O Reformador da Escócia

SINOPSE HISTÓRICA E OBRAS.

1513-1515 (?) = A data e o local de nascimento de John Knox são incertos, sendo aceita a data de 1513 como a mais provável. É possível que Knox tenha nascido no povoado de Haddington, às margens do rio Tyne, distrito de Lothian Oriental, cerca de 30 Km a leste  de  Edinburgo.  Seu  pai,  William  Knox  era  homem  do  campo  e  sua  mãe era membro da família Sinclair. Sua mãe faleceu quando ainda era criança. Foi educado por sua madrasta, que era carinhosa e compreensiva.

Recebeu  boa  educação,  aprendendo  latim  nos  estudos  regulares.  A  seguir matriculou-se na Universidade de Saint Andrews, para a formação acadêmica.

Waldyr Carvalho Luz descreve Knox como um homem comum e de aparência atarracada.  Ombros  largos,  altura  abaixo  da  média;  possuindo  um  olhar  brilhante  e penetrante;  saúde  razoável;  de  temperamento  impetuoso  e  disposição  férrea.  Lloyd-Jones  comenta  que  “havia  algo  que  lhe  vinha  aos  olhos  uma  vez  ou  outra,  que, literalmente, punha o temor de Deus dentro das pessoas”. Cairns nos diz que ele “era um homem corajoso, ríspido até, às vezes, que a ninguém temia, exceto a Deus”.

1528 = As idéias luteranas do jovem pastor Patrick Hamilton, que estudara em Marburg e Wittenberg, com Lutero, foram uma causa positiva do início da reforma na Escócia.

Ele ensinava a justificação pela fé e chamou o Papa de anticristo. A morte prematura de Patrick Hamilton, queimado de forma desumana lentamente  na fogueira como herege, marcou profundamente John Knox, que tinha por volta de 15 anos nessa época.

1530  =  Ordenado  sacerdote  católico,  tornou-se  discípulo  de  George  Wishart,  que introduzira os ideais da reforma zuingliana na Escócia. Wishart traduziu para o inglês em 1536, a Confissão Suíça. O pensamento de Wishart influenciou fortemente a vida espiritual  de  Knox.  Pouco  depois  tornou-se  tutor  de  filhos  de  nobres  favoráveis à reforma.

1544-46 = Knox serve a Wishart como seu guarda-costas entre 1544-46.7 Wishart foi queimado em uma estaca em Edimburgo, em 1546.

1546  =  Pregou  aos  soldados  protestantes  no  acampamento  de  Saint  Andrews  até  ser capturado pelo exército francês, por ter participado de uma revolta em prol da reforma

(31/07/1547). Trabalhou por 19  meses como  escravo  nas  galés  de  um  navio  militar francês até sua libertação na troca de prisioneiros. Nas galés sofreu, não só os rigores desse tipo de vida, como também muita crueldade, debilitando sua saúde.

1549-51 =  Retornando à Escócia, como a situação não era favorável, mudou-se para a Inglaterra,  sendo  designado  ministro  e  pregador  em  Berwick,  na  fronteira  com  a Escócia, e posteriormente Newcastle. Nesse período firmou-se como grande pregador.

1552  =  Transferindo-se  para  Londres,  serviu  como  um  dos  capelães  reais  e  um dos pregadores da corte, pregando várias vezes na presença do rei.

Em setembro, poucas semanas antes da publicação dos 45 Artigos, que dariam origem aos 39 Artigos, pregou perante o rei um sermão contra o artigo 38, que obrigava a recepção da ceia (hóstia) de joelhos. Knox afirmou que o ajoelhar-se era idolátrico e pecaminoso.  Isso  levou  Cranmer    a  inserir,  às  pressas,  uma  observação  ao  artigo, publicado em uma folha em separado, que ficou conhecido como “o Artigo Negro”.

1553-54 = Quando Eduardo VI ofereceu-lhe o bispado de Rochester, Knox o recusou desprendidamente, porque entendeu que esse oferecimento era uma tentativa do regente real Northumberland de silencia-lo e neutralizar sua influencia na corte real.

Com  a  ascensão  de  Maria  Tudor  ao  poder  na  Inglaterra,  teve  de  fugir  para  a Europa  (03/1554).  Indo  para  a  Suíça,  onde  passou  algum  tempo  com  Calvino, em Genebra e Bullinger, em Zurique. Também fez visitas a Escócia, a fim de animar a fé dos que deixara no país.

1554-1559  =  Nesse período  esteve  em  Genebra  e  tornou-se  aluno de  Calvino,  o qual considerava “o notável servo de Deus”. Sob a persuasão de Calvino aceitou pastorear exilados religiosos ingleses em Frankfurt, na Alemanha. Após algum tempo ali, devido a vários problemas, especialmente devido a disputas com o anglicano Richard Cox, que queria que a igreja de refugiados em Frankfurt tivesse “um rosto inglês”. A resposta de  Knox  refletiria  o  ponto  central  das  controvérsias  que  se  seguiriam  na  Inglaterra posterior entre os puritanos e a igreja Anglicana: “O Senhor permita que ela tenha a face da igreja de Cristo”. Por influência e incitação de Cox, Knox foi expulso de Frankfurt e  teve  de  retornar  a  Genebra,  sendo  acompanhado  por  vários  dos  refugiados  que pastoreava. Ali tornou-se novamente pastor da igreja inglesa (1555-59).

Casou-se com  Marjorie Bowes em 1555, numa rápida visita à Escócia.

Em 1556 escreveu A Forma de Orações, como diretório de culto.

1557 = Em dezembro de 1557, os nobres escoceses fizeram um pacto de usar suas vidas e bens para estabelecer “a Palavra de Deus” na Escócia. Nessa conjuntura, Knox iria voltar à Escócia para implantar o calvinismo e fundar a igreja presbiteriana escocesa.

1558 = Publica o Primeiro Clarim Contra o Monstruoso Governo de Mulheres, dirigido a  Maria  Tudor,16  em  que  ele  dizia  ser  contra  a  natureza,  Deus,  e  sua  palavra, uma mulher governar, pois isso era “a subversão da boa ordem, de toda justiça e equidade”.

Seu livro foi publicado em má hora, pois teve de se desculpar com a rainha da Inglaterra (Elizabeth I) por causa disso. A rainha Elizabeth nunca o perdoou por causa desse livro.

Ainda  nesse  ano  publicou   Supplication  (Rogativa),  dirigida  à  regente  escocesa; Appellation  (Apelação),  dirigida  à  nobreza  da  Escócia;  e  por  último:     Letter  to  The Commonality of Scotland (Carta ao Povo em Geral da Escócia).

1559    =  A  pedido  de  Calvino,  escreveu  seu  único  tratado  teológico; Treatise  on Predestination (Tratado Sobre a Predestinação). Vendo a atitude da rainha Elizabeth I para  com  a  reforma  inglesa,  escreveu  uma Breve  Exortação  à  Inglaterra  a Abraçar Rapidamente o Evangelho de Cristo Doravante, à Supressão e ao Banimento da Tirania de  Maria.18    A  rainha  da  Inglaterra  fez-lhe  forte  objeção,  por  considerá-lo  uma intromissão de um escocês nos negócios da Inglaterra; também porque Knox usara de uma  linguagem  muito  forte.  Pregava  contra  os  bispados  ingleses  e  afirmava  que  o reinado  de  Maria  Tudor  fora  um  juízo  de  Deus  sobre  a  Inglaterra  por  esta  não  levar adiante a reforma da igreja.

Knox retornou à Escócia, em abril desse ano, pregando na igreja de S. Giles, em Edimburgo.

1560 = Knox e os Lordes da Congregação iniciam a Reforma na Escócia. Participou da composição da Confissão Escocesa e ajudou a esboçar o Primeiro Livro de Disciplina.

 Pôs-se fim do domínio papal na igreja escocesa.

 A missa é declarada ilegal.

 Revogação de todos os decretos contra os hereges (protestantes).

 Aceitação da Confissão de Fé dos Seis Johns (Confissão Escocesa), escrita em quatro dias, a pedido do parlamento. Essa confissão, de inspiração notadamente calvinista foi a principal confissão de fé escocesa até a adoção da Confissão de Fé de Westminster em 1647.

 Organização da igreja em presbitérios, sínodos e uma assembléia geral, semelhantes aos de Genebra. Nesse mesmo ano reuniu-se pela primeira vez a Assembléia Geral da Igreja da Escócia. Foram formalmente implantados em 1567.

Apesar  disso,  Knox  teve  muitos  problemas  com  os  lordes  da  congregação,  que desejavam apossar-se das terras católicas. Knox insistia que deveriam ser utilizadas para o alívio da pobreza no país, estabelecer um sistema de educação universal e sustentar a igreja escocesa.

Em dezembro desse  ano,  faleceu  sua  esposa,  deixando-lhe  dois  filhos  pequenos: Nathanael  (3  anos  e  meio)  e  Eleazer  (dois  anos).  Calvino  lhe  escreveu  uma  carta demonstrando a sua solicitude e condolências.

1561 = Maria Stuart assume o trono escocês, segundo Gonzalez, a convite dos lordes da congregação.21  Era  uma  mulher  bela  e  inteligente.  Ela  teve  vários  encontros  duros e francos com Knox, que não cedeu frente às suas lágrimas e  lisonjas, tentando levar a igreja escocesa de volta ao catolicismo.

1564 = Publicação do Livro de Ordem Comum.

1567/68 = Maria Stuart, abdica ao trono escocês e refugia-se na Inglaterra, sob a tutela de Elizabeth I. Após a abdicação de Maria Stuart, Knox pregou na coroação do filho dela, James I, como rei da Escócia.

1572 = Próximo à data que marcou a noite de S. Bartolomeu, na França (24de agosto) Knox teve um ataque de paralisia e retirou-se da liderança da reforma. Mesmo assim, ao saber dos eventos dessa noite, fez um grande esforço para retornar ao púlpito, avisando a seus compatriotas que igual destino lhes cairia se fraquejassem na luta.

24/11/1572. Na manhã desse dia pediu à sua esposa que lesse dois textos bíblicos para ele; I Coríntios 15, que fala da ressurreição; e João 17, a oração sacerdotal de Cristo, sobre o qual comentou; “Aqui lancei a minha primeira âncora”.25 Por volta das 22 horas, seu  médico  perguntou-lhe  se  ouvira  as  orações  dos  presentes  a  seu  favor, ao  que respondeu: “Quisera Deus que vocês e todos os homens as ouvissem como eu as ouvi; e a Deus louvo por este som celestial… Agora chegou”. Foram as suas últimas palavras, então faleceu.

Ainda neste ano, tentou-se restabelecer o sistema episcopal na  igreja escocesa, contudo, Andrew Melville (1545-1622), reitor da Universidade de Glasgow, conduziu a luta pela restauração do sistema presbiteriano.

Em  1581,  foram  restabelecidos  os  presbitérios  e  em  1592,  debaixo  de  forte oposição real (James VI) o presbiterianismo tornou-se a religião oficial dos escoceses.

A vitória final, porém, só seria definitiva em 1690.

APANHADO TEOLÓGICO

Não é correto afirmar que o pensamento de John Knox não tinha originalidade e que foi um mero repetidor das idéias de Calvino. Lloyd Jones27 aponta dois pontos de seu pensamento em que isso fica claro. Primeiro na questão da relação entre  Igreja e Estado; segundo na atitude para com diversas cerimônias religiosas da Igreja Anglicana, exemplificadas  em  seu  livro  “O  Primeiro  Toque  da  trombeta  Contra  o  Governo Monstruoso das Mulheres” de 1558.

Knox  via  a  si  mesmo  como  um  pregador  e não  como um teólogo  acadêmico.

Entendia que sua função era a de “tocar a trombeta do seu mestre”. Seus sermões eram caracterizados  pela  exposição  bíblica  e  pela  preferência  pelo  Antigo  Testamento, atacando a idolatria e a corrupção do culto cristão.. Knox seguia à risca o princípio da sola Scriptura, tendo a Bíblia como a única base autorizada em que a doutrina pode ser fundamentada. Afirmou, seguindo Lutero e Wishart a justificação pela fé somente (sola fide).

Sua teologia era profundamente calvinista. Sua obra Tratado Sobre a Predestinação (1559), segue de perto as formulações de Calvino e Beza, quando ensina que Deus escolheu soberanamente alguns para a salvação e outros para a condenação eterna, afirmando que a salvação do homem depende exclusivamente da graça divina.

Participou da confecção da Confissão Escocesa, caracterizada “pela centralidade de Cristo em cada um de seus  vários tópicos, bem como pela riqueza da espiritualidade e o calor de expressão”.

Knox também percebeu que como a Igreja estava mudando de uma forma para outra completamente, seria necessário a composição de um Livro de Disciplina, onde fosse  elaborado  um  plano  para  a  vida  eclesiástica  e  social  da  nação.  É no Livro de Disciplina, seguindo  a  Confissão  Escocesa,  que  ficam  definidas  como  marcas  da verdadeira  igreja: a pregação correta da Palavra de Deus, a administração correta dos sacramentos (batismo e ceia) e o exercício correto da disciplina eclesiástica.

As marcas, sinais e símbolos seguros pelos quais a imaculada  noiva de Cristo é  distinguida  da  horrível  meretriz,  a  falsa  igreja,  nós  afirmamos,  não  são  nem antigüidade,  nem  título  usurpado,  sucessão  linear,  lugar  indicado,  número  de homens  que  provocam o erro… As  marcas da verdadeira Igreja,  portanto,  nós cremos,  confessamos  e  admitimos  ser:  primeiro,  a  pregação  da  verdadeira Palavra de Deus, na qual Deus tem nos revelado a si mesmo, como os escritos dos  profetas  e  dos  apóstolos  declaram;  segundo,  a  correta  ministração  dos sacramentos de Cristo Jesus, com os quais devem ser associados a palavra de Deus e a promessa de Deus para selá-las e confirmá-las em nossos corações; e por último, disciplina eclesiástica corretamente ministrada, como a Palavra de Deus prescreve, com a qual a imoralidade é reprimida e a virtude é alimentada.

A inclusão da disciplina como terceira marca da igreja o distingue de Calvino, que  embora  tinha  a  disciplina  em  alta  conta,  nunca  afirmou  ser  ela  a  terceira característica da igreja verdadeira. É exatamente nesse ponto que se percebe a influência de Bullinger em seu pensamento, pois é na Confissão Belga de 1536, que essa distinção aparece  pela  primeira  vez.  Também  sua  visão  da  disciplina,  não  pode  ser  entendida legalisticamente, mas deve ser vista à  luz da participação do crente no sacramento da ceia,  que  não  deveria  “ser  profanada  com  a  permissão  de  que  os  negligentes  e  os deliberadamente iníquos se aproximassem da Santa Mesa no momento sagrado em que o Senhor e os participantes estivessem (como diz Knox) ‘unidos simultaneamente’”.

Por: Rev. Hélio de Oliveira Silva

One thought on “O Reformador da Escócia

  1. gostei muito do relato sobre a vida deste homem que optou em fazer com que a igreja não perdesse suas características e que não fosse influenciada por pensamentos que levariam a igreja a perder a CARA de CRISTO, porem após seculos vejo com grande pesar que vivemos uma igreja que infelizmente a igreja hoje tem a cara do homem natural e não do homem religioso segundo Henry Scougal.
    Um Abraço

    Andreia VAlle

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