Distinção entre a Santificação e a Justificação

No que concordam e no que diferem? Esta distinção é importantíssima, mesmo que à primeira vista não pareça.  Em geral as pessoas mostram certa predisposição em considerar só o superficial da fé, e a relegar as distinções teológicas como “meras palavras” que não têm nenhum valor. Eu exorto àqueles que se preocupam com suas almas a que se esforcem por obter noções claras sobre a santificação e a justificação.  Lembremo-nos  de  que  mesmo  que  a justificação e a santificação sejam coisas distintas, no entanto em certos pontos são concordantes e em outros diferem. Vejamos:

A – Pontos concordantes:

•Ambas procedem e têm origem na livre graça de Deus.

•Ambas são parte do grande plano de salvação que Cristo, no pacto eterno, tomou sobre si em favor de seu povo. Cristo é a fonte de vida de onde flui o perdão e a santidade. A raiz de ambas está em Cristo.

•Ambas  se  encontram  na  mesma  pessoa.  Os  que  são  justificados  são também  santificados,  e  aqueles  que  têm  sido  santificados,  têm  sido  também justificados. Deus as têm unido e não podem separar-se.

•Ambas acontecem ao mesmo tempo. No momento em que uma pessoa é justificada, começa a ser também a ser santificada, mesmo que a princípio não se perceba.

•Ambas são necessárias para a salvação. Jamais ninguém entrará no céu sem um coração regenerado e sem o perdão de seus pecados, sem o sangue de Cristo  e  sem  a  graça  do  Espírito,  sem  a  disposição  apropriada  para  gozar  da glória e sem credencial para a mesma.

•Pela justificação, a justiça de outro – de Jesus Cristo – é imputada, posta na conta do pecador. Pela santificação o pecador convertido experimenta em seu interior uma obra que o vai fazendo justo. Em outras palavras, pela justificação somos considerados justos (declarados), enquanto que pela santificação somos feitos justos.

• A justiça da justificação não é própria, mas é a justiça eterna e perfeita de nosso maravilhoso Mediador Cristo Jesus, a qual nos é imputada e a fazemos nossa pela fé. A justiça da santificação é a nossa própria, inerente e infundida em nós pelo Espírito Santo, porém mesclada com fraquezas e imperfeições.

• Na justificação não há lugar para nossas obras. Porém na santificação a importância de nossas próprias obras é imensa e por isso Deus nos ordena  a lutar, orar, velar, nos esforçar, afadigar e trabalhar.

• A justificação é uma obra acabada e completa; no momento em que uma pessoa  crê, é justificada,  perfeitamente  justificada. A santificação é uma obra relativamente imperfeita; será perfeita quando entrarmos no céu.

• A justificação não admite crescimento nem é susceptível de aumento. O crente  goza  da  mesma  justificação  no  momento  que  vai  a  Cristo  pela  fé,  que daquela que gozará por toda eternidade. A santificação é, eminentemente, uma obra progressiva, e admite um crescimento contínuo enquanto o crente viva.

• A justificação faz referência a pessoa do crente, a sua posição diante de Deus  e  a  absolvição  de  sua  culpa.  A  santificação  faz  referência  a natureza  do crente, e a renovação moral do coração.

• A justificação nos dá direito de acesso ao céu, e confiança para entrar. A santificação nos prepara para o céu, e nos faz prever seus prazeres.

• A justificação é um ato de Deus     com referência  ao  crente,  e  não  é discernível para os outros. A santificação é uma obra de Deus dentro do crente, que não pode deixar de manifestar-se aos olhos dos outros.

Estas  distinções  são  postas  para  atenta  consideração  dos  leitores.  Estou convencido de que grande parte das dúvidas, confusão e inclusive sofrimento de algumas pessoas muito sinceras, se deve ao fato de se confundir e não distinguir a santificação da justificação. Nunca se poderá se enfatizar demais o que se trata de  duas  coisas  distintas,  ao  que  na  realidade  não  pode  separar-se,  e  o  que participa  de  uma  por  necessidade  há  de  participar  da  outra.  Porém  nunca, nunca, deve confundir-se, duvidar-se, a distinção que existe entre ambas.

Fonte: Cultivando a Santidade, J.C. Ryle e Joel Beeke, – Editora Os Puritanos

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