O reavivamento de que precisamos

PREFÁCIO

“O Reavivamento de que Precisamos”, livro do Dr. Smith, pela sua classificação, é o argumento mais poderoso que já li sobre o reavivamento. Seu autor foi verdadeiramente guiado pelo Espírito de Deus para escrevê-lo. Quanto à ênfase que ele dá à necessi­dade de um reavivamento vindo do Espírito Santo, posso dar o mais sincero amem. O que vi sobre o reavivamento na Coréia e na China está em perfeito acordo com o rea­vivamento referido neste livro.

É muito oportuno o fato de o Dr. Smith ter escla­recido sobre o tipo de reavivamento moderno que é o resultado dos esforços e métodos humanos.

Se todos nós tivéssemos fé para perseverar em ora­ção intensa a Deus haveria então um reavivamento es­piritual e genuíno, e o Deus vivo receberia toda a glória. Em Manchúria e na China quando nada mais fiz senão apresentar uma pequena palestra e deixar o povo orar, ficando eu completamente fora de qualquer evidência, vimos as mais poderosas manifestações do poder divino.

Tivesse eu a riqueza de um milionário colocaria este livro em todos os lares cristãos e esperaria confiantemente por um reavivamento que percorreria todo o mundo.

REV.  JONATHAN GOFORTH, D.D.

Toronto, Canadá

APRESENTANDO O AUTOR

OSWALD J. SMITH, litt. D.

Pastor, Evangelista, Missionário, Autor, Poeta-Escritor de Hinos, Editor e Viajante Mundial.

Como Pastor, ele tem exercido o seu ministério em Toronto desde 1915 — na Igreja Presbiteriana em Dale e no Tabernáculo Aliança, e, desde 1928 na grande igreja do Povo que tem 3.000 membros arrolados.

Como Evangelista, já pregou no Tabernáculo de Spurgeon e na Capela de Westminster, Londres, na Igreja Moody, Chicago e outros cantos na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e Nova Zelândia.

Como um Homem de Grande Visão Missionária, dirige em sua igreja um programa que rende cerca de 3.000 dólares para Missões e está agora contribuindo para o sus­tento de 350 missionários. O Jornal «Church Herald» o considera como «o Pastor da principal Igreja Missionária na face da terra».

Como Autor, tem escrito muitos livros os quais têm tido uma circulação de cerca de um milhão de cópias em 25 línguas diferentes.

Como Poeta e Escritor de Hinos, escreveu cerca de 600 hinos, poemas e cânticos evangélicos incluindo alguns núme­ros famosos tais como «Quando Jesus vier», «Compreende Deus», «A Presença Gloriosa», etc. Ele é o escritor de hinos mais prolífico do Canadá.

Como Editor, publicou uma revista que já tem 35 anos de existência e cuja circulação é mundial.

Como Viajante Mundial, tem percorrido 53 países – Grã-Bretanha, Europa, Ásia, África, índia Central e Ocidental, Alasca, México, Ilhas Salomão, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos e recentemente diversos países da América Latina inclusive o Brasil.

A Publicadora Fleming H. Revell diz a respeito dele: «Há um fogo em seus ossos. Aqueles que o ouvem vêem fogo em seu coração, em seus olhos e nas suas palavras — um fogo que é transmissível aos que o ouvem. Ele começou em nosso mundo uma grande chama de Esperança».

Billy Graham escreve: «O nome Oswald J. Smith simbo­liza evangelização mundial. Seus livros têm sido usados pelo Espírito Santo para penetrar no mais profundo de minha alma e têm tido uma influência extraordinária na minha vida pessoal e no meu ministério».

CAPÍTULO I

O REAVIVAMENTO DE QUE PRECISAMOS

Foi em 1904. Todo o país de Gales estava como que em chamas. A nação tinha-se afastado de Deus.

As condições espirituais eram de nível bastante bai­xo. A freqüência dos fiéis na igreja, medíocre. O pecado grassava por todos os lados.

De repente, como se fosse um tornado que nin­guém esperava, o Espírito de Deus varreu aquela região. As igrejas começaram a encher-se de tal modo que as multidões não podiam entrar. As reuniões começavam às dez e meia da manhã e iam até meia-noite. O instru­mento humano dessas manifestações era Evan Roberts, apesar de pregar muito pouco. O trabalho consistia principalmente em cânticos, testemunhos e oração. Tam­bém não havia livros de hinos, porque os cânticos tinham sido aprendidos na infância. Não havia necessidade de coro porque todos cantavam. Não havia coleta e não se faziam anúncios.

Jamais havia ocorrido qualquer coisa assim, com resultados de tão grande alcance, no País de Gales. Os infiéis convertiam-se, pessoas dominadas pelo hábito da embriaguez, gatunos eram salvos; milhares de pessoas se reabilitavam, passando a viver respeitavelmente. Pa­gavam-se dívidas antigas. Até os animais nas minas de carvão mostravam comportamento diferente, por não es­tarem acostumados aos bons tratos. Dentro de cinco semanas 20.000 pessoas se uniram às igrejas.

Em 1835 Tito Coan desembarcou numa das praias de Havaí. Por ocasião de sua primeira viagem as mul­tidões humanas se aglomeravam para o ouvirem. Pro­curavam-no com tanta insistência que ele mal tinha tempo para comer. Certa ocasião teve de pregar três vezes antes de tomar a primeira refeição. Ele sentia que Deus estava agindo de modo fora do comum.

Em 1837 o fogo hesitante passou a arder com gran­de intensidade. Quase que toda a população do lugar se reunia para ouvi-lo. Falava a 15.000 pessoas. Não podendo procurar as massas, eram essas que o procura­vam em reuniões ao ar livre, durante dois anos. Não havia, quer fosse nos cultos do dia quer nos da noite, uma hora sem que multidões de 2.000 a 6.000 pessoas não se reunissem ao sinal de um sino.

Havia choro, soluços, calafrios e súplicas pedindo misericórdia, às vezes em voz alta que quase não se ouvia a do pregador; centenas de vezes os ouvintes caíam des­maiados. Alguns exclamavam: “A espada de dois gumes me está despedaçando”. O zombador malicioso que veio para se divertir à custa dos outros caiu como um cão e gritou “Deus me feriu!” Uma vez, quando pre­gava para 2.000 pessoas, um homem exclamou, “Que devo fazer para me salvar?”, repetindo a pergunta do publicano, enquanto toda a congregação se levantou pe­dindo misericórdia. Durante meia hora Coan não pôde retomar a palavra, tendo que permanecer de pé con­templando o trabalho de Deus.

Por esse tempo muitas “questões litigiosas se resol­veram amigavelmente, muitas vítimas da embriaguez foram restauradas a uma vida normal e muitos adúlte­ros se converteram. Assassinos se restauravam e eram perdoados. Gatunos restituíam o que tinham furtado e renunciavam o que vinham praticando durante a vida inteira. Num ano entraram para a Igreja 5.244 pessoas. Num domingo houve 1.705 batismos. Nada me­nos de 2.400 pessoas tomaram parte na ceia do Senhor, as quais agora estavam salvas, depois de uma vida dos mais negros pecados. Ao regressar, Coan tinha batizado 11.960 pessoas.

Um jovem advogado, na pequena cidade de Adams, em 1821, dirigiu-se a um local retirado da mata, a fim de orar. Deus foi a seu encontro nesse local e ali ele se converteu de modo portentoso, recebendo o Espírito Santo em toda a plenitude. Esse homem foi Charles G. Finney.

A população ouviu a seu respeito e ficou profun­damente interessada e, como que tomando uma decisão comum, à noite reuniu-se na casa de cultos. Finney es­tava presente. O Espírito de Deus desceu sobre todos com Seu poder e Sua forca para convencer, dando início a um Reavivamento.

O movimento espalhou-se pelas regiões circunvizinhas até que todos os Estados do Leste ficaram firme­mente tomados por um poderoso Despertamento. Quan­do Finney pregava, o Espírito era derramado. Fre­qüentemente ele era precedido por Deus, de modo que, ao chegar ao local, já encontrava o povo a chorar pedin­do a misericórdia de Deus.

Algumas vezes a convicção de pecado era tão grande e ‘provocava gemidos tão lancinantes que Finney tinha de interromper a pregação e esperar que o ambiente serenasse. Convertiam-se Ministros e membros de igre­jas. Os pecadores se regeneravam aos milhares. Du­rante anos o poderoso trabalho da graça continuou ope­rando. Nunca se tinha visto coisa semelhante.

Acabo de relembrar apenas três acontecimentos históricos sobre o Derramamento do Espírito Santo. Poderiam ser citados centenas de outros. Mas, estes bas­tam para mostrar o que quero dizer. É isto o que care­cemos hoje, mais do que qualquer outra coisa, Quando me lembro que tais Derramamentos ocorreram na China, índia, Coréia, África, Inglaterra, País de Gales, Esta­dos Unidos, nas Ilhas dos Mares e em muitos outros lu­gares, e que o que o Canadá, nosso Domínio, nosso pró­prio país tão amado, na sua história ainda não experi­mentou um Reavivamento Nacional, meu coração clama a Deus pedindo uma Manifestação assim de Sua Própria Pessoa.

Será que necessitamos? Ouvi apenas isto! Quantas de nossas igrejas estão com menos da metade dos seus auditórios ocupados, domingo após domingo? Não é nu­merosa a multidão de pessoas que não entra na casa de Deus? Quantas são as reuniões de oração realizadas no meio da semana que se caracterizam pela sua vida e prosperidade espiritual? Onde é que está a fome pelas coisas espirituais?

E, a respeito de Missões das terras longínquas, de além-mar, das trevas do paganismo – o que é que esta­mos fazendo? Porventura as multidões que estão pere­cendo despertam em nós alguma ansiedade? Será que nos tornamos egoístas?

E que dizer a propósito das riquezas tremendas que Deus nos concedeu? Tomai os Estados Unidos como exemplo, a nação mais rica do mundo moderno, tendo a maior parte de seus bens nas mãos de cristãos profes­sos. No entanto, em um ano os Estados Unidos gastaram mais em goma de mascar do que com o trabalho das Missões. Quantos são os cristãos que estão dando a Deus a décima parte do que Deus lhes dá?

Tomai, agora, nossos institutos e seminários, em nossa terra e no campo missionário, onde se ensina a alta crí­tica. Ousam dizer que Jesus nunca fez milagres, nunca ressuscitou dos mortos e não nasceu de uma virgem, não morreu como nosso Substituto e que não vai voltar ou­tra vez.

Quantos são os cristãos professos que estão vivendo uma vida semelhante à de Cristo diante dos homens? Como nos estamos tornando semelhantes ao mundo!

Como é pequena a oposição que encontramos! Onde estão as perseguições que eram desencadeadas contra a Igreja Primitiva? Como é fácil ser cristão hoje em dia!

Que dizer sobre o ministério? Porventura o mi­nistro faz sentir, converte e salva por meio de suas men­sagens? Quantas são as almas que se salvam pela pre­gação da Palavra? Ah, meus amigos, estamos oprimidos com um sem número de atividades eclesiásticas, en­quanto a verdadeira tarefa da Igreja, que é evangelizar o mundo e salvar os perdidos, está quase completamente negligenciada!

Onde está a convicção de pecado que costumamos conhecer? Será alguma coisa do passado? Reparemos numa das reuniões de Finney. Ah, se pudéssemos repe­ti-las hoje! Conta-nos ele que certa vez, quando estava dirigindo reuniões em Antuérpia, um velho convidou-o para pregar numa pequena casa de escola que ficava perto. Ao chegar, a casa estava tão cheia de gente que ele dificilmente conseguiu um lugar para ficar de pé perto da porta. Dali Finney falou durante muito tempo. Finalmente começou a mostrar-lhes que eram uma comu­nidade que não se preocupava com Deus, pois era gente que não mantinha serviços religiosos no distrito. Ime­diatamente foram tomados pelo sentimento da convicção. O Espírito de Deus caiu sobre eles como uma onda elé­trica. Uma por uma das pessoas foi-se ajoelhando ou prostrando se no chão, rogando por misericórdia. Den­tro de dois minutos estavam todos prostrados e Finney teve de interromper a pregação, pois que não conseguia fazer-se ouvir. Por fim ele conseguiu prender a atenção do velho que o convidara e que sentado no meio do re­cinto e olhando em volta de si atônito, tendo que gritar com todo o poder de seus pulmões para pedir que ele orasse. E, então, tomando-os um por um apontou-lhes Jesus. O velho encarregou-se da reunião enquanto ele se dirigia a todos de um em um, durante a noite inteira, tão intensa e profunda era a convicção de pecado. Os resultados permaneceram e um dos jovens que se conver­teram, tornou-se um ministro eficiente do evangelho.

Ah, sim, os homens esqueceram-se de Deus. O pe­cado prolifera por todos os lados. Os ouvintes não são mais arrebatados pelos que falam do púlpito. E eu não sei de outra coisa a não ser o Derramamento do Seu Es­pírito que possa vir de encontro a essa situação. Vintenas e centenas de comunidades foram transformadas pelos Reavivamentos desse tipo e eles poderão transfor­mar as nossas.

Agora, se me perguntardes como conseguir tal Der­ramamento do Espírito, vos responderei: Mediante a oração. É verdade, porém, que é necessário algo antes da oração. Teremos primeiro de tudo de tratar da questão do pecado; porquanto, a menos que nossas vidas sejam retas aos olhos de Deus, a menos que o pecado seja ba­nido, se quisermos, poderemos orar, até o dia do juízo, mas o Reavivamento não se realizará. “Mas as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus: e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça.” (Isaías 59:2).

Provavelmente a melhor orientação que temos a este respeito é a profecia de Joel. Vejamos o que diz. É unir apelo ao arrependimento. Deus está ansioso para aben­çoar Seu povo, porém, o pecado retém a bênção. E, assim, em Seu amor e compaixão, Deus procede o severo julgamento que é descrito nos capítulos um e dois desse livro.

Esse julgamento já está quase às portas da cidade. Reparai, porém, como o Seu amor é grande! Notai os versículos de doze a catorze do segundo capítulo, os quais dizem: “… Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não os vossos vestidos, e con­vertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque Ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em beneficência, e Se arrepende do mal. Quem sabe se Se voltará e Se arrependerá, e deixará após Si uma bên­ção…”.

Agora, meu amigo, não sei qual é o teu pecado. Tu o conheces e Deus o conhece. Quero que penses nele, porque é melhor que pares de orar e te levantes dos teus joelhos enquanto não resolveres o teu caso, e não deixares o teu pecado. “Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá.” (Salmo 66:8). Deixa que Deus sonde o teu coração e revele o teu impedimento. O pecado tem que ser confessado e deixado.

Pode ser que tenhas que abandonar algum ídolo acariciado. Pode ser que tenhas de fazer alguma resti­tuição. Talvez estejas retendo e tirando de Deus aquilo que Lhe pertence. Mas, isso é contigo, e não comigo. É uma questão entre ti e Deus.

Notai agora os versículos quinze a dezessete do capítulo dois de Joel. O profeta convocou uma reunião de oração. O pecado foi confessado e deixado. Agora já estão em condições de orar e de implorar a Deus em Seu próprio nome, para que os povos não digam: “Onde está o seu Deus?” Agora estão morrendo de angústia e por isso sua oração vai prevalecer. Ouve! “Tocai a buzina em Sião, santificai um jejum, proclamai um dia de proi­bição. Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai os filhinhos… Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa a Teu povo, ó Senhor, e não entregues a Tua herança ao opróbrio para que as nações façam es­cárnio dele; porque diriam entre os povos: onde está o seu Deus?”

Ah! Meus irmãos será que estais orando como devíeis? Estais intercedendo junto a Deus em favor desta cidade? Estais suplicando dia e noite por um Derramamento do Seu Espírito? Pois a hora que estamos vivendo é própria para a oração. Somos informados que durante certo tempo na vida de Finney, o Reavivamento estava esmorecendo. Por essa ocasião, ele fez um pacto com os moços, pelo qual todos se comprometeram a orar, ao nascer do sol, ao meio-dia e ao pôr do sol, em seus apo­sentos, durante uma semana. O Espírito foi derra­mado outra vez com abundância e, antes de terminar essa semana, as reuniões eram de novo formadas por multi­dões de pessoas sedentas de evangelho.

É claro que essas orações têm de ser orações cheias de fé, orações que esperem pelos resultados. Se Deus desperta nos corações dos fiéis o desejo de orar em favor de um Reavivamento, é sinal que Deus está desejoso de concedê-lo, e Deus sempre cumpre a Sua palavra. “Haverá chuvas de bênçãos”. Suas promessas não falham. Será que temos fé? Será que de fato esperamos por um Despertamento?

Notemos agora a resposta rápida no versículo de­zoito do capítulo acima citado de Joel. ”Então!” Isto é, depois de terem deixado o pecado e orado a Deus. “Então o Senhor terá zelo da Sua terra, e se compade­cerá do Seu povo.” A resposta não tarda em vir, desde que as condições sejam preenchidas. Temos essa ver­dade claramente exposta nos versículos vinte e oito e vinte e nove: “E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas fi­lhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões. E também sobre os servos e so­bre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito.” Ó, meus irmãos, a dificuldade não está com Deus. Está em nós mesmos. Ele está querendo, mais do que querendo. Nós, porém, não estamos prontos. Ele está à nossa espera. Será que ainda o vamos fazer esperar por muito tempo?

CAPÍTULO II

RESPONSABILIDADE PELO REAVIVAMENTO

Tanto quanto posso lembrar-me, o meu coração, durante minha vida, sempre sentiu ardor todas as vezes que ouvi ou li sobre os feitos realizados pelo poderoso trabalho de Deus, nos grandes Reavivamentos ocorridos no passado. Constituíram uma inspiração indizível para a minha existência os missionários heróicos que levaram a mensagem da Cruz às terras estranhas e os homens de Deus que ao nosso redor constituíram cen­tros dessas Visitações da Graça Divina. David Brainerd, Adoniran Judson, Charles G. Finney, Robert Murray McCheyne e outros têm sido meus companheiros espiri­tuais constantes e amigos do meu íntimo.

Eu os tenho estudado, observado, ouvido e tenho vivido tanto com eles a ponto de quase sentir o espírito do ambiente que os cercava. Suas dificuldades e prova­ções, suas orações e lágrimas, suas alegrias e tristezas, seus triunfos gloriosos e suas realizações vitoriosas vibra­ram em minha própria alma, fazendo-me prostrar sobre meu rosto e exclamar, como o profeta do passado: (Isaías 64:1) “Oh, se fendesses os céus, e descesses…!”.

O grande despertamento do século dezoito, com John Wesley, a tremenda Manifestação Irlandesa de 1859, a Visitação Americana tão gloriosa do século de­zenove, sob Charles G. Finney, e, em nossos dias, o pode­roso Reavivamento Welch de 1904 e 1905 — manifesta­ções como estas têm sido, por assim dizer minha comida e bebida durante muitos anos. Ouvi novamente os solu­ços e gemidos dos convictos de seus pecados, o choro amargo do penitente, e a expressão indescritível de alegria que raiava no rosto dos que eram libertados de suas culpas. Por isso, no meu íntimo, tenho suspirado sem­pre com o desejo de presenciar uma outra Manifestação da presença e do poder de Deus. Desde a minha meni­nice sempre foi um prazer para eu ler a respeito de Deus dessa natureza, entretanto, ultimamente deixei todas as outras leituras de lado, para ler tudo que minhas mãos alcançassem a propósito do trabalho de Reavivamento.  Estudando a vida daqueles a quem Deus apontou através dos séculos, especialmente a obra dos Puritanos, dos Metodistas primitivos, e de outros que vieram poste­riormente, foi-me possível perceber como esses homens eram admiravelmente possuídos por Deus, como eles tra­balhavam, esperavam e conseguiam o que buscavam. Com isso fui compelido a admitir que atualmente eu não encontraria nada de semelhante no meu próprio ministério ou no ministério de outros. A igreja no geral não cogita de tais resultados. Os pregadores pregam e nem sequer sonham que enquanto pregam está aconte­cendo alguma coisa admirável. Oh, como nos distancia­mos da finalidade da pregação! Como nos tornamos destituídos do poder!

Lê-se num relatório que, durante um ano inteiro, 7.000 igrejas não ganharam uma alma sequer para Jesus Cristo. Isso quer dizer que durante um ano inteiro 7.000 ministros pregaram sem alcançar uma só alma perdida. Supondo-se que pregaram pelo menos em quarenta do­mingos, o que é média baixa, sem contar outras reuniões, isso significa que os 7.000 ministros pregaram pelo me­nos 560.000 sermões num só ano. Considerai o trabalho, o esforço e o dinheiro gasto em salários, etc., para tor­nar possível essa pregação. Não obstante os 560.000 ser­mões pregados em 7.000 igrejas a dezenas de milhares de ouvintes, durante um período de doze meses, nem uma alma sequer para Cristo! É doloroso!

Agora, meus irmãos, é preciso dizer que está ha vendo qualquer coisa muito errada em algum lugar. Há algo de anormal ou com esses 7.000 ministros ou com os seus 560.000 sermões ou com ambas as coisas.

Ao ler todas as Doze Regras da Igreja Metodista primitiva fiquei impressionado com o fato de que eles almejavam e tinham em vista a salvação de almas como a sua tarefa suprema. Permiti que vos mencione uma dessas regras: “Não tendes nada mais a fazer senão salvar almas. Por isso gastai e gastai-vos neste trabalho. Não é vosso dever pregar tantas vezes; mas, salvardes tantas almas quantas for possível; trazerdes tantos pecadores ao arrependimento quantos puderdes  e edificá-los com todas as vossas forças na vida de santidade, sem a qual não poderão ver o Senhor”.   Das Doze Regras  – John Wesley.

A vida de G. Bramwell é uma demonstração prática da aplicação desta regra. “Ele não era, no sentido co­mum da expressão, um grande pregador. Mas, se o ho­mem que consegue maior número de curas é o médico melhor, pregador é aquele que serve de instrumento para trazer o maior número de almas para Deus; e sob este ponto de vista Bramwell está destinado a figurar entre os maiores e melhores ministros cristãos” – Memória de G. Bramwell.

John Oxtoby era tão usado por Deus que podia di­zer: “Diariamente eu presencio a conversão de peca­dores e raramente saio a serviço sem que Deus me dê alguns frutos”.

Disseram-me que John Smith, um dos homens mais admiravelmente ungidos, e pai espiritual de milhares de criaturas, “deixara de avaliar toda a pregação e todo o trabalho do ministério a não ser pelos efeitos produ­zidos na salvação”. “Pela graça de Deus eu estou re­solvido a buscar almas”, exclamou ele em certa ocasião. ” O ministro do Evangelho é enviado para tirar os ho­mens das trevas e levá-los à luz e para arrancá-los do poder de Satanás, para o poder de Deus!”

Para essa espécie de pregação que produz apenas prazer intelectual, ele consagrava um sagrado desprezo.

Nada é mais característico desse homem do que a sua observação a um amigo, a respeito de sermões em que a força do intelecto e da imaginação é o que predo­mina: “esses sermões não produzem nada, senhor” – Vida de John Smith.

“Não posso dizer como é que empregam o seu tempo aqueles que se arrastam e não produzem frutos. Se isso acontecesse em minha vida, estaria pronto a concluir que eu estava deslocado.” – T. Taylor.

“Se os vossos corações não estiverem voltados para os vossos labores e não quiserdes profundamente ver a conversão e a edificação dos vossos ouvintes, e não estudardes e não pregardes com esperança, correis o risco de não verdes muitos frutos do vosso trabalho. Será um mau sinal de um coração falso e vaidoso que se contenta em prosseguir sem ver os frutos do seu esforço.” – Richard Baxter.

Fiz uma comparação entre os resultados do meu ministério com as promessas de Deus. Em Jer. 23:29 eu li: “Não é a minha palavra como o fogo, diz o Senhor; e como um martelo que esmiúça a penha?”. Em Efésios 6:17: “… a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus.” Quanto mais eu considerei o assunto mais me convenci que em meu ministério a Palavra de Deus não foi Fogo, Martelo ou Espada, pois, não queimou, não despedaçou, nem penetrou. Não houve execução. Heb. 4:12 declara que “…a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e pene­tra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e me­dulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” Nunca a vi assim. John Wesley viu. John Smith foi um observador constante desses fatos. David Brainerd testemunhou sua acuidade; e eu não. “Assim será a palavra que sair da rainha boca: ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.” (Isaías 55:11). Eu sabia que esta promessa admirável não se havia cumprido em mi­nha pregação. Não estava de posse da evidência de Pau­lo, de G. Bramwell e C. G. Finney, segundo a qual ela não voltaria vazia e eu tinha direito de ter evidência. Seria, pois, de admirar que eu começasse a desafiar minha própria pregação!

E não só minha pregação, mas a minha vida de oração também. Esta também tinha que ser posta à prova pelos resultados. Fui assim forcado a admitir que a confiante asserção de Jeremias 33:3: “Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e fir­mes, que não sabes”, não se estava realizando em minha experiência. As “coisas grandes e firmes” eram obser­vadas quase diariamente por Evan Roberts, Jonathan Goforth e outros, porém, não por mim. Daí as expres­sões de João 14:13,14: ” E tudo quanto pedirdes em Meu nome eu O farei… Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei”, não serem reais no meu caso. Para mim essas palavras não tinham vitalidade pois eu já havia pedido muitas coisas sem as receber e este fato estava em contradição com a promessa.

“Assim cheguei à conclusão de que havia qualquer coisa radicalmente errada na minha vida de oração.

Lendo a autobiografia de C. G. Finney, vi que ele também havia experimentado o mesmo fracasso. “Fi­quei particularmente impressionado”, ele relata, “com o fato das orações que eu tinha feito e ouvido semana após semana não terem sido respondidas”, como acon­tecia comigo. Na verdade, compreendi, pelos pedidos ex­pressos e por outras observações, que aqueles que ora­vam não tinham obtido resposta.

“Exortavam-se mutuamente a se despertarem e a se empenharem em orar fervorosamente em favor de um Reavivamento religioso, afirmando que se fizessem o que deviam se orassem pelo Derramamento do Espírito, e o fizessem com intenso desejo de coração, o Espírito de Deus seria derramado, teriam o reavivamento da reli­gião e os impenitentes se converteriam. No entanto, em suas orações e reuniões confessavam continuamente que não estavam fazendo progresso no sentido de consegui­rem o reavivamento desejado.

Esta situação pouco consistente de orarem tanto e não serem atendidos constituía uma pedra de tropeço para mim. Não sabia o que fazer. Em minha mente permanecia a questão de saber se estas pessoas não eram verdadeiramente cristãs, se era por isso que seus pedidos não prevaleciam diante de Deus; ou era eu que não es­tava compreendendo as promessas e ensinos da Bíblia sobre o assunto; ou então se eu devia concluir que a Bí­blia não dizia a verdade. Para mim o caso tinha qual­quer coisa de inexplicável. Durante algum tempo quase que fui arrastado para o ceticismo. Queria parecer-me que os ensinamentos da Bíblia não estavam absoluta­mente de acordo com os fatos que eu tinha diante dos olhos.

Em certa ocasião, estando presente num culto de oração, perguntaram-me se eu não desejava que orassem por mim. Disse-lhes que não, porque eu não via Deus responder suas orações. Foram estas as minhas pala­vras: Suponho que eu preciso que orem por mim, pois eu tenho consciência de que sou pecador; porém não sei se vai adiantar que oreis por mim, porquanto estais pe­dindo continuamente e não recebeis o que pedis. Tendes orado em favor de um reavivamento religioso desde que vim para Adams e ainda não o tivestes”!

Quando John Wesley terminou de proferir sua mensagem, chorou diante de Deus pedindo que “confir­masse Sua Palavra” que “a selasse” e que “desse teste­munho dela”. Deus o atendeu. Os pecadores foram to­cados imediatamente, e começaram a chorar pedindo mi­sericórdia, sentindo tremenda convicção de pecado. Logo depois, dentro de um instante, sentiam-se libertados, e tomados de uma alegria inexprimível na certeza da Salvação recebida naquele momento.   Em seu admi­rável diário, ele registra o que seus olhos viram e o que seus ouvidos ouviram, com as seguintes palavras: “Nós percebemos que muitos ficaram ofendidos com as excla­mações daqueles que foram tocados pelo poder de Deus; entre eles havia um médico, que temia que houvesse fraude ou mistificação naquela ocorrência. Hoje, um daqueles a quem tinha conhecido, há muitos anos, foi a primeira pessoa a gritar muito alto e a derramar lágri­mas. Mal ele podia acreditar no que seus olhos estavam vendo e seus ouvidos ouvindo. Dirigiu-se para perto dela e de pé se pôs a observar cuidadosamente os sinto­mas, não tardando em verificar grandes gotas de suor correndo pela sua face e em ver que os seus membros tremiam. Foi então que ficou sem saber o que pensar, convencendo-se definitivamente de que não havia fraude, nem qualquer anormalidade. E, quando o corpo e a alma daquela mulher repentinamente experimentaram a cura, esse médico reconheceu que tudo fora operado pelo dedo de Deus”.

A experiência da Igreja primitiva também foi assim. “E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que fare­mos, varões irmãos!” (Atos 2:37). “Detiveram-se pois muito tempo, falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à Palavra da Sua graça, permi­tindo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios.” (Atos 14:3). Oravam para que sinais e prodígios pudessem “ser operados” (Atos 4:30). Paulo declarava que o Evangelho é “o poder de Deus para salvação” (Romanos 1:16). Entretanto, tudo isso era sobrema­neira estranho ao meu ministério.

No Reavivamento da Irlanda em 1859, “sinais e prodígios” foram vistos de todos os lados. Entre os Me­todistas primitivos eram ocorrências diárias. Para mim, contudo, o Evangelho não era “o poder de Deus para salvação”. Deus não “confirmava Sua Palavra”, não “imprimia o Seu selo”, nem “dava testemunho da Sua Palavra”, quando eu pregava. Eu sabia que tinha o di­reito de esperar, pois o próprio Jesus prometera essas coisas. “… Aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço”, Jesus declarou, “e as fará maiores do que estas…” (João 14:12).

Foi então que, certo dia, lendo o livro de Atos dos Apóstolos, descobri que os servos de Deus na Igreja Pri­mitiva tinham sempre resultados onde quer que, fossem. Verifiquei, quando lia, que eles almejavam, trabalhavam, esperavam e nunca deixaram de conseguir esses frutos. No dia de Pentecostes, Pedro pregou e 3.000 pessoas atenderam ao seu primeiro apelo. Foi um resultado nítido. Com Paulo deu-se a mesma coisa. Seguindo-o, de lugar a lugar, vemos que por onde ele passa surgem igrejas. Reparemos como os resultados do esforço se re­petem por todo o livro de Atos. “Agregaram-se quase três mil almas” (2:14). “Muitos daqueles que ouviram a Palavra creram, e se voltaram ao Senhor” (11:24). “E, uma grande multidão creu” (11:1). “E alguns deles creram… e também uma multidão de religiosos, e não poucas mulheres principais.” (17:4). “Muitos creram” (17:34). “Alguns creram” (27:24).

E por isso, Paulo pôde declarar “as quais coisas Deus operou pelo Seu ministério” (21:19).

Oh, como estamos longe desse objetivo! Como é triste o meu fracasso! Falhei exatamente naquilo que Deus me chamou fazer em favor do Ministério. Quão raras foram as vezes em que, depois de pregar ou de escrever, foi-me possível afirmar que “grande número creu e se voltou para o Senhor”, ou pelo menos que “al­guns creram”. Também não me foi possível dizer, como Paulo, que coisas extraordinárias Deus operou pelo meu ministério.

Deus afirma clara e enfaticamente que é de Sua vontade que todo o Servo Seu produza fruto. “… Eu vos escolhi a vós, e vos nomeei”, Ele afirma, “para que vades e deis fruto…” (João 15:16).

Por um tempo demasiadamente longo, contentei-me em semear e evangelizar, dando a desculpa que deixava os resultados com Deus, certo de que já tinha cumprido meu dever. Quando as pessoas se convertem e se sentem grandemente abençoadas, elas dizem o que experimen­taram, e se não dizem, temos razões para duvidar do resultado. Jorge Whitetield algumas vezes recebeu centenas de cartas narrando conversões e bênçãos recebidas depois dele ter pregado.

“Ide para a assembléia pública com o propósito de atingir e persuadir algumas almas ao arrependimento e à salvação. Ide com o fim de abrir os olhos que não vêem, de desobstruir os ouvidos que não ouvem, de fazer os mancos andarem, e de tornar sábios os que são insensatos, de levantar os que estão mortos em seus delitos e pecados, para a vida divina e celestial, e trazer os culpados e rebeldes ao amor e à obediência ao seu Autor, mediante Jesus Cristo, o grande Reconciliador, para que sejam perdoados e salvos. Ide para que todos sintam o sabor do evangelho, sintam a influência de Cristo e para que as almas sejam atraídas pela Sua graça e pela Sua Glória”. Dr. Watts.

Há homens que sentem possuir um dom especial para a edificação dos crentes, e por isso se entregam ao for­talecimento da Fé Cristã. Foi com isso que me desviei da verdadeira rota. Sentia que tinha vocação especial para ensinar e falar aos jovens cristãos sobre a Vida Mais Profunda e com esse desejo preparei algumas pa­lestras, tendo o intuito de consagrar meu tempo a esse serviço, até que, um dia, Deus misericordiosamente abriu meus olhos e me mostrou quanto estava longe do cami­nho. Não há nada que aprofunde tanto a experiência crista, edifique tanto os crentes e os fortaleça tanto na Fé, tão rápida e completamente, como ver almas se salvando. Reuniões com um senso profundo do Espírito Santo, em que o poder de Deus esteja operando inten­samente na convicção e salvação de pecadores, farão mais para os cristãos do que anos de ensino sem esse auxílio. Foi essa experiência de David Brainerd. Escre­vendo acerca dos hindus, entre os quais trabalhava, diz: “Muitas destas pessoas adquiriram mais conhecimento doutrinário sobre as verdades divinas desde que os visi­tei pela primeira vez, no último mês de junho, do que poderia ser instalado em suas mentes pelos processos de instrução mais eficazes durante anos de esforço, sem a influência divina”.

G. Brannvell relata o seguinte incidente: “Vários pregadores de certo local tinham afirmado que sua voca­ção não era despertar e levantar pecadores descuidados e impenitentes, mas, fortalecer os crentes em sua Fé. Bramwell procurou demonstrar que essa maneira de ver freqüentemente era usada como desculpa para explicar a ausência da vida e do poder de Deus. Se bem que al­guns pregadores tenham dom especial para confortar e edificar os crentes, contudo, os verdadeiros servos de Cristo, aqueles a quem Ele mandou para a vinha, podiam fazer todo o tipo de trabalho. Podiam arar, cavar, plantar, semear, aguar, etc., e ele insistia com ênfase a fim de que os pregadores não se satisfizessem sem ver os fru­tos do seu trabalho, no despertamento e na conversão de pecadores”.

“O fortalecimento dos crentes na sua Fé, por mais Santa que fosse, era o objetivo principal do ministério de Smith; entretanto ele nunca encarou esta espécie de trabalho como eficiente se seus resultados não se mani­festassem na conversão de pecadores”. — Vida de John Smith.

“Todo aquele zelo ardoroso e esforço de acordo com as escrituras que anseia pela conversão de pecadores, também edifica os crentes com perfeição”. — Vida de John Smith.

O trabalho entre os crentes em si mesmo não basta.

Não importa o grau de espiritualidade pretendido por uma igreja. Se as almas não se salvam em seu seio é porque há alguma coisa radicalmente errada e a preten­dida espiritualidade não passa de uma experiência falsa, de uma ilusão do diabo. Os que se contentam em se reunir simplesmente para passarem uma hora agradável estão longe de Deus. A verdadeira espiritualidade sempre traz resultados. Com ela coexistem o anseio e o amor pelas almas. Já estivemos em lugares que se jac­tavam de ser profundamente espirituais e muitas vezes descobrimos que tudo o que aí se passava dizia respeito só à cabeça, nada havendo que alcançasse o coração. Não raro esses lugares coincidiam com a presença de pecados que não eram confessados. “Tinham uma espécie de Piedade, mas, negavam o seu poder”. Como tudo isso é patético! Desafiemos, portanto, nossa espiritualidade e indaguemos sobre o que é que ela está produzindo. Jamais se produzirá um reavivamento entre ímpios, que satisfaça a Deus, se não houver operação do poder que produz conversões.

CAPÍTULO III

ANGÚSTIA PELAS ALMAS

Em Isaías 66:8, lemos estas palavras: “… Sião esteve de parto e já deu à luz seus filhos.” Estas pala­vras dão idéia da realidade mais fundamental no trabalho de Deus. Perguntemos logo de início se é pos­sível a uma criança vir ao mundo por parto natural sem que a mãe experimente dores. Não. Sem trabalho de parto não pode haver nascimento natural. Não obstante, no reino espiritual há muitos que esperam o que não é possível. Ah! Meus irmãos, nada, absolutamente nada menos que um sofrimento comparável ao de um parto, pode-se esperar para que haja o nascimento dos filhos espirituais! Finney, por exemplo, conta-nos que quando intercedia junto a Deus em favor de uma alma perdida sua agonia era tão grande que não podia articular uma palavra, tendo que expressar seu pedido gemendo e cho­rando. Esse o verdadeiro trabalho.

Podemos fazer tudo por uma criança que está prestes a se asfixiar e nada por uma alma que perece? Não é difí­cil chorar quando vemos o pequenino que vai definhando e desaparecendo e a quem vemos pela última vez. Nesses casos a nossa angústia é espontânea. Não é difícil que a agonia se apodere de nós, ao contemplarmos o caixão contendo o corpo daquele pequeno ente que era tudo quanto amávamos e que agora vai ser arrancado do nos­so lar. Ah, não! Nesses momentos as lágrimas são as coisas mais naturais do mundo! Entretanto, sabermos e compreendermos que almas eternas e preciosas estão perecendo a nosso redor, a caminho das trevas e do de­sespero, perdidas para sempre, e não sentirmos angústia, não derramarmos lágrimas, não sofremos com isso… Não é abominável? Come é pouco o que conhecemos da compaixão de Jesus! Deus pode nos conceder essa forma de sensibilidade, e se não a temos a culpa é nossa.

Como vos lembrais, Jacó lutou até prevalecer. E, no entanto, quem é que está fazendo como ele em nossos dias? Quem é que está agonizando em oração ? Quantos, mesmo entre os nossos guias cristãos mais espirituais, estão contentes por gastarem meia hora por dia sobre seus joelhos, orgulhando-se do tempo que consagram a Deus?! Sim. Esperamos resultados incomuns e os resultados incomuns são inteiramente possíveis; sinais e prodígios poderão seguir-se, porem somente por meio de esforços incomuns no reino espiritual. Assim sendo nada menos que a intercessão agonizante e contínua em favor de almas, nada menos que horas seguidas de suplicas, dias e noites de oração ininterrupta poderá dar resultados. Portanto. “Cingi-vos e lamentai-vos, sacer­dotes; gemei ministros do altar; entrai e passai, vestidos de sacos, durante a noite, ministros do meu Deus; por­que a oferta de manjares e a libação cortadas foram da casa de vosso Deus. Santificai um jejum, apregoai um dia de proibição, congregai os anciãos, e todos os mora­dores desta terra, na casa do Senhor vosso Deus, e clamai ao Senhor.” (Joel 1:13-14.) Ah, sim, Joel sabia o se­gredo. Coloquemos então tudo de lado, e “clamemos ao Senhor”.

“Nas biografias dos nossos antepassados que eram muito mais eficientes do que nós em ganhar almas, lê-se que eles costumavam orar secretamente durante horas. E assim surge a pergunta: Será que nós conseguiremos os mesmos resultados sem seguir o seu exemplo? Se for possível, então, provemos ao mundo que encontramos um método melhor; mas se “for impossível, então, em nome de Deus, principiemos a imitar aqueles que pela fé e paciência obtinham as promessas. Nossos ante­passados choravam, oravam e sentiam agonia diante do Senhor, suplicando que os pecadores fossem salvos e não descansavam enquanto estes não fossem tocados pela Espada da Palavra de Deus. Era esse o segredo do seu êxito portentoso; quando as coisas esmoreciam e não pro­grediam, eles lutavam em oração enquanto Deus não derramasse o Seu Espírito sobre o povo e os pecadores não se convertessem”. (Do livro — “Para aqueles que buscam”.)

Todos os homens de Deus tornaram-se homens poderosos na oração. Dizem-nos que, na China, o sol nunca se levantou sem encontrar Hudson Taylor sobre os joelhos, em oração. Não é de admirar que a Missão do Interior da China tenha sido tão admiravelmente usada por Deus!

A conversão é a operação do Espírito Santo e a oração é a forca que garante essa operação. As almas não são salvas pelos homens, mas por Deus, e, uma vez que Deus atua em resposta à oração, não podemos deixar de seguir o plano divino. A oração põe em movimento o braço que move o mundo.

A oração que prevalece não é fácil. Só aqueles que lutaram contra as das trevas sabem como ela é difícil. Paulo diz que “não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares ce­lestiais.” (Efésios 6:12). Também é Paulo quem declara que quando o Espírito Santo intercede por nós, Ele o faz com “gemidos inexprimíveis” (Romanos 8:26).

Como são poucos os que encontram tempo para orar! Há tempo para tudo o mais, tempo para dormir e comer, tempo para ler o jornal e a novela, tempo para visitar amigos, tempo para tudo o que há debaixo do sol — só não há tempo para orar, a mais importante de to­das as coisas, o único esforço que é essencial na vida!

Consideremos o caso de Suzana Wesley que, apesar de ter dezenove filhos, encontrava tempo para se fechar em seu quarto durante uma hora inteira de oração, dia­riamente, ficando a sós com Deus. Afirmo-vos, meus amigos, que não é tanto questão de se arranjar tempo, como é de se fazer o tempo. Se nós quisermos faremos o tempo que for preciso.

Os apóstolos consideravam esse assunto tão impor­tante que não organizavam horários para essa atividade, mas diziam: “… nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra”. (Atos 6:4)

Contudo, como são numerosos os ministros sobrecarregados com o lado financeiro do trabalho, e como é grande o número de oficiais de igreja que deixam tal encargo aos ministros! Não admira que nos tempos que correm o trabalho espiritual seja tão insignificante!

“E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite em oração a Deus”, (Lucas 6:12). Eis o que está registrado a respeito do Filho de Deus; se era preciso que Ele fizesse isso, quanto mais nós! Consideremos bem: “passou a noite em oração.” Quan­tas vezes seria possível dizer-se a mesma coisa a nosso respeito? Daí a Sua força! Daí a nossa fraqueza!

Com que freqüência os profetas do passado insistem sobre a vida de oração! Ouçamos Isaías quando excla­ma: “… ó vós, os que fazeis menção do Senhor, não haja silêncio em vós. Nem estejais em silêncio, até que confirme, e até que ponha a Jerusalém por louvor na terra.” (Isaías 62:6-7).

“Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa a teu povo, ó Se­nhor, e não entregues a Tua herança ao opróbrio, para que as nações façam escárnio dele; porque diriam entre os povos: Onde está o seu Deus?” (Joel 1:17)

E eles não se limitavam a insistir sobre a oração, mas eles mesmos oravam. Daniel diz: “E eu dirigi o meu rosto ao Senhor Deus, para O buscar com oração e rogos, com jejum, e saco e cinza. E orei ao Senhor meu Deus, e confessei…” (Daniel 9:3-4). Esdras também manejou a mesma arma poderosa em todas as ocasiões difíceis. “… E me pus de joelhos”, diz ele, “e estendi as minhas mãos para o Senhor meu Deus.” (Esdras 9:5). Segue-se então a sua oração mais notável. Neemias empregava o mesmo método. “E sucedeu que, ouvindo eu estas palavras, assentei-me e chorei”, disse ele, “e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos Céus.” (Neemias 1:4).

Tal era também a prática da Igreja Primitiva. Quando Pedro estava na prisão, afirma-se que “a Igreja fazia contínua oração por ele a Deus” e “muitos esta­vam reunidos e oravam”.

Agora, para concluir, vejamos o arquivo em que se registra a maneira como Deus tratou Seus servos honra­dos, e ouçamos o que Eles nos dizem sobre o segredo dos resultados. E oxalá que Ele também coloque sobre nós o mesmo fardo da oração e da súplica que Ele colocou sobre esses gigantes espirituais, concedendo-lhes tão grande trabalho.

“Toda a noite anterior do dia 21 de junho de 1630, John Livingstone a empregou orando, sendo designado para pregar no dia seguinte. Depois de ter falado du­rante uma hora e meia algumas gotas de chuva iam atra­palhando o povo, mas Livingstone lhes perguntou se já tinham algum abrigo para se refugiarem da tempestade da ira de Deus e continuou a pregar por mais uma hora. Houve cerca de 500 sermões naquele lugar.” (Do livro — Livingstone, de Shotts)

“Conheci um ministro que teve um reavivamento durante catorze invernos consecutivos. Eu não conseguia explicar como isso fora possível, até o dia em que vi um dos seus companheiros levantar-se numa reunião de ora­ção e fazer uma confissão. “Irmãos”, disse ele, “há muito tempo tenho o hábito de orar os sábados à noite até a madrugada, pedindo a descida do Espírito Santo sobre nós. E, agora, irmãos”, e ele começou a chorar, “confesso que negligenciei nesse esforço durante duas ou três se­manas. O segredo estava exposto. Aquele ministro ti­nha uma igreja que orava.” (C. G. Finney)

“Oração eficiente ou que prevalece é a oração que alcança as bênçãos procuradas. É aquela oração que de fato comove a Deus. A idéia de oração profícua é a da “oração que tem efeito sobre seus objetivos”. (C. G. Finney)

“Em certa cidade durante muitos anos não tinha havido reavivamento; a Igreja estava quase extinta; a mocidade não era convertida e a desolação persistia inquebrantável. Num subúrbio da cidade vivia um velho ferreiro que gaguejava tanto ao falar que era penoso ouvi-lo. Numa sexta-feira, estando a trabalhar só em sua oficina, seu pensamento ficou profundamente im­pressionado com o estado da Igreja e dos impenitentes que a freqüentavam. Sua agonia foi tão intensa que foi induzido a deixar de lado o trabalho, trancar a porta e gastar aquela tarde em oração.

Ele prevaleceu e no dia seguinte, que era sábado, procurou o ministro, desejoso de que este convocasse uma série de conferências. Depois de hesitar, o ministro con­cordou, dizendo, contudo, que receava que não houvesse assistência. Ele marcou-a para a mesma noite numa casa particular. Ao anoitecer a casa estava repleta. Durante algum tempo todos ficaram silenciosos, mas não tardou que um pecador rompesse em lágrimas, pedindo que todos os que pudessem orar orassem em seu favor. Seguiu-se outro, outro, mais, e outro ainda, até se per­ceber que pessoas de diferentes partes da cidade esta­vam tomadas por um senso profundo de convicção de seus pecados. E o mais notável de tudo era o fato de todos eles indicarem que principiaram a se convencer de seus pecados exatamente na hora em que o velho estivera orando em sua oficina. Seguiu-se um Reavivamento poderoso. E assim prevaleceu este velho que gaguejava e que como um príncipe desfrutava de grande poder vindo de Deus”. (C. G. Finney)

“Hoje intercedi junto a Deus durante várias horas dentro da mata, tendo em vista a salvação de almas. Ele mas dará. Conheço o indício de que Ele mas dará. Sei que nesta noite eu as terei. Confio que a vossa será uma delas. Veio a noite e, com ela, um poder como nunca senti. Por toda a igreja havia pedidos de misericórdia em altas súplicas. Antes de terminar o sermão, eu e muitos outros ficamos de joelhos para rogar que houvesse salvação.” (Um dos Convertidos de T. Collins)

“Fui para o meu retiro solitário entre os rochedos e chorei muito enquanto pedia a Deus que me desse almas”. (T. Collins)

“Empreguei a sexta-feira jejuando, meditando e pedindo auxílio para o trabalho do domingo. Mais ou menos no meio do sermão um homem gritou; diante disso minha alma parece ter fugido. Caí sobre meus joelhos em oração e não pude continuar a pregar por causa das súplicas e lágrimas que se ouviam por toda a capela. Continuamos intercedendo e houve salvação.” (T. Collins)

“Ele se entregou à oração. O local era represen­tado ora pelas matas, ora pelas estradas ermas. Nesses exercícios o tempo passava rapidamente. Nos lugares so­litários ele parava para orar, e o Céu parecia vir a ele, de modo que as horas corriam sem que ele as percebesse. Fortalecido pelo poder desses batismos, tornou-se ousado em apresentar a cruz e desejoso de carregá-la”. (Vida de T. Collins)

“Fui tomado por profunda agonia. Ao voltar para meu quarto, sentia-me desfalecer como que sob o peso de um grande fardo que estava em meu pensamento; con­tinuei lutando e gemendo em agonia, sem poder expres­sar a Deus com palavras aquilo que eu desejava; gemer e derramar lágrimas era o que eu fazia. O espírito lutava dentro de mim com gemidos inexprimíveis” (C. G. Finney)

“Propus que fizéssemos um concerto íntimo de ora­ção, pedindo pelo reavivamento do trabalho de Deus; que orássemos ao amanhecer, ao meio-dia e ao anoitecer, em nossos quartos, durante uma semana, depois disso devíamo-nos reunir para vermos o que deveria ser feito. Não foi usado nenhum outro meio para o reavivamento do trabalho de Deus. O espírito de oração, porém, der­ramou-se poderosamente sobre os jovens convertidos. Antes de terminar a semana soube que alguns deles, quando procuravam tomar parte neste esforço de oração, perdiam completamente as forças, incapazes de ficar de pé, ou mesmo de se manter ajoelhados em seus quartos; que alguns se prostravam sobre o solo e oravam com ge­midos inexprimíveis em favor do derramamento do Es­pírito de Deus. O Espírito foi derramado e em menos de uma semana. Todas as reuniões estavam repletas. Havia tanto interesse religioso como sempre houve em qualquer época de reavivamento.” (C. G. Finney)

“Vi-o muitas vezes descer para o andar térreo, pela manhã, depois de passar várias horas em oração, tendo os olhos tumefatos por ter chorado. Não tardava em se explicar, dizendo: Estou com o coração quebrantado; sim, um infeliz; não por mim, mas por causa dos outros. Deus me concedeu uma visão do grande valor das almas preciosas, e eu não poderei viver enquanto não vir que elas se salvam. Qh! Dá-me almas ou eu morro”. (Vida de John Smith)

“Deus permitiu que agonizasse em oração, tendo eu ficado banhado em suor, apesar de estar na sombra e exposto a um vento frio. Minha alma afastou-se muito deste mundo, pedindo em favor de multidões de almas.” (David Brainerd)

“Pelo meio da tarde Deus permitiu que eu lutasse intercedendo em favor de meus amigos e, à noite daquele mesmo dia, o Senhor visitou-me de modo maravilhoso quando eu orava. Penso que minha alma anteriormente nunca experimentara tanta agonia. Não senti o menor constrangimento; os tesouros da graça Divina tinham-se aberto e posto à minha disposição. Lutei em favor de meus amigos, para as conquistas de almas, em favor das multidões de almas que me pareciam tão pobres e em favor de muitas pessoas das mais diversas localidades, que eu pensava fossem filhos de Deus. Desde meia hora depois do meio-dia até o anoitecer, fui tomado por tão grande agonia que transpirei abundantemente.” (David Brainerd)

“Retirei-me para orar, esperando receber força do alto. Durante a oração senti-me excessivamente elevado e minha alma tão transportada como nunca me lembro de tê-la sentido em minha vida. Meu estado era tão angustioso e eu suplicava com tanta insistência e anseio de alma que ao me levantar senti meus joelhos extrema­mente fracos e vencidos. Dificilmente consegui andar; minhas articulações pareciam desfeitas; o corpo parecia dissolver-se.” (David Brainerd)

“A oração precisa levar nosso trabalho para adiante, assim como a pregação. Aquele que não ora com todo o coração para o seu povo, não lhes pode pregar com o coração. Se não prevalecermos diante de Deus rogando que lhes conceda o arrependimento e a fé, é pouco provável que prevaleçamos perante eles para que se arrependam e creiam. Paulo dá-nos com freqüência esse exemplo, orando dia e noite em favor de seus ou­vintes.” (Richard Baxter)

“Diversos membros da igreja de Jonathan Edwards passavam a noite toda em oração antes de ele pregar o sermão, memorável sermão, intitulado: “Os Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”. O Espírito Santo se derra­mou tão poderosamente e Deus manifestou Sua santi­dade e majestade durante a pregação daquele sermão, de tal modo que os anciãos lançaram seus braços ao redor das colunas da igreja, gritando: “Salva-nos, Senhor, pois, estamos escorregando para o inferno!”

“Quase todas as noites havia tremor entre o povo; e eu vi cerca de vinte pessoas postas em liberdade. Creio que devia ver muito mais, porém não encontrei ainda os que lutam com Deus. Em dois ou três lugares ouvimos ex­clamações pedindo por misericórdia, tendo alguns ficado em estado de profundo desespero”. (G. Bramwell)

“Nos locais em que os resultados desejados não se seguiam ao seu ministério, ele passava dias e noites em oração constante, de joelhos, chorando e intercedendo perante Deus; especialmente deplorando a própria deficiência para o grande trabalho de salvar almas. Por vezes, era literalmente tomado de agonia para que as almas nascessem, até ver Cristo magnificado na salvação daqueles em favor dos quais suplicava”. (Vida de John Smith)

“Se gastardes várias horas em oração diária, haveis de ver grandes coisas”. (John Nelson).

“Estabeleceu a regra de se levantar cerca da meia-noite e ficar acordado até as duas para orar e falar com Deus; depois dormia até as quatro, quando se levantava regularmente.” (Vida de John Nelson)

“Seja constante em instar em oração. Estudo, li­vros, eloqüência, belos sermões não são nada sem oração. A oração traz o espírito, a vida, o poder”. (Memória sobre David Stoner)

“Acho necessário começar às cinco da manhã e orar em todas as ocasiões até dez ou onze da noite.” (G. Bramwell)

Mas será preciso ir à busca daqueles homens de Deus e tão poderosos do passado? Será que hoje não existe alguém que peça a Deus para pôr o fardo seus ombros? Será que nesta geração, mesmo, não conseguiremos um reavivamento em resposta ao trabalho fiel e confiante da oração que prevalece? Seja esta, então, a nossa súplica: “Ensina-nos, Senhor, como orar e não a orar”.

CAPÍTULO IV

A CONCESSÃO DO PODER

Espírito Santo é capaz de fazer a Palavra tão poderosa nos dias de hoje como o fazia no tempo dos apóstolos. Pode trazer almas a Cristo às centenas e aos milhares, como de uma em uma ou de duas em duas. A razão de não sermos tão prósperos no trabalho é que não temos o Espírito Santo na plenitude de Sua força e de Seu poder como acontecia nos tempos primitivos.

“Se tivéssemos o selo do Espírito em nosso ministério, com o Seu poder, os nossos talentos pouco importariam. Os homens poderiam ser pobres e indoutos, suas palavras poderiam ser difíceis ou desprovidas de gramá­tica; se a força do Espírito as acompanhasse, o mais humilde evangelista poderia ser mais eficiente que os mais eruditos teólogos ou do que os pregadores mais eloqüentes.

É o poder extraordinário de Deus, e não o talento, que ganha o dia. É a unção extraordinária do Espírito, e não a capacidade mental fora do comum, o que carecemos. O poder mental pode atrair congregações enormes, porém, é o poder espiritual que salva. O que precisamos é de poder espiritual (C. H. Spurgeon)

“Se o Espírito estiver faltando poderá haver pa­lavras sábias, porém, sem a sabedoria de Deus, poderá haver o poder da oratória, mas não o poder de Deus; a argumentação que procura demonstrar é a lógica da escolástica, nunca, porém, a demonstração do Espírito Santo, nem a lógica irresistível como a que convenceu Paulo à porta da cidade de Damasco. Ao ser derramado o Espírito, os discípulos foram revestidos com o poder do alto, e as línguas menos doutas podiam fazer calar os mais céticos, removendo os maiores obstáculos, do mesmo modo que as matas seculares são arrasadas pelas chamas levadas pelos ventos impetuosos”. (Artur T. Pierson)

“Os ministros do Evangelho precisam ter este poder do Espírito Santo, porque de outro modo não serão suficientes com os seus próprios recursos para o ministério. Pois ninguém com as suas próprias possibilidades naturais, com a sua educação e com os seus conhecimentos se basta para o trabalho do ministério. Só o poder do Espírito Santo é o que importa; enquanto não dispuser dessa força, apesar de todas as suas realizações, o ministro será totalmente insuficiente. Foi por isso que até os próprios apóstolos tiveram de se manter em silencio, enquanto não lhes fosse concedido o poder; por isso, tiveram de esperar em Jerusalém, até receberem a promessa do Espírito, sem abrir a boca para pregar”.

“Se não possuírem esse poder do Espírito Santo, não disporão de força alguma. E, assim, vendo que os ministros do Evangelho não recebem poder daqui de baixo, é absolutamente indispensável que obtenham o poder do alto; vendo que nada vale o poder carnal, vendo que é necessário que disponham de poder espiritual; vendo que não adiantam os recursos da terra e dos homens, é preciso que tenham o poder do céu e de Deus; isto é, que o poder do Espírito Santo desça sobre eles, se não for assim não terão força alguma”. (G. Dell)

Quem é que hoje em dia tem a Unção? Quem é que a experimentou? Ela é prometida, é indispensável e, no entanto, nós nos esforçamos sem ela, trabalhando na carne, como os discípulos trabalharam toda a noite com as redes sem nada apanhar! É isso que acontecerá conosco. Uma única hora de esforço com o Espírito conseguirá muito mais do que um ano de esforço baseado na carne. E o fruto obtido com o Espírito permanecerá.

“O Espírito é o que vivifica, a carne para nada apro­veita” (João 6:63). “… o que é nascido do Espírito é espírito.” (João 3:6). São os frutos do Espírito que carecemos, ouro puro, sem liga, e nada mais. Não o ina­cabado, mas o artigo genuíno que resiste à prova do tempo e da eternidade; aquele tipo que se encontra tanto nas reuniões de oração como nas reuniões de domingo. É esta a qualidade de fruto que estamos produzindo? Está havendo convicção, e as almas que a experimentam estão sentindo a liberdade gloriosa que caracteriza os filhos de Deus?

Mas, será que já tivemos a Concessão do Poder? Não estou perguntando se já “clamamos por isso”, mas, se de fato, já a experimentamos. Se não virmos os resultados, podemos dizer que ainda não tivemos. Se estivermos repletos do Espírito, os frutos do Espírito Santo manifestar-se-ão. As criaturas humanas ficarão quebrantadas em nossas reuniões, soluçando por causa de seus pecados, diante de Deus. Procuremos os frutos se quisermos crer na unção. “Recebereis poder”. E quando Pedro o recebeu três mil almas se salvaram. O mesmo se deu com John Smith, Samuel Morris, C. G. Finney e outros. Houve frutos. O sinal é esse e é essa a prova, e somente essa. Se eu for um homem de Deus, dotado com o poder do alto, as almas ficarão quebrantadas, quando eu pregar; se eu não for, nada mais ocorrerá, além do que é ordinário.    Que essa seja a prova para o pregador. Com isso nós permaneceremos firmes ou cairemos.

“Fui poderosamente convertido, na manhã de 10 de outubro de 1821”, escreve C. G. Finney. “A noite, desse mesmo dia, recebi o batismo arrebatador do Espí­rito Santo, o qual me deu a impressão de ter atravessado o meu corpo e a minha alma. Imediatamente me senti possuidor de tal poder vindo do alto que poucas pala­vras aqui e ali, pronunciadas para pessoas que eu encon­trava, era o bastante para produzirem sua conversão imediata. Minhas palavras pareciam atravessar as al­mas e nelas se fixarem como setas providas de farpas. Cortavam como espada. Parecia que despedaçavam o coração como o martelo despedaça as pedras. Esse fato pode ser atestado por multidões. Muitas vezes, uma pa­lavra proferida, sem que dela eu me lembrasse depois, ia produzir convicção e freqüentemente conversão quase imediata. Algumas vezes eu me senti bastante despro­vido deste poder e quando eu falava não produzia im­pressões que salvassem. Exortava e orava, com os mes­mos resultados. Então, separava um dia para fazer em secreto um jejum acompanhado de oração, temendo que este poder me tivesse deixado, eu indagava cuidadosa­mente sobre a razão desse vácuo aparente. Depois de me humilhar e de chorar pedindo auxílio, o poder vol­tava sobre mim com toda a sua frescura e pujança. Foi essa a experiência da minha vida.

“Este poder é uma grande maravilha. Muitas vezes vi pessoas que eram incapazes de suportar a Palavra. As afirmações mais simples e comuns tirariam homens de seus lugares como se fossem espadas, tirariam sua força, fazendo-os ficar completamente largados e como mortos. Várias vezes em minha existência não me foi possível proferir uma só palavra ao ter de orar ou de exortar, a não ser com voz fraquíssima. Esse poder às vezes parece espalhar-se pelo ambiente daquele que está tomado por essa força. Muitas vezes, numa comunidade, muitas pessoas ficarão revestidas por este poder, en­quanto que a atmosfera do lugar, onde estão, parece car­regada com a vida de Deus. Pessoas de fora, entrando nesse ambiente, ficam repentinamente tomadas pela con­vicção de pecado e em muitos casos convertidas a Cristo. Quando os cristãos se humilham e se consagram de novo a Cristo, e pedem esse poder, recebem tal batismo que se tornam instrumentos para a conversão de maior numero de almas, num só dia, do que em toda a sua vida. Enquanto os cristãos se humilham o quanto é necessário para manterem este poder, o trabalho de conversão prossegue até que comunidades e regiões inteiras do país se convertam a Cristo. O mesmo se pode dizer em relação ao ministério.

Onde está àquela angústia de almas dos dias passa­dos, a consciência ferida, as noites sem sono, os gemidos e os gritos, a terrível convicção de pecado, os soluços e as lágrimas dos perdidos? Permita Deus que possamos ver as mesmas coisas nesta geração!

E de quem é a culpa? Do povo! Será que é a sua dureza de coração? Será aí que está a causa? Não, meus irmãos, a falta é nossa: nós é que somos culpados. Se fôssemos o que deveríamos ser, os mesmos sinais se ma­nifestariam como nos dias do passado. Se fôssemos o que deveríamos ser, todo o nosso fracasso, todo o sermão que, não prostrasse o povo sobre seus joelhos, nos levaria a prostrarmo-nos para sondar cuidadosamente o nosso coração e para nos humilharmos. Não nos queixemos nunca do povo. Se nossas igrejas são frias e não reagem, é porque nós é que somos frios.  Tal pastor tal povo.

Quantos são aqueles que foram roubados do seu tes­temunho ou que jamais conheceram o poder do Espírito Santo em seu trabalho! Seu serviço é ineficiente e seu testemunho nulo vazio realizando pouco para Deus. Sim, movem-se de um lado para outro e às vezes chegam a ser muito ativos, mas toda essa energia é da carne e não se segue de resultados espirituais. As almas não são salvas nem os crentes edificados e fortalecidos na Fé. Sua pregação não produz fruto e seu Ministério é um fracasso fantástico. Que experiência desconcertante!

Mas, graças a Deus, é preciso que seja assim, pois está escrito “Recebereis poder”. É isso que nos foi pro­metido e a ordem de Deus é esta: “Esperai até que vos seja concedido o poder do Alto”. A passagem em Atos 1:8 diz assim: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós”. Assim é que a unção ou Concessão de Poder, constitui àquela experiência que resulta da vinda do Espírito Santo sobre o crente para o serviço.

Tal unção só será recebida mediante as agonias da oração intensa e profunda. Serão as noites e os dias de oração ansiosa pelas almas humanas, as horas sem conta de intercessão que encontramos na vida de David Brainerd, as lutas poderosas contra as forças espirituais das trevas, que fazem o corpo ficar banhado em suor, como era tão comum na vida de John Smith – eis algu­ma coisa que vai muita além, do ensino de hoje. Eis o que constitui o único recurso que produzirá fruto e que fará o trabalho de que estamos falando.

É graças a estas horas de oração, que prevalece, que prosseguimos para o trabalho da Unção, manejando a espada do Espírito com efeito mortal sobre o pecado. O segredo é a oração. Não há substituto. Para cada ser­viço deve haver um tipo de Unção. Não é meramente “questão de alguém se entregar e crer. Ah, não! Os resultados sobrenaturais e maravilhosos não são conseguidos tão facilmente. Custam e custam tremendamente.

Perseveremos unânimes em oração e súplica. Oração ansiosa, unânimes em orarão, oração perseverante, eis as condições; com estas condições preenchidas, nós também receberemos o Poder do Alto. Nunca deveríamos esperar que o Poder caísse sobre nós apenas porque uma vez aconteceu de despertarmos e de o pedirmos. Do mesmo modo nenhuma comunidade cristã tem o direito de esperar uma grande manifestação do Espírito, se os seus membros não estiverem todos prontos para se unirem unânimes na oração, esperando e pedindo, considerando esse o dever de cada um.

Só seremos dotados com o Fogo Sagrado, esperando diante do trono dá graça. Aquele que espera cheio de fé por um tempo suficientemente longo, ficará aquecido por esse fogo e sairá dessa comunhão com Deus, trazendo os sinais do local onde esteve. O crente individualmente e sobretudo todo aquele que trabalha na vinha do Senhor, só adquire este poder espiritual pelo batismo, quando permanece secretamente no trono de Deus.

“Se tu quiseres ter tua alma saturada com o Fogo de Deus, de modo que os que se aproximarem de ti sintam alguma influência misteriosa irradiada pela Sua presença, é necessário que te aproximes da fonte de onde emana esse Fogo, do trono de Deus e do Cordeiro, afastando-te do mundo gélido que tão suavemente faz esse Fogo se ex­tinguir. Entra no teu quarto, fecha a tua porta e, aí, a sós diante do trono, espera pelo Batismo. E então o fogo descerá sobre ti e quando saíres estarás provido com o Santo Poder, para trabalhares não com tuas próprias forças, mas na demonstração do Espírito e do Poder.” – G. Arthur

Muitos existem que, baseados numa experiência fal­sa, pensam que têm a Unção, quando na verdade não a têm. A única coisa que posso dizer é que o sinal, a prova dessa Unção, não existe. Se de fato a tivessem, com eles aconteceria o mesmo que testemunharam aqueles que foram verdadeiramente ungidos. Se todos os pre­tensos Batismos e Recebimentos do Espírito Santo de que se tem notícia em convenções modernas fossem reais, todo o país estaria em fogo. Não. Se apenas um homem ou uma mulher recebesse a unção, as cidades e vilas a seu redor, num perímetro de muitos quilômetros, poderiam ser tomadas por um poderoso reavivamento e milhares haveriam de ser trazidos à convicção de seus pecados, suplicando com lágrimas pela misericórdia de Deus. A prova da unção é o resultado. O sinal de que o espírito de Elias caira sobre Eliseu foi o fato desse ultimo ter feito as águas do Jordão se dividirem quando as tocou.

“Por que é tão difícil de obter?” Perguntareis. Porque Deus não derrama o Seu Espírito sobre a carne. É preciso que primeiro Ele faça o Seu trabalho em nós e isso geralmente requer tempo, uma vez que nós não deixamos que Ele faça em nós aquilo que Ele quer. A preciosidade do nosso próprio nome, o amor e o louvor que almejamos, ou outro obstáculo pecaminoso, bloqueiam a cada passo a nossa natureza, impedindo a atuação de Deus. Ele não nos pode humilhar.   Ele seria incapaz de despedaçar os nossos corações porque não nos entregamos.

Talvez seja porque Ele não nos pode confiar uma honra tão grande. Ele sabe que nós naufragaríamos com ela. Como são dolorosos os incidentes havidos com cer­tos homens e mulheres usados em certos reavivamentos, os quais, sob a Unção do Espírito, trouxeram centenas de almas para Deus e que depois perderam essa bênção tão propícia, trabalhando apenas na carne e assim conse­guindo tão pouco ou não conseguindo nada. É que eles se consideraram demasiadamente grandes, ficaram cheios de si mesmos, e se deixaram tomar pelo orgulho, con­sentindo que algum pecado se apoderasse deles. Com isso o Espírito Santo se afastou magoado, e, como Sansão viram-se destituídos de sua forca. Antes houve épocas em que, quando pregavam, as almas clamavam chorando a implorar misericórdia, tomadas de convicção pro­funda. Agora, rogam, insistem; as reuniões são frias e mortas, sendo reduzido o número dos que respondem ao seu apelo, e estes não são frutos do Espírito Santo.

Resta-nos apenas incluir o testemunho de alguns que receberam a Concessão do Poder para nos conven­cermos da realidade dessa experiência. Se Deus conce­deu essa dádiva a uma dúzia de pessoas, Ele o poderá conceder a todos.

“Durante trinta anos”, escreve Evan Roberts, “orei pedindo o espírito; e este foi o caminho que me levou a pedir. G. Davis, disse uma noite em nossa socie­dade: “Lembre-se de ser fiel. O que seria se o Espírito descesse e você estivesse ausente? Lembre-se de Tomé! Que perda grande!”

Nessa ocasião eu disse a mim mesmo:” Eu terei o Es­pírito”. E fizesse o tempo que fizesse, houvesse a difi­culdade que houvesse, assistia a todas as reuniões. Mui­tas vezes vendo outros com seus barcos na água, eu me sentia tentado a unir-me a eles. Mas, não. Dizia a mim mesmo: ”Lembre-se do que você resolveu”. E assim eu prosseguia. Durante dez ou onze anos inteiros assisti a todas as reuniões de oração pedindo em favor de um reavivamento. Era o Espírito que me fazia pensar e agir assim”.

Em certa manhã, numa reunião a que Evan Roberts assistia, o evangelista numa de suas petições rogou que o Senhor “nos prostrasse”. Parecia que o Espírito dizia a Roberts: “É isso que você precisa, prostrar-se”. E, assim, ele descreve sua experiência: “Senti uma força viva que chegava a meu íntimo. Esta crescia cada vez mais e parecia que ia explodir. Sentia que qualquer coisa dentro de mim parecia ferver. E, de fato, o que estava em ebulição dentro de mim era o versículo: “Deus recomenda o Seu amor”. Caí, então, sobre os joelhos com os braços apoiados no banco que ficava à minha frente, enquanto lágrimas e gotas de suor corriam livre­mente. Parecia-me estar vertendo sangue. Alguns ami­gos se aproximaram dele para enxugar seu rosto. En­quanto isso, ele exclama: ”Ó Senhor, prostra-me! Prostra-me!” Repentinamente raiou a glória.

Roberts acrescenta: “Depois de me ter curvado, in­vadiu-me uma onda de paz e os presentes cantaram o hino que diz: “Ouço Tua voz bendita”. Enquanto can­tavam, eu pensava na prostração do Dia de Juízo e me sentia tomado de grande compaixão por aqueles que te­riam de se prostrar naquele dia, e por isso eu chorava.”

“Daí por diante, conheci a necessidade de salvação das almas e esta começou a pesar sobre mim como um fardo. Desde esse tempo fiquei inflamado com o desejo de percorrer o País de Gales e, se fosse possível, eu pa­garia a Deus o privilégio de me permitir que eu fosse.”

Tal foi à experiência de Evan Roberts, o instru­mento honrado para o grande reavivamento Welsch. Ouçamos agora os testemunhos de John Wesley e de Christmas Evans.

“Cerca das três horas da madrugada, enquanto per­sistíamos em oração constante, o poder de Deus veio poderosamente sobre nós, e de tal maneira que muitos choravam de intensa alegria e muitos caíam no chão. Logo que nos restabelecemos um pouco da surpresa e da admiração de que fomos tomados pela presença da Majestade de Deus, começamos a cantar uníssonos o hino “Louvamos-Te, ó Deus”. — John “Wesley.

“Eu me sentia com o coração atribulado perante Cristo e Seu sacrifício e o trabalho do Seu Espírito — tendo o coração frio, tanto no púlpito como na oração e no estudo. Há quinze anos eu tinha sentido meu cora­ção abrasado como o dos dois companheiros de Jesus na entrada de Emaus.

“Em certo dia, do qual sempre me lembrarei, estava subindo a Cader Idris, quando senti que devia orar, ape­sar de parecer que isso me seria difícil e não obstante as preocupações temporais que preocupavam meu pensa­mento. Tendo começado a orar em nome de Jesus, logo comecei como que a sentir as cadeias se desprendendo e a sé amolecer aquela espécie de rigidez que se apoderava do meu coração, dando a impressão que montanhas de gelo e de neve se dissolviam e derretiam dentro de mim.

”Isto fez nascer a confiança em minha alma sobre a promessa do Espírito Santo. Senti toda a minha mente aliviada de um juízo enorme que a tomava e as lágrimas correram copiosamente, obrigando a clamar para que Deus me visitasse com a Sua Graça, restaurando as ale­grias de minha salvação; pedindo que visitasse as igre­jas dos santos e os ministros que eu citava pelo nome.

“Esta luta continuou durante duas horas em surtos que se tornavam cada vez maiores, como ondas que se sucedessem ou como uma inundação provocada por um vento muito forte, a ponto de eu ficar prestes a desmaiar no meu clamor e no meu pranto. Assim eu me entreguei inteiramente a Cristo, de corpo e alma, com os meus dons e trabalhos — toda a minha vida — todos os dias e toda hora que me sobrasse; confiando todos os meus cuidados a Cristo.

“Desde esse tempo pude esperar a bondade de Deus em favor das igrejas e em meu favor. Nas primeiras reuniões que se seguiram, depois desse fato, senti-me como que transportado das regiões frias e estéreis de uma geleira espiritual para os campos viventes das pro­messas divinais. O primeiro esforço com Deus em ora­ção e a preocupação ansiosa pela conversão de pecadores, que eu havia sentido em Leyn, estavam restaurados. Eu agora estava de posse das promessas de Deus.

”O resultado foi que, quando voltei para casa, a pri­meira coisa que prendeu minha atenção foi o Espírito que estava operando contemporaneamente entre os ir­mãos de Anglesea, induzindo-os à oração, especialmente dois diáconos que insistiam continuamente com Deus, pedindo-lhe que nos visitasse em Sua misericórdia e tor­nasse a Palavra de Sua graça eficiente na conversão de pecadores, entre nós.

“Agora, aparentemente fortalecidos como que por um espírito novo, com “o vigor do homem interior”, ele se pôs a trabalhar com zelo e energia renovados, vendo bênçãos novas e singulares a descer sobre seus labores. Em dois anos, dez lugares de Anglesea, onde ele pregava, foram aumentados para vinte e seiscentos convertidos acrescentados à igreja que estava sob seus cuidados ime­diatos.” — Christmas Evans.

Que o Espírito bondoso Nos traga a celeste Unção!

E que o Todo Poderoso Encha o nosso coração.

A maior necessidade, Que nos vem fortalecer

É a unção que com bondade Deus irá nos conceder.

Nossas faltas confessemos Com franqueza e submissão

Na certeza que teremos As bênçãos da salvação.

Entreguemo-nos à prece Para termos o Poder.

Pois, preparação carece Quem boa obra quer fazer.

Então ao calvário aflito, Os pecadores irão.

E seus corações contritos Á graça de Deus terão!

CAPÍTULO V

CONVICÇÃO

Há uma coisa que sempre foi proeminente nos gran­des Reavivamentos espirituais do passado, a saber: uma convicção verdadeira e profunda de pecado. É esse um dos elementos vitais que está faltando hoje em dia.

Como é desapontador o método empregado por uma grande parte do Evangelismo atual. Como é razo e fictí­cio quando comparado com o trabalho genuíno do Es­pírito! Toda pressão, insistência e instância; o ficar de pé, o levantar a mão, o ato de vir para frente, etc., to­das essas demonstrações publicas, assim como são leva­das a efeito nas campanhas modernas, podem ser pura­mente carnais.

Isso não quer dizer que instar com os homens seja contrário às Escrituras. Praza a Deus que não! É que quando não há convicção tudo isso é inútil. O Evangelismo moderno com sua irreverência, com a sua lingua­gem de salão e com a frivolidade que entristece o espí­rito, sem considerarmos o profissionalismo lamentável, não pode conduzir à convicção de pecado, dando resul­tado espiritual.

Onde há convicção genuína de pecado, não há neces­sidade de instar, de insistir e de fazer pressão com o po­der da carne; os pecadores virão sem serem forçados; virão por sentirem necessidade de vir. Aqueles que vol­tam para casa sem poderem dormir ou comer, por terem uma convicção profunda de que são pecadores, não precisam de que se insista com eles para procurarem alivio.

Na campanha moderna os evangelistas pedem ao povo que aceite Cristo e fazem bem. Mas, se pudessem ver os pecadores pedindo a Deus que os aceitasse, seria melhor! O povo, hoje, recebe a salvação com tanta frieza, formal e corriqueira, e com tanta indiferença que dá a impressão de estar fazendo um favor a Deus ao receber o seu oferecimento de redenção. O povo tem os olhos secos e o senso de seus pecados não existe; não se vê o menor sinal de penitência nem de contrição. Conside­ram os que se decidem que essa atitude revela varonilidade. Mas que engano! Se houvesse convicção, se os que se convertem viessem com o coração humilhado! Sim, humilhado e contrito, se viessem com o clamor pró­prio da alma carregada de culpas, dizendo: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, porque sou pecador!” — se viessem tremendo com a consciência diante da questão de vida ou morte, dizendo como o carcereiro de Filipos: “Que é necessário para me salvar?” — que convertidos haveriam de ser!

Mas, em nosso Evangelismo do século vinte não é esse o caso. Os homens são instados a se salvar antes de saberem que estão perdidos, a crer antes de se convencerem de sua necessidade. O fruto é colhido antes de estar maduro e é claro que, assim, o trabalho está sujeito a não ficar completo. Se quisermos colher os frutos do Espírito Santo, é preciso que Deus prepare o terreno; o Espírito Santo pode convencer os homens do pecado an­tes que eles creiam de verdade. É certo dizer ao povo para crer quando Deus já operou em seu coração, porém é preciso que primeiramente sintam a sua necessidade de crer.

Esperemos que o Espírito de Deus tenha feito Sua parte antes de dizermos: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo.” Vejamos primeiramente os sinais de con­vicção, a ponto de ele exclamar: “Que é necessário para que eu seja salvo?”; saberemos que ele já está pronto para ser exortado a crer e exercitar a fé em Cristo, não antes.

“Há um outro Evangelho, muito popular nos dias que correm e que parece excluir a convicção de pecado e de arrependimento do plano de Salvação, exigindo apenas que concorde intelectualmente com o fato de sua culpa e pecaminosidade, aceitando também intelectualmente, como fato, a suficiência do sacrifício expiatório de Cristo. Uma vez concedida essa aceitação, esse tipo de evangelismo manda que o pecador volte em paz e se sinta feliz na certeza de que o Senhor Jesus já endireitou a situação entre sua alma e Deus, clamando assim paz, paz, quando não há paz.

“As conversões fraquíssimas e falsas deste tipo po­dem ser uma das razões que levam muitos a admitir que a profissão Cristã desonra a Deus e acarreta reprovação da Igreja por falta de vidas consistentes, cheias de que­das e de recrudescências numa vida mundana e de pe­cado. A recomendação de Deus deve ser exposta com toda a clareza. “Pela lei é que vem a noção de pecado.” É preciso primeiro que o pecado seja sentido e depois lamentado. É preciso que os pecadores se entristeçam antes de serem confortados. A grande necessidade do momento são conversões verdadeiras. Conversões como aquelas que haviam e que tornarão a haver quando a igreja sacudir sua letargia, apoderar-se do poder de Deus! Fazendo baixar o antigo poder. Então, como no passado os pecadores hão de desmaiar diante do terror da perdição eterna,” – J. H. Lord

Seria o caso de chamar o médico antes de adoecer­mos? Porventura instamos com o povo que se sente forte e bem disposto a que se apresse em recorrer ao médico? Porventura o homem que está nadando sem dificuldade pede socorro ao que está na praia para que o vá salvar? Certamente que não. Mas, deixe a doença chegar, logo que sentirmos necessidade, o médico é chamado. Sabe­mos que carecemos de remédio. Quando sentimos que vamos afundando e percebemos que nos estamos afo­gando, então pedimos socorro. Ah! Como é grande a agonia quando vemos que vamos indo para o fundo e percebemos que, se alguém não vier em nosso auxílio, pereceremos e estaremos perdidos!

Assim também é com a alma que perece. Quando uma pessoa se convence de que está perdida, grita com a angústia de seu coração: “Que hei de fazer para me salvar?”. Não será preciso instar, nem insistir com ela; é questão de vida e morte para ela e ela fará qualquer coisa para se salvar.

Vedes, assim, que não estou falando a respeito de campanha evangelística. Freqüentemente esse serviço tem de ser feito individualmente e só assim. Mas neste reavivamento — qual é a gloria que o caracteriza? Tudo, tudo de Deus? Não há lugar para a honra do homem nesse caso. Enquanto se fizerem esses serviços evangelísticos — como eles são diferentes! Grande excitação, muita exteriorização de alegria, vintenas de convertidos citados e, depois, um resultado espúrio, um estado de coisas inteiramente falso. Esta teoria de “aceitar Cris­to“ sem convicção, essa crença só com a cabeça, sem Novo Nascimento, sem a experiência do “Renascer”, que zombaria!

É desta falta de convicção que resulta o reaviva­mento espúrio, e o trabalho incompleto. Uma coisa é levantar a mão e assinar um cartão e outra coisa muito diferente ser salvo. Se quisermos que o trabalho dure, é preciso que as almas sejam trazidas com liberdade bem definida. Uma coisa é ter centenas de convertidos professos durante a excitação de uma campanha e outra voltar cinco anos mais tarde para ver quantos perma­neceram.

Quando John Bunyan representou o cristão com um grande fardo de pecados nas costas, mostrou que com­preendia bem o problema, descrevendo os esforços da alma até se libertar da sua carga ao pé da Cruz.

Deus colocou o Seu próprio valor em Sua Palavra. Ele a designa com o nome de “Fogo”, “Martelo” e “Espada”. É que o fogo queima; um golpe de martelo machuca; e um ferimento produzido por uma espada, na verdade, produz dor. Quando a Palavra de Deus é proclamada com o poder da unção, ela queima como o fogo, quebra como o martelo e penetra como a espada, sendo que o sofrimento espiritual ou mental é tão penoso como o sofrimento físico. E se não for, é sinal de que há qualquer coisa errada em relação ou ao mensageiro ou à mensagem.

“Se uma pessoa tivesse cometido um crime nefando e fosse subitamente presa, sua culpa exposta à sua consciência por algum representante da justiça na linguagem das Santas Escrituras dizendo — “És tu o culpado”, seria muito natural que o acusado empalidecesse e apresentasse todos os sintomas de agonia e de mal-estar. Quando o orgulhoso monarca assírio Belsazar viu aquela espécie de mão que escrevia sobre a argamassa da parede “seu rosto mudou de aspecto e seus pensamentos o perturbaram tanto que as juntas do seu corpo pareíciam afrouxar-se e os joelhos começaram a bater um contra outro”. Ninguém pensou que tais efeitos não fossem naturais. Porque, então, considerar estranho que os pecadores não fiquem poderosamente despertados pelo Espírito de Deus e que se sintam profundamente convencidos da enormidade de seus crimes, antecipando no mesmo instante o perigo de serem lançados no lago de fogo, e vendo o inferno mover-se a seu encontro? Não é natural que essas criaturas apresentem os sintomas de um mal-estar alarmante com agitação que sentem em seu íntimo?” — Memórias de G. Bramwell

Foi essa a experiência dos servos de Deus através dos séculos. Em todos os reavivamentos tem havido pro­funda convicção de pecado. Alguns dos registros até pa­recem estranhos para aqueles que só conhecem e estudam o Evangelismo do vigésimo século. Incidentes como os que se seguem eram comuns na vida desses homens.

“Mais ou menos na metade do sermão um homem gritou. Eu caí em oração e não pudemos pregar mais por causa dos gritos e lágrimas em todo o recinto.” — T. Collins.

“O sermão terminou com uma vitória. Os que pro­curavam salvação desciam de seus lugares e abarrotavam os degraus e passagens, apertando-se sem constrangi­mento e se ajoelhando sob a grade que cercava.” — T. Collins.

“Um, Quaker que ficara em pé ao lado, sen­tiu-se bastante aborrecido diante da assimilação des­tas criaturas, e estava mordendo os lábios e torcendo as sobrancelhas, quando caiu como que fulminado por um raio. A agonia de que se sentiu tomado ainda era mais terrível de se ver. Nós pedimos a Deus que não o acusas­se e logo ele levantou a cabeça chorando e dizendo em voz alta: “Agora sei que és um profeta do Senhor.” — John Wesley.

“J. H. era homem de vida regular e de boa conver­sação. Assistia constantemente às orações públicas e aos sacramentos, e tinha zelo pela igreja e era contra os dis­sidentes de qualquer denominação. Sendo informado de que as pessoas caíam com manifestações estranhas nas sociedades, ele se chegou para presenciar o fato com os próprios olhos. Porém estava menos satisfeito do que antes; por isso fora até lá para ver um por um dos seus conhecidos, esforçando-se até uma hora da manhã e além das medidas para convencê-los que aquilo era uma ilusão do diabo.

“Estávamos indo para casa quando alguém se en­controu conosco na rua e nos informou que J. H. estava caído e estrebuchando como louco. Parece que ele se ti­nha sentado para jantar, resolvido a terminar primeiro a leitura do sermão sobre Salvação pela fé, que havia tomado por empréstimo. Ao ler a última página come­çou a mudar de cor, caiu da cadeira e começou a gritar terrivelmente, batendo a cabeça contra o solo.

“Os vizinhos ficaram alarmados e correram para o lugar onde estava. Entre uma e duas horas também fui, encontrando-o no chão. O quarto estava literalmente cheio de pessoas que sua esposa não conseguiu manter fora do aposento, enquanto ele gritava. — “Não, deixa todos entrarem, para que todo o povo presencie o justo julgamento de Deus.” Dois ou três homens o estavam segurando da melhor maneira que conseguiam. Imediatamente ele fixou os olhos sobre mim, e estendendo a mão gritou: “Sim, é este aquele de quem eu falei que era enganador do povo.   Mas, Deus prevaleceu.   Eu disse que tudo era ilusão.  Mas, não é ilusão.” E, então, falou com voz estertorosa. “Ó tu, diabo! tu demônio maldito! Sim, tu legião de diabos! Não podeis ficar onde estais. Cristo vos expulsará! Sei que o trabalho Dele já começou. Despedaçai-me se quiserdes, mas não me podereis fazer mal!” Começou a se bater contra o solo outra vez, tendo o peito arquejante, como que tomado pelos estertores da morte, e grandes gotas de suor a escorrerem pelo rosto.

“Todos nós nos entregamos à oração. Os estertores cessaram e tanto o seu corpo como a sua alma foram li­bertados. — John Wesley.

“O poder de Deus estava presente. Vieram para se salvar e não ficaram desapontados. Os soluços e pran­tos eram admiráveis. Parecia que Deus tinha descido com terror e poder; como se o Espírito estivesse pas­sando e se difundindo por todas as regiões e em cada alma, estava lançando a luz à compreensão, assaltando e submetendo as fortalezas do pecado existentes nos corações, revelando-se como antagonista do pecado, per­turbando-o, seguindo-o em todos seus esconderijos, aba­lando as almas nos seus alicerces, atraindo-a lentamente, mas com segurança, à uma crise, acumulando as sentenças de condenação, uma após outra; fazia-o que toda a alma, reunindo as energias de que dispunha em um gri­to, pedindo misericórdia, exclamava: “Deus! Tem mise­ricórdia de mim pecador! Que devo fazer para me sal­var? Salva-me, Senhor, se não eu pereço! Oh, salva-me, se não eu me afundo no inferno. Cura a minha alma, porque pequei contra Ti.” — James Caughey.

“Parecia que o poder de Deus estava descendo sobre a congregação como um vento forte e impetuoso, derru­bando tudo diante de si com uma energia espontânea. Fiquei de pé, admirado com aquela influência que se apoderava de quase todo o auditório; não podia haver comparação melhor ao que se passava do que a força irre­sistível de uma correnteza poderosa, de uma enchente, que, como um dilúvio, derriba e arrasta com o seu peso enorme tudo quanto se antepõe a seu caminho. Quase todas as pessoas, de todas as idades, estavam curvadas por assentimento comum, sendo dificilmente possível resistir ao impacto desta operação surpreendente, junto a velhos e mulheres, que tinham sido alcoólatras invete­rados durante muitos anos, e também algumas crianças pequenas, não tendo mais que seis ou sete anos de idade, todos pareciam aflitíssimos com a condição de suas almas.

“Os corações mais endurecidos foram obrigados a se curvar. O homem que era chefe dos índios, este mesmo que antes pensava ser o mais reto de todos os seres hu­manos, e cuja condição ele considerava mais favorável porque sabia um pouco mais que seus patrícios, ele que no dia anterior me dissera, confiante, que fora cristão durante mais de dez anos, agora estava preocupadíssimo com a sua alma, chorando amargamente. Outro homem avançado em anos e que tinha sido assassino, e célebre pelo vício da embriaguez, também fora levado agora a derramar muitas lágrimas suplicando por misericórdia e lamentando que por tanto tempo não se incomodasse mais com os perigos tão grandes que corria em sua vida.

Quase todos estavam chorando e clamando por mi­sericórdia em todo o recinto, enquanto muitos, do lado de fora, nem podiam ir nem permanecer de pé. A an­gústia era tão grande que nem sequer viam os que esta­vam a seu redor, cada um orando independentemente.” — David Brainerd.

“A igreja estava excessivamente cheia de gente. A palavra era “viva e poderosa” e muitos eram atingidos no próprio coração. Tomados pela agonia resultante da convicção de seus pecados, clamavam em voz alta pe­dindo misericórdia. Chegou à meia-noite e os penitentes ainda estavam ajoelhados, resolvidos a instar perante Deus até prevalecerem. Enquanto um ou outro se reti­rava, depois de ter encontrado paz mediante a fé, ou­tros, com o coração atingido, permaneciam em seus lu­gares. O Despertamento era tão intenso que, apesar de Squire já se ter retirado, o povo, despertado e entriste­cido, não queria deixar o recinto, durante a noite toda, por todo o dia e a noite seguintes, realizando uma grande reunião de oração contínua e sem intermitência. Su­põe-se que cerca de cem pessoas se converteram, en­quanto muitos professos, já velhos, eram despertados e se entregaram a Deus para uma vida de mais consagra­ção.” — Memória de Squire Brooke.

“Enquanto entregue à oração, dois daqueles que entraram, foram despertados e começaram a clamar pedindo misericórdia.” — G. Carvosso.

“Nem bem ela havia comunicado as notícias, sua irmã, como que tendo o coração cortado, começou a cho­rar pedindo misericórdia.” — G. Carvosso.

“Enquanto eu estava orando, desceu o poder de Deus e ele com o seu companheiro penitente foram como que cortados em seu coração pelo que choraram alto, sentindo a culpa de seus pecados.” — G. Carvosso.

“Quando eu conversava com uma senhora idosa com mais de sessenta anos, ela sentiu o seu coração cortado, e logo o Senhor libertou a sua alma.” — G. Carvosso.

“Quando a convicção atinge o seu auge, como acon­tece com o seu processo mental, a pessoa, pela fraqueza, não se pode sentar ou ficar de pé e, por isso, ou se ajoe­lha ou cai por terra. Grande número de pessoas con­victas nesta cidade e em suas vizinhanças, e agora eu creio também que em todas as direções no norte, onde prevalece o Reavivamento, são “postas por terra” tão rapidamente como quando caem como se estivessem des­tituídas de nervos, paralisadas e sem forças, dando a im­pressão de terem sido abatidas por um tiro. Caem com um gemido profundo, e alguns com um grito selvagem de horror, e a grande maioria se prostra com este apelo intensamente ansioso: “Senhor Jesus, tem misericórdia de minha alma!”.  Todo o corpo treme como se fosse uma vara verde e como que um peso intolerável é sen­tido sobre o peito, ficando a pessoa tomada por uma sen­sação de asfixia da qual se livra somente com a sua ur­gente súplica em voz alta, pedindo libertação. Via de regra o sofrimento corporal e a angústia continuam até que a pessoa encontre um alto grau de confiança em Cristo. Então, o olhar, o tom de voz e os gestos mudam instantaneamente. O aspecto angustioso e de desespero são substituídos pelo aspecto de gratidão e de adoração. A linguagem, e as expressões fisionômicas, as lutas terríveis e a depreciação própria são expressas em voz alta e desesperada, traduzindo, convincentemente, o que as pessoas declaram depois. O conflito mortal que estava havendo entre elas e a velha serpente é o que sentem nessas condições. O suor corre pelo corpo das vítimas angustiadas, molhando sua roupa e seus cabelos. Alguns experimentam esse conflito exaustivo várias vezes; ou­tros, uma só. Não têm desejo de comer durante vários dias.   Não dormem, mesmo que se deitem, esforçando-se para o fazerem.” — O Reavivamento Irlandês de 1859.

“O poder do Espírito do Senhor tornou-se tão forte sobre suas almas a ponto de arrastar tudo diante de si, como o vento impetuoso do Pentecostes. Alguns grita­vam em agonia; outros, e entre eles alguns homens for­tes, caíam no chão como mortos. Fui obrigado a repetir um salmo em voz alta, confundindo suas palavras com as lamentações e gemidos de muitos daqueles que se sen­tiam presos, suplicando sua libertação.” — G. Burns.

“Um Reavivamento sempre inclui convicção de pe­cado por parte da igreja. Crentes professos, que se te­nham desviado, não podem levantar-se e principiar ime­diatamente uma vida de serviços a Deus, sem sondar pro­fundamente o coração. É preciso alcançar e destruir as fontes de pecado. Num verdadeiro Reavivamento, os cristãos são sempre trazidos a essa convicção, à espe­rança de que Deus os aceite. Nem sempre a sua expe­riência chega a esse ponto, no entanto, sempre que há um Reavivamento genuíno, há convicções profundas de pecado e muitos casos de pessoas que perdem toda a esperança.” — C. G. Finney.

Ó, salva-os, Senhor, Te peço Da culpa do seu pecado!

Ilumina o impenitente Para que veja o seu estado…

Derrama, Senhor, o Espírito Sobre todo arrependido

Seja pobre ou abastado Que não quer morrer perdido!

Que o que está em agonia, De suas culpas convicto,

Em tua misericórdia Encontre o perdão bendito!

Pois no sangue derramado Em nosso favor por Cristo

O resgate já foi pago No plano por Deus previsto!

Que a morte não os surpreenda.

Numa vida impenitente Que com Teu poder ungidos Vivam como vive o crente!

CAPÍTULO VI

OBSTÁCULOS

Existe apenas um obstáculo que pode impedir ca­minho e impedir o poder de Deus – é o pecado.

O pecado e a grande barreira. Só ele pode prejudi­car o trabalho do Espírito e impedir um Reavivamento. “Se eu atender à iniqüidade no meu coração”, disse Davi, “o Senhor não me ouvirá.” (Salmo 66:18). Em Isaías 59:1-2, encontramos estas palavras significativas: “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem o seu ouvido agravado, para não po­der ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o Seu rosto de vós, para que vos não ouça.” O pecado é, então, a grande barreira, e deve ser removido. Não há alternativa. Não pode haver compromisso. Deus não operará enquanto houver iniqüidade encoberta.

Em Oséias 10:12, lemos: “Semeai para vós em jus­tiça, ceifai segundo a misericórdia, lavrai o campo de lavoura, porque é tempo de buscar ao Senhor, até que venha e chova a justiça sobre vós.” Em II Crônicas 7:14, a promessa de bênção é concedida tendo por base a condição inalterável: “E se o meu povo, que se cha­ma pelo meu nome”, diz o Senhor, “se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus ca­minhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.” Assim, vemos que a não ser um coração quebrantado por causa do pecado, que confesse, restitua, nada mais satisfará a Deus. É necessário que o pecado seja deixado para sempre.

E não basta que se sinta tristeza resultante das con­seqüências e do castigo do pecado, mas por causa do pró­prio pecado que é uma ofensa contra Deus. O inferno está cheio de remorso, mas esse remorso é produzido por causa dos castigos infligidos. Não há contrição verda­deira. O rico da parábola (Lucas 16:29-30) não proferiu nem sequer uma palavra de tristeza por seus pecados contra Deus. Entretanto, Davi quando se sentiu cul­pado, não só do homicídio como de adultério, encarou o seu pecado como falta cometida contra Deus somente (Salmo 51:4). O simples remorso não é tristeza genui­namente vinda de Deus para o arrependimento. Ainda que cheio de remorso, Judas nunca se arrependeu.

É somente Deus quem nos concede um coração contrito e quebrantado com aquela tristeza que resulta em confissão e abandono do pecado. Nenhum outro meio vale. “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebran­tado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Salmo 51:17). “O que encobre as suas transgressões, nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” (Provérbios 28:13). “Reconhece a tua iniqüidade: que contra o Senhor teu Deus transgrediste” (Jer. 3:13).

Há três espécies de confissões a serem consideradas:

1° – Confissão Individual — pois, quando o peca­do tiver sido cometido contra Deus somente, não preci­sará ser confessado a ninguém, a não ser a Deus (I João 1:9 e Salmo 32:5).

2° – Confissão Pessoal — quando o pecado tiver sido cometido contra outra pessoa, ele deverá ser con­fessado não somente a Deus, mas também àquele que foi ofendido. De outro modo não haverá paz enquanto a confissão não for feita e o perdão não for procurado (Mateus 5:23-24).

3° – Confissão Pública — deverá ser feita quando o pecado tiver sido cometido contra a igreja, isto é, con­tra toda a congregação, contra uma classe, ou organização de pessoas; assim como foi contra essas entidades que se pecou, assim é a essas entidades que deve ser fei­ta a confissão.

Enquanto a iniqüidade existente entre o povo de Deus for encoberta e não for confessada, o Espírito de Deus não poderá trazer Reavivamento. Os homens pre­cisam acertar suas relações mútuas se quiserem acertar suas relações com Deus.

Certa noite, depois de ouvir uma mensagem que fez com que os ouvintes sondassem o próprio coração, um moço foi para frente e, voltando-se para a congregação, fez a inesperada confissão de que tinha furtado e usado dinheiro que não lhe pertencia; logo depois entrou na sala de orientação para acertar suas relações com Deus. Havia sido tesoureiro de duas organizações importantes e tinha desbaratado quase todos os fundos que lhe foram confiados.

É comum encontrarmos pessoas que se ajoelham e suplicam a Deus, aparentando sentir grande angústia de coração e que nada recebem. Assim também é comum a certos grupos de pessoas que se reúnem durante noites seguidas em oração em prol do Reavivamento e ainda não obter resposta às suas orações. Qual é a causa? Que a própria Palavra de Deus responda: “vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o Seu rosto de vós, para que vos não ouça.” Por isso, a primeira coisa a fazer é por a des­coberto o nosso pecado; endireitemos os caminhos tor­tuosos, removamos os obstáculos e, só depois, peçamos as chuvas de bênçãos com fé e expectação.

Tomemos, agora, nossos pecados um a um e consi­deremos cada transgressão separadamente. Façamos a nós mesmos estas perguntas. Pode ser que sejamos cul­pados e Deus falará conosco.

(1) Já perdoamos a todos? Há qualquer malícia, despeito, ódio ou inimizade em nosso coração? Será que alimentamos rixas contra alguém e que nos recusamos a fazer reconciliação?

(2) Será que nós nos zangamos? Há alguma re­volta dentro de nós? Será verdade que costumamos per­dera calma? Será que o ódio nos domina com suas gar­ras, uma vez ou outra?

(3) Estará havendo algum sentimento de ciúme? Quando outro recebe preferência, isso porventura nos aborrece e nos provoca inveja? Teremos ciúme daque­les que oram, falam e fazem as coisas melhor do que nós?

(4) Será que nos impacientamos ou nos irritamos? As coisas sem importância nos incomodam e amolam? Ou será que nos mantemos dóceis, calmos e corteses sob qualquer circunstância?

(5) Ficamos ofendidos com facilidade? Quando alguém deixa de notar nossa presença e passa por nós sem nos falar, isso nos magoa. Se os outros são tão con­siderados e nós negligenciados, como é que nos sentimos nessa situação?

(6) Existe algum orgulho em nosso coração? Fa­zemos juízo muito favorável a nosso próprio respeito? Será que pensamos muito em nossa posição e em nossos feitos?

(7) Será que temos sido desonestos? Nossas tran­sações estão acima de qualquer crítica? Será que nosso metro tem cem centímetros e nosso quilo, mil gramas?

(8) Teremos falado mal dos outros? Caluniamos o caráter alheio? Será que somos intrigantes e faladores?

(9) Criticamos sem consideração, com grosseria e severidade? Estamos procurando falhas e olhando os defeitos alheios?

(10) Estamos roubando a Deus? Estamos usando para outros fins o tempo que pertence a Ele?   Estamos com o dinheiro que lhe pertence?

(11) Somos mundanos? Gostamos do brilho, da pompa e da exibição?

(12) Temos furtado? Apossamo-nos de pequenos objetos que não nos pertencem?

(13) Abrigamos o espírito de amargura contra al­guém? Existe ódio em nosso coração?

(14) Estaremos vivendo com leviandade e frivolidade? Nossa conduta estará sendo equívoca?   Será que pelos nossos atos o mundo nos considera como sendo dele?

(15) Será que nos apropriamos de alguma coisa e não fizemos restituição? Ou será que o espírito de Zaqueu se apossou de nós? Já pusemos em ordem uma sé­rie de coisas erradas que Deus nos revelou?

(16) Estamos contrariados ou ansiosos? Não con­seguimos confiar em Deus quanto às nossas necessidades temporais e espirituais? Será que estamos antecipando dificuldades antes que elas surjam?

(17) Estaremos tendo pensamentos lascivos? Per­mitimos que nossa mente imagine coisas impuras e con­denáveis?

(18) Costumamos falar sempre a verdade em nos­sas afirmações ou temos o hábito de exagerar, dando im­pressões falsas? Mentimos?

(19) Somos culpados do pecado da incredulidade? A despeito de tudo que Deus fez por nós, ainda persis­timos em não crer nas promessas de Sua Palavra?

(20) Temos cometido o pecado de não orar como devíamos? Somos intercessores? Oramos!   Quanto tem­po estamos gastando de joelhos? Será que eliminamos a oração de nossa vida?

(21) Estamos negligenciando a Palavra de Deus? Quantos capítulos lemos diariamente? Estamos estudan­do a Bíblia? Recorremos às Escrituras quando carece­mos de poder?

(22) Temos deixado de confessar a Cristo aberta­mente? Temos vergonha de Jesus? Ficamos calados quando nos cercam pessoas mundanas? Estamos dando testemunho todos os dias?

(23) Estamos preocupados e ansiosos com a salvação de almas? Temos amor pelos perdidos?  Há em nosso coração compaixão por aqueles que estão perecendo?

São estas as coisas negativas e positivas que im­pedem o trabalho de Deus no meio do Seu povo. Seja­mos honestos e apontemos o pecado dando a cada um o seu nome. Para isso Deus emprega a palavra “PE­CADO”. Quanto mais cedo admitirmos que temos pe­cado e estivermos prontos a confessar e abandonar, tanto mais depressa podemos esperar que Deus nos ouça e opere seu poder. Por que enganarmos a nós mesmos? Não é possível enganarmos a Deus. Removamos, então, o obstáculo, o impecilho que não nos deixa dar outro passo “…se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados”. “Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus”.

Através dos séculos essa tem sido a história do Reavivamento. Noite após noite pregam-se sermões sem se conseguirem resultados, até que, um dia, algum ancião ou diácono é tomado por uma força que o faz sentir a agonia da confissão que o leva a ir ter com alguém a quem ofendeu para lhe pedir perdão. Ou, então, é algu­ma mulher ativa no trabalho a qual se prostra chorando e confessando publicamente que estivera falando mal de alguma outra irmã ou que está de relações cortadas com alguma pessoa que se senta de outro lado. E quando faz confissão e restituição, a terra sáfara se esboroa, o pecado é descoberto e reconhecido, então, e só então, o Espírito de Deus desce sobre o auditório e o Reavivamento se espalha pela comunidade.

Em geral só existe um pecado, um impecilho. Foi como um Acã dentro do acampamento de Israel. Deus colocará o seu dedo diretamente sobre o mal e não o retirará daí enquanto esse único obstáculo não for to­mado em consideração.

E, então, em primeiro lugar teremos que instar como Davi quando pediu em sua oração: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e vê se há em mim algum caminho mau.” E logo que o obstáculo do pecado for removido, Deus virá com grande poder de Reavivamento.

Pregadores eruditos! Mil igrejas na cidade!

Se fracassarem, então? Que há de ser na eternidade?

Há obreiros preparados, Há um esforço vigoroso!

Mas, onde o Poder invicto Do Deus Todo poderoso?

Educação, sapiência, O melhor que houver de tudo,

Planos grandes deste mundo, Saídos de muito estudo,

São usados com desvelo, Mas, tudo falha, no entanto,

Porque falta o principal, — Ação do Espírito Santo!

Não valem tempo ou dinheiro Nem inteligência humana,

Isso é apenas aparência, É tudo ilusão que engana!

O que Deus quer é Evangelho Com pureza, só, pregado.

Este, sim, salva o perdido Do castigo e do pecado!

Somente de Deus o Espírito Vivifica a alma nossa!

Homem nenhum neste mundo Há, contra Deus, que possa

Fazer valer seus recursos De arte e imaginação,

Trazendo o arrependimento Quebrantando o coração!

Retórica a mais perfeita, Hinos muito bem cantados,

Outros meios mais existem Precários em resultados.

Deus prefere servos puros Que tenham lábios ungidos,

Servos fiéis, abrasados, Realmente convertidos!

Tuas mãos são tão perfeitas! Valem sempre, sem cessar.

Na vida de quem, humilde, Seus pecados confessar.

Vem, ó Deus, e nos concede Teu poder, constantemente.

Com Tua Graça soberana Bom fruto dará a semente!

Nota do tradutor: – tradução de uma poesia de Samuel Stevenson

CAPÍTULO VII

A chave que dá acesso ao poder de Deus é a fé. “Pela fé caíram às paredes de Jerico.” No trabalho de reavivamento a fé viva e intensa é um requi­sito indispensável. “Todas as coisas são possíveis àquele que crê.”

A pessoa que deve ser usada pelo Senhor terá que ouvir o que o Céu lhe diz. Deus lhe dará uma pro­messa. Não dessas promessas gerais da Palavra que se aplicam a tantos de Seus filhos, mas uma determinada mensagem definida e inconfundível a seu próprio cora­ção. Pode ser que seja uma promessa familiar que dele se apodere de tal maneira que conheça ter sido Deus Quem lhe falou. Assim, se eu tiver de iniciar um novo trabalho para Deus, que antes de mais nada eu faça estas perguntas: “Deus já me falou! Já sei qual é Sua promessa!”.

Foi essa certeza divina que fez com que os profetas do passado fossem ao povo e declarassem: “Assim diz o Senhor.” Enquanto o Senhor não nos enviar, é melhor permanecermos com a nossa face voltada para Deus em oração, para que Ele não diga: “Ai dos profetas que correm sem que eu os tenha enviado!” Mas, quando uma pessoa ouve a voz de Deus, então, “ainda que de­more, espere porque certamente acontecerá.” Ainda que anos se passem, Deus cumprirá Sua Palavra.

Que alegria ouvir e reconhecer Sua voz! Que encorajamento! Que fé! Como o coração pulsa dentro de vós! Cessa a hesitação. Depois disso não haverá mais dúvida nem incerteza. Pode ser que, durante dias ou semanas, tenha havido orações ansiosas, suplicando a manifestação da vontade de Deus. Pela Sua Palavra ou pelo Espírito Santo, vem à mensagem, e tudo se trans­forma em serenidade perfeita. Não que a tarefa tenha sido terminada ou a expectação satisfeita; mas se Deus falou, não pode mais haver dúvida. “Ele fará com que o prometido se realize.”

Em dias passados tive visão de um grande trabalho na cidade de Toronto que me levou a orar pedindo fi­casse eu sabendo qual era a vontade do Senhor. Afinal, certo dia Ele falou. Pela segunda vez veio a Sua Pala­vra decisiva. Esperei e esperei orando cheio de fé, sabendo com toda a segurança que Ele iria fazer o que prometera. Passaram-se três anos, anos de dura pro­vação. Se não fosse a Sua promessa, teria desanimado e minhas esperanças se teriam desfeito. Mas Deus tinha falado e eu apenas tinha de orar. “Faze como disseste.” Finalmente, depois de três anos inteiros se passarem, Ele estabeleceu o trabalho sobre o qual tinha falado.

Conta-se um caso que se passou numa localidade chamada Filey, nos dias do Metodismo primitivo. Pre­gadores após pregadores tinham sido mandados para esse lugar, mas tudo sem nenhum resultado. Aquela vila era um reduto do poder satânico e todos os enviados tiveram que sair até que, por fim, decidiram desistir conside­rando a tarefa irrealizável.

Contudo, antes que fosse adotada uma decisão final, o agora famoso John Oxtoby, conhecido por “o Johnny da oração”, pediu à Conferência que o mandasse para aquele povo como mais uma oportunidade. A Confe­rência concordou e poucos dias mais tarde John Oxtoby partiu. No caminho alguém perguntou para onde ia. “A Filey”, respondeu “onde o Senhor vai revificar Seu trabalho.”

Aproximando-se do lugar, subindo a colina que fica entre Muston e Filey, repentinamente se descortinou o panorama da aldeia diante de seus olhos. Sua emoção foi tão intensa que caiu sobre os joelhos ao lado de uma cerca viva e começou a chorar, enquanto orava pedindo bom êxito para sua missão. Contam que do outro lado a cerca viva, sem ser visto, estava um moleiro que, ouvindo aquela voz parou para escutar melhor, quando ouviu John Oxtoby dizer: ”Não me deixes fracassar! Não me deixes fracassar! Eu disse a eles, lá em Bridlington, que Tu ias revificar Teu trabalho, e Tu tens que revificá-lo, senão nunca mais poderei aparecer diante eles e o que é que o povo irá dizer sobre a oração e sobre a crença?”

Continuou a pedir durante horas. A luta foi dura e difícil, mas ele não se dispersara, ele fez com que sua própria fraqueza e incapacidade fossem assunto de súplica. Finalmente as nuvens dispersaram-se, e sua alma se en­cheu de glória e ele levantou-se exclamando: “Está pronto, Senhor. Já está pronto! Filey será tomada! Filey já é tomada!”

E de fato o foi. Filey inteira. Fora de qualquer dúvida. Recém saído do ambiente da Misericórdia Di­vina, Oxtoby entrou naquele lugar e começou a cantar nas ruas da aldeia o hino que diz: “Voltai-vos a Deus e buscai a salvação”. Um grupo grande reuniu-se ao seu redor. Sua mensagem foi acompanhada de poder fora do comum; pecadores inveterados começaram a cho­rar, homens fortes tremiam e, enquanto ele orava, mais de doze se ajoelharam e principiaram a clamar, encon­trando misericórdia.

Pois bem. Será que sabemos realmente o que signi­fica empregar a oração com a devida Fé? Será que já oramos assim? “Conheci um pai”, escreve C. G. Finney, “que era um bom homem, mas alimentava idéias errôneas sobre a oração de fé; e todos os filhos já eram grandes e não se tinham convertido. Depois de certo tempo seu filho ficou doente dando a impressão de que ia morrer. O pai orou, mas o filho piorou, parecendo muito próximo do fim. O pai tornou a orar até sentir uma angústia que o impedia de se expressar. Mas con­tinuou orando (Não havia esperanças de que seu filho vivesse) de modo que verteu sua alma como se o seu pedido não lhe fosse negado, até que finalmente sentiu a certeza não só de que seu filho viveria, mas também se converteria; e não só ele, mas toda a família se conver­teria a Deus. Foi para casa e disse que seu filho não morreria. Todos se espantaram. “Eu digo”, afirmou, “que ele não morrerá e que nenhum dos meus filhos morrerá em seus pecados”. De fato todos os filhos desse homem se converteram”.

“Um ministro certa vez contou-me de um reavivamento ocorrido entre a sua gente, o qual teve início com uma senhora zelosa e devota da sua igreja. Come­çou a se sentir muito preocupada com os pecadores. Orava, mas seu sofrimento aumentava. Finalmente pro­curou o ministro e lhe falou pedindo que reunisse to­dos os interessados ansiosos, porque ela sentia que isso era necessário. O ministro não a atendeu por pen­sar que isso não fosse preciso. Na semana seguinte ela voltou e pediu-lhe outra vez para marcar essa reunião. Sabia que alguém haveria de vir, pois sentia que Deus ia derramar o Seu Espírito. O ministro tornou a deixar de atendê-la. Por fim, ela lhe disse: “Se o senhor não marcar essa reunião eu morro, pois tenho a certeza de que vai haver um reavivamento.” No domingo seguinte, ele marcou a reunião dizendo que se houvesse alguém que quisesse falar com ele acerca da salvação de suas almas ele os esperaria em determinada noite. De fato ele não sabia de ninguém em tais condições, entretanto, quando chegou ao local, para seu espanto, encontrou grande número de pessoas interessadas e ansiosas pela salvação”. — C. G. Finney.

“O primeiro raio de luz que brilhou sobre as trevas da meia-noite, que envolviam as Igrejas do Condado de Oneida, no outono de 1825, partiu de uma senhora que estava com a saúde bastante abalada, a qual, creio eu, nunca assistira a um reavivamento poderoso. Sua alma estava exercitada a respeito de pecadores.

Ela se sentia muito angustiada para a conversão do País. Não sabia qual a causa que a fazia sofrer, mas continuou orando cada vez mais, até lhe parecer que aquela agonia ia dar fim à sua existência. Certo tempo depois, sentindo-se cheia de regozijo, exclamou: “Deus chegou! Deus chegou! Não há dúvida a esse respeito”. E, na realidade, a obra começara. Toda a sua família se converteu, e o trabalho se estendeu por todo Condado.” — C. G. Finney.

Conta-se que um homem inválido adquirira o hábito de orar diariamente pedindo um Reavivamento, em favor de umas trinta cidades e comunidades, e de que tempos a tempos escrevia assim no seu diário: “Hoje me foi possível orar a oração da fé em favor de…”. Depois de sua morte processaram-se Reavivamentos em cada uma dessas trinta localidades, quase na mesma ordem em que ele as tinha registrado. Deus falava e, não obstante ele não estivesse vivo para ver as respos­tas, a certeza lhe foi dada de que suas orações seriam ouvidas.

O segredo é — a Fé. Á Fé descrita no capítulo onze de Hebreus, a dádiva de Deus, baseada em Sua Palavra e concedida diretamente ao coração do Seu ser­vo. A Fé desse tipo remove montanhas e realiza o im­possível. Não a fé presunçosa que crê sem ter a evidên­cia do Espírito e que nada custa e que desaparece quan­do o tempo passa e as coisas não acontecem; mas, a Fé que é de Deus, que nasce na agonia da oração, que pre­valece do trabalho intenso da alma. Essa fé sobrepuja as tempestades do desencorajamento e da adversidade, triunfa sobre o tempo, e continua a arder com brilho refulgente enquanto espera pelo advento de seu objetivo. Queira Deus que hoje também haja uma fé assim!

Fé poderosa que antevê a promessa, Fé que somente em Ti, meu Deus, confia.

Fé que as mais densas sombras atravessam, Vendo a vitória e a vida de alegria!

Quando parece à vista que é possível, A mão de Deus que tudo realiza

Com energia sábia e infalível, Dá-nos aquilo que se mais precisa.

Concede-nos o crermos com firmeza, Faze-nos saber a bênção que teremos,

Para que contigo, sempre, na certeza, Antegozemos tudo o que já vemos!

CAPITULO VIII

ANSEIO DO CORAÇÃO EM FAVOR DE REAVIVAMENTO

TALVEZ a maneira mais proveitosa para contar o que Deus começou a fazer em nosso meio seja ci­tar alguns trechos do meu diário. A exigüidade de espaço impede uma exposição completa.    Só nos é possível escolher alguns pedaços aqui e ali, os quais, creio, serão suficientes para despertar o espírito do Reavivamento que glorifique o Senhor.

16 de Agosto

Deve chegar o reavivamento pelo qual tenho orado há tanto tempo. Como Deus me quebrantou esta manhã! Como é doce a oração! Louvado seja Seu nome! Oh! A convicção produzida pelo Espírito Santo e os fru­tos do Espírito Santo! Só eles é que resistirão à ação destruidora do tempo e da eternidade. Deus abalou o meu coração de modo fora do comum. Como Ele é indizível e precioso. Oh, a convicção, a velha convicção de pecado!

Graças a Deus por estes livros admiráveis! Como me fizeram bem! Revolucionaram a minha maneira de pregar. Estive lendo-os durante horas. Nunca encon­trei nada assim em toda a vida: “Um alarme para os Pecadores Não Convertidos”, por Joseph Alleine; “In­quiridor Ansioso Em Busca da Salvação”, por John Angel James; e “Um chamado Para os Não Converti­dos”, por Richard Baxter. São esses os livros. Como são claras e bem definidas suas mensagens sobre o Pe­cado, sobre a Salvação, sobre o Céu e o Inferno. No entanto, verifico que mesmo estas mensagens podem ser proclamadas sem produzir resultados, se não houver o poder do Espírito. Ele convence. “Não pela força, nem pelo poder, mas pelo Meu Espírito”, diz o Senhor dos Exércitos. Talvez seja esta a razão de tanto fracasso. A verdade muitas vezes é pregada com toda a ansiedade e com toda a fidelidade, sem que nada aconteça. Qual é a causa? Falta de poder.

Durante minha intercessão, esta manhã, li alguns capítulos das “Memórias de John Smith”, por Richard Treffry, e isso me levou a orar. Durante algum tempo Deus me concedeu um desembaraço admirável na ora­ção, talvez durante uma hora ou pouco menos. Não sei por que perdi por completo a noção do tempo. Primeiro Ele me levou a confessar. Como eu tinha fracassado! Fracassado na oração, pois, até então, apenas tinha gasto poucos minutos nesse esforço quando deveria ter gasto horas e horas. Fracassei no estudo da Bíblia, pois não perlustrei as páginas sagradas como devia. Fracassei no emprego do tempo, pois consenti que Satanás enchesse a minha vida com outras coisas, não dando tempo nem lugar a Deus. Fracassei no serviço, pois não distribuí folhetos evangélicos aos perdidos, nem preguei nas esqui­nas às centenas de pessoas que não iam à igreja. Oh, sim, fracassei miseravelmente! Quero ser sincero e fiel. Peço em favor de almas, porém meus olhos não choram como os olhos de Jesus choravam.

Mas, glória a Deus! Creio que Ele me está condu­zindo a experiências mais profundas com as quais con­siderarei tudo como perda, menos a Cristo. Essas expe­riências me farão sofrer, sacrificar-me, orar, estudar e servir como nunca o fiz antes. Há de haver uma época quando só existirá uma coisa em minha vicia e esta há de ser conseguir o reavivamento que desejo tanto. Ele fará correr o Seu Espírito. As almas se convencerão do seu pecado e se salvarão. Que Deus me ouça e responda graciosamente! Preciso não fracassar de novo, Deus me ajude a prosseguir mais e mais.

25 de Agosto

Durante a leitura, nesta manhã, minha atenção foi atraída especialmente para o verso seguinte: “Porque Herodes temia a João, sabendo que era um varão justo e santo” (Marcos 6:20). Como é grande o poder de uma vida santa! Os homens maus temem e tremem dian­te da santidade. Que Deus faça deste fato um incentivo para mim. Estou lendo todo o Novo Testamento, às pres­sas, com o propósito de escolher aquelas verdades que trazem convicção quando pregadas com poder do Espí­rito Santo. Deus está concedendo uma mensagem penetrante sobre Pecado, Salvação, Céu e Inferno. Gastei uma hora em oração e senti a doce impressão de Sua pre­sença. Que Ele continue a me dirigir. Quero saber mais e ter mais experiência. Não me satisfarei enquanto Deus (não trabalhar com poder de convicção, fazendo com que homens e mulheres busquem o caminho da Cruz, cho­rando.

26 de Agosto

A mensagem que Ele me enviou esta manhã foi esta: “… tudo é possível ao que crê”, e aquela que diz: “… Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum.” (Marcos 9:23 e_29). Tanto a oração como a fé são necessárias para se obter resultados. Só assim é que o poder de Satanás será despedaçado nos corações humanos e produzidos os frutos do Espírito. “Senhor, eu creio; ajuda a minha incredulidade.”

Esta noite estiveram três pessoas reunidas no meu escritório. Esperei outros, mas não vieram. Falei-lhes durante perto de uma hora. Encontrei muita simpatia e muita vontade de cooperar, mas também ignorância quase completa sobre os frutos do Espírito Santo e derramamento do Espírito de Deus. Resolvi que nos encon­trássemos de novo, juntamente com outros, para nos ins­truirmos, de modo que quando orássemos, orássemos in­teligentemente. Voltei para casa regozijando-me, pois creio firmemente que Deus comoverá os corações do povo como resposta à oração que prevalece.

31 de Agosto

Hoje à noite reuniram-se oito pessoas no escritório da igreja e falamos sobre a oração até as dez horas. Ti­nham sido feitas muitas orações, pedindo que o Espírito abrisse os seus olhos e lhes mostrasse a sua necessidade e a sua responsabilidade. Se Deus os tinha escolhido, que eles ficassem a meu lado; se não, que me deixassem só. Decidimos fazer reuniões de oração em casas parti­culares, uma por semana para começar. Ao terminar, citei-lhes este versículo pelo qual tinha orado: “E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra” (II Cron. 7:14).

2 de Setembro

Preguei hoje à noite. Falei com desembaraço e um pouco de poder. O povo estava tomado de grande tensão. Procurei no rosto dos que me ouviam, e em vão, sinais de angústia e de sofrimento. Olhos secos. Nenhum in­dício de convicção. Certamente ainda não fui dotado com poder do alto. Se fosse, haveria frutos do Espírito.

7 de Setembro

“… havendo trabalhado toda a noite, nada apa­nhamos” (Lucas 5:5 e 6). Mas ao lançarem suas redes sob a orientação Divina, “colheram uma grande quanti­dade de peixes.” Foi esta a minha experiência ou será que me esforço apenas na carne em vez de me esforçar no Espírito? Na verdade, eu tenho trabalhado a noite inteira e nada apanhei. Se os homens não tremem e não sofrem e nem se humilham, eu é que tenho a culpa. Quando eu agonizo e me esforço em favor de almas, só então é que os resultados aparecem, não antes. Portan­to, que eu dobre meus joelhos e me prostre sobre meu rosto, até que o poder venha e Deus se manifeste. Orei quase toda à tarde, mas não com muita liberdade. Os céus pareciam de bronze.

9 de Setembro

“Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da Palavra.” (Atos 6:4). Aconteceu mais uma vez ter eu pregado na carne e não no espírito. Falei com desem­baraço e poder e senti que havia considerável estado de convicção. O povo ouvia com a maior atenção, seguin­do-se depois muita discussão.

Contudo nada aconteceu de notável. Ninguém se humilhou. Não houve manifestação de sofrimento; não houve angústia de alma; não houve lágrimas. Ah, se houvesse o poder de Deus (Lucas 24:49; Zac. 4:6; João 6:23). Ele me escolheu para que eu desse fruto, isto é, fruto que permaneça para a vida eterna (João 15:16). E, no entanto, não estou fazendo isso. Os fru­tos têm sido poucos. Isso me leva a dobrar meus joelhos, esperando em Deus, durante horas. O preço terá que ser pago. Quando o Espírito descer sobre mim em sua plenitude, eu o saberei pelo aparecimento dos frutos. Enquanto não for assim, não ousarei descansar.

10 de Setembro

Glória a Deus! Finalmente houve comoção. Isto se deu na reunião de oração numa casa particular, nesta noite. A princípio o culto estava frio e ninguém pare­cia reagir. Falei sobre a oração que prevalece, terminei de falar e encerrei a reunião. Mas, antes que o pessoal se dispersasse uma senhora gritou de repente: “Orem por mim, sou membro da igreja…”. Os que es­tavam presente foram como que afogados numa torrente de lágrimas e soluços fortíssimos sacudiam todo o seu corpo. Não havia interrupção e ninguém podia falar. A senhora soluçava como se o seu coração se fosse des­pedaçar. Ajoelhamo-nos e começamos a orar um após outro. Depois, entoamos o hino: “Tal qual estou” e, dentro de quinze ou vinte minutos, aquela mulher se le­vantou gloriosamente salva. Bendito seja o nome do Senhor!

Oh, como os nossos corações palpitavam de alegria! Mal se podia pronunciar uma palavra.   Durante todo o trajeto para minha casa foi difícil me conter. Duas reu­niões apenas e Deus tinha vindo. A oração fora respon­dida. O Espírito Santo tinha começado a operar e uma alma pelo menos tinha sido quebrantada. Um membro de igreja que ainda não se tinha salvado! Eu gostaria de saber quantos outros estavam nas mesmas condições.

12 de Setembro

Deus está operando, não resta dúvida. Outra jo­vem se sentiu convencida de pecado; levantou-se, esta noite, e deu seu testemunho, dizendo que encontrara sal­vação no dia anterior, quando trabalhava e quando sen­tiu plena certeza de que estava salva no dia de hoje, pela manhã. Louvado seja Deus! Ele tornou a responder às orações. Essa jovem relata que durante toda a semana, quase que não fez outra coisa senão orar. Assim, já te­mos duas pessoas trazidas somente pelo poder de Deus. Por isso é que tenho estado preocupado, pela vinda do Espírito Santo com poder tão convincente que as almas clamem por misericórdia sem mesmo ser preciso que se as convide. Deus está honrando a Sua verdade. Senhor me mantenha humilde e me ensine qual é a Tua vontade.

16 de Setembro

Falei esta noite com desembaraço e poder fora do comum. O povo escutou atentamente.     Muitos olhos se encheram de lágrimas, mas não houve quebrantamento. Contudo, estou certo de que Deus está preparan­do Seus servos e que Ele manifestará Seu poder na conversão de outros. Isso significa apenas que eu preciso dedicar maior número de horas à oração nesta semana, mais do que fiz na semana passada.

18 de Setembro

Poderosa reunião de oração numa residência parti­cular. Casa cheia, orações fervorosas. Muitas manifes­tações sobre Deus. A reunião se prolongou até perto de dez horas, sem, contudo haver nenhum sinal visível. Pre­ciso experimentar o poder de Deus, sem me importar com o que isso custe. Como seria bom se Ele me quebrantasse e me fizesse chorar pela Salvação de almas!

19 de Setembro

Outro surto nesta noite. Uma pessoa desviada pro­curou orar na reunião, porém, humilhou-se e, chorando, fez sua confissão. Ela continuou orando, interrompendo as sílabas por causa da emoção que a fazia chorar. Gra­ças a Deus, por esse efeito tão intenso! Ainda estou lon­ge de estar satisfeito.

Outra pessoa, que estivera numa luta tremenda, per­guntou-me esta noite se precisava confessar que furtava.

Assim, Deus está operando.

21 de Setembro

Recebi uma carta, esta manhã, de alguém que estava tendo grande atribulação e fui imediatamente procurar à senhora que a escrevera. Encontrei-a chorando em grande angústia, sendo-me grato notar a expressão de alegria que ela irradiava quando me despedi; Deus está operando em sua vida. Louvado seja Seu nome! Sinto cada vez mais a necessidade da oração.

22 de Setembro

Acabei de ler o livro “Momentos da vida no Traba­lho de Ganhar Almas”, por James Caughey. Que pai­xão, que devoção, e anseio de coração tão profundo e que arquivo de almas salvas! Meses de batalha em oração, seguidos de vitória. Não creio que exista força sufi­ciente na terra e no inferno para impedir um reavivamento, se eu estiver disposto a pagar o preço.

23 de Setembro

Depois do culto desta manhã, fui procurado por uma senhora que queria ser cristã. Conversamos e ora­mos juntos. Ela saiu com esperança, porém, eu quero dar um pouco de tempo para ver. Não sei ainda se é ou não um fruto do Espírito Santo.

24 de Setembro

Hoje fui à casa de meu amigo Dr. E. Ralph Hooper, o médico amado. Passei com ele umas duas horas em oração. Estava muito desanimado por causa do culto que tivemos na noite anterior. As coisas pareciam iner­tes como uma pedra. Nem desembaraço ao pregar nem poder. Tudo parecia difícil. Minha sensação é a de que estava brincando com a oração. Preciso gastar mais tempo intercedendo.

25 de Setembro

Reunimo-nos em número de três durante esta ma­nhã e oramos por quatro horas. Experimentei grande bênção. Contudo, no culto da residência particular, à noite, parecia não haver qualquer emoção. Duas ou três pessoas confessaram seus pecados e um moço chorou e orou.

Fiquei profundamente impressionado com a passa­gem de Joel 2:18 e 28-29. Aí estão a necessidade, o mé­todo e depois os resultados. Porém, eu mesmo nada poderei fazer. Meu coração está frio e insensível. Não choro, nem me lamento. Que Deus me humilhe e me quebrante e só assim é que eu trabalharei poderosamente entre o povo. Em Jer. 5:14 encontrei uma promessa grande e preciosa, baseado na qual orei sobre meus joelhos “… converterei as minhas Palavras na tua boca em fogo, e a este povo em lenha, e eles serão consumi­dos”. Que Deus permita que seja assim.

26 de Setembro

Surto glorioso nesta noite. A reunião de oração pa­recia fria e morta. Eram poucos os que oravam. Falei e encerrei a reunião, desapontado. Então uma mulher começou a chorar. Outra logo depois, não tardou que uma terceira também caísse em pranto, pelo poder de Deus. Todos se reuniram ao redor e oraram. As duas primeiras não cessavam de soluçar como se seus corações se estivessem rompendo, e cada uma por sua vez confes­sava suas faltas. Foi glorioso o que vi. Deus operava poderosamente. Uma delas que teimosamente não qui­sera orar em público na primeira noite e que durante toda a reunião permanecera sentada e indiferente, agora chorava tão amargamente que quase não podia falar. Finalmente todos foram para suas casas cheios de ale­gria, tendo os rostos iluminados pela luz do céu.

Vi outra senhora que, sob o efeito do aconte­cido, também estava sentindo a convicção de seus peca­dos. Essa senhora é uma das mais proeminentes do lu­gar. Limitei-me a cumprimentá-la com um aperto de mão, sentindo que seria melhor deixá-la só e aos cuida­dos do Espírito Santo para que Ele mesmo fizesse a sua obra. Quando ela me cumprimentou, percebi uma ex­pressão de angústia em sua face e seu aperto de mão contou-me sua história. Como Deus se vale maravilho­samente da conversão das criaturas para trazer o senso da convicção de pecado sobre outras. Será que o reavivamento começou?

3 de Outubro

Outra vez tenho motivo para dar glória a Deus. Ele concedeu outro sinal de Sua presença e poder. Outra pessoa se sentiu convicta e salva pelo que, hoje, já está livre de suas culpas. Deus concedeu-lhe libertação clara e permanente. Na reunião desta noite ela deu seu teste­munho, e o seu rosto, outrora deprimido, brilhava com a luz do céu, enquanto contava como havia encontrado a paz que ultrapassa o entendimento, dizendo que valera a pena sustentar a luta. Louvado seja Deus! Creio que o trabalho é genuíno.

Outra também deu testemunho, porém, confessou que tinha titubeado e esfriado. Ela sabia que não esta­va agindo direito e pediu que se orasse a seu favor. No entanto não conseguiu sobrepujar sua dificuldade. É preciso que haja uma convicção mais profunda de seus pecados. Ao que parece, sua experiência era falsa e por isso o trabalho do Espírito Santo não foi realizado.

4 de Outubro

Prostrado sobre o meu rosto empreguei toda à tarde de hoje em oração. Fui depois para a casa do Dr. Hooper para orar e assim fizemos até um quarto para a meia-noite. Oh, como carecemos do poder de Deus! Como carecemos. Como Ele abriu Sua Palavra tão ma­ravilhosamente a nós enquanto orávamos. Lemos tam­bém o capítulo nono de Daniel. Oramos diante do Se­nhor todo esse capítulo, sentença por sentença. Estamos cercados por montanhas de incredulidade e vemos a oposição por todos os lados. Somente o poder de Deus é que as poderá remover. “Tende fé em Deus”. Quero ser inteiramente absorvido por Ele. Uma paixão apenas — Cristo.

Por último, estive lendo Robert Murray McCheyne, George Fox, Billy Bray, C. G. Finney, Henry Moorhou-se, John Fletcher, George Whitefield, David Stoner, Henry Martyn, John Wesley, John Bunyan, T. Collins, James Caughey, John Smith, David Brainerd. Que ho­mens de Deus! Que exemplos de devoção, de zelo e de piedade! Pudesse eu ser como eles! Que maravilha era W. Bramwell! B eu, onde é que estou? Abrasar-se por Deus! Tudo, tudo para Ele! Só Jesus! Almas! Al­mas! Almas! Estou resolvido a ser um ganhador de almas. Deus me ajude.

5 de Outubro

Mais uma vez, graças a Deus, houve outra conver­são. Desta vez um homem. Procurou-me, em meu es­critório, esta noite, e disse-me que se sentira convicto numa das reuniões anteriores, sentindo-se miseravel­mente. Tinha tomado resoluções por várias vezes e até experimentado a religião, mas não estava salvo, apesar de já ser membro de igreja. Ontem abandonou o cachimbo e o pôs fora. Orei com ele e fomos juntos ao culto. Quase no fim da reunião, ele se levantou e rela­tou a todos o que me havia contado.

Seus olhos encheram-se de lágrimas. Entretanto, a despeito disso, não se libertou definitivamente, instando perante Deus para que lhe permitisse ver a luz e o capa­citasse para crer.

A fé está se tornando certeza. Deus está operando. Profunda convicção já se operou em muitos. Oh, se ti­véssemos um surto poderoso! Hoje achei preciosíssimas as passagens de Marcos 11:22-24; Joel 1:13,14,16; Capí­tulo 2:11-18,25,28,29. Fiz de cada um desses trechos uma oração pessoal.

8 de Outubro

Oposição muito forte. Alguns dos oficiais princi­pais se estão opondo publicamente às reuniões. Mem­bros mundanos estão revoltados. Satanás está começando a dar evidências de que se interessa pelo que está acon­tecendo. Levei o assunto a Deus, em oração. Continuei intercedendo esta noite, desde as oito horas até um quarto para uma da madrugada, com o Dr. Hooper.

10 de Outubro

O Dr. Hooper e eu gastamos o dia todo esperando em Deus e, como resultado tivemos uma boa reunião à noite. Muitos deram testemunho de modo esplêndido durante meia hora. Realmente tive de fazer restrições para que tivéssemos tempo de orar. Deus está operando, a convicção se está tornando mais profunda e as almas estão sentindo alegria intensa e liberdade gloriosa.

11 de Outubro

A Palavra de Deus se está mostrando tão preciosa. Estamos ouvindo Sua voz através dos profetas do Velho Testamento. Nosso método consiste em ler um pouco e depois orar as palavras que lemos, perante Deus, encer­rando o trabalho com a súplica para que Ele manifeste, em nossa vida, aquilo que diz em Sua Palavra.

“O que é nascido da carne é carne, e o que é nas­cido do Espírito é espírito.” (João 3:6). Se trabalhar­mos na carne, nossos frutos serão desse tipo e as almas serão conduzidas a uma experiência falsa. Dá-nos, Se­nhor, os frutos do Espírito. Adotamos o método de oração ordenado pela Palavra de Deus. Qualquer outro método já foi experimentado, mas os resultados não satis­fazem. Por isso, agora, se não prevalecermos na oração, tornar-nos-emos censuráveis e a oração perderá o seu crédito. Não podemos fracassar. Temos que nos entregar continuamente à oração e ao ministério da Palavra. Se pelas nossas vidas não conseguirmos convencer o povo do pecado é que há qualquer coisa errada. Como foi diferente a fé manifestada pela mulher siro-fenícia! Ela não admitia a palavra “Não” como resposta (Marcos 7:24-30).

14 de Outubro

Preguei pela manhã e à noite com liberdade e de­sembaraço, mas sem resultados aparentes. Ainda não estou satisfeito. Entretanto, Deus está agindo até certo ponto. Um homem devolveu o dinheiro furtado ao pa­trão e uma mulher restituiu uma importância perten­cente à Escola Dominical, como resultado do poder que o Espírito tem de convencer do pecado. Contudo, estou orando para que esse poder do Espírito se espalhe e se aprofunde. Que haja almas quebrantadas! Estive lendo o diário de David Brainerd. Meses e meses de oração angustiosa e depois o grande poder de Deus atuando entre os índios. Preciso conseguir frutos do Espírito, nada mais.

CAPÍTULO IX

MANIFESTAÇÕES DO PODER DE DEUS

17 de Outubro

Como de costume, dia após dia, temos tido reuniões de oração. Hoje começamos às nove e trinta da manhã e continuamos até depois das três. Por várias semanas temos pedido a Deus que nos humilhe. Cerca das duas horas, eu estava orando quando, repen­tinamente, parei e comecei a louvar a Deus. As lágri­mas corriam copiosamente. Não podia fazer outra coisa senão soluçar, exclamando “Eles estão perdidos! Eles estão perdidos”! E, nesse estado, chorando, intercedi pelo povo.

Na reunião da noite uma mulher que manifestara sinais de convicção, mas que não se salvara, tendo a face radiante, deu seu testemunho. Agora, via-se claramente que estava salva e que tinha sentido a alegria abundante vinda do Senhor.

21 de Outubro

Durante os últimos dias a carga pareceu bem pe­sada. Há muita oposição, mas, nós nos empenhamos com ardor na oração e algumas lágrimas foram derramadas, em particular, pelas almas que perecem. Não obstante, como está frio o meu coração e como é pequeno o meu fervor. Que Deus me conceda a demonstração do Seu poder em maior grau, que me conceda maior manifes­tação de Sua presença!

10 de Novembro

Hoje passei algumas horas preciosas com o Dr. Hooper. Como meu coração está sedento. Os capítulos oito e nove de Esdras foram preciosíssimos. Deus abriu meus olhos para algumas das abominações da Igreja. Mas, quem me dará um realce sobre o meu próprio coração! Quanta abominação não estará aí escondida! Que Deus me ensine a suspirar e chorar; pois os gentios ain­da não estão no gozo da Sua herança, os Cananitas ainda não entraram no santuário.

Tudo parece estar parado. Não há mais surtos. Pa­rece que o trabalho cessou. Mas vou dobrar os joelhos. Os resultados têm de vir. Por que devo pregar se não ganho almas? Senhor, cumpre á Tua Palavra. Começa com alguém, ó Deus! Permite que aconteça alguma coisa. Revela-nos o que está impedindo a Tua presença, ó Espírito de Deus.

14 de Novembro

Deus principiou a agir com algumas outras pessoas. Depois de minha mensagem nesta noite, quando oráva­mos, duas pessoas se humilharam e oraram. Uma sal­vou-se, creio eu. A outra sentiu a convicção de seus pecados.

16 de Novembro

Outra pessoa deu testemunho na noite de hoje. Por várias semanas estivera sob a influência de profunda convicção, mas somente agora é que ela se sente feliz, porque sabe que está salva.

19 de Novembro

A fé cresce. Os céus antes pareciam de bronze, mas nesta tarde, enquanto orávamos, nada parecia impossí­vel. Deus está permitindo que eu creia. Ó Senhor, dá-me almas. Que adianta pregar se as almas não são salvas?

Parecia impossível pedir por alguma coisa na tarde de hoje. A mim só era possível louvá-lo e agradecê-lo por tudo o que Ele iria fazer. Nunca tinha tido essa ex­periência. A certeza de que Ele está operando é ma­ravilhosa.

O superintendente da Escola Dominical da minha igreja acabou de me telefonar para dizer que, ao pedir a certa pessoa para ensinar numa classe, ela rompeu em pranto, pois que não o podia fazer porque não estava vivendo retamente. Ele orou com ela, mas sem que a pessoa obtivesse paz. Agora ele me pede que me una a ele para pedir em favor dessa criatura. Por diversas semanas ela confessou que estava sob o efeito da convic­ção de que pecava.

20 de Novembro

Estou achando a Palavra de Deus preciosíssima. Como ela me revela as abominações do meu próprio coração! — dúvida, descrença, orgulho espiritual, frieza, falta de oração, falta de poder e indiferença, assim como as destoantes abominações da Igreja — falta de separação do mundo, mundanismo dos membros, coros com “pessoas impiedosas, métodos mundanos para levantar dinheiro, divertimentos, etc., a falta de diferençar entre o que é santo e o que é profano, o que é puro e o que é impuro. Será que carecemos de reavivamento? Deus sabe que sim. Não importa o quanto uma igreja é santa nem a sua fama como força espiritual se as almas não se salvam, se os pecadores não são despertados nem convencidos de que são pecadores. Isso significa que há al­guma coisa muito errada.

21 de Novembro

As duas jovens, em favor de quem estávamos oran­do, vieram definitivamente. Deram testemunhos esplêndidos e oraram bastante. Como nós O louvamos e Deus está operando, convencendo e salvando. Toda a honra seja dada ao Seu nome!

12 de Dezembro

Ambas as pessoas que sentiram a convicção no últi­mo culto testemunharam nesta noite com toda a clareza. Sentem-se salvas e felizes. Uma delas esteve em nossa lista de oração durante sete dias. Louvado seja Deus!

Hoje gastei cerca de três horas em oração com o Dr. Hooper com muito proveito.

19 de Dezembro

Eu e Dr. Hooper nos encontramos às onze horas da manhã e continuamos orando até as três horas da tarde. À noite Deus operou. Um moço que eu pensava já estar salvo entrou em meu escritório e me espantou afirmando que nunca nascera de novo. Isso foi no domingo. Hoje à noite, ele veio e se sentou no último lugar. O Dr. Hooper e eu intercedemos por ele durante muito tempo em oração. Pedimos a Deus que o convencesse, e o fizesse voltar como devia e que o induzisse a sentir seus pecados. Coloquei três cadeiras em frente ao povo para os penitentes. Ao convite, ele veio para frente e logo se ajoelhou. Não tardou em ficar com o corpo todo to­mado de soluços convulsivos. Nada os podia impedir. Ele pedia por misericórdia, não tardando sentir que os seus pecados foram perdoados. Com lágrimas correndo pela face, levantou-se e, enfrentando o povo, contou-lhes que estava salvo. Foi para casa regozijando-se em seu Salvador. Louvado seja Deus! Ele responde à oração. Que alegria ganhar almas! A música mais suave que já ouvi é o pranto do pecador penitente chegando para Deus. Estou resolvido a deixar de lado o comodismo e a me entregar sem reservas a este grande trabalho.

9 de Janeiro

Depois de muita meditação e súplica, escolhi esta semana para oração e anunciei uma reunião durante to­das as noites com exceção de sábado. A reunião desta noite foi maravilhosa. O Espírito Santo tomou uma das senhoras de tal maneira que, pela primeira vez em sua vida, ela fez uma oração em público. Todos nós sentimos o poder de Deus. O povo não queria voltar para casa, e assim a reunião se prolongou até as onze horas.

11 de Janeiro

Esta semana foi a mais maravilhosa de toda. Rara­mente terminávamos nossas reuniões antes das dez ho­ras. O povo não queria sair. Deus derramou o Seu Es­pírito. A convicção foi real. Muita angústia de alma. Vistas espirituais que estavam cegas se abriram, pecados foram confessados e abandonados. Muitos que antes nunca tinham orado em público, e alguns que pensavam que nunca o poderiam fazer, romperam em pranto e oraram. O fardo sentido em favor de almas pesou sobre diversos moços e velhos. Que cânticos! A presença de Deus foi mais do que real. Não eram apenas expressões de lábios, mas de oração.

Ao terminar o culto desta noite, as dez e um quar­to, perguntei ao povo — que era grande — o que é que queria fazer no futuro. Foram unânimes em responder que queriam a continuação das reuniões. Por isso, na próxima semana teremos de comparecer todas as noites. Glória a Deus! Como Ele nos respondeu tão generosamente! Não vem dos homens. É resposta das orações.

Foi muito difícil orar durante a semana inteira, apesar das bênçãos de Deus. Parece que Satanás não ces­sa de nos atacar continuamente. Os céus estiveram como bronze. Esta tarde fui ao meu escritório e procurei orar. Foi impossível. Fui atacado tão severamente que acabei atirando-me ao solo, cessando a luta, mas, ao me levantar, resolvi vencer. A vitória foi ganha. O poder das trevas pareceu abandonar a luta e eu prevaleci orando por mais de uma hora.

20 de Janeiro

Passou-se mais outra semana admirável. As reu­niões cresceram em profundidade e em poder. Houve mais pessoas salvas.

23 de Janeiro

Chuvas afinal. Louvado seja Deus! O recinto re­pleto. Durante o culto, tinha a impressão que ia explo­dir, tanta era a angústia e o peso que eu sentia dentro de mim. No fim fiz um apelo. Cantamos duas estro­fes, mas ninguém veio. Depois cantamos o hino “Assim Como o Poderoso Mar”. Era o nosso hino favorito. Du­rante os dois primeiros versos ainda estava tomado pela agonia. O peso como que foi tirado ao cantarmos o ter­ceiro verso. Como o cantamos bem! De todo o coração e com toda a nossa alma. Tinha perdido a esperança quanto aos resultados. De repente uma mulher veio para frente e se ajoelhou. Seguiu-se uma segunda. Depois duas ou três outras. Dei um passo para uma quarta que estava sob profunda convicção e disse-lhe apenas uma ou duas palavras. Quase que imediatamente seus olhos se encheram de lágrimas, baixou a cabeça e num mo­mento estava prostrada sobre sua face, diante de Deus. Houve seis ao todo. Oh, que noite! Finalmente despedi o povo e disse-lhes que fossem para casa, mas, permane­ceram, sem desejo de deixar o recinto. As lágrimas cor­riam livremente. Os soluços se ouviam enquanto chora­vam, confessando seus pecados. Deus estava operando e não tardou que muitos se levantassem para testemunhar que sentiam seus pecados perdoados. Oh, que alegria aquela que enchia nossos corações!

6 de Março

O trabalho de Deus continua prosperando.   Durante toda a semana há almas que se salvam.   O culto desta noite foi admirável. Na última quinta-feira, à noite, um jovem aluno da universidade foi salvo. Tinha vindo, havia algumas semanas, e saíra resolvido a nunca mais voltar. Na semana seguinte achou-se de novo na reunião muito a contragosto. Durante semanas, lutou, mas con­tinuou vindo. Na última quinta-feira, entretanto, entre­gou-se. Outro homem que estava de pé à sua frente le­vantou-se de modo a impedir que ele saísse do lugar mas, ele empurrou a cadeira para a frente, afastou o homem que estava de pé, veio, ajoelhou-se diante de todos. Deus o salvou e nós como de costume rompemos no cântico do hino “Foi feita, a grande transação foi feita”. Hoje esse moço deu seu testemunho glorioso.

7 de Março

Outra pessoa salvou-se na noite de hoje. Era a pri­meira reunião a que assistia. Fez sua oração soluçando. Que trabalho glorioso! A Deus seja dado o louvor!

13 de Março

Mais dois. Um membro proeminente de igreja exclamou: “Eu pensava que era crente, fui membro da igreja durante muito tempo, mas, hoje, nesta noite, sen­ti-me pecador culpado.” A outra era uma mulher em favor de quem tínhamos orado durante muito tempo e que, sob o senso de convicção, se sentia miserável, e por isso veio em busca de perdão. Ambos foram salvos. De minha parte sempre pensei que ela fosse crente. Oh, como Deus opera! Que Ele possa fazer sentir sua influência sobre muitos

27 de Março

Hoje à noite tivemos uma demonstração muito clara do poder de Deus. Um moço que estava de pé na porta do fundo gritou. O auditório espantou-se. Disse que ti­nha professado havia dois anos, mas que o pecado se infiltrava sorrateiramente em sua existência e que ele não estava vivendo uma vida reta diante de Deus. Tinha passado uma semana medonha, mas estava resolvido a normalizar sua situação perante Deus antes de sair. Veio para frente e se ajoelhou diante de todos. Deus o ou­viu e o atendeu. Que Deus conceda mais frutos como esse!

2 de Maio

Foi a mais difícil e desencorajadora das reuniões que tivemos. Se um homem que não crê na existência de um diabo real e pessoal, que comece a orar e trabalhar em favor de um reavivamento que logo encontrará o inimigo e ficará conhecendo a resistência de suas forças. Não há dúvida que ele esteve presente ontem à noite. Tudo parecia morto e gélido.  Nem as orações nem os testemunhos pareciam produzir efeito. Tinha preparado uma mensagem, mas, não me foi possível transmiti-la. A única coisa que pude fazer foi gemer e chorar em oração.   Ao terminar a reunião, anunciei que ia retirar-me para o escritório a fim de orar.  Não sabia quem iria acompanhar-me, pois, eu estava comprometido com Deus. No entanto, depois percebi que pelo menos umas doze pessoas estavam orando ao meu redor. Orei e caí em pranto, soluçando a ponto de quase desfalecer. Estava determinado a orar até o fim, para descobrir o que esta­va acontecendo. Uma por uma das pessoas que ali se encontravam foram saindo, até ficarem apenas duas. Pouco depois da meia-noite, a luz de Deus raiou, reve­lando-nos muita coisa.    Meus próprios fracassos tornaram-se evidentes. A fé principiou a crescer e às três da madrugada, saímos perfeitamente satisfeitos, fracos no corpo, porém, fortes na fé. A batalha fora ganha, e Satanás derrotado.

A noite de hoje foi como o céu. Como os nossos corações cantavam de alegria e como Deus estava perto de nós! O céu parecia aberto e a fé ao alcance de nossa mão. Ganhamos grande altura como as águias. Deus nos concedeu plena segurança. Nada nos parecia impos­sível. Orei quatro vezes durante a reunião e sobre todos pairava um espírito de oração admirável. Cantamos muitas vezes aquelas palavras gloriosas de Wesley:

“Fé; poderosa fé no prometido

Que sempre espera tudo o que é perfeito

Que do impossível ri; e o vê cumprido

Clamando vitoriosa: já foi feito!”

17 de Maio

Em minha leitura desta manhã, Deus me mostrou as palavras preciosas de Deut. 2:25. Temo-nos reunido para orar das cinco ou seis até dez horas da noite, mas vejo que Satanás está agindo como um anjo de luz. Que Deus nos faça prudentes como as serpentes. Estive lendo o diário de David Stoner. Como agradeço a Deus por ele. É outro Brainerd. Fui grandemente auxiliado, (mas como me sinto envergonhado e humilde à medida que o leio. Como ele estava sedento de Deus. Como ele se angustiava e se esforçava! Morreu quando tinha trinta e dois anos.

Que espécie de experiência é a minha. Estou sen­tindo o peso da responsabilidade pelas almas perdidas? Gosto de orar? O meu desejo pelas coisas do mundo já não existe? Odeio o pecado? Sinto-me cheio do amor de Deus? Vejo minhas orações atendidas? Há alguma coisa oculta, qualquer pecado secreto, ou vivo uma vida santa? Tenho discernimento espiritual? Sou capaz de discernir um sermão cheio de Espírito Santo? Posso reconhecer quando as pessoas são espirituais? Minha reli­gião é real? Estou representando Cristo dignamente? Minha vida está fazendo com que os que me vêem tenham uma idéia correta a respeito Dele? Consinto que Deus sonde e ponha a minha vida em prova? Há alguma coisa falsa em minha experiência? Tenho o testemunho claro do Espírito Santo? Será que estou magnificando Jesus Cristo?  Preciso orar a esse respeito.

CAPITULO X

REALIDADES ESPIRITUAIS DE VALOR INCALCULÁVEL

22 de Maio

DIA a dia estou cada vez mais levado a acusar o meu trabalho e a pôr tudo à prova. Estou inteira­mente certo de que uma das razões maiores de fracasso está no fato de não fazermos o juízo exato que devíamos fazer sobre nós mesmos.

Preciso examinar melhor a minha pregação.  Deus assegura que Sua Palavra é fogo, martelo e espada. Se não estiver sendo, há qualquer coisa errada. Deus prometeu frutos. Tem que haver resultados. Ele tem que cumprir o que disse a respeito de Sua Palavra.

Examino a minha vida de oração. Tenho forças para prevalecer junto a Deus? Se não tenho, o que está havendo? Porventura Deus não afirmou com ênfase que “Ele fará tudo o que diz”? Se eu oro e não consigo re­sultados, deve haver qualquer coisa errada.

Preciso examinar minha experiência de crente. Sinto, às vezes, má vontade para com alguém ou costu­mo perder a calma? Haverá qualquer coisa em meu coração contrária ao amor? Estou crescendo na graça e andando com Deus? Já me libertei completamente do pecado? Os que me são mais próximos e caros crêem na religião em que creio? Julga-me Senhor, e eleva-me a um grau mais alto de espiritualidade.

Há algumas semanas Deus me concedeu o dom da fé, e eu tive a certeza de que Ele iria agir, porém, dentro de poucas horas perdi essa bênção. Passaram-se diversas semanas e numa quinta-feira à tarde, finalmente, Ele me concedeu de novo a mesma dádiva admirável e de maneira muito mais gloriosa. Durante uma semana eu me mantive em graça, com alegria consciente, e, depois, tornei a perdê-la. Como eu sou falho! Por que será que não posso crer em Deus? Então Ele não disse que “to­das as coisas são possíveis para aquele que crê”? Foi nesse ponto que David Stoner fracassou. Aumenta a minha fé, Senhor.

“Oh, dá-me aquela poderosa fé

Que nada pede em vão!

Que me domine, e não

Te deixe ir Sem dar o meu quinhão.”

24 de Maio

Gastei o dia orando e jejuando. Anunciei, na quarta-feira à noite, durante a reunião de oração, que nós empregaríamos o feriado, quando quase todos vão para os parques e lugares de diversões, como um dia de ora­ção e de jejum perante Deus. Sendo assim, reunimo-nos às nove da manhã e oramos o dia todo até as nove da noite. O tempo passou rapidamente e resultou em gran­de bênção para muitos. Nossas orações visavam o derra­mamento do Espírito de Deus. Como o povo orava! “O que Deus operou!”

Fui grandemente abençoado com a leitura da his­tória do glorioso reavivamento irlandês de 1859.

26 de Maio

Hoje à noite preguei sobre o juízo. Deus me con­cedeu desembaraço admirável para falar. Deve ter ha­vido cerca de mil pessoas presentes. A esposa de um dos principais homens de negócios ficou grandemente im­pressionada. Usou seu lenço sem se constranger e, por fim, baixou o véu do chapéu sobre o rosto para esconder as lágrimas. A nossa solista principal, em favor de quem tínhamos estado orando muito, conservou a cabeça abaixada, durante todo o sermão, parecendo estar pro­fundamente tocada. Outros também ficaram tomados pelo senso da convicção de pecados. Louvado seja Deus pelas orações respondidas! Que continuemos a manter o forte em nosso poder, até que Ele venha!

27 de Maio

Cheguei ao ponto em que verifico que não conheço quase nada acerca de religião experimentada. Estou de posse apenas da “forma exterior da piedade”, mas não do “poder”. Minha cabeça é que está no gozo dessa posse, não o meu coração. Minha religião é mais teórica do que experimental. John Fletcher, W. Bramwell e John Smith possuíam alguma coisa à qual sou completa­mente estranho. Como resultado de minhas leituras, es­tou certo de que os metodistas primitivos estavam mais próximos da experiência apostólica do que qualquer outro grupo de pessoas que conheço. Prouvesse a Deus que nunca perdessem o seu poder! Quanto Deus ainda tem armazenado para Seus santos! Tenho de experi­mentar a mesma força do alto custe o que custar. Que o Espírito Santo seja o meu mestre enquanto leio, oro e medito. Que maravilha a fé para crer! A fé que de­monstravam aqueles homens e mulheres de um ou dois séculos atrás.

29 de Maio

Reunião admirável! Manifestação maravilhosa do poder de Deus! Não consegui transmitir a mensagem que tinha preparado, mas falei desembaraçadamente à medida que Deus me guiava. Convicção muito profunda. Seis pessoas vieram e se ajoelharam na frente, sem serem convidadas. Uma mulher que antes tinha ficado muito zangada porque oramos em seu favor, ficou profundamente comovida nesta noite. Tinha jurado que nunca haveria de vir como penitente, e que jamais curvaria sua cabeça vinda à frente. Apesar de tudo, ela veio. Aleluia!

2 de Junho

Sábado foi o nosso segundo dia de oração e de je­jum. Instamos com Deus durante oito horas, tendo tido uma abençoada experiência.

Estivemos lendo a história maravilhosa da Sra. Fletcher. Como ela andava com Deus. Como ela sofreu. Que paciência e que confiança! Isso me leva a me pôr de joelhos chorando, ao perceber minha indignidade. Li­vra-me, Senhor, de tudo quanto não contribua para Tua glória. Mantém cada momento dentro de Tua vontade. “Dá-me um pouco do que John Fletcher possuía! Oh, como eu almejo ter mais da Tua graça. Como o meu coração tem sede de retidão.

5 de Junho

À noite tivemos uma reunião admirável. Quatro desviados vieram ajoelhar-se à frente. Todos receberam o que buscavam. O povo começou a dar testemunho e o cântico se mostrou profundamente espiritual. Final­mente eu perguntei se não queriam ir para casa. “Não”, responderam de todos os lados. “Pois bem”, repliquei, “faltam vinte minutos para onze horas”. Espantaram-se e perguntaram: “Será possível!”, continuei, “que isto já seja o Reavivamento?” A alegria era muito in­tensa em inúmeros corações. A Ele seja dada toda a glória!

Verifico que estamos progredindo espiritualmente e que estamos deixando de cantar os hinos mais populares e superficiais tendo cada vez mais gosto pelos velhos padrões tão grandemente usados por Deus em outros  tempos. Cantamos e tornamos a cantar os seguintes hi­nos: “Vinde Pobres Pecadores”, “Ah! Se Eu Pudesse Falar do Valor Sem Igual”, “Levanta-te, Minha alma levanta-te”. “Ó Coração, Louva a Meu Deus”, “Divino Amor” e “Fé, Poderosa Fé”.

9 de Junho

Enquanto ia para casa, hoje de manhã, senti meu coração tomado de paz transbordante. Uma após ou­tra, muitas passagens das Escrituras vieram à minha lembrança enquanto eu cantava de modo especial aquele verso que diz:

“Jesus é o nome mais louvado no inferno, terra e céu

Por anjos e homens respeitados Terror de Satanás!”

Sentindo essa presença de Deus tão incomum, eu gostaria de saber e por isso perguntei se uma paz assim poderia perdurar em ocasiões de atribulação e de difi­culdade. Depois do culto fui muito encorajado por duas pessoas que me contaram ter sentido que se quebraram as cadeias que as prendiam e que por isso receberam grandes bênçãos. Seguiu-se oposição amarga. Satanás ain­da está agindo.” Mesmo alguns dos melhores membros da igreja estão servindo de instrumentos nas mãos dele para impedirem o trabalho e para colocarem obstáculos no caminho.

18 de Junho

Enquanto estava transmitindo a mensagem desta noite, um homem levantou-se subitamente do seu lugar e, com um gemido profundo, foi para frente, prostrando-se sobre os joelhos. A luz não tardou em raiar. Vol­tando-se para os presentes, disse: “Bem, irmãos! Achei Jesus! Achei Jesus”! Como é maravilhoso o poder de Deus! Como Ele opera admiravelmente em resposta à oração de fé.

Esta manhã deixei minha casa às seis e trinta. Fui a pé para a igreja e comecei a orar as seis e quarenta e cinco. Sentia-me tão esgotado, cansado e sonolento que me deitei. Depois de ter tentado em vão ficar em contato com Deus, dormi durante uma hora e meia. As oito e trinta comecei a orar de novo, e, durante uma hora e meia, tive uma sensação de liberdade admirável e uma grande bênção. Senti a presença de Deus muito perto e creio que estive em condições de prevalecer. De­pois como que me senti num banquete, lendo a Palavra, quando experimentei o que significa o poder de uma vida reta e santa.

19 de Junho

Hoje pela manhã, quatro de nós nos reunimo para orar, desde as oito até as doze horas, tendo sido muito abençoados. Na reunião da última quinta-feira alguns não concordaram com tudo aquilo que eu disse e menti­ram que eu estava repreendendo e criticando o povo, insistindo para que orassem mais. À noite, porém, reu­nimo-nos com uma nova consagração, vendo que havia grande alegria em muitas faces. Apesar de tudo, foi-me mostrado que é inútil tentar trabalhar na carne e que somente Deus pode fazer nascer nos outros a responsa­bilidade de orar e que por isso eu devo deixar essa ques­tão com Ele. Quando o povo está realmente tocado pelo Espírito Santo, não é preciso nenhuma insistência. Graças a Deus, Ele me galardoou com grandes auxiliares para o trabalho de oração.

21 de Junho

Há dois, versículos que ultimamente foram uma bênção para mim. O primeiro é este: ”Clama a Mim, e eu responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes, que não sabes.” (Jer. 33:3). Senhor, torna-me capaz de apreender a verdade desse versículo, pela fé, e concede-me as “Coisas grandes e firmes”. O segundo “E eles tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor e confirmando a Palavra com os sinais que se seguiram.” (Marcos 16:20). Estou bem certo de que o Senhor está trabalhando comigo? Que prova tenho eu se não vejo a Palavra que prego confirmada por sinais que se seguem? Fico satisfeito em prosseguir sem ter a certeza? Preciso ver convicção de pecado, culminando na salvação de almas.

1 de Julho

Gastei o dia em oração e jejum com cinco ou seis pessoas cujos corações tinham sido tocados por Deus. A resistência de Satanás foi grande; não fomos capazes de orar até o fim e prevalecer.

5 de Agosto

O diabo mais de uma vez esteve ocupado conosco. Um homem está resolvido a fazer com que sua esposa não assista às reuniões. Ele estava furioso e ameaçava fazer muitas coisas. Entretanto, foi marcada uma reu­nião em casa, a convite de sua esposa, na qual ele sen­tiu a convicção de seus pecados, sendo levado a ver seu erro, estando certo, agora, de que não tinha o direito de proceder assim. Satanás não se importa que as pessoas assistam aos cultos ordinários da igreja, mas, logo que seu reino é invadido, ele imediatamente se preocupa. Diversos homens proibiram suas esposas de freqüenta­rem nossas reuniões.

16 de Agosto

Voltando para trás o meu diário, noto que hoje faz um ano que começamos a nos preocupar de modo espe­cial por um reavivamento. Tivemos no dia de hoje um dia de oração e fizemos uma recordação do trabalho do ano, perante Deus. Alguns dos convertidos professos re­trocederam, ainda que a maioria permaneça firme. Que espécie de filhos tivemos! Temos que fazer distinção entre os genuínos e os contraventores, entre o trabalho do Espírito e o trabalho da carne. Que as nossas ora­ções prevaleçam mais que nunca. Não se deve apanhar o fruto antes de estar maduro. Queremos filhos que amem seus pais, que amem sua casa, o lugar do seu nas­cimento, e que estejam sempre presentes na hora das refeições. Os outros não são legítimos. Alguns estão prosseguindo admiravelmente e se tornando excelentes auxiliares na oração.

24 de Agosto

Deus ainda está operando e respondendo a nossos pedidos. Estamos presenciando coisas poderosas. Os convertidos estão sendo chamados a sofrerem persegui­ção. Uma convertida conta como as pessoas da casa vizinha, desde que houve a transformação de sua vida, ha­viam-se tornado tão mesquinhas, a ponto de atirarem água suja e lixo no caminho dela, fazendo tudo para que ela se zangasse. Ela nunca disse nada, tratando-as com bondade como sempre as tratara. Colocou um dos nossos folhetos na caixa do correio dos vizinhos e crê que eles o leram, pois, no dia seguinte, a mulher parecia apunhalá-la com o olhar. Pois bem, no outro dia a vizi­nha foi levada às pressas ao hospital para ser operada. Nossa convertida foi procurar o marido que ficou sur­preso e, no dia imediato, foi fazer uma visita à doente no hospital, orando com ela. A mulher arrependeu-se e so­luçou. No outro dia o marido veio e lhe perguntou: “A senhora crê que o Senhor pode perdoar-me por todo o que eu fiz”?

26 de Agosto

Na semana passada escrevi a George Stenton, de Peterborough, insistindo para que ele viesse auxiliar-me na oração. Ele veio e esta tarde passamos um período de tempo admirável. Quando anunciei que o jantar estava pronto, ele levantou a cabeça, tendo na face um ar de surpresa. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Pa­recia ter estado no céu, sendo repentinamente arrebatado para a terra, pois estava desfeito e humilhado. Deus lhe havia concedido uma grande fé e ele sabe como perseverar em oração. As respostas que Ele recebe são surpreendentes. Tem o dom de inspirar fé nos outros, por­que vive com Deus.

9 de Setembro

A Palavra se está tornando cada vez mais preciosa. Delicio-me em ler os capítulos que tratam dos velhos profetas. Meu coração anseia por ter uma experiência de salvação de Deus e por um contacto mais íntimo com Jesus Cristo. Quero ser separado do mundo e de tudo o que ele contém. Quanto mais oro, mais gosto de orar. Deus é a minha porção.

15 de Setembro

Hoje à noite Deus imprimiu Seu selo, deu testemu­nho da verdade e confirmou Sua Palavra. Enquanto eu pregava, uma moça, estranha em nosso meio, levantou-se e ficou de pé por algum tempo até que eu a visse. Parei de pregar, louvado seja Deus, e perguntei se ela tinha se decidido por Cristo. Pela resposta que deu, parecia que não lhe fora possível esperar até o fim do culto, tão pro­funda tinha sido a convicção que experimentara. Con­tinuei, então, com meu coração. O efeito foi admirável. Um ai se espalhou pelo auditório inteiro e vintenas de pessoas ficaram profundamente abaladas. À medida que eu prosseguia, três homens e duas mulheres foram vistos a chorar. Um homem soluçava alto. A moça, que tinha ficado de pé, veio ao meu escritório, depois do culto, e, tanto quanto me é possível dizer, era claro que estava de posse do perdão. Como nós louvamos a Deus!

23 de Setembro

Deve haver mais angústia de alma e convicção de pecado mais profunda, porém, isto está inteiramente no âmbito da operação do Espírito Santo. Por isso, nada valerá senão a oração de fé. É Deus quem salva as al­mas. O trabalho de Deus é a operação do Espírito Santo em resposta da oração de fé. Tornei a ler a vida de John Smith. Como ele era homem de oração e de fé! E como ele procurava almas! Há muitos livros que des­crevem reavivamentos e relatam os resultados do traba­lho de Deus, porém, John Smith conta como consegui-los, como fazer, o método, o único método que produz os frutos do Espírito Santo e que produz resultados para a glória de Deus.

Estou lendo o diário de John Wesley, pela primeira vez. Quatro volumes grandes. Será que os lerei até o fim? Penso que sim, pois os acho muito interessantes e úteis. Que homem! E como proclamava a grande doutrina fundamental da salvação pela fé!

Continua a operar, Tu Espírito de Poder, e levanta de novo um povo para Teu nome! Concede-me de novo a visitação do Alto, a volta dos dias apostólicos, pois é isso seguramente que significa realização do céu aqui em baixo! E em tudo isso seja Jesus Cristo glorificado! Amem!

Teu trabalho reaviva! E demonstra Teu poder. Vem com força rediviva Conceder-nos Teu perdão.

Teu trabalho reaviva! Ouvindo nossa oração Acende em nós a fé viva

Que transforma o coração. Teu trabalho, ó Deus bendito,

Seja a nossa inspiração. Faze o nosso “eu” contrito! Eis, a nossa petição.

Dá-nos outro pentecostes, Repleto de animação

Prá vencer do mal as hostes E trazer convicção!

Faze os servos Teus ousados! Faze-os ter maior ardor!

Confessando seus pecados Mostrarão Teu esplendor

Vem cumprir Tua promessa! Esperamos Tua vitória.

Vem, Senhor, ó vem depressa! Vem com Teu poder e glória!

CAPITULO XI

SEDE DE REAVIVAMENTO

Por ocasião de minhas visitas aos Campos Missioná­rios da Europa, tive oportunidade de ver Deus operando da maneira mais notável. O povo viria de quase 50 quilômetros a pé, ou andaria a cavalo e carroça cerca de 380 quilômetros, para assistir aos cultos. As reuniões duravam três horas ou mais e, algu­mas vezes, eram em número de três por dia. Apesar disso, o povo se queixava de que não era o bastante. Em certa localidade reuniam-se por sua própria iniciativa, nas primeiras horas, antes mesmo dos obreiros aparece­rem em cena, completando desse modo quatro cultos diários.

Não havia necessidade de gastar dinheiro com anúncios. Uma pessoa contava a outra e todos vinham, abarrotando o recinto, ocupando todos os lugares, corre­dores e plataforma, nos maiores salões, a ponto de difi­cilmente poder entrar outra pessoa. Lembro-me bem de ter pregado a três mil pessoas numa igreja luterana. Como ouviam com atenção! Nas reuniões ao ar livre era a mesma coisa. Vi-os permanecer de pé, sob a chuva, durante três horas — homens mulheres, crianças — tanta era a sua sede do evangelho.

E como Deus operou! Desde o início, sentia-se no ar o espírito de reavivamento. Oravam, cantavam, da­vam testemunhos. As lágrimas corriam pelas suas fa­ces. Ouviam as mensagens com o coração contrito, e quando se fazia o convite, vinham em grande número para frente, prostrando-se sobre os joelhos, com lágrimas transbordando dos olhos, clamavam a Deus, supli­cando por misericórdia. É assim que diz o meu diário – é melhor ilustrar o que relato:

“Seria absolutamente impossível descrever as cenas desempenhadas pelo Espírito Santo: o que Deus operou não foi nada menos que miraculoso. Todas as noites o grande auditório ficava literalmente repleto, além de sua capacidade, com as galerias, plataforma e tudo ocu­pado com pessoas de pé, por toda a parte. Noite após noite, as almas vinham para frente em busca de salvação, e o altar ficava cada vez mais cheio. Grande foi o número dos que aceitaram a Cristo pela primeira vez. Quantos, eu não sei.

“A reunião das dez horas da manhã era a ocasião da grande festa. Na primeira manhã, o grande audi­tório de baixo estava cheio, com uns poucos nos lugares do coro. No segundo dia. o número era maior, e no ter­ceiro, ainda maior, quando teve início o glorioso surto. Na quarta manhã, não havia mais espaço. Todos os lu­gares do coro estavam ocupados. Onde houvesse espaço, colocavam cadeiras avulsas que eram ocupadas imedia­tamente. O povo continuava a afluir, até que, por últi­mo, muitos foram obrigados a ficar de pé pelas passa­gens. Foi então que o poder de Deus caiu sobre o auditório. Homens e mulheres se ajoelhavam por toda a parte, e, ah, que orações! Que lágrimas! Que penitência e que confissões! Que alegria e que paz! Que testemunho! E como cantavam! Verdadeiramente aqui­lo parecia o céu na terra.

“Ao terminar a reunião, houve um pedido para ou­tra, extra, às quatro horas da tarde. Perguntaram-me se eu poderia tornar a pregar. Assentei e às quatro horas es­tavam de volta. Mais uma vez o poder de Deus esteve presente. As lágrimas corriam livremente. Em muitas faces estavam impressos os sinais de uma alegria inexprimível. Ajoelhamo-nos diante de Deus em silêncio e o Espírito Santo desceu sobre muitas pessoas. As seis e trinta preguei outra vez e também às oito horas, pre­gando assim quatro vezes ao dia.

“Logo que fui para o meu quarto ouvi que bateram à porta. Era um estudante, ele entrou. Disse-me que Deus lhe falara e me descreveu a sede intensa de algo superior que sentia em seu coração. Disse-me que estava resolvido a orar durante toda a noite e que não cessaria de orar enquanto não sentisse o poder do Espírito Santo em sua vida. Oramos juntos e ele soluçou muito. Havia começado o movimento.

“Minutos depois ouvi outra batida. “Poderia eu ir ter com alguém no quarto vizinho”? Quando entrei, dei com um grupo de pessoas no escritório, todas prostradas sobre seus rostos. Deus também lhes tinha falado. Outras orações, em agonia, orações definidas que subiam ao tro­no de Deus. O pecado tinha sido considerado e deixado de lado, com submissão completa, pois o Espírito Santo tinha atuado de novo.

“Reuni todos os estudantes num grupo, e todos se ajoelharam e abriram seu coração perante Deus, orando em russo, alemão, leto e inglês. Que horas extraordiná­rias! Como choravam diante do Senhor! Que prazer estar nesse ambiente de reavivamento e ver o próprio Espírito Santo a operar. Afinal retiraram-se para con­tinuar em oração em seus quartos. Às doze horas, voltei para meu escritório e com minha alma cheia de gratidão e de alegria, fui para a cama. Como aquele dia tinha sido abençoado!

“Fomos obrigados a ir juntos para o auditório, na manhã seguinte, onde se reuniam mais de mil e duzentas pessoas. O altar também fora inteiramente tomado. Lou­vado seja Deus! Com as mãos levantadas todos canta­ram o hino que diz: “Bendito o Nome”. Às quatro ho­ras preguei de novo. Agora para um auditório tendo mais de mil e quinhentas pessoas, muitas obrigadas a ficar de pé. Mais uma vez ficou forrado de almas. De­pois, tive de enfrentar o meu terceiro auditório, as sete horas da noite. O poder do Espírito foi realíssimo. No grande auditório notava-se como que um silêncio pro­fundo, de modo que ao terminar, foram tantos os que vieram para frente que a reunião, após o culto, durou mais de uma hora. Esta reunião realizou-se no salão de baixo. Às oito horas subi e encontrei uma multidão de mil e trezentas pessoas esperando por mim. Tornei a proclamar a mensagem e fiz um convite. Imediatamente uma fila longa de pessoas foi para a frente. Homens, mulheres, moços e velhos ficaram em volta do altar com alegria e contrição, aceitando a Cristo. Era a minha quarta reunião naquele dia e eu pensava que fosse a últi­ma, porém, ao chegar à Casa da Missão, encontrei um quarto cheio de russos, todos com a face voltada para Deus, orando silenciosamente e ardorosamente, como só os russos sabem orar. Juntei-me com eles por um pouco, depois os deixei, e às doze horas fui para o leito. Que conversões maravilhosas! Que alegria! Que poder! Em minha existência toda, nunca preguei para tais congre­gações, nem no Canadá nem nos Estados Unidos.

“O domingo de páscoa foi um dia inesquecível. O primeiro culto realizou-se às seis horas da manhã. Na véspera eu tinha assistido ao serviço à meia-noite, na igreja ortodoxa. Tinha visto o povo com velas e repa­rado os sacerdotes com suas vestes alegres dando três voltas, em marcha, ao redor da igreja e pelo lado de fora. O cântico do coro era esplêndido. O arcebispo fez um sermão sobre a Ressurreição. Eram duas horas quando fui deitar-me. Por isso não foi fácil pregar às seis. Ha­via mil e duzentas pessoas presentes. Muitos atenderam ao convite e aceitaram Cristo.

“Às dez horas, tornei a pregar a uma congregação de mil e seiscentas pessoas. Até as passagens e galerias es­tavam repletas, com gente de pé por toda a parte. Foi uma cena maravilhosa. A reunião durou quatro horas.

“Depois de jantar deitei-me e adormeci, acordando para o outro culto às quatro horas. Havia mil e quatrocentas pessoas presentes. Grande número foi para frente à medida que o Espírito de Deus os comovia com poder inspirador. Muitas faces estavam banhadas de lágrimas. Homens levantaram-se enxugando os olhos tumefeitos. Muitos corações tinham encontrado salvação e com alegria nos seus rostos apertavam minha mão calo­rosamente, à medida que eu caminhava ao longo da com­prida fila dos convertidos. Havia moços e moças. Velhos também e muitos com cabelos grisalhos. Entre eles ha­via algumas crianças. Todos tinham procurado e encon­trado o Salvador. Que alegria sem limites!

“Na segunda-feira estive numa igreja russa onde, há cinco anos, eu já tinha pregado o Evangelho. Ah! en­contrei o recinto repleto, às dez horas. Pessoas compri­mindo-se nas galerias, pessoas de pé por toda parte, e, atrás de mim, um coro muito grande e uma banda de música. Falei com toda a convicção a respeito da vitória sobre o pecado, e ao terminar, dezenas e dezenas de pes­soas se ajoelharam enquanto o bendito Espírito Santo penetrava em suas vidas e tornava real a transação. Deus operou poderosamente. Muitos apresentavam tra­ços verdadeiramente gloriosos em suas faces, tal sua alegria.

“Noutra cidade russa, o culto foi feito na igreja local que tinha cerca da metade do recinto ocupado, mas, logo começou a se fazer notar o surto de reavivamento. Mui­tos oraram com lágrimas. No culto seguinte a igreja estava repleta e com muita gente de pé. Esta terceira reunião realizou-se num recinto que comportava três mil pessoas sentadas, diziam, mas esse recinto foi demasiada­mente pequeno. A multidão de ouvintes era tal e tão profundo o seu interesse que foi grande o número dos que tiveram de ficar de pé pelas passagens. Apesar da grande quantidade de pessoas que se comprimiam, mui­tos foram para frente e se ajoelharam diante do altar, aceitando Cristo. Na congregação havia um profundo sentimento de pecado.

“Surge à noite de segunda-feira. Será que aquela multidão volta? Ou seria como acontece na América, às segundas-feiras? A pergunta iria ser respondida logo, pois, ao chegar à igreja, encontramo-la repleta, com um número enorme de pessoas enchendo os bancos e corre­dores. Que espetáculo! Duas galerias, uma bem no fundo, por cima da primeira. Faces tendo traços de grande tensão nervosa e olhando para baixo em nossa direção. Como minha alma ficou comovida ao ver aque­les rostos! E com que atenção me ouviam! Ao termi­nar, convidei-os para uma reunião depois do culto. Cerca de quinhentas pessoas saíram, o resto permaneceu. E, assim, com cerca de mil e trezentas pessoas presentes tive de prosseguir. Logo os lugares da frente foram to­mados pelos que procuravam salvação. Expliquei-lhes o Evangelho cuidadosamente. Enquanto eu falava, suas lágrimas corriam. Logo se ajoelharam. Os pecados fo­ram confessados e perdoados, Cristo aceito, e expressões de louvor oferecidas a Deus. Como a expressão de suas faces estava transformada quando se levantaram! Como a alegria fazia seus olhos brilharem!  Depois deram testemunho, um por um, até uns vinte terem contado como haviam experimentado ali mesmo o novo nascimento. Dois estavam duvidosos. Tornei a falar com eles, e não tardou que experimentassem grande alegria, chorando, e adorando a Deus.

“Assim terminou uma das mais admiráveis séries de reuniões de avivamento que realizei. Na América jamais tive essa experiência. Nem me esquecerei das cenas gloriosas em que tomei parte. Que sede espiritual de Deus! Em que parte do Canadá poder-se-á ter alguma coisa assim? Toda a minha alma vai ter com aquelas multidões. Como Deus as visitou poderosamente! E como e O louvo, por isso! Ele ainda é o mesmo. O Deus de Wesley e Finney, o Deus de Moody e Evan Roberts, este Deus é nosso para todo o sempre. Ainda é o Deus de Reavivamento. Sua mão nunca se encolheu e Seu ouvido jamais se agravou. Ele ouve, Ele responde à ora­ção. Aleluia!

“Quanto a mim, sinto-me profundamente humilhado. Deus abençoou ricamente minha própria alma. Isto significa uma crucificação nova, uma experiência mais profunda e um andar mais íntimo com Ele. Meu cora­ção se desfez muitas vezes. Daqui por diante, como nun­ca aconteceu antes, é preciso que “Deus esteja em pri­meiro lugar.” Deixei de lado meus próprios planos e desejos; os Dele eu aceito. O que o futuro me reserva eu não sei; porém todo o meu tempo está em Suas mãos. Se Ele quiser condescender em me usar para um traba­lho de reavivamento espiritual novo e profundo, ficarei mais do que satisfeito; não importa onde, aqui ou na minha terra. Seguirei para onde Ele me guiar. Desejo entregar-me inteiramente a Deus e viver todos os ins­tantes de minha vida num reino muito mais acima deste mundo e desta carne em que habito, e em comunhão ininterrupta com o meu bendito Senhor!”

Portanto, que nós, que sentimos essa sede, e, graças a Deus, existem alguns aqui e ali que a sentem, nos le­vantemos em oração pelo nosso povo e por todos os crentes no mundo, e peçamos a Deus que faca nascer essa sede, seja pela catástrofe, seja pela guerra, seja pela inflação, seja pelo que for, faça nascer aquela sede a qual não pode haver reavivamento genuíno.

 

(1958)

(The Revival We Need)

(Pastor da “People Church”) Toronto, Canadá

Prefácio do REV. JONATHAN GOFORTH, D.D.

Tradução do DR. JUVENAL RICARDO MEYER

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