requer, com isto basta para demonstrar que obedece ao sentimento público e não considera o glória de Deus.

O que pode contestar você mesmo disto? Você descuida de modo regular algum requerimento de Deus porque não é posto em vigor pelo sentimento público? Você é dos que professam a religião pela pressão do sentimento público e o demonstra cumprindo só aqueles requerimentos que estes põem em vigor mas descuidas dos demais? Aos que demostram que têm mais consideração às opiniões dos homens que aos juízos de Deus só se pode chamá-los de HIPÓCRITAS.

4. Esta classe de professos é possível que se permitam pecados quando não se encontram em sua casa, que não se permitiriam em casa. Este é o caso dos que se absteriam de beber vinho ou ir ao teatro em sua própria cidade, mas não têm inconveniente quando vijam em países em que estes costumes são comuns.

5. Outra manifestação deste caráter é a comissão de pecados que se podem chamar secretos. A abstenção dos mesmos é devida estritamente ao fato de que os outros o conheçam. Cada um tem que se julgar a este respeito. Mas a palavra hipócrita tem que repetir-se aqui. E não temos que esquecer que Deus não conhece a palavra secreto. Todos os pecados são cometidos à vista de Deus.

6. Ou talvez entrem em omissões secretas do dever, que não são conhecidas dos demais. Não faltarão a comunhão, como é natural, e aparecerão como muito piedosos no Domingo. Mas a oração privada é desconhecida para estas pessoas. É fácil de ver que a reputação é seu ídolo. Temem perder sua reputação mais que ofender a Deus.

O que responde você disso? É um fato de modo habitual a falta com teus deveres privados, quando você é cuidadoso de executa-los em público? Se é assim, o que você me diz do seu caráter? É necessário que te repita que ama a glória dos homens mais do que a de Deus?

7. A consciência desta classe de pessoas parece estar fundada em princípios distintos dos do evangelho.

Parece que têm uma consciência para as coisas que são populares, mas que não têm consciência naquelas que não requerem um sentimento público. Podemos lhes predicar claramente seu dever, e demostrá-lo, e ainda é possível que confessem eles mesmos que é seu dever, e, contudo, enquanto o sentimento público não o requer e não é algo que afeta sua reputação, seguirão obrando como antes. Caso se lhes mostre um: “Assim diz o Senhor” e se lhes faz ver que o curso que seguem é palpavelmente incompatível com a perfeição cristã e contrário aos interesses do reino de Cristo, não por isso vão mudar. Deixam claro que não têm em consideração os requerimentos de Deus, senão os requerimentos da opinião pública. Amam mais a glória dos homens do que a glória de Deus.

8. Estas pessoas geralmente temem muitíssimo que se lhes considerem fanáticos.

Não conhecem, praticamente pelo menos, o princípio de que “todo o mundo está equivocado!” Esquecem que o sentimento público do muno está contra Deus em massa, e que todo o que tenta servir a Deus deve em primeiro lugar fazer frente ao sentimento público do mundo. Eles têm que dar-se bem em conta que este é um mundo de rebeldes, e o sentimento público está equivocado, como o mostra o fato da controvérsia de Deus. Não têm os olhos abertos a esta verdade fundamental de que o mundo está equivocado, e que os caminhos de Deus vão diretamente em direção oposta. Por conseguinte, é verdade, e sempre foi, que “todos os que vivem piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguição”. Serão chamados fanáticos, supersticiosos, exagerados e toda classe de coisas. Sempre foram e serão, em tanto que o mundo siga equivocado.

Mas esta classe de pessoas nunca vai mais além do que é compatível com as opiniões dos homens mundanos. Dizem que devem fazer isto ou aquilo a fim de ter influência sobre eles. Por cima disto tem que prevalecer a atitude dos verdadeiros amigos de Deus e dos homens. O objetivo destes é voltar ao revés a ordem do mundo, botar o mundo de pernas para o ar, levar a todos os homens à obediência a Deus e fazer que as costumes e instituições do mundo estejam de acordo com o espírito do evangelho.

9. Eles tem sumo interesse em fazer-se amigos dos dois lados.

Seguem sempre um curso medíocre. Evitam a reputação dos extremos, de uma maneira ou de outra são relaxados e sem religião. Tem sido assim durante séculos o fato que uma pessoa pode manter-se como religioso sem ter que ser chamado fanático. E os padrões são todavia tão baixos que é provável que a grande massa das igrejas protestantes estão procurando ocupar este terreno mediano. Querem amidos nos dois lados. Não querem ser contados com os reprovados, mas tampouco com os fanáticos. São CRISTÃOS DA MODA. E isto quer dizer que querem ser populares. O tema religião é popular e eles desejam precisamente isto. Seguem também o que está na moda no mundo. Seu objetivo na religião é não fazer nada que desgoste o mundo. Seja o que seja o que Deus requeira estão decididos a ser prudentes, não incorrer nas censuras do mundo e não ofender aos inimigos de Deus. Têm mais consideração aos homens do que a Deus. E se as circunstâncias lhes levam a ter que ofender a seus amigos ou vizinhos ou a Deus, prefere ofender a Deus. Se o sentimento público choca com as ordens de Deus sempre cedem ante o sentimento público.

10. Farão mais para ganhar o aplauso dos homens que para ter a aprovação de Deus.

Isto é evidente pelo fato que obedecem só aos requerimentos de Deus que são sustentados pela opinião pública. Não exercem a negação própria para ganhar os aplausos de Deus, e sim para ganhar os aplausos dos homens.

11. Eles têm mais interesse em conhecer qual é a opinião dos homens que lhes rodeiam do que de saber a opinião que Deus tem deles.

Isto se aplica aos ministros. Lhes interessa mais saber o que pensam os ouvintes de seu sermão que o que pensa Deus. E se em algo fracassaram lhes dói dez vezes mais que a idéia de que tenham desonrado a Deus ou impedido a salvação das almas. E isto pode dizer-se também de um diácono, um ancião ou um membro da igreja. Se oram em uma reunião, ou exortam, estão mais preocupados pelo que pensam deles que de saber o que Deus pensa dele.

Se algum destes tem algum segredo que é descoberto o consideram um desastre muito maior, pelo que lhes afeta a eles, que pelo fato de que Deus seja desonrado. E o mesmo se caem em algum pecado aberto.

Estão mais preocupados de sua aparência ao olhos do mundo que aos olhos de Deus. Caso se trate de mulheres (ainda que não são as únicas) se preocupam de que seu corpo apareça cuidado e vestido com primor do que preparar seu coração que estará à vista de Deus. Não guardará esforços, durante grande parte da semana, para assegurar-se dos aspectos externos no Domingo diante da igreja, e talvez não passará nem meia hora em seu quarto preparando-se no coração para aparecer ante os átrios de Deus. Todo o mundo pode ver, num instante, o que é esta religião. Todo mundo sabe que é HIPOCRISIA. Eles irão para a casa de Deus, com seus corações escurecidos como a meia-noite, enquanto toda a sua aparência externa é bela e decente. Eles devem apresentar-se bem aos olhos o homem, não importa como seja, ou em qual Deus coloca os seus olhos. O coração pode estar nas trevas e desordenado e poluído, mas eles não se importam, contanto que os olhos dos homens não detectem nenhuma mancha.

12. Recusam confessar seus pecados na forma que a lei de Deus requer, para que não sofra sua reputação entre os homens. Estão ansioso de que o que confessem não seja incompatível com sua reputação, mas não tanto da forma em que afetará seu caráter ou de se Deus ficará satisfeito.

Que esquadrinhem seus corações os que fizeram confissão para ver o que é o que mais afetou a sua mente ao fazê-la, o que Deus pensa deles ou o que pensam os homens. Tem recusado confessar o que Deus quer que confesses, porque isto vai prejudicar tua reputação entre os homens? Não vai Deus julgar teu coração?

13. Eles cederão ao costume que eles sabem que é prejudicial para a causa de Deus, e ao bem-estar humano.

Um exemplo desta agressão é encontrado no jeito de se portarem no Reveillon. Quem não sabe o costume de comportamento do Reveillon, pede seu vinho e sua comida cara e entretenimentos custosos, e gastar o dia como eles querem, é um desperdício de dinheiro, ofensa a saúde e prejudicial as suas próprias almas e aos interesses de Deus. E ainda assim fazem isto. Diremos nós que essas pessoas que farão isto, quando eles sabem que é prejudicial, que amam supremamente a Deus? Não me importa que defendam isto como costume, ele é errado, e todo Cristão deve saber que uma suprema consideração a Deus não é sua regra de vida.

14. Farão coisas de caráter duvidoso, ou coisas da qual a legitimidade têm só algumas dúvidas em obediência ao sentimento público. O que faz algo de caráter duvidoso, que não está seguro de que seja legítimo, está condenado à vista de Deus.

15. Com freqüência se “envergonham” de fazer o que é seu dever, e também de não fazê-lo.

Quando uma pessoa se envergonha de fazer o que Deus requer, até o ponto de não fazê-lo, é evidente que sua reputação é seu ídolo. Tem muitos que se envergonham de reconhecer a Jesus Cristo, de reprovar o pecado, de falar alto quando se ataca a religião. Se consideram a Deus sobre todas as coisas, se envergonhariam do que é seu dever? Se envergonharia um homem de defender a sua mulher se a caluniassem, ou a seus filhos se os atacassem? Não, é claro, se os ama. O mesmo se pode dizer com respeito aos próprios país. Quem se envergonharia de defendê-lo se fosse caluniado estando em um país estrangeiro?

Agora bem, estas pessoas das que falo não tomam uma posição clara quando estão entre os inimigos da verdade, quando seriam objeto de reprovação, naquelas circunstâncias, se tomassem essa posição. São muito valentes pela verdade quando estão entre amigos, e então fazem ostentação de seu valor. Mas quando são postos a prova, vendem ao Senhor Jesus Cristo e o negam ente seus inimigos, em vez de falar alto em sua defesa.

16. Se opõem a tudo o que interfere com sua complacência própria, e que faz nova luz com respeito a coisas de caráter prático.

Ficam muito transtornados ante toda oposição que possa dar por resultado algum sacrifício material, ou em seus hábitos de autocomplacência. E a única maneira de chegar a estas pessoas é criando um sentimento público com respeito àquele assunto. Quando foi conseguido, apelando a benevolência e a consciência de outros, que se crie um sentimento público na comunidade a favor daquilo, então adotarão as novas proposições, mas não antes.

17. Eles estão sempre aflitos ao que eles chamam os extremismos do dia.

Eles estão com muito medo do “extremismo” do dia presente que destruirá a igreja. Eles dizem que nós levamos as coisas muito adiante, e nós causamos assim uma reação. Pegue, por exemplo, a Reforma da Temperança. Os verdadeiros amigos da temperança agora sabem, que álcool é a mesma coisa, ele é encontrado em qualquer lugar, e para salvar o mundo e banir a intemperança, é necessário banir o álcool em todas as suas formas. O detalhe da Reforma da Temperança nem ainda foi decidido. A massa da comunidade nunca foi chamada a alguma negação própria por esta causa. Um caso em que isto incomoda é quando isto é quando isto entra em questão ou quando o homem vai exercer a negação própria para destruir o mal. Se eles tem permissão de continuar bebendo vinho e cerveja, isto não é negação própria para abandonar as licores espirituosos. Isto é apenas uma mudança na forma em que o álcool é usado, e eles podem beber tão livremente quanto antes. Muitos amigos da causa, quando eles viram que multidões estavam investindo nela, estavam prontos para o grito de vitória. Mas a verdadeira questão ainda não foi tentada, e multidões nunca vão render-se, até que os amigos de Deus e dos homens possam formar um sentimento público forte o suficiente para aniquilar o caráter de todo homem que não renuncie isto. Você encontrará muitos doutores da divindade e pilares da igreja, que podem beber seu vinho, que pararão por aí, sem o comando de Deus, sem querer saber da benevolência, sem desejo de salvar as almas, sem piedade do sangue humano, moverão algumas pessoas, mas não poderão formar um sentimento público tão poderoso quanto a disposição deles para fazer estas coisas, por causa do desgosto de perder a sua reputação. Eles amam a glória dos homens.

E isto é uma questão em minha mente, um assunto de solene e ansiosa dúvida, se no presente padrão baixo da piedade e decadência dos avivamentos religiosos um sentimento público pode ser formado, suficientemente poderoso para fazer isto. Se não, nós estamos voltando para trás. A Reforma da Temperança vai ser desmanchada como uma represa de areia, as comportas serão abertas novamente, e o mundo vai ser empurrado para o inferno. E ainda assim milhares de professos em religião, que querem agradar ao respeito público e ao mesmo tempo gostam de seus próprios caminhos, estão chorando como se eles estivessem aflitos com o extremismo da época.

18. Com freqüência se opõem aos homens, medidas e coisas, enquanto que não são populares ou objeto de reprovação, mas quando são populares seguem a maioria.

Se um indivíduo vai pelas igrejas em um distrito e os desperta para um avivamento de religião, enquanto que é pouco conhecido, estas pessoas não terão inconveniente em falar contra ele. Mas se a coisa prospera e a pessoa ganha influência logo vão colocar-se a seu lado e elogiá-lo e professarão ser seu melhores amigos. Ao Senhor Jesus Cristo lhe ocorreu o mesmo. Antes de sua morte passou por graus distintos de popularidade. As multidões o seguiam quando ia pelas ruas, proclamando: Hosana, Hosana. Mas observe-se que nunca o seguiram um passo mais além do que lhe seguia a popularidade. Tão pronto como o arrastaram, se voltaram contra ele e gritaram: “Crucifica-o, crucifica-o!”

Esta classe de pessoas, que vão com a maré, se apartam de um homem quando sofre reprovação e montam ao seu lado quando é honrado. Só há uma exceção. E ocorre quando já se comprometeram demais em um movimento de oposição que não podem fazer marcha ré sem tornar-se ridículo. Então ficam em silêncio.

Muitas vezes muitos membros se opõem a uma avivamento em uma igreja ao começar. Logo não simpatizam na forma como se realizam as coisas, pois temem que tenha excitação demais e coisas assim. Mas a medida que o trabalho progressa, acabam juntando-se com a multidão. Ao fim, quando terminou o avivamento e a igreja volta a se esfriar, esta classe de pessoas são as que voltam a renovar o trabalho de oposição a obra, e talvez, ao final, induzem a igreja a adotar uma atitude negativa contra o mesmo avivamento em que eles mesmos participaram. Esta é a maneira em que muitos indivíduos têm atuado com respeito aos avivamentos neste país. Se deixaram influenciar pelo sentimento público e acataram o avivamento, mas pouco a pouco, ao declinar o avivamento, renovam a oposição que há em seu coração e que tinham suprimido enquanto que o avivamento era popular.

O mesmo tem acontecido na causa das missões até certo ponto, e se algo ocorre-se que mudasse o favor do público, que é agora em sua maioria pelas missões, não teriam inconveniente em apoiar aos que se opusessem a elas.

19. Caso se propõe alguma medida para fomentar e fazer prosperar a religião, são muito sensíveis e escrupulosos de não fazer nada que não seja popular.

Se vivem em uma cidade perguntarão o que é que pensam as outras igrejas desta medida. E se é provável que vá resultar em reprovação da igreja ou do ministro à vista dos infiéis, ou à vista das outras igrejas, se encontram muito atormentados pelo mesmo. Não importa se a medida é boa, ou quantas almas podem ser salvas por meio dela, o que não querem é que se faça nada que possa lastimar a reputação de sua igreja.

20. Esta classe de pessoas nunca procuram elas mesmas formar um sentimento público em favor da piedade.

Os verdadeiros amigos de Deus e dos homens sempre estão procurando formar sentimento público, ou corrigi-lo em todos os pontos em que estão equivocados. Estão decididos de todo coração a averiguar os males do mundo, a reformar o mundo, a eliminar a iniqüidade da terra. Esta outra classe sempre seguem o sentimento pública tal qual é, e seguem a corrente, como se flutuassem na mesma, e por outra parte estão dispostos sempre a qualificar de imprudente ou perigoso ao homem que vai contra a corrente, ou procura mudar a direção do sentimento público.

CONCLUSÃO

1. É fácil para as pessoas dar crédito para os seus pecados fazendo eles mesmos acreditarem que certas coisas são atos de piedade.

Eles fazem coisas que externamente pertencem a piedade, e eles dão a si mesmos créditos de pessoas devotas, quando seus motivos são todos corruptos e vazios, e nenhum deles se aproximam para dar consideração suprema a autoridade de Deus. Isto é manifesto do fato que eles não fazem nada exceto no que os requerimentos de Deus são levantados por um sentimento público. A menos que você decida fazer TODOS os seus deveres, e conceda obediência em todas as coisas, a piedade que você assume acredito que seja uma mera hipocrisia, e isto na verdade é pecar contra Deus.

2. Há muito mais piedade aparente na igreja do que piedade real.

3. Há muitas coisas que os pecadores supõem ser boas, mas que é abominável a vista de Deus.

4. Mas pelo amor à reputação e medo da desgraça, quantos há na igreja que se permitem uma apostasia deliberada?

Quantos há aqui, que vocês sabem que se permitiriam cair num vício deliberado, que estavam nisto não para reprimir o sentimento público, o medo da desgraça e o desejo de ganhar o crédito de virtude? Onde uma pessoa é virtuosa por uma consideração a autoridade de Deus mesmo que o sentimento público o reprove com seu olhar de censura, isto é a verdadeira virtude. Caso contrário, eles já receberam a sua recompensa. Eles fazem isto para terem aprovação aos olhos dos homens, e eles conseguem. Mas se eles esperam alguma coisa que das mãos de Deus, com certeza eles serão desapontados. A única recompensa que ELE entregará sobre estes hipócritas egoístas é que eles serão condenados.

E agora eu desejo saber quantos de vocês se determinarão a fazer o seu dever, e todo o seu dever, de acordo com a vontade de Deus, sendo o sentimento público o que seja? Quanto de vocês concordarão em pegar a bíblia como sua regra, Jesus Cristo como seu modelo, e fazer o que é CORRETO, em todas os casos, qualquer que seja o que o homem possa pensar ou dizer? Qualquer um que não esteja disposto a usar esta base, deve considerar-se um estranho para a graça de Deus. Ele não está de nenhuma maneira no estado de justificação. Se ele não está decidido a fazer o que ele sabe que é correto, seja qual for o sentimento público, isto é uma prova positiva que eles amam mais a glória dos homens do que a glória de Deus.

E deixe-me falar aos pecadores impenitentes presentes: Você vê o que é ser Cristão. É ser governado pela autoridade de Deus em todos os casos, e não pelo sentimento público, é viver não por medos e esperanças, mas pela suprema consagração a Deus. Você vê que se você pretende ser religioso, você deve medir os custos. Eu não vou lisonjear você. Eu nunca tentarei te agradar para te fazer religioso, lançando fora a verdade. Se você deseja ser Cristão, você tem que se entregar por inteiro a Cristo. Você não pode flutuar ao longo do paraíso das ondas do sentimento público. Eu não vou enganá-lo neste ponto.

Você pergunta, pecador, o que vai acontecer com todos esses que professam religião, com todos que estão conformados com o mundo, e que amam mais a glória dos homens do que a glória de Deus? Eu respondo: Eles irão para o inferno, com você e com todos os outros hipócritas. Tão certo quanto que a amizade com o mundo é inimizade com Deus.

Por isso, saia do meio deles, meu povo, e sejam separados, e eu os receberei, diz o Senhor. Eu serei um Pai para vocês, e serão filhos e filhas. E agora, quem fará isto? Diante da igreja e no meio dos pecadores, quem fará isto? Quem? Quem é pelo Senhor? Quem está disposto a dizer: “Não vamos muito longe com a multidão para o mal, mas estão determinados a fazer a vontade de Deus, em todas as coisas, sejam quais forem, e deixe o mundo pense e diga de vocês o que quiserem.” Quantos de vocês estão agora dispostos a fazer isto, expressem isto levantando-se de seus lugares diante da congregação, e ajoelhem-se, enquanto é oferecida uma oração, que Deus aceite e sele seu solene pacto de obedecer a Deus de agora em diante em todas as coisas, seja nos momentos bons ou seja nos momentos ruins.


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