A questão dos templos

INTRODUÇÃO

Estudaremos uma área da vida da igreja que revela a facilidade em tornar os odres ídolos até que eles nos aprisionem e nos forcem a perder o significado daquilo para que eles existam. Referimo-nos à questão dos templos.

I – O TEMPLO NO CONTEXTO DA ALIANÇA MOSAICA
Havia três elementos constitutivos da aliança mosaica:
1. O sacrifício – teve os seus antecedentes nos altares de Noé, Abraão, Isaque e Jacó, mas aparece como o primeiro elemento da fé hebraica. Ex. 20.22-24; Lv. 1.1-17.
2. O sacerdócio – Não se trata de uma escolha humana; é um mandamento divino. Ex 28.1
3. O tabernáculo – A unidade dos três. Ex 25.8,9

II – O TEMPLO NO NOVO TESTAMENTO É VISTO NO SEGUINTE CONTEXTO:
1. Que Jesus Cristo é o verdadeiro e perfeito sacrifício, oferecido uma vez por todas, de modo que nenhum sacrifício posterior é necessário ou possível. Hb. 9.14, 25-28; 1 Pd. 3.18
O sistema sacrificial se tornou supérfluo: tudo o que fora prefigurado na aliança mosaica foi cumprido na morte de Jesus.

O único sacrifício que resta é o da igreja, do qual Paulo fala em Romanos 12.1,2.

2. Que Jesus Cristo é o cumprimento do tabernáculo e do templo.

Isto não tem sido devidamente enfatizado, mas é igualmente bíblico: que o maior e mais perfeito tabernáculo é Cristo mesmo. Ver João 1.14,17 (“eskénosen” – tabernaculou) e João 2.18-21.

O corpo de Cristo é, em um sentido, verdadeiro tabernáculo; E A IGREJA, CORPO DE CRISTO, É TAMBÉM VERDADEIRO TEMPLO: 2 Co 6.16; Ef 2.21,22; 1 Tm 3.15; Hb 3.6.

3. Que Jesus Cristo é o nosso grande e único sumo sacerdote, portanto não temos necessidade de sacerdote terreno: Hb 4.14; 7.20-8.1. O sacerdócio como tal é coisa morta.
O sacerdócio foi expandido em outra direção para incluir TODOS OS CRENTES, a IGREJA: 1 Pe 2.9; Ap 1.6.

III – A TRANSITORIEDADE DA SOMBRA PARA A REALIDADE

Os três elementos da fé hebraica eram sombras de realidades realizadas em Cristo e a igreja.

1. Biblicamente, os três perderam sua razão de ser

2. Historicamente, terminaram com a destruição de Jerusalém.

3. A igreja organizada tem levantado as sombras novamente:
a) um sacerdócio medianeiro (pastores também);
b) um sacramentalismo (como novo sistema sacrificial);
c) catedrais e templos (como lugar santo e como lugar especialmente sagrado).

IV – COMO SURGIU O TEMPLO DO ANTIGO TESTAMENTO?

O tabernáculo do deserto foi fruto da disposição divina, mas não foi assim com o templo. O templo construído por Salomão não foi idéia de Deus, e, sim, de Davi. 2 Sm 7.1-7

Deus consentiu na construção do templo da mesma maneira em que consentiu que Israel tivesse um rei: 1 Sm 8.4-9.

Enquanto Salomão construía o templo, veio-lhe esta palavra do Senhor: 1 Rs 6.12,13. Deus honra as boas intenções de Davi e consente em habitar no templo, sob a condição de lealdade e fidelidade. Tal foi o começo do templo.

V – A IGREJA EDIFICANDO TEMPLOS COMO LUGARES ESPECIALMENTE SAGRADOS VOLTOU À ANTIGA DISPENSAÇÃO

– Com isto, a igreja perdeu a consciência de ser um CORPO para habitação do Senhor.

– A igreja perdeu a perspectiva da progressão do plano de Deus quanto à Sua habitação:

a) Primeiro: Ele deseja morar simbolicamente no meio do povo (numa estrutura física) – Ex 25.8,22.

b) Depois: morar nos corações (o véu foi rompido).

c) Finalmente, habitar na igreja, que para isto está sendo edificada – Ez 37.27-28; Ef 2.21,22; Ap 21.3.

VI – CONSIDERAÇÕES PARA A IGREJA QUE ESTÁ SENDO RESTAURADA

1. O modelo na igreja no AT está na ordenação de Deus, o tabernáculo. Por quê? Leiamos Êxodo 25.10-14 e Números 9.15-23.

O tabernáculo não levava a nuvem consigo ao ser carregado; a nuvem é que levava o tabernáculo, pela obediência de Israel – Deus não tinha um templo fixo (como um templo fixo pode seguir uma nuvem?); mas um tabernáculo é fácil de ser transportado (argolas preparadas, varais no lugar).

2. O tabernáculo enfatiza o caráter dinâmico da liderança do Senhor. Como pode Ele mudar instituições rígidas sobre prédios irremovíveis; pessoas são como tabernáculo: Ele as pode dirigir para onde quer.

3. Não há qualquer ordem bíblica para construir templos para Deus, à exceção do tabernáculo, que era um tipo da igreja e de Cristo, e das coisas celestiais (notáveis as palavras de Estevão: At. 44.50, e as de Jesus à samaritana: Jo 4.20-24).

4. Primeiras construções de templos: ao redor do ano 200 AD, quando começou o declínio da igreja em todos os sentidos.

5. A igreja cristã deslocou-se para as casas dos cristãos, desde os primeiros dias, conforme amplo testemunho de Atos e das epístolas. O lar é o lugar natural de vida do homem e é aí que Deus deseja que se viva com Ele.

6. A igreja pode e deve ter lugares para grandes reuniões de adoração, mas não devem ser considerados especialmente sagrados. Deus não tem lugares sagrados, mas somente povo sagrado, ou, se quisermos, todos os lugares onde vivem os santos são santos. Tais lugares devem ser úteis, isto é, para múltiplo uso e bem usados constantemente, e não lugares fechados para uso especial, religioso.

7. A expressão de Jesus na purificação do templo não se referia a qualquer templo cristão. Apenas ao templo “para todos os povos” representado na fé centrípeta de Israel. Jesus estava dizendo aos judeus como deturpavam aquilo que Deus lhes permitira ter para o serviço de Sua glória. Todavia, o uso que os cristãos e o próprio Jesus dele fizeram foi muito limitado. Jesus jamais entrou no Santo dos Santos e não tomou parte, a não ser como um comum do povo, em qualquer sacrifício animal, na qualidade de sacerdote. Nem os apóstolos.

VII – DE QUE TESTEMUNHAM OS TEMPLOS?

a) De nossa imobilidade. O Senhor diz: “Ide” – os edifícios dizem “fiquem”. O Senhor diz: “procurem os perdidos” – os edifícios dizem: “que os perdidos nos procurem”.

b) De nossa inflexibilidade.

Quando construímos um templo/edifício cortamos nossas opções pela metade.

O programa, as reuniões, tudo está condicionado.

Tudo é feito para uma ou poucas pessoas falarem aos espectadores.

Encorajam a estagnação.

c) De nossa falta de comunhão.

São impessoais – Feitos para evitar a comunhão (At 2.46; 5.42)

Como são 90% dos templos?

O cafezinho e a sala de comunhão? (Tentativas que temos que forçar.)

d) De nosso orgulho Bonitos templos para atrair? (motivação errada). Deus merece? Claro, mas os recursos dele devem ser usados como?

A igreja “camaleoa” – que tem que se harmonizar com outras estruturas.

e) De nossa divisão de classes. Ver os templos do Brasil.

A) QUE DEVERÍAMOS FAZER?

a) Abandonar o que temos? (Seria saudável para algumas igrejas; menos programas centralizados no prédio.)

b) Vender? Mt 19.21

c) Onde nos reunir? Fm 2; Cl 4.15

d) Alugar ou possuir salões simples para que a igreja tenha oportunidade da adoração incorporada e só.

B) QUATRO TIPOS DE IGREJAS COM REFERÊNCIA AOS EDIFÍCIOS QUE OCUPAM
1º. IGREJA CORPO – Tipo do Novo Testamento

a) Não tem propriedades e não precisa de nenhuma;

b) Arranja para reuniões de adoração onde pode;

c) Sua estrutura é orgânica, baseada em uma rede de pequenos grupos, unidos por experiências de adoração incorporada.

d) UMA IGREJA ASSIM PODE CRESCER INDEFINIDAMENTE. É uma igreja  espiritualmente madura.

2º. IGREJA TIPO CATEDRAL – Não suporta o tamanho do edifício

a) Tal igreja vê o edifício como sendo a igreja;

b) O edifício determina o programa e o estilo de vida da igreja;

– o prédio decide desde as finanças até o discipulado.

– Pequenas igrejas com terríveis preocupações materiais.

O MELHOR: DESCARTAR-SE DO EDIFÍCIO.

3º. IGREJA TABERNÁCULO

a) Tem um edifício, mas este é secundário e funcional.

b) Não é um lugar santo em qualquer sentido e, sim, uma facilidade.

c) É construído para flexibilidade e múltiplo uso.

d) Chamamos tabernáculo porque é visto como algo provisório, não essencial. (Alguns chamados “tabernáculos” servem a igreja tipo catedral.)

4º. IGREJA FANTASMA

a) Se orgulha de não ter um edifício mas, de fato, não tem qualquer estrutura.

b) Sua existência é nebulosa, baseada em ajuntamentos esporádicos.

c) Ainda não se tornou um corpo. Pode evaporar-se. Emergirá um líder forte que fará dela uma organização.

CONCLUSÕES – ONDE NOS ENCAIXAMOS?

Se uma igreja: gasta mais com edifícios do que com o avanço da obra, tem todas as suas reuniões no prédio-igreja, põe a construção à frente das missões e do evangelismo, recusa-se a usar seus prédios para qualquer outra coisa senão as funções “sagradas”, mede a espiritualidade pelo número de corpos humanos presentes dentro das quatro paredes – ENTÃO, TAL IGREJA IGNORA O QUE É A IGREJA EM TERMOS DO NOVO TESTAMENTO E PRECISA REPENSAR SUA RAZÃO DE SER.

Por: Moysés Cavalheiro de Moraes

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