Memórias

CAPÍTULO I – NASCIMENTO E PRÉ-EDUCAÇÃO

Agradou a Deus de algum modo ligar o meu nome e labor a um extensivo movimento da igreja de Cristo, aquilo a que muitos chamam de ‘uma nova era’, muito especialmente no que toca a avivamentos religiosos. Como este movimento contribuiu consideravelmente para um desenvolvimento da visão da doutrina cristã que nada de comum tem para muitos, as quais nasceram através da necessidade de engendrar meios distintos e novos para alcançar perdidos através do evangelho, seria apenas de esperar que nascesse com isso também uma certa má compreensão sobre os mesmos princípios doutrinários que fizeram promover estes avivamentos, tal como sobre o simples uso dos mesmos; conseqüentemente, até homens bons foram levados a questionar tanto a sabedoria destes mesmos módulos, como a sua saúde teológica e também homens ímpios ficaram irritados contra eles e através do tempo envolveram-se extenuadamente numa oposição aberta aos mesmos.

Falo de mim mesmo apenas como alguém ligado a estes mesmos movimentos, tal como muitos outros ministros e servos de Cristo, os quais partilharam e comparticiparam dele e na sua promoção, proeminentemente. Estou de certa forma consciente que uma boa parte de toda a igreja me acabou por considerar um inovador, tanto no que toca à doutrina como nos meios usados; e que também me consideram e destacam como majoritariamente responsável pelo assalto a algumas formas e expressões de pensamento teológico, usando uma nova linguagem para ter como expressar a verdade do evangelho de muitas maneiras.

Acabei por ser importunado durante muitos anos, pelos amigos desses mesmos avivamentos com os quais estou inevitavelmente ligado, para relatar a história dos mesmos. Como prevalece uma certa incoerência na compreensão destes avivamentos, é de esperar sempre que a verdade sobre as coisas exijam de mim uma certa exposição das doutrinas que foram usadas e pregadas, os métodos e meios usados para tais fins e o alcance dos mesmos.

A minha mente opõe-se desde logo a uma tal exposição dos fatos, pois tende a recolher-se em si mesma, por me sentir forçado a falar de mim mesmo, relacionando-me à consumação dos mesmos. Foi muito principalmente por esta simples razão que até hoje declinei tal convite de pegar as rédeas duma tal obra. Ultimamente, os fundadores de Oberlin College puseram a questão diante de mim de novo, instigando-me a fazer aquilo que minha mente se recusa a fazer prontamente. Eles, juntamente com muitos amigos neste país e também em Inglaterra, assinalaram que devia algo à obra de Cristo e que uma melhor compreensão deveria prevalecer na igreja que até hoje existiu, especialmente sobre aqueles avivamentos que ocorreram desde o centro de Nova York a muitos outros lugares, desde 1821 e durante muitos anos a fio, especialmente porque tais avivamentos foram sempre muito criticados e mal vistos, crescendo uma grande oposição aos mesmos por serem verdadeiros.

Aproximo-me desta tarefa com muita relutância por variadíssimas razões. Não guardei nenhum diário e por isso dependo apenas da minha memória. É de realçar que a minha memória é tenaz e que o os acontecimentos que testemunhei nestes avivamentos impressionaram de tal forma a minha mente, que me recordo de todos os seus pormenores com relativa clareza, muitos mais pormenores que aqueles para os quais disponho do devido tempo para relatá-los. Qualquer pessoa que haja presenciado avivamentos poderosos toma desde logo nota da profunda convicção e conversão nos casos que se sucedem de forma diária e constante e do enorme interesse que provocam naquelas pessoas envolvidas neles. Quando e onde os fatos são sobejamente conhecidos de todos, um efeito arrepiante toma conta de todos. Serão tão numerosas as muitas ocorrências num avivamento destes que, se todos os fatos nele produzidos fossem narrados, muitos volumes inteiros se produziriam.

Não pretendo seguir esse método de exposição. Vou apenas relatar o suficiente para expressar uma idéia muito generalizada das ocorrências e de como se deram estes acontecimentos no geral. Também pretendo relatar algumas das muitas conversões que se foram dando em lugares diferentes. Procurarei dar uma exposição das doutrinas usadas e ensinadas, dos meios usados para alcançar os efeitos que se deram, mencionando as ocorrências de maneira a que a igreja possa estimar e avaliar tanto o poder como a pureza desta obra poderosa de Deus.

Também hesito narrar estas ocorrências, porque muitas vezes fui surpreendido pela minha própria recolha dos fatos tal qual eu os presenciei e vivi, serem distintas e diferentes da recolha de outras pessoas envolvidas nos mesmos acontecimentos. É claro que devo apenas relatar tal qual eu me recorde dos mesmos. Mencionei e referi muitas vezes em meus próprios sermões como forma de ilustrar verdades a quem me ouvia, os fatos que aqui irei narrar. Tantas vezes me referi a eles durante tantos anos de ministério que, não posso senão estar plenamente confiante de estar capacitado para recordá-los substancialmente bem, tal qual se deram. Se por acaso se der à ocorrência de confundir a verdade dos fatos, ou se as minhas recolhas de memória forem distintas daquelas de outras pessoas, confio que as pessoas irão crer que aquilo que aqui relato, está de inteiro acordo e em plena conformidade com a minha presente capacidade de memória. Estou agora com setenta e cinco anos de idade (1867-68). É notório que recolho e recordo melhor aquelas coisas que se deram a mais tempo atrás, do que aquelas de recente desenvolvimento. Em relação direta às doutrinas usadas para pregar, no quanto a mim me toca e também nos meios que usei para promover estes avivamentos, penso não poder errar na veracidade da sua divulgação sequer. Mas, para fornecer uma distinta vista panorâmica destas muitas cenas a todos se exceção, será de absoluta necessidade optar por um certo rumo de expor as muitas razões que sempre me levaram a adotar certas doutrinas visionárias às quais de coração me entreguei em seu uso, na sua forma distinta de pregar e às quais muito boa gente se opôs.

Vou começar por relatar as circunstâncias do meu nascimento, da educação prévia à minha conversão a Cristo, da conversão em si, dos meus estudos teológicos e da minha entrada no ministério. Não vou escrever uma autobiografia, entenda-se desde já, mas sim um relato dos acontecimentos da igreja nos quais estou envolvido particularmente, mas não mais do que o necessário para simplesmente ter como fornecer uma relação inteligente e breve das mesmas ocorrências factuais, de forma que se obtenha uma idéia fiel de todos os fatos das muitas movimentações da igreja.

Nasci em Warren, Litchfield County, Connecticut, em 29 de Agosto de 1792. Com cerca de dois anos de idade, meu pai foi viver para Oneida, Nova York, que naquela altura era pouco mais que uma vasta floresta. Não havia quaisquer privilégios religiosos naquele tempo. Muito poucos livros havia disponíveis sobre o assunto. Muitos dos imigrantes oriundos de Nova Inglaterra, desde logo haviam estabelecido as suas escolas por ali. Mas muito pouca gente estaria exposta a uma inteligente exposição do evangelho. Tive privilégios escolares, durante verão e Inverno, até aproximadamente quinze ou dezesseis anos de idade. Estudei até ser tido como capaz de ensinar outros nessas mesmas escolas, da mesma maneira como estas escolas eram então conduzidas no ensino.

Os meus pais não professavam religião sequer, creio mesmo que mesmo entre os meus vizinhos poucas pessoas haveria que professassem qualquer religião. Raramente ouvi um sermão, com exceção dum ocasional pregador que por ali pretendesse passar, ou dum qualquer miserável que se punha como um pregador ignorante, daqueles que por ali havia por vezes. Recordo que a ignorância desses pregadores seria tal, que as pessoas depois da pregação passavam momentos hilariantes de risada pelos muitos erros no falatório e por causa dos absurdos que saíam de suas bocas. Na vizinhança da casa de meus pais, foi erguida uma casa de reuniões ministeriais, mas assim que ficou pronta meus pais abandonaram o local para se estabelecerem na floresta de Lake Ontário, um pouco a sul de Sackets Harbor. Aqui também, mesmo vivendo lá durante alguns anos, nunca presenciei melhores privilégios religiosos que os anteriores em Oneida County.

Com cerca de vinte anos de idade voltei para Connecticut, logo de seguida para Nova Jersey, perto da cidade de Nova York onde me envolvi no ensino. Ensinei e estudei o mais que pude. Por duas vezes voltei à Nova Inglaterra para freqüentar o colégio superior durante uma época de cada vez. Foi por ali que pensei entrar no Yale College. Quem me ensinava era alguém formado lá, mas aconselhou-me a não ir para lá. Disse-me que seria uma imensa perda de tempo, pois poderia muito bem conseguir adquirir o mesmo currículo por ali naquela instituição num espaço de dois anos, quando o mesmo me levaria quatro em Yale. Este homem apresentou as suas considerações de tal forma que me convenceram e por essa razão não tive como estudar mais naquele tempo. Contudo, depois disso ainda cheguei a adquirir alguns conhecimentos de Latim, Grego e Hebraico. Mas nunca fui um estudante muito clássico e nunca adquiri o desejado conhecimento dessas línguas ancestrais para de qualquer forma poder a vir questionar ou criticar de forma independente a nossa tradução inglesa da Bíblia sequer.

O professor a que fiz referencia, desejava que eu me juntasse a ele na condução duma academia num dos estados do sul. Estava inclinado a aceitar essa proposta sob a pretensão de continuar a minha aprendizagem sob sua tutela. Mas assim que informei meus pais sobre o assunto, os quais não via há cerca de quatro anos, ambos vieram ter comigo prevalecendo nos seus argumentos de me convencerem a ir com eles para Jefferson County, Nova York. Depois de visitá-los, conclui entrar como estudante de advocacia, nos escritórios de Squire W, em Adams, nessa região. Era então Outono em 1818.

Até aqui, nunca havia gozado de qualquer coisa perto de ser um privilégio religioso. Nunca pude viver de perto numa comunidade de oração, com exceção de quando freqüentava aquela escola em Nova Inglaterra. Mas mesmo lá, aquela religiosidade precária não serviu sequer para atrair a minha curiosidade. As pregações eram fornecidas por um excelente homem velho do clero, amado e venerado por todos os seus. Mas lia os seus sermões de tal forma que nunca chegaram a impressionar a minha mente. Tinha uma forma monótona de tambor no ler daquilo que provavelmente havia escrito muitos anos antes.

Para dar uma ligeira idéia da suas pregações, permitam-me dizer que os seus sermões manuscritos dariam apenas para meter numa pequena Bíblia. Assentava-me na galeria e dali observava que ele punha sempre os seus manuscritos no meio da Bíblia, pondo seus dedos espalhados pelos muitos sítios onde teria de ir buscar muitos dos textos que ele necessitava na sua pregação. Por essa razão, necessitava de suas duas mãos para segurar a sua Bíblia, coisa que não lhe permitiam fazer qualquer uso de gesticulação requerida para o efeito. Conforme ia avançando, ia libertando os seus dedos um a um na medida em que ia lendo os devidos textos que teria para fazer uso. Assim que todos os seus dedos estivessem soltos e livres, o sermão terminava. A leitura que fazia dos seus sermões, nada tinha de convincente, apenas de simples monotonia. Mesmo que as pessoas atendessem aos muitos cultos, fiel e reverentemente, confesso que para mim nunca serviram para nada.

Assim que abandonávamos os cultos, ouvia sempre comentários sobre os seus sermões e nalguns casos as pessoas até se questionavam sobre se ele estivera fazendo alguma alusão a alguém ou algum pormenor entre eles, no seu meio. Parecia-me mais uma questão de curiosidades sobre o que pretendia alcançar através de suas palavras, especialmente quando houvesse algo mais que discussão de mera doutrina nas suas palavras lidas. Esta haviam sido as melhores pregações que ouvira até então. Mas qualquer um poderá imaginar se seria caso para um jovem perdido e desinteressado se de algum modo atraído por tal coisa, como se tal forma de persuasão o pudesse instigar a instruir-se em tal coisa. Quando ensinava em Nova Jersey, os sermões locais eram majoritariamente feitos em alemão. Penso que nem sequer meia dúzia de sermões ouvi em inglês durante a minha estadia ali, que foi de cerca de três anos. Assim, quando fui para Adams estudar direito, era tão ignorante em relação à religião quanto o seria qualquer pagão mal informado. Cresci majoritariamente dentro da floresta, não considerava o Sábado ou Domingo e nunca dispusera até ali de qualquer conhecimento de verdade religiosa.

Foi em Adams que pela primeira vez me expus e sentei longamente sob um ministério educacional e inteligente. O Rev. George W. Gale, de Princeton, Nova Jersey, seria consagrado pastor local da Igreja Presbiteriana, pouco tempo depois de eu ali haver chegado. A sua pregação era da escola ancestral, puramente Calvinista e quando firmava as pregações nas suas doutrinas, transparecia ser um hiper-calvinista convicto. Claro está que ele era considerado como ortodoxo de alta patente. Mesmo assim, nunca pude beneficiar de nada daquilo que pregava. Algumas vezes lhe havia transmitido pessoalmente, ele parecia começar naquilo que deveria ser o meio de todo seu discurso e que assumia muitas coisas peremptoriamente que para a minha mente haveriam que ser provadas. Ele nem sequer se questionava se seus ouvintes teriam ouvidos de grandes teólogos, assumindo que deveriam estar à altura de entender as doutrinas da salvação da maneira como as expunha. Terei de reconhecer abertamente que me fazia mais perplexo que esclarecido o ouvir daquilo que transmitia oralmente.

Nunca até ali havia presenciado de perto uma reunião de oração. Como havia uma muito perto dos escritórios todas as semanas, por norma atendia às mesmas e dava-me para ouvir as suas muitas orações, todas as vezes que saia do trabalho a horas de poder atendê-las. Como estudava direito elementar, notei que muitos dos autores antigos faziam referências contínuas às Escrituras, muito especialmente àquelas leis de Moisés como princípios básicos de autoridade para a lei comum. Isto provocou a minha curiosidade de tal forma que comprei uma Bíblia, a primeira que tive nas mãos. E sempre que encontrava uma qualquer referencia pelos autores de direito à Bíblia, logo buscava a passagem para consultá-la relacionando-a sempre com a alusão feita. Isto logo levou a que me interessasse pela Bíblia ainda mais e meditava em tudo aquilo que lia mais do alguma vez meditara em toda a minha vida. Muito daquilo que lia, não entendia como era de esperar. O Rev. Gale tinha por hábito passar pelos escritórios com muita freqüência, com alguma ansiedade em tentar saber qual a impressão causada pelos seus muitos sermões na minha mente. Eu falava com ele de forma muito aberta e franca. Penso que apontava erros demais aos seus sermões, injustamente até. Levantei tantas objeções contra ele, quantas haviam esbarrado na minha forma de querer ver as coisas.

Nas conversas que tinha com ele e ao perguntar sobre muitas questões, deduzi que toda a sua mente estaria mistificada demais e que não se conseguia definir muito bem acerca de assuntos importantes, como também não conseguia definir muita da sua terminologia da qual usava freqüentemente como forma de expressão muito formal. Que quereria ele dizer com “arrependimento”? Seria mero sentir de remorso ou seria emotividade? Seria um estado mental ou envolveria tal coisa também um estado voluntarioso de mente? Se for uma transformação mental, que tipo de mudança seria? Seria uma questão mental apenas? Que queria ele dizer com regeneração? E com fé? Seria uma convicção, uma mudança espiritual, uma persuasão de que as coisas contidas no evangelho seriam verdade? O que era a santificação? Obrigaria isso a uma mudança física da pessoa nela envolvida, ou dependia tal coisa duma interferência direta da parte de Deus em quem cria? Eu não tinha como entender nenhuma das suas definições sobre variadíssimos assuntos importantes, pois parecia que ele próprio nada entendia sobre aquilo de que falava.

Estabelecemos muitos debates de inquérito e resposta, mas tal coisa apenas servia para me estimular mais duvidas que satisfazer a minha curiosidade sobre esses assuntos no tocante àquilo que pudesse ser verdade. Mas, lendo a minha Bíblia e freqüentando a dita reunião de oração, ouvindo os sermões do Rev. Gale e discutindo com ele, também com os anciãos da igreja e muitos outros ocasionalmente, tornei-me um ser muito inquieto. Uma pequena consideração desde logo me levou a perceber que não estaria minimamente preparado para o céu caso morresse. Transparecia-me que haveria algo infinitamente importante na religião e ficou desde logo ponto assente que, se a alma fosse deveras imortal, eu estaria carecido duma enorme e real mudança interior, caso tivesse que vir a ser preparado para a felicidade do céu. Mas a minha mente ainda não achara forma de se achar resolvida quanto a questões como à verdade ou a mentira do evangelho da religião cristã. A questão teria peso a mais, no entanto, para me deixar tranqüilizado naquela incerteza sobre o assunto.

Estava particularmente atônito sobre aquele fato inquestionável de que as muitas orações que ouvia naquela reunião de oração careciam de respostas conclusivas. Não via nenhuma resposta às mesmas, aquém daquilo que podia ver e presenciar. O fato incontornável de maior relevo das suas orações seria que não consideravam qualquer fé numa resposta sequer, pois não as conseguiam considerar como atendidas.

Lendo a Bíblia vi como Cristo se pronunciava sobre a oração e muito especialmente sobre respostas certas às mesmas. Ele dizia: “pedi e dar-se-vos-á e aquele que busca, acha aquele que bate abrir-se-lhe-á”. Li também sobre como Deus estaria numa grande pré-disposição de atendê-los e de dar o Seu Espírito Santo a quem O pedisse, mais do que os pais daqui do mundo estariam na disposição de dar algo a seus próprios filhos. Ouvia-os orar continuamente para que fosse derramado o Espírito Santo e variadíssimas vezes a confessarem abertamente que nada demais se passaria, pois não recebiam tudo aquilo que pediam. Exortavam-se uns aos outros para se manterem despertos e na expectativa da Sua vinda, orando sempre para que houvesse um avivamento religioso, assegurando mutuamente que, se cada um cumprisse a sua parte, orando pelo Espírito e fossem sérios e sinceros no pedido, estariam na eminência de obterem o tal avivamento que iria converter muitos impenitentes e pecadores. Mas nas suas muitas orações e reuniões, alegavam continuamente que nenhum progresso alcançavam através daquelas orações, a favor de assegurarem o próprio progresso da religião.

Aquela inconsistência absurda de nunca receberem aquilo que tanto pediam, era um sério tropeço para mim. Não sabia o que entender daquilo. As questões que se punham na minha mente seria se aquelas muitas pessoas seriam de fato crentes e que se não sendo não tinham como prevalecer diante Deus, ou se eu estaria a entender muito mal as promessas que vinham na Bíblia vezes sem conta. Estaria a Bíblia a falar a verdade? Era algo inexplicável para mim. Por pouco tal ocorrência não me levou ao cepticismo. Parecia-me desde longe que, entre aquilo tudo que se desenrolava diante de mim e aquilo que lia da Bíblia, não havia sintonia possível.

Numa ocasião, quando freqüentava a dita reunião de oração, Perguntaram-me se desejaria que orassem por mim. Respondi-lhes de imediato que não, porque, disse-lhes, não via Deus a responder qualquer das suas orações. Disse: “Por acaso sou uma pessoa necessitada de oração, porque tenho consciência em mim que sou um pecador; mas não vejo que as vossas orações possam resolver o meu problema, pois vocês não estão a ser ouvidos; se o caso se desse das vossas orações serem ouvidas, não me importaria nada que orassem por mim. É que estão há tanto tempo a orar para que desça o Espírito Santo e nada recebem! Desde que cheguei a Adams que pedem isso e não há maneira de ver qualquer resposta concreta; apenas vos vejo a lamentarem-se que não recebem”. Recordo-me de haver usado uma forma de expressão na altura mais ou menos assim: “Já oraram tanto desde que freqüento as vossas reuniões que já bastaria para expulsar o diabo por inteiro daqui de Adams, se houvesse qualquer essência de virtude em qualquer das vossas orações! Mas mesmo assim, vocês continuam a orar sobre a mesmíssima coisa e só vos ouço lamentarem-se sempre por nunca receberem” Eu falava com muita seriedade de expressão sem uma qualquer fragrância de irritabilidade, devendo-se provavelmente ao fato de me haver confrontado continuamente com aquela questão da religião. Este era um estado de coisas deveras novo para a minha experiência. Mas lendo a Bíblia com mais diligencia, pude verificar que as suas orações nunca seriam ouvidas porque eles nunca se haviam comprometido com as condições sob as quais Deus se comprometera a responder às orações deles. Foi como que uma revelação para mim, pois se via claramente que não esperavam que Deus respondesse que lhes desse aquilo por que pediam.

Isto visto, por algum tempo a minha mente se confundia com estas coisas. Seria mais na forma de questionar que chegara a estas conclusões que propriamente numa forma bem definida de resposta. De qualquer modo, isto me deu um certo alívio ao pensar que afinal de contas nada de errado deveria de existir sobre a verdade do evangelho. E depois de haver lutado durante uns dois ou três anos com essa grande questão, a minha mente assentou no fato de que houvesse a mistificação que houvesse, na minha mente ou na do meu pastor, ou mesmo na mente da igreja de forma independente da do pastor e da minha, a Bíblia redundava na autêntica Palavra de Deus. Estando esta questão traçada e arrumada desde aí em diante, o passo seguinte seria logicamente a questão se aceitaria Cristo tal como Ele vem apresentado nas Escrituras e no Evangelho, ou iria perseguir um caminho mundanamente orientado. Neste período de tempo e a partir daqui, não mais podia deixar a questão sem resposta porque, como me vim a aperceber desde então até ao dia de hoje, o Espírito Santo imprimiu uma urgência na minha mente de ter de resolver aquela grande questão com Ele, não mais podendo seguir assim hesitando entre dois pensamentos distintos e opostos.

CAPÍTULO II – CONVERSÃO A CRISTO

Numa noite do dia do Senhor (domingo), no Outono de 1821, decidi então que iria resolver prontamente a questão sobre a salvação da minha alma e que se me fosse possível, trataria de ter paz com Deus imediatamente. Mas por estar absorvido em muitos afazeres no escritório, vi desde logo que sem uma firmeza em propósito nunca chegaria a fazê-lo ou torná-lo possível. Resolutamente decidi desde logo que, dentro do que me fosse possível, evitaria estar ocupado demais nos assuntos do escritório e que tudo o que pudesse consumir a minha atenção seria posto de parte para que tivesse como me entregar inteiramente à obra da salvação da minha alma. Esta resolução foi de imediato posta em prática de forma tão severa quanto drástica. Mas estava comprometido com as coisas do escritório sem que tivesse como evitar. Porém, conforme aquela providencia de Deus proporcionou, não estava muito ocupado nem as segundas nem às terças-feiras; teria como me entregar por inteiro à leitura da Bíblia e à oração nesses dois dias.

Era um homem muito orgulhoso quase sem o saber. Eu supunha de mim mesmo pretensiosamente que não me importava com a opinião dos outros sobre a minha pessoa, daquilo que pudessem vir a pensar de mim. De fato freqüentava as reuniões de oração solitariamente, na mesma medida da atenção que prestava à religião. Mas descobri então que, assim que comecei a pensar resolver a questão da minha salvação, não gostava que alguém chegasse, a saber, o que se passava nos meus pensamentos. Nuca permiti que a igreja ficasse com uma idéia de que estaria num estado de ansiedade e na busca de salvação. Quando orava, apenas murmurava uma oraçãozinha sem jeito no escritório, mas apenas depois de tapar o buraco da fechadura na porta, não fosse alguém descobrir que estava orando. Antes dessa altura, tinha uma Bíblia em cima da minha secretária como parte integral de todos os meus livros de direito. Nunca tal coisa me havia ocorrido ter qualquer tipo de vergonha ou preconceito de tê-la lá com meus livros, sentir-me embaraçado caso alguém me surpreendesse a lê-la; não mais do que me encontrarem a ler qualquer um dos meus livros de direito.

Mas assim que me ocupei com seriedade com a questão da salvação da minha alma, punha a minha Bíblia tanto quanto me era possível fora da vista de quem a pudesse vislumbrar. Se por acaso fosse descoberto a lê-la, de imediato punha os meus livros sobre ela para que ninguém viesse a pensar que a estava lendo, disfarçando para que ninguém pensasse que havia estado com a minha mão na Bíblia. Em vez de falar sobre o assunto da minha salvação com alguém, descobri que não desejava de maneira nenhuma falar com ninguém. Não queria ver o meu pastor por perto, porque não queria que viesse, a saber, o que se passava em mim. Não confiava que ele pudesse ou tivesse como entender o meu caso e que me soubesse apontar na direção certa e desejável. Pelas mesmas razões evitava as conversas com os presbíteros da igreja ou com qualquer outro crente. Tinha imensa vergonha de que viessem a descobrir e saber como me sentia, por um lado. Por outro, temia que ninguém me soubesse mostrar com precisão o caminho que devia seguir. Senti uma necessidade de me fechar com a Bíblia a sós e manter-me assim isolado tanto quanto podia.

As segundas e terças a minhas convicções subiam de tom, mas ao mesmo tempo sentia o meu coração cada vez mais endurecido. Não conseguia verter uma singular lágrima, não conseguia orar. Nunca tivera a oportunidade de orar acima da voz da minha respiração e com alguma freqüência sentia que se estivesse num local onde pudesse dar largas a toda a minha voz, encontraria o tal alívio que buscava na oração. Era acanhado e evitava na medida em que me era possível, falar sobre o assunto. Torneava sempre a questão de maneira a que ninguém conseguisse saber o que se passava em mim, que estava na eminência de me desejar salvar. Na terça-feira estava numa ansiedade enorme e muito nervoso. Uma estranha sensação que estaria para morrer apoderou-se de mim. Sabia de antemão que se viesse a morrer, estaria condenado ao inferno. Acalmei-me, no entanto, o mais que pude até a manhã romper.

Logo pela manhã, a caminho do escritório, um pouco antes de lá haver chegado, algo parecia estar a confrontar-me. Algo me dizia abertamente: “que esperas para te decidir? Não prometeste entregar todo o teu coração a Deus? O que estás a tentar conseguir com tudo isto? Estás a tentar operar por uma justiça tua, própria?” Foi aqui, nesse momento que toda aquela questão do evangelho como que se abriu para mim. Vi ali, tanto quanto sei o perfeito trabalho de reconciliação que Cristo conseguiu na cruz. Nunca em toda a minha vida iria ver tão claro, tal coisa. Vi como a Sua obra era soberana, uma obra terminada, à qual nada tinha a acrescentar. E como em vez de tentar recomendar-me a Deus através duma justeza própria, tinha apenas que me submeter àquela justiça já conseguida em Cristo submeter-se logo a Cristo. Transpareceu-me ser uma oferta tal que valia muito a pena receber, como algo que nunca devia enjeitar. Desde logo vi que a única coisa que tinha de fazer, seria consentir que tivesse como deixar todo e qualquer um dos meus pecados, aceitando o Senhor. Salvação pareceu-me desde logo, seria algo válido e valioso demais para desperdiçar, como algo a que nada teria a acrescer por obras minhas, toda ela estando à minha mercê em Cristo, que, por sua vez se me foi apresentado como Deus e Salvador. Sem que me houvesse apercebido de tal coisa, estava parado no meio da estrada a pensar em tudo aquilo, ali onde aquela voz me havia arrastado para dentro destas verdades. Quanto tempo estive ali naquele estado, não sei precisar. Mas momento depois de todo este panorama de salvação se haver aberto à minha mente, algo me fazia dizer dentro de mim a mim mesmo: “Vais aceitar agora? Hoje?” Eu disse “Sim, vou resolver isso hoje mesmo, ou isso ou morro na tentativa para consegui-lo!”.

A norte da vila de Adams, depois dum monte, havia uma floresta onde eu passeava quase diariamente, dependendo do estado do tempo. Era Outubro e o tempo das minhas freqüentes passeatas por ali já haviam passado há muito. Mesmo assim, em vez de me direcionar para os escritórios, fui para o bosque, sentindo que deveria estar só, bem distante de qualquer ser humano, longe dos olhos e ouvidos das pessoas, num lugar onde pudesse derramar todo o meu coração diante de Deus em pessoa. Mas o meu orgulho resolveu dar sinais grosseiros de si. Enquanto caminhava, ocorreu-me que alguém poderia estar a ver-me e a suspeitar sobre aquilo que estaria na eminência de fazer. Não queria que alguém suspeitasse sequer que ia orar. Ninguém, provavelmente suspeitaria de algo assim, caso fosse visto a ir à direção ao bosque. Tão grande era o meu orgulho e tão violento era aquele temor ao homem que me possuiu, que recordo haver-me esgueirado por baixo da vedação o mais rápido que pude para embrenhar no bosque o mais longe possível da vista de humanos, para que ninguém tivesse como me ver a partir da vila. Penetrei na mata meio quilometro, passei para o outro lado do monte que havia depois da vila e achei um local de oração. Umas árvores grandes haviam caído cruzando-se umas sobre as outras, criando uma espécie de aposento no meio delas. Entrei nesse aposento e ajoelhei-me para orar a Deus. Recordo que dissera a mim mesmo a caminho daquele bosque, que entregaria todo o meu coração a Deus, custasse o que custasse. Disse vezes sem conta, repetindo para mim mesmo esta promessa: “entregarei todo o meu coração a Deus, ou nunca mais sairei do bosque; não sairei daqui sem haver resolvido a minha vida com Deus!”.

Mas assim que tentei orar, descobri que não conseguia, pois o meu coração não conseguia expressar-se. Havia suposto que se estivesse onde pudesse dar largas à minha voz em oração, sem que me ouvissem, poderia orar livremente. Mas não! Estava mudo, sem conseguir dizer palavra sequer! Ou não tinha nada em mim para dizer a Deus, ou então podia fazer uso de umas poucas palavras sem expressão de sinceridade, sem coração! E quando tentei entrar em oração, umas folhas mexeram-se com o vento ali perto. Levantava a minha cabeça a ver se alguém vinha e parava de orar, verificando-se tal procedimento variadíssimas vezes.

Por fim entrei numa fase de desespero total. Disse a mim mesmo: “Não consigo orar! O meu coração está morto para Deus! Não consigo orar!” Ali mesmo comecei a repreender-me a mim mesmo por me haver comprometido e prometido entregar o meu coração a Deus antes de sair daquela mata. Ao tentar uma e outra vez, descobria sempre que não conseguia entregar meu coração a Deus. O meu intimo recuava miseravelmente, não deixando meu coração ir de encontro a Deus. Logo comecei a pensar que seria já tarde demais para me salvar, que Deus havia desistido de mim e que estaria para além de qualquer esperança de salvação possível. Aquele pensamento de me haver precipitado naquilo que me comprometera a fazer até sair dali, que antes morreria a sair dali sem Deus no coração, perseguia-me incessantemente. Parecia que tal promessa provocava em minha alma uma enorme sobrecarga de compromisso e não tinha como cumprir aquele voto solene. Mergulhei profundamente num abismo de desespero e de desencorajamento de tal dimensão que nem forças tinha para me por de joelhos.

Nisto ouvi as folhas mexerem-se com o vento e olhei de novo com receio que alguém se estivesse aproximando, de ser visto em oração. Abri os meus olhos para verificar se assim era de fato. Mas logo ali me foi revelada a dimensão do meu orgulho diante de meus próprios olhos. Vi qual a razão de toda aquela dureza e conseqüente frieza de coração em mim e foi-me revelado distintamente e de tal forma que se apoderou de mim um sentir de perversidade própria, uma imensidão de tal perversidade, por me sentir com vergonha que alguém me visse em oração diante do meu Deus, do meu Criador, que exclamei contra a minha perversidade. Esse sentir de perversidade tomou posse de todo o meu ser, de tal forma que gritei em alta voz que mesmo que todos os homens da terra me estivessem a ver, juntamente com todos os anjos perversos do inferno e me cercassem para ver-me orar ali, de modo algum deixaria aquele lugar. “O quê? Tal pecador degradado como eu, de joelhos confessando todos os meus pecados perante um Deus magnífico e poderoso e com vergonha Dele? Que coisa é esta? Com vergonha que tenha receio de que pecadores como eu me vejam assim prostrado diante do meu Deus Criador, muitíssimo ofendido por meus pecados?” Aquele pecado pareceu-me infinito, imenso, degradante e perverso. Quebrei diante de meu Deus e sucumbi de vez.

Logo ali certa passagem das Escrituras parecia penetrar a minha mente com uma tempestuosa luminosidade. “Mas de lá buscarás ao Senhor teu Deus, e o acharás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma”, Deu 4:29. Instantaneamente apoderei-me dela com todo meu coração, com todas as minhas forças. Eu havia crido na Bíblia de forma intelectual antes e até ali. Mas nunca me havia passado pela cabeça que a fé era um estado de voluntariedade viva em vez dum formalidade meramente intelectual. Estava tão consciente de poder e ter de confiar em Deus naquele momento como ser verdadeiro e real, como podia crer na minha própria existência. Seja de que forma for, sabia que aquelas palavras eram vindas das Escrituras, mesmo que nunca me recorde de havê-las lido alguma vez até ali. Sabia instintivamente que se trataria da verdadeira voz de Deus a falar-me através delas. Clamei: “Senhor, eu aceito essas palavras como as Tuas próprias palavras. Agora sabes que te busco de todo o meu coração, que vim aqui para orar a Ti. Aqui me prometes ouvir a minha oração”.

Isso me fez crer que agora podia cumprir aquilo que me comprometera a fazer ali. Mas o Espírito de Deus parecia não estar satisfeito, pressionando sobre o meu coração as palavras “quando O buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma”. A questão de quando isso se daria, parecia que havia de ser ali, naquele momento; isso assentaria pesadamente sobre meu peito. Disse ao Senhor que o levava a sério e que tinha toda a certeza que Ele me ouvira que Ele não tinha como mentir-me; que logo haveria de encontrá-lo pessoalmente. Ali me foram dadas outras promessas, saídas tanto do Velho com do Novo Testamento, em especial algumas promessas acerca do Senhor Jesus pessoalmente. Não terei nunca palavras para descrever a um ser humano como àquelas palavras, como aquelas promessas e palavras me foram preciosas ali. Eu consumi-as uma a uma como verdades infalíveis, como provas concretas de que seria impossível Deus mentir. Não caíam tanto no meu intelecto, mas mais pareciam assentar profundamente no fundo do meu íntimo, conseguindo tal coisa apoderar-se de todas as forças voluntariosas da minha mente na sua totalidade. Eu apoderei-me delas intensamente, agarrando-me a elas com o pulso de alguém que estava em vias de se afogar.

Continuei assim em oração, apropriando-me de promessas atrás de promessas durante muito tempo, quanto não sei. Orei até que mentalmente me havia saturado e antes que me houvesse apercebido, estava em pé andando em direção à vila, na estrada já. A questão de me haver convertido ou não, não me passava tanto assim pela cabeça, mas recordo-me haver dito com grande ênfase que, se alguma vez me houvesse convertido, me entregaria para a propagação do evangelho. Logo entrei na estrada a caminho da vila refletindo em pormenor sobre tudo o que ali se havia passado. Achei minha mente num estado de paz maravilhoso, muito calma mesmo. Logo me maravilhei de tal coisa e comecei a dizer a mim mesmo: “que será isto? Tenho a certeza que feri o Espírito Santo de vez da minha vida. Perdi toda a convicção de qualquer um dos meus pecados que confessara. Não tenho mais em mim nem uma simples preocupação sobre a salvação da minha alma! De certeza que isto é porque o Espírito Santo me abandonou de vez!” “Mas como”, perguntei-me a mim mesmo, “nunca me senti tão despreocupado com a salvação da minha alma!” Não sabia o que se passava comigo. Logo me recordei de como havia prometido que levaria Deus pela Sua palavra, que cria inteiramente Nele quando estava ajoelhado naquele bosque. Recordei-me de muitas coisas que havia dito ousadamente a Deus e concluíra que não seria sequer de me admirar que Deus me houvesse abandonado para sempre por causa de tal ousadia impar! Como é que um pecador como eu, se atrevera a dirigir-se daquela forma a Deus? Que presunção, que blasfêmia haver falado assim com Ele! Conclui que havia com toda certeza cometido o tal pecado imperdoável, o pecado contra o Espírito Santo.

Mas caminhava em absoluto sossego em direção à vila. Todo o meu ser estava em tal sintonia silenciosa que parecia que toda natureza me ouvia. Era dia 10 de Outubro, um dia deveras agradável. Havia me dirigido para o bosque depois dum apressado pequeno almoço, muito cedo. Quando cheguei à vila descobri que era hora de almoço. Estava totalmente despercebido de como o tempo havia passado tão rapidamente. Mais me parecia que havia ali estado apenas por breves instantes. Mas, como explicar aquela paz de espírito, aquele sossego sem fim? Tentei recolher as minhas convicções de pecado anteriores, o fardo de consciência sob o qual havia labutado até ali precariamente. Mas todo sentido, toda e qualquer consciência de e sobre pecado havia desvanecido de mim. A culpa abandonara-me por completo. Disse a mim mesmo: “que vem a ser isto? Que coisa será esta em mim? Como pode ser que um pecador tão ímpio como eu não mais me lembre de pecado, nem de ter um simples sentimento de culpa para viver com ele?” Tentei em vão pôr em estado de ansiedade, não fosse haver entristecido o Espírito Santo de vez e para sempre, através de alguma imprudência. Mas, olhasse para o meu estado de espírito a partir dum ou outro ponto de vista, não conseguia sentir-me ansioso. Nada conseguia perturbar aquela paz estranha que me dominava. Era grande o descanso que de mim se apoderara. Não tenho como descrever em palavras. O pensar em Deus era tão doce à minha mente, e uma tranqüilidade absoluta tomou conta de todo o meu ser, de tal modo que não tinha como chegar a uma conclusão sobre aquilo que em mim se passava. Era um mistério enorme, mas mesmo assim não tinha como me deixar perplexo também.

Fui almoçar e descobri que não tinha qualquer apetite ou vontade de comer. Fui para o escritório e Squire W havia saído para almoço. Peguei no meu violino e comecei a tocar música sagrada daquela que já me habituara a tocar. Mas assim que comecei a cantar aquelas palavras sagradas, comecei a chorar. Parecia que o estado do todo o meu coração se transformara em líquido e o meu estado de espírito era tal que não conseguia sequer ouvir a minha própria voz sem provocar em mim um fluir abundante de sensibilidade emotiva. Estava perplexo com este decorrer estranho de coisas e, mesmo tentando controlar as minhas lágrimas, vi que me era impossível continuar a cantar aquelas palavras. Por essa razão arrumei o instrumento e parei de cantar.

Depois do almoço estivemos bastante ocupados em mudar os móveis e livros dum escritório para o outro. Como estivemos muitíssimo ocupados com tudo aquilo, raramente pudemos conversar uns com os outros. A minha mente permanecia naquela profunda tranqüilidade, a qual não tinha como me passar despercebida sequer. Havia uma grande doçura na minha forma de pensar e de sentir. Tudo me parecia lindo e calmo, nada me tinha como perturbar nem por um momento. Um pouco antes de anoitecer um pensamento tomou conta de mim, de que me iria entregar à oração assim que estivesse só nos escritórios e que não abandonaria a questão da religião de jeito nenhum, mesmo havendo entristecido o Espírito Santo. Mesmo não tendo qualquer ansiedade em mim sobre a salvação da minha alma, mesmo assim iria orar a Deus.

Assim que, à noite, pudemos ter tudo em ordem e arrumado, tanto livros como móveis, eu acendi um fogo na lareira na esperança de ter como passar o resto da noite a sós ali. Squire W retirou-se assim que escureceu, deu-me as boas noites e foi para sua casa. Acompanhei-o à porta e assim que fechei a porta por trás de mim, meu coração transformou-se em liquido dentro de mim. Todos os meus sentimentos subiram-me à garganta e a única expressão que se criou poderosamente em mim, foi que queria derramar toda a minha alma diante de Deus. A ressurreição destes sentimentos de emergência fizeram-me correr para o quarto de trás dos escritórios para ir orar de imediato. Não havia lá fogo ou luz no quarto. Mas como me parecia que estava iluminado! Assim que entrei e fechei aquela porta atrás de mim, pareceu-me haver encontrado o Senhor Jesus face a face. Nunca me havia ocorrido nem ali nem por algum tempo depois que era apenas uma conclusão mental apenas, pois a mim me parecia de fato uma visão Dele ali mesmo, parecendo que o estaria a ver como se estivesse vendo qualquer homem normal. Ele nada me disse, mas olhou para mim de tal modo que sucumbi a seus pés. Pus-me de joelhos diante Dele. Eu até agora sempre pensei nisto como um mero estado mental meu, mas era muito real para mim que estava diante de Jesus naquele momento marcante de minha existência. Derramei tudo o que tinha em mim a seus pés, confessei tanta coisa de tal forma e com tal emoção que me engasgava muitas vezes com as palavras a saírem de mim, a fluírem. Parecia-me mais que estaria a lavar os seus pés através das minhas lágrimas. Mas tenho uma clara idéia de que não lhe podia tocar fisicamente, disso me recordo distintamente.

Devo ter-me mantido neste estado de coisas e espírito durante muito tempo. Mas a minha mente encontrava-se de tal forma absorvida por esta entrevista improvisada, que não me recordava distintamente de nada daquilo que Lhe dissera ali. Mas sei que assim que me achara calmo e em absoluta normalidade de novo, ergui-me e fui para o escritório. O fogo já estava apagado, um pau de lenha enorme já se havia queimado todo, pois devo ter ficado muito tempo naquele estado de espírito. Mas assim que me virei para me sentar perto do fogo, um poderoso batismo do Espírito Santo caiu sobre mim inesperadamente. Nada esperava, tudo desconhecia daquilo que se estaria passando comigo. Nunca havia sequer imaginado que tal coisa existisse para mim, nunca me recordo de alguma vez haver ouvido uma pequena coisa sobre tal coisa. Foi de todo uma coisa absolutamente inesperada. O Espírito Santo desceu sobre mim de maneira que mais me parecia trespassar-me e atravessar-me de todos os lados, tanto física como espiritualmente. Mais me parecia uma corrente eletrificada de ondas de amor. Passavam em e por mim, atravessando-me todo. Mais me pareciam ondas e ondas de amor em forma líquida, uma torrente de vida e amor, pois não acho outra maneira de descrever tudo àquilo que se passou comigo. Parecia-me o próprio sopro de vida vindo de Deus. Lembro-me distintamente que me parecia que esse amor soprava sobre mim, como com grandes asas.

Não existem palavras que possam sequer descrever com a preciosidade e com a quantidade de amor que fora derramando em meu coração. Eu chorava de alegria profunda, urrava de amor e alegria! O meu coração muito dificilmente teria se expressado de outra forma. Aquelas ondas sem fim passavam por mim, em mim, através de todo o meu ser. Recordo-me apenas de exclamar em alta voz que pereceria de amor se aquilo continuasse assim por muito mais tempo. Mas mesmo que morresse, não tinha qualquer receio de qualquer morte em mim presente. Quanto tempo permaneci neste estado de coisas, não sei precisar. Mas sei que muito tarde um membro do coro da igreja entrou nos escritórios para me encontrar naquele estado de coisas. Eu era então líder do coro e ele viera falar comigo sobre algo. Ele era um membro da igreja. Entrou e achou-me naquele estado de espírito de choro e lágrimas. Perguntou-me logo se estava bem. “Sr. Finney, o que se passa com o senhor?” Não conseguia responder-lhe uma palavra nesse preciso momento. Perguntou-me se estava com dores ou algo assim. Recolhi todo o meu ser o mais que pude e disse-lhe que não tinha qualquer dor, mas que estava tão feliz que não conseguia viver.

Ele esgueirou-se rapidamente e saiu dali. Voltou com um dos presbíteros da igreja. Ele era um homem de feições muito sérias. Sempre que estava em minha presença, mantinha-se em vigilância absoluta, resguardando-se a ele próprio de mim. Nunca o havia visto rir-se sobre algo. Quando entrou, perguntou-me como me estaria a sentir. Comecei por lhe contar. Mas em vez de me dizer alguma coisa, deu-lhe um ataque de riso tão grande que não tinha como impedir de se rir muito à gargalhada e bem alto do fundo do seu coração!

Havia um jovem na vila que se estava a preparar para a faculdade, ao qual o pastor da igreja havia dito para se manter afastado de mim, pois achava que seria uma má influência para ele e que se ele conversasse muito comigo que ele se desviaria logo e dificilmente se converteria, pois já lhe falara muito sobre a questão religiosa. Eu mantinha uma grande intimidade com ele. O pastor havia informado e avisado este jovem que era eu muito irreligioso e para se manter afastado de mim o mais que pudesse. Pouco tempo depois de eu me haver convertido este jovem converteu-se também e confessou-me mais tarde haver dito ao Sr. Gale que as coisas das quais eu falava haviam-lhe sido muito mais esclarecedoras para ele que todos os sermões que dele ouvira. Eu havia expressado muito daquilo que se passava comigo a esta jovem alma.

Mas ali, enquanto estava a dar um relato pormenorizado ao presbítero da igreja sobre o que se estaria passando comigo e também ao outro homem que o acompanhava, foi quando este jovem entrou nos escritórios. Estava de costas para a porta e não me havia apercebido de que entrara. Escutou admiradíssimo o meu relato e assim que me pude aperceber, estava em total agonia de alma, de joelhos a suplicar que orassem por ele. O presbítero e o outro homem estatelaram-se de joelhos orando pelo jovem. Quando eles terminaram a sua oração, eu orei por ele também. Logo de seguida, retiraram-se todos dali e deixaram-me a sós.

Mas assim que saíram, surgiu uma pergunta estranha em minha mente. Por se havia rido tanto o Sr. B–? Pensaria ele que havia enlouquecido ou que estava sob qualquer derivação mental? Logo ali comecei a duvidar se estaria certo eu haver orado por aquele jovem, sendo eu o pecador que era! Uma nuvem negra de sérias dúvidas envolveu-me. Nada à minha volta havia onde me pudesse suster. Logo de seguida, quando já estava deitado para dormir, estava muito perdido ainda sobre tudo aquilo que se havia passado comigo durante aquele dia. Mesmo aquela lembrança do batismo forte que recebera, não tinha como retirar de mim aquela dúvida de não chegar, a saber, se, de fato, a minha paz com Deus estaria integralmente restabelecida ou não. Logo adormeci, mas acordei devido a um fluir imenso de amor em todo o meu ser. Estava de tal modo inundado naquele amor que não conseguia dormir sequer. Acabei por adormecer de novo. E acordei pela mesma razão. Mas assim que acordava, a tentação daquela dúvida persistente apoderava-se de mim de novo. Adormecendo, todo aquele fluir de amor sem igual recomeçava. Quando despertei na manhã seguinte, já o sol ia alto e iluminava todo o meu quarto. Palavras nunca descreverão a impressão que aquela luz brilhante causara em mim. Instantaneamente, aquele batismo que me ocorrera na noite anterior repetiu-se de novo em tudo igual ao anterior. Pus-me de joelhos em cima da minha cama e permaneci deleitado e propulsionado demais com aquele batismo de fogo, para que tivesse como fazer algo mais que não fosse derramar toda a minha alma diante de Deus em pessoa. Mas parecia-me que algo de diferente havia nesse batismo, pois vinha acompanhado duma ligeira repreensão. O Espírito parecia querer-me retorquir algo como: “ainda vais duvidar?” Clamei que não. “Não Senhor, não tenho como duvidar de nada mais! Estou convencido!” Ele revelou-me de tal forma aquilo que se estaria a passar comigo que me foi dado a conhecer que o Espírito de Deus tomara posse da totalidade do meu ser e alma.

Naquele estado de espírito, ali daquele jeito, foi-me esclarecida a doutrina sobre a justificação como um estado presente e coerente real. Essa doutrina nunca até ali havia tomado tal posse da minha alma e mente; nunca lhe havia dado qualquer atenção e nunca me havia apercebido da sua distinta importância entre todas as outras verdades do evangelho sequer. De fato, nem sequer sabia que significaria sequer. Mas tinha como saber o que significavam aquelas palavras “Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”, Rom 5:1. Podia deveras ver que naqueles momentos na mata, todo o sentido de condenação se perdera de mim e que por muito que quisesse, nunca teria como sentir um leve sentimento de culpa ou condenação em mi mesmo. As minhas culpas haviam factualmente sumido de mim, parecendo até que nunca havia pecado em toda a minha existência. Esta seria a revelação que naquela altura necessitava de fato. Sentia-me justo e justificado pela fé em Jesus e tanto quanto podia ver ao longe, estava num estado real de não ter qualquer pecado mais em mim mesmo. Em vez de sentir que estaria a pecar, meu coração estava era fluindo infinitamente em amor liquido. O meu cálice transbordava de fato, com bênção e amor real. Não me era possível sentir que ainda era pecador. Nem sequer tinha como reaver qualquer sentimento de culpa mais sobre todos os meus pecados. Sobre esta experiência de justificação, nada havia contado a ninguém naquela altura, havendo guardado tudo para mim apenas. Esta é a real experiência da justificação em Cristo.

CAPÍTULO III – PRINCÍPIO DO MINISTÉRIO

Na manhã da qual falei, quando recebi aquelas poderosas ondas de batismo em amor e salvação inundando todo meu ser por dentro e por fora, havia descido para o escritório e Squire W entrou naquele preciso momento. Disse-lhe umas quantas palavras relacionadas com a salvação dele. Ele olhou para mim muito admirado, porém nada respondendo, disso me recordo perfeitamente. Baixou apenas a sua cabeça, parando no nada durante uns poucos minutos e deixou o escritório logo de seguida. Nada mais pensei sobre aquele assunto até mais tarde quando vim, a saber, que aquelas poucas coisas que lhe dissera lhe causaram tal impacto no seu interior que teve o efeito duma espada cortante dentro de sua alma. Nunca mais recuperaria disso até à sua própria conversão. Logo de seguida entrou O diácono B– no escritório, dizendo-me: “Sr. Finney, sabe que o meu assunto em tribunal é hoje às dez horas da manhã? Que tem uma causa para defender hoje? Suponho que esteja inteiramente preparado para me defender em tribunal?” Eu era seu advogado no caso. Logo lhe respondi: “Sr. Diácono B– recebi um édito do Senhor Jesus para defender a Sua causa a partir de hoje, por essa razão não posso mais atender à sua.”. “Que quer dizer com isso?” Disse-lhe em poucas palavras que entrara na causa de Cristo, repetindo-lhe que teria uma causa mais importante a defender; “Por favor, arranje outra pessoa para defendê-lo em tribunal, que eu não poderei fazê-lo mais” Baixou a sua cabeça estonteado, nada respondendo, saiu. Logo de seguida, ao passar pela janela, reparei que Diácono B– estava parado no meio da estrada, aparentemente perdido em seus muitos pensamentos. Saiu dali, disse-me mais tarde, conseguindo reorganizar a sua causa em tribunal sem problemas de maior. Assim que saíra do tribunal, foi orar e pouco tempo depois entrou num estado de entrega a Deus muito mais profundo da sua vida.

Logo saí do escritório para poder falar aos outros sobre o estado de suas almas. Tinha a distinta impressão, a qual nunca mais abandonou a minha mente e alma desde então, que Deus me chamava a pregar o evangelho e que mais teria de fazer senão começar logo. Sabia que o tinha de fazer. Se me perguntassem como sabia, não sei por que sabia não mais do que podia explicar como sabia que era o Espírito Santo que havia descendido sobre mim. Tinha uma certeza clara, simples e ativa, para além de qualquer provável duvida. Foi assim que sabia que o Senhor me havia comissionado a pregar o evangelho.

Da primeira vez que recebi a convicção que era essa a vontade de Deus, aquele pensamento que se alguma vez houvesse como me converter, eu iria pregar o evangelho, percebi que teria de abandonar a minha profissão que muito amara até ali. No princípio fez-me hesitar, servindo-me mesmo como tropeço. Pensei que havia despendido tanto esforço naquela profissão, nos estudos, tanto tempo que, tornar-me crente, obrigar-me-ia a abandonar tudo para ir pregar o evangelho. Mas assim que coloquei a questão a Deus em pessoa, aquele pensamento que se alguma vez me chegasse a converter me entregaria à pregação do evangelho, pensei e vi que quando decidi ir estudar direito nunca havia sido uma resolução a qual houvesse levado em consideração a opinião de Deus, daí que não me sentisse no direito de impor condições de qualquer gênero ao meu Criador. Não mais havia dado atenção àquela questão de me tornar num ministro da Palavra até me haver ocorrido o que aqui descrevi antes, a caminho do bosque.

Mas, depois de haver sido coroado com aqueles poderosos batismos do Espírito, toda a minha vontade se tornou cativa daquele desejo de ir pregar aos outros. Mas logo descobri que nada mais no mundo era meu desejo. Não tinha mais nenhuma réstia de vontade em persistir em direito penal e partir daquele momento nunca mais me recordo de sentir qualquer vontade de voltar ao meu anterior ofício. Não tinha qualquer ambição de obter riqueza, não tinha qualquer fome de qualquer prazer deste mundo, tudo se resumia àquela vontade de Deus dentro de mim. Nenhuma inclinação havia em sentido contrário. Toda a minha mente ficou absorvida pela grande questão de Jesus e a Sua grande salvação. O Mundo me parecia algo prestes a expirar, sem conseqüência sobre a minha vontade sequer. Nada, parecia-me, podia rivalizar com a salvação de almas; nenhum labor poderia ser tão doce de pensamento, nenhum ofício mais exaltado haveria aquele que se pôs diante de mim de elevar Cristo bem alto diante dum mundo em vias de se extinguir para sempre.

Sob total influencia desta impressão profunda em mim, saí de vez do escritório com a clara intenção de pregar a quem quer que achasse. A primeira paragem foi na loja dum sapateiro, que era um homem piedoso, um daqueles crentes que mais orava assim eu via o homem, na igreja. Dei com ele a conversar com um dos presbíteros da igreja. Esse presbítero estava na defesa da doutrina do universalismo. O Sr. W-, o sapateiro, virando-se para mim, perguntou-me: “Sr. Finney, que pensa o senhor da teoria deste jovem?” E logo me dissera qual o seu argumento na defesa do Universalismo Cristão. A resposta imediatamente me veio à mente e coloquei-os como chama de fogo. Em segundos todos os seus argumentos desvaneceram no ar. O jovem logo se apercebeu que os seus meios de defesa se haviam ido para sempre. Levantou-se sem palavra e saiu bruscamente. Mas desde o interior da loja observei que aquele jovem presbítero, em vez de seguir pela rua, contornou a loja, passou a cerca da vila para o outro lado, andando em direção ao bosque. Não prestei mais atenção ao assunto, até quando o jovem saiu do bosque, refletindo na sua face uma alegria pura dum jovem convertido ao relatar-nos a sua experiência na mata. Ele havia-se entranhado na floresta e, conforme disse, entregara seu coração a Deus.

Falei com uma imensidão de gente só naquele dia e acho mesmo que o Espírito de Deus conseguiu impressionar e marcar seus espíritos para sempre. Não me consigo recordar de alguém com quem falei naquele dia, que não se haja convertido em breve trecho. Lá pela noite fui a casa dum amigo meu, onde certo jovem trabalhava na manufaturação de uísque. Toda a família havia ouvido da minha recente conversão. E como estavam para se sentarem para tomarem seu chá, insistiram que me assentasse com eles para tomá-lo também. O dono da casa e a sua esposa eram crentes professos. Mas o irmão da senhora anfitriã, que estava presente ali também, era uma alma por converter. E este jovem a quem eu visitara, era um familiar distante daquelas pessoas, seria até ali um Universalistas convicto, muito falador e conhecido pelas suas convicções profundas. Tinha um caráter muito enérgico.

Sentei-me para aquele chá e eles pediram-me para pedir a bênção, orando. Era uma coisa que nunca havia feito até ali. Não hesitei por um momento sequer e comecei logo a orar pedindo aquela bênção de Deus sobre o chá assim que nos encontrávamos todo à volta da mesa. Mal comecei a orar, o estado de coração daqueles jovens emergiu diante de mim e a minha mente ficou inteiramente absorvida por compaixão pelas almas daqueles que ali estavam e se perdiam desnecessariamente. Chorei alto e rebentei em lágrimas de tal modo que não conseguia continuar com a oração. Todos à volta daquela mesa estavam pasmados a olhar em minha direção enquanto eu soluçava profundamente. O jovem logo saiu dali correndo para o seu quarto. Fechou-se lá e não mais foi visto até a manhã seguinte, saindo a expressar uma nova vitória e esperança real em Cristo. Este homem tornou-se num muito hábil ministro do evangelho desde então.

Pelo dia fora, certa emotividade e excitação foi criada pela vila fora ao haverem sido postas muitas pessoas a falar sobre tudo aquilo que Deus havia feito em minha alma. Uns pensavam dum modo, outros de outro. À noite, sem qualquer marcação prévia, todos se reuniram em uníssono para o local onde por norma se davam aquelas reuniões de oração. A minha conversão inesperada havia criado uma grande perplexidade em todos naquela vila. Mais tarde vim, a saber, que alguns dos membros da igreja se haviam proposto em si mesmos tornarem-me alvo das suas orações, mesmo que o pastor os desencorajasse metodicamente, dizendo que não cria que algum dia me chegasse a converter pelas muitas conversas que havia encetado comigo sem serem frutuosas, nem de perto nem de longe. Ripostava-lhes com segurança que eu era muito bem esclarecido acerca da religião, mas muito endurecido mesmo e que eu havia influenciado a todos os jovens sem exceção, a quem eu liderava musicalmente por lhes ensinar música sagrada, também nunca se converteriam por essa mesma razão impar enquanto eu estivesse em Adams com eles. Sentia-se desencorajado pelo esforço que despendera comigo. Descobri também que uns quantos homens ímpios da vila se aninhavam por detrás de mim pelos meus freqüentes argumentos contra o pastor e não só. Um desses homens de então, um Sr. C–, o qual tinha uma esposa santa, muito freqüentemente lhe dizia assim: “se essa coisa de religião é mesmo verdade, porque razão não conseguem converter o Finney? Se algum dia o converterem, aí sim, eu vou acreditar na religião!” Também certo advogado, um tal Sr. M–, de Adams, quando ouviu alguém falar da minha conversão, logo deu a sua opinião de que eu estaria a fabricar uma artimanha para eu ver apenas como era fácil demais fazer os crentes acreditarem numa atuação qualquer.

De qualquer modo, todos foram direitos ao local das ditas reuniões de oração. Eu também me dirigi para lá de imediato. O pastor da igreja estava lá, tal como praticamente todas as pessoas da vila. Ninguém parecia com disposição para empreender a abertura da reunião. A casa estava repleta e ninguém mais cabia lá. Não esperei que alguém me convidasse para discursar e comecei desde logo a falar. Comecei por dizer que agora sabia que a religião era vinda de Deus pessoalmente. Segui desde aí ao relato daquelas experiências que eu achara que devia compartilhar ali e não mais. O Sr. C–, o tal homem que dissera que acreditaria na veracidade da religião caso eu me convertesse, estava presente, tal com o Sr. M–, o tal advogado. Aquilo que Deus me capacitou para transmitir naquele momento pareceu-me apoderar-se das pessoas presentes de forma admirável. O Sr. C–, tal como o Sr. M–, levantaram-se e saíram abrindo caminho entre a multidão. Sr. C– deixou para trás o seu chapéu com a pressa. O Sr. M– dizia que eu havia enlouquecido. Dizia: “Ele está a falar com muita seriedade, muito sério mesmo, mas mostra que está louco e mentalmente doente”.

Assim que acabei de falar, o Sr. Gale, o pastor da igreja, ergueu-se e fez uma confissão pública a todos os presentes. Disse que até ali se havia posto no caminho da igreja, impedindo-a de orarem por mim; que se havia oposto mesmo à igreja, desencorajando-a quando esta manifestara o desejo de orar por mim; também que quando alguém lhe contara que eu me havia convertido que dissera prontamente que não acreditava na notícia. Confessou que não tinha fé em Deus como devia e pareceu-me muito humilde.

Eu nunca havia orado em publico. Mas logo o Sr. Gale tratou de remediar a questão, assim que terminara o seu discurso. Ele chamou-me a orar, o que fiz com grande liberdade de espírito e com largueza e abertura de coração. Aquela noite obtivemos uma reunião improvisada impar e bela. E a partir dali, não houve noite sem reunião de oração e isso durante muito tempo depois. A obra de Deus espalhava-se para todos os cantos e direções.

Eu era líder dos jovens e logo de seguida convoquei reuniões de oração entre eles, a qual todos atendiam sem exceção, pelo menos os que conhecia. Entreguei todo o meu tempo e labor para efetivar a sua conversão e o Senhor abençoou todo e qualquer esforço despendido e de forma muito maravilhosa mesmo. Convertiam-se um depois do outro, com muita rapidez e eficácia, persistindo esse trabalho entre eles até que todos se houvessem convertido sem uma singular exceção. O trabalho espalhou-se também por todas as classes de pessoas na vila e saindo mesmo para fora da vila em todas as direções. O meu coração transbordava de tal modo, que durante cerca de uma semana não sentia qualquer necessidade nem de dormir nem de comer. Parecia-me mais que eu tinha uma carne da qual me alimentava que o mundo desconhecia por inteiro. Todo o meu ser e mente estavam inundados pelo amor de Deus, transbordando continuamente. Permaneci neste ritmo por largos dias, até que concebi em mim que haveria de dormir e comer ou então virava louco. A partir dali, tornei-me cauteloso comigo mesmo em todo a labor, comendo regularmente e dormindo durante o tempo possível. A palavra de Deus manifestava um grande poder de alcance. Dia a dia me surpreendia, pois constatava que umas simples palavras tinham um efeito tremendo em quem as ouvia, parecendo que uma seta aguda os havia atingido irreversivelmente.

Passado algum tempo, fui para Henderson, onde vivia meu pai, visitando-o. Ele era um homem que nunca se convertera e recordo-me que apenas o meu irmão mais novo havia professado fé na religião. O meu pai saiu ao meu encontro no portão perguntando-me como estava. Respondi: “eu estou muito bem pai, tanto de corpo como de alma. Mas pai, você já é um homem velho, os seus filhos já estão todos criados e crescidos; eu nunca ouvi uma simples oração na casa de meu próprio pai apesar de tudo”. Ele baixou a cabeça, rebentou em lágrimas e respondeu: “eu sei, eu sei, Charles! Entra, vem orar comigo.” Entramos e estivemos em oração. Tanto meu pai como minha mãe haviam sido fortemente tocados e pouco tempo depois foram possivelmente convertidos. Não me recordo se a minha mãe obtivera antes uma qualquer esperança secreta em Cristo, mas mesmo que tivesse tido, ninguém de toda a família chegou, a saber, de nada.

Permaneci ali durante dois ou três dias, conversei sobre Cristo com quanta gente quanta pude ter oportunidade de conversar. Penso que seria na segunda-feira seguinte que tinham um concerto mensal de oração na cidade. Havia um ministro batista, uma igreja Congregacional pequena sem qualquer pastor. Toda a cidade era um antro imoral de mentalidade corrupta, em qualquer dos casos. Nesta altura a questão religiosa encontrava-se em maré baixa, muito baixa mesmo. O meu irmão mais novo freqüentava este concerto de oração mensal, fornecendo-me um relato completo do que se tratava e o que se passaria em volta daquele evento. Pouca gente atendia e por essa razão as pessoas se reuniriam numa casa particular. Assim, também eu compareci nela por esta ocasião e reuniram-se na casa de alguém por lá. Alguns dos membros locais da igreja Baptista e alguns Congregacionalistas estavam presentes. O diácono da igreja congregacional era um frágil, acabado e velho homem, por nome Sr. M–. Era muito calado em sua maneira de ser. Tendo entre todos uma boa reputação de piedade. Mas falava muito pouco sobre o assunto. Ele era um típico homem de Nova Inglaterra como diácono. Ele estava presente e chamaram-no para liderar aquela reunião. Leu uma passagem das Escrituras, conforme era costume ali; cantaram um hino e o diácono ergueu-se para orar em pé atrás da sua cadeira. Todos os presentes professavam religião e ajoelharam-se pelo quarto fora.

O meu irmão fizera-me notar com antecedência que o dito diácono começava por orar baixinho, mas logo acabava por levantar a sua voz a qual tremia de emoção. Orava cada vez com mais e mais emoção, mais e mais seriedade, até que se começava a erguer nos dedos dos pés e batia com seus calcanhares fortemente no chão, o que provocaria um estrondo em toda a sala. Logo também começava a erguer a sua cadeira na medida em que levantava os calcanhares, batendo com ela também no chão. Logo de seguida tornava repetir aquela atuação, mas com maior veemência e emoção ainda. Continuava assim por muito tempo e por muita emotividade até que batia com a cadeira pela última vez com tanta força que quase a quebrava em pedaços. No meio de tudo aquilo, estavam os crentes de joelhos, grunhindo e suspirando, chorando e agonizando em tal oração. O diácono permanecia naquele estado de espírito até que se achasse exausto demais para continuar. Assim que terminava de orar, relatou-me meu irmão, ninguém se levantaria de seus joelhos, antes choravam e confessavam e todos se derretiam diante de Deus. Foi assim que a obra de Deus se espalhou em todas as direções pela cidade. Mas na altura espalhou-se toda aquela obra de Deus por todas as partes, tendo a vila de Adams como centro nevrálgico, espalhando-se por todo aquele condado e cidades circunvizinhas.

Já falei das convicções de pecado de Squire W, o homem em cujos escritórios eu estudara direito. Também de como, quando me converti, tudo se passou no bosque onde fui orar a Deus. Pouco tempo depois da minha conversão, houve vários casos de conversões semelhantes sob circunstâncias idênticas à minha, no mesmo bosque. Lá foram conseguir a sua paz com Deus. Mas quando Squire W ouviu relatos destas mesmas conversões, uma após outra nas nossas reuniões, ele logo se endureceu acerca duma coisa que nada de significativo seria não fosse ele haver estabelecido teimosamente que não iria orar no bosque como os outros. Ele fincou seu pé no fato de já ter um local de oração e que não iria para a mata encontrar-se com seu Criador para não ter de contar à história que tantas vezes se ouvia e repetia. A esta teimosia ele entregou-se de alma e coração. Mesmo que isto fosse uma coisa inerte em si, não houvesse ele estabelecido seu orgulho escondido sobre tal coisa, nada havia que o pudesse comprometer através desse procedimento. Por causa dessa teimosia não conseguia entrar no Reino de Deus. No meu ministério futuro, encontrei variadíssimos casos em tudo semelhantes a este, onde uma simples questão, por vezes irrelevante até em significado, fosse sitiado pelo orgulho do homem, baseando todo o seu capricho numa mera teimosia sem nexo. O próprio coração do homem comprometia a sua própria vida numa coisa sem significado aparente. Em casos deste gênero, sempre há que haver uma entrega e sujeição da parte de qualquer pecador diretamente relacionado com o assunto irrelevante em questão, pois dali vem toda a força motriz do seu orgulho e capricho que o separa de Deus. Não é a sua origem, mas onde se encontra sitiado. Conheço casos onde pessoas passaram várias semanas em tribulação e agonia de espírito, pressionados pelo Espírito Santo a cederem desde logo, os quais nunca conseguiam entrar em perfeita paz com Deus até se haverem humilhado naquela matéria acerca da qual faziam tão grande questão e sobre a qual não queriam ceder. Squire W foi o primeiro caso do gênero que me recordo haver notado.

Depois de se haver convertido, revelou-nos que essa questão continuadamente lhe vinha à cabeça quando se punha a orar, não lhe dando descanso interior. Também que lhe fora revelado prontamente que se tratava duma questão orgulhosa e sem cabimento da parte dele, pois a sua posição impedia que o reino dos Céus entrasse nele e ele no Reino. Mas mesmo depois dessas revelações, não havia querido submeter-se nem admitir a si mesmo sequer que era de fato orgulhoso. Tentou de todas as maneiras convencer tanto a si mesmo como ao próprio Deus que não era. Uma noite, orou a noite toda em seu escritório pedindo que Deus tivesse misericórdia dele. Mas pela manhã estaria mais indisposto e mais atribulado de espírito que na noite anterior. Enfureceu-se contra Deus por não haver aceitado a sua oração e sentiu-se tentado com o suicídio. Foi pressionado a usar o seu canivete de bolso contra si mesmo, de tal modo que teve de atirar tal objeto para bem longe de si de forma a que não tivesse como encontrá-lo de novo não fosse aquela tentação prevalecer. Relatou-nos ainda que, depois duma reunião certa noite, foi tão pressionado com aquela convicção de todo o seu orgulho, com o fato da tal monstruosidade não permitir ir para o bosque orar, que propôs em seu coração que iria convencer-se a ele e a Deus que não era orgulhoso que o levava a manifestar tal procedimento. A caminho ajoelhou-se num charco de lama para demonstrar que não o era de fato e que não seria orgulho que o mantinha fora do bosque. Aquela luta entre ele e Deus durou semanas.

Uma certa tarde estava no escritório juntamente com dois presbíteros da igreja. Aquele jovem do qual falei, o que estava na loja do sapateiro, entrou apressadamente exclamando aos gritos que Squire W se havia convertido. Disse-nos: “Ele converteu-se! Eu fui orar no bosque e ouvi alguém gritar muito alto na planície. Subi ao topo do monte, de onde podia ver o que se passava lá em baixo e viu-o a marchar para frente e para trás cantando hinos bem alto, o mais alto que podia. De vez em quando parava para bater as mãos uma na outra e gritava cantando: “Regozijar-me-ei no Deus da minha salvação”!” Depois se punha a marchar de novo, parava, batia as suas mãos e cantava da mesma maneira!”“. Estando este jovem a relatar-nos tudo aquilo, nisto vimos Squire W a voltar para a vila, do bosque vindo no monte. Ao entrar na vila vimos encontrar-se com Papai T, como carinhosamente o chamávamos, um idoso da igreja metodista. Foi direito a ele, erguendo-o no ar com toda a força dos seus braços. Depois duma breve conversa à qual não tivemos acesso, entrou no escritório onde estávamos. Transpirava, pois era um homem pesado. Gritou para nós: “Eu consegui, eu consegui!” Bateu as suas mãos, pôs-se de joelhos diante de nós e orou a agradecer a Deus. Logo de seguida relatou-nos com mais pormenores tudo o que se havia passado consigo e a razão porque não havia obtido a sua paz com Deus até aquele dia. Disse-nos que assim que cedeu na questão de ir orar a Deus no bosque, a sua mente experimentou desde logo um descanso sem igual. Mas quando se ajoelhou lá no bosque para orar, o Espírito Santo envolveu-o de tal forma em Seu amor batismal, que se encheu de gozo e alegria, havendo obtido o resultado de tudo aquilo que aqui relatei. Assim, Squire W passou a dar a cara pela causa de Deus desde então.

Lá mais para a primavera, os membros mais velhos daquela congregação começaram a diminuir em zelo santo. Ganhei o hábito de me levantar bem cedo de manhã para orar a sós no local das reuniões. Por fim provoquei alguns irmãos da igreja a juntarem-se a mim nessa mesma tarefa, reunindo-nos pela madrugada numa reunião de oração. Fazíamos assim muito cedo, muito antes de se poder ver para ler. Também consegui que o meu pastor assistisse às mesmas reuniões. Mas pouco tempo depois as pessoas começaram a não comparecer, o que me levaria a ir ter de acordá-los em suas casas. Fazia-o muitas vezes, dando voltas e mais voltas, chamando e acordando aqueles que me pareciam ir orar também. Assim obtínhamos grande virtude e satisfação em momentos gloriosos de oração. Mas reparei que todos eles, mesmo assim, atendiam a esta reunião com cada vez menos vontade e com mais relutância. Esse desfecho de coisas foi um grande motivo de tribulação e provação para mim.

Numa certa manhã, fui de novo fazer aquela grande volta de despertar as pessoas para comparecerem na dita reunião, mas quando cheguei à sala das reuniões pouca gente se encontrava lá. O Sr. Gale estava à porta da igreja e quando me aproximei de repente a glória de Deus iluminou tudo à minha volta, sobre e à volta de mim de forma linda e maravilhosa. O dia mal começara a clarear, mas aquela luz penetrou em toda a minha alma e quase me fez prostrar de joelhos no chão. Era uma coisa inefável, vindo do nada, a qual eu não esperava. Podia ver como todo o resto da natureza dava sempre a glória devida a Deus, com exceção do homem. Aquela luz me era tão forte como a própria luz do sol brilhando na sua máxima intensidade em todas as possíveis direções. Era uma luz intensa de mais para ser suportada pela vista, que me levou a chorar e rebentar em lágrimas porque o homem não queria glorificar a Deus, sendo ele mesmo a coroa da Sua criação. Não havia lido nem ouvido nada sobre aquilo que aconteceu ao apóstolo Paulo a caminho de Damasco. Foi uma luz a qual eu não poderia suportar por muito mais tempo. Ali mesmo explodi num choro sem igual. O Sr. Gale alarmou-se e gritou: “que se passa irmão Finney?” Eu nada lhe conseguia dizer. Descobri então que ele estaria completamente alheio àquela luz que me colocara naquele estado de espírito, pois não via porque razão estaria eu naquelas condições de pranto. Por essa razão pouco falei, pouco pude falar. Creio que apenas lhe respondi que vira a glória de Deus e que não conseguia agüentar a maneira com as pessoas tratavam Deus daquela forma tão miserável. Eu não cria que aquela visão pudesse vir a ser descrita em palavras humanas. Eu chorei alto e clamei, como que tentando passar o que se passava em mim e por mim desse jeito. Assim que clamei, essa visão deixou um alívio para trás ao deixar-me. Minha mente ficou absorvida num mar de calma e paz.

Como crente jovem, habitualmente obtinha grandes momentos de adoração e oração quando comungava com Deus em pessoa, momentos que nem me vou dar ao trabalho de tentar descrever em palavras. Tal comunhão de quando em vez terminavam com uma clara alusão e impressão de que teria de ir falar com uma ou outra pessoa, que lhes teria de dizer uma ou outra coisa concreta. Eu não entendia nada daquilo nessa altura e por essa razão não prestava muita atenção a tais ocorrências. Mas, tentava testemunhar a meus irmãos de como desfrutava duma comunhão sem igual com Deus, ou apenas sobre aqueles benefícios que me haviam trazido pessoalmente. Mas, logo soube que de nada valia tentar explicar algo daquilo que em mim se passava, pois não entendiam nada do que lhes tentava transmitir. Muitos deles manifestavam mesmo uma certa incredulidade, fato que me surpreendia. Por isso resolvi falar muito pouco sobre o assunto.

Passava grande parte do meu tempo em profunda oração. Literalmente, passava o meu tempo orando sem cessar. Passava tempos intermináveis em oração e jejum, tudo em privado. Buscava estar a sós com Deus, longe dos olhos das pessoas, como na mata, mas por motivos distintos daqueles que me levaram a ir parar ao bosque antes. Nesses dias de produtivo jejum e oração, buscava estar a sós com Deus. Ia para o bosque ou entrava na sala da igreja e permanecia lá durante longos períodos buscando a aquela alegria de estar a sós com Ele, com quem me entendia. Por vezes entrava num percurso de jejum e oração muito errado, auto examinando-me neles de maneira muito maléfica, em conformidade com a idéias do meu pastor. Olhava para dentro do meu coração naquele sentido de auto-examinação sentimental, sobre tudo o que se passava no meu mundo sentimental. Sempre que isso se dava comigo, descobria que não alcançava nenhum progresso em minha vida privada. Olhava para dentro de mim mesmo, examinando os sentimentos dos meus motivos, o meu estado de espírito. Logo descobri porque razão aquele estado de coisas me barravam qualquer progresso. Virando o alcance da minha vista para fora do campo de visão do Senhor Jesus, entrando no escuro dos meus sentimentos, no meu mundo, olhando diretamente para aquilo que sentia, é claro que os mesmos sentimentos sumiam envergonhados, isto é, morriam. Mas, jejuando e prestando a minha atenção total àquilo a que o Espírito Santo de forma real me transmitia, não dando atenção a fábulas engenhosas, universalmente, achei ser de grande benefício tal procedimento genuíno. Entregava-me a ser guiado por Ele saindo daquele fosso de estar a olhar para dentro daquilo que sentia. Descobri desde logo que nunca poderia sobreviver nem viver sem presenciar a real presença de Deus em mim. Me sobrevindo uma qualquer nuvem negra que me obscurecesse a Vida em abundância, logo me sentia perdido, não descansava, não conseguia estudar, não conseguia fazer nada nem tão pouco tirar benefícios mínimos de qualquer situação favorável e desfavorável, enquanto não restabelecesse o canal de comunhão integral com o Espírito de Deus. De fato, nada podia estar entre mim e Deus. Como já dissera, eu amava muito a profissão que exercia. Mas, desde aquele dia que me converti tudo na direção desse ofício me parecia escuro e sem saída. Nem de prazer usufruía ao exercê-la mais por um momento. Tive inúmeros convites para defender causas em tribunal, mas recusava-os desde logo. Não me atrevia entregar à forma de se discutir em tribunal, à sua emotividade que podia levar à ira, controvérsia, pois tais coisas me pareciam horríveis e com falta de ética moral.

Por essa altura da minha mocidade Cristã, o Senhor me ensinou pessoalmente muita coisa sobre o espírito de oração. Não muito tempo depois de me haver convertido, a senhora que me alugava o quarto onde vivia, adoeceu seriamente. Ela não era crente, mas seu marido professava religião. Ele entrou uma certa noite nos escritórios de Squire W, pois era seu irmão, dizendo: “a minha esposa não irá sobreviver a esta noite que se aproxima”. Isso foi como uma autêntica seta em meu peito. O sentido dum certo gênero de peso caiu em cima de mim, algo que eu não entendia muito bem ainda, mas que veio com um desejo genuíno de orar e prevalecer em favor da mulher. O peso era tão grande que saí do escritório quase de imediato, indo para a casa de oração para orar pela senhora. Ali lutei de joelhos com aquele peso enorme, mas nada conseguia falar diante de Deus. Apenas tinha como grunhir e gemer inexplicavelmente, com gemidos em alta voz e profundos. Manti-me durante muito tempo naquela igreja em oração, sem que houvesse obtido qualquer alívio para o peso que carregava sobre mim pesadamente. Voltei para os escritórios, mas não podia sentar-me quieto, andava dum lado para o outro grunhindo em voz alta, agonizando. Voltei de novo para a igreja com o mesmo peso e a mesma luta. Durante muito tempo tentei arranjar palavras para expor meu caso diante do Senhor, mas não achava maneira de Lhe expor o meu caso. Apenas chorava e gemia desesperadamente, sem possível explicação para o desejo profundo e pesado que em cima de meus ombros pesavam como responsabilidade em agonia. De volta aos escritórios uma vez mais, continuava sem descanso ainda. Foi na igreja de novo que o Senhor me fortificou para que prevalecesse em oração. Consegui que todo aquele peso rebolasse para cima Dele. Logo consegui aquela segurança que poucos conseguem saber do que se trata, segurança e certeza essa que a senhora não morreria e que também não morreria em seus pecados. Voltei para os escritórios com minha mente em perfeita harmonia celestial e logo fui dormir. Pela manhã perguntei ao marido como estava sua esposa. Ele sorria largamente. “Ela está viva e muito melhor esta manhã”. Respondi-lhe: “meu irmão W–, ela não morrerá desta doença. Ela não morrerá em seus pecados também”. Não sei o que me fez dizer tal coisa com tanta certeza, mas era como se tal assunto estivesse bem claro para mim quanto ao seu desfecho final. Ela de fato recuperou a sua saúde, para pouco tempo depois se converter e obter uma esperança em Cristo. De início não entendia muito bem que tipo de exercício de mente e espírito era aquele, pelo qual passei. Mas pouco tempo depois, ao relatar a questão a um irmão em Cristo, ele disse-me “mas, claro, isso são as dores de parto”; uns minutos mais de conversação e uns apontamentos sobre uns trechos das Escrituras sobre aquele assunto deu-me para logo me aperceber com exatidão do que se tratava todo aquele peso e conseqüente alívio no prevalecer de verdade.

Uma outra experiência pouco tempo depois disto, ilustra esta mesma verdade. Eu falei aos crentes sobre uma certa moça que pertencia ao grupo daquelas pessoas que eram conhecidas minhas, mas que permanecia sem se converter. Isto atraiu muito a atenção de muitos crentes devido ao fato de esta mesma moça haver estado muito bem informada sobre o assunto da sua salvação. Ela era uma moça muito viçosa e bela, bem informada acerca da religião, mas presa aos seus pecados. Um dos anciãos da igreja e eu concordamos em orar de manhã, tarde e noite pela conversão desta moça até que se houvesse ou convertido, ou morrido, ou então até que nenhum de nós pudesse continuar com o nosso compromisso. Eu estava muito envolvido com Deus a favor dela. Orava por ela com mais e mais intensidade. Mas logo descobri que aquele ancião que fizera aquele pacto comigo, não persistia no acordo, estando mesmo a perder o espírito de oração por ela. Isto não me desencorajou de modo algum. Persisti heroicamente em crescente agonia. Também fiz uso de toda e qualquer oportunidade de lhe falar minuciosamente e de forma clara sobre a sua salvação. Depois de algum tempo neste estado de coisas, um fim de tarde busquei conversar com ela. Assim que me aproximei da porta, ouvi um guincho agudo duma voz feminina, uma confusão em sua casa e um remexer estranho de coisas. Esperei até que tudo se houvesse recomposto e logo de seguida a dona da casa veio abrir-me a porta, tendo em suas mãos um livro rasgado em duas partes. Ela estava muito pálida e agitada, dizendo-me: “Sr. Finney, olhe o que a minha irmã anda a ler: um livro Universalista! Acha que ela se tornou Universalista?” O dito livro em causa defendia um credo universalista. A sua irmã detectara-a lendo aquele livro escondidamente e tentou retirá-lo à força. Isso explicava toda aquela azáfama quando cheguei à sua porta. Recebi essa triste notícia à porta de sua casa e assim declinei o subseqüente convite para entrar. Outra seta penetrou em meu coração daquela mesma forma que se deu com a senhora doente, a que estava para morrer e que sobreviveu, salvando-se até. Tudo aquilo sobrecarregou-me de agonia. Assim que ia andando em direção ao meu quarto, já distante da sua casa, eu quase cambaleei pela agonia em espírito. Eu lutei e gemia imenso de dor profunda pela sua perdição. Não conseguia colocar a minha questão diante de Deus em palavras e apenas chorava pesadamente diante d’Ele, apresentando-Lhe o meu pedido através de lágrimas e gemidos inexprimíveis. O pensamento de que aquela moça em vez de se haver convertido se havia tornado uma Universalista, chocou-me de tal modo, que não via maneira de prevalecer naquela fé que ela se pudesse vir a salvar, ardendo para que pudesse ter forma de colocar o meu pedido diante de Deus. Havia uma imensidão de trevas pairando sobre toda aquela questão para mim incompreensível, como se uma densa nuvem escura houvesse entrado entre mim e Deus em relação à salvação da moça. Mas o Espírito de Deus premiu aquela grande questão dentro de mim, através de gemidos inexprimíveis. Contudo, fui obrigado a ir-me deitar sem haver obtido qualquer alívio sobre aquele assunto pesado em meu espírito. Porém, assim que amanheceu, despertei. A primeira coisa a ocorrer-me foi interceder de novo pela jovem diante de Deus. Saindo da cama logo escorreguei para cima dos meus joelhos e assim que pude orar todas aquelas trevas se dissiparam de vez e todo aquele imbróglio se desfez em minha compreensão das coisas. Pedia a Deus por ela e ouvia Deus dizer-me: “está bem, está bem!” Houvesse Ele falado por uma voz audível, não seria mais perceptível que aquela maneira de me dizer que havia ouvido a minha súplica. Logo me senti aliviado e com um pedido concedido na mão. Toda a minha mente se inundou duma paz e alegria impar. Sentia com toda a certeza que a sua salvação estaria inquestionavelmente assegurada. Enganei-me apenas no tempo de execução de tal salvação, algo que nem sequer fora colocado ou imprimido em minha alma durante aquele período em oração, mas que mesmo assim me enganara a seu respeito. Eu esperava desde logo uma conversão imediata, mas nada demais se passou. Ela permaneceu na sua dureza por vários meses mais. Mais adiante falarei da sua conversão. Eu senti-me desapontado com aquele desfecho das coisas, por não se haver convertido logo de imediato. Isso fez-me duvidar se de fato havia eu prevalecido diante de Deus sobre aquele assunto a seu favor.

Pouco tempo depois de me haver convertido, o homem em cuja casa me hospedava, que era um magistrado e um homem de grande proeminência no local, foi profundamente convicto do seu pecado. Ele havia sido eleito membro da legislatura do estado. Eu orava com ele variadíssimas vezes instigando-o a entregar todo seu coração a Deus. Mas de dia para dia ele deferia submissão e reverencia a Deus, não obtendo a esperança de salvação real. Insistia e persistia com ele cada vez mais. Numa bela tarde, alguns amigos e conhecidos seus apareceram por lá, para o entrevistarem sobre algo. Na noite do mesmo dia, tentei de novo trazer o seu caso diante de Deus em oração, pois a urgência da sua conversão havia-se tornado indescritível em mim. Naquela oração aproximei-me mesmo muito de Deus em pessoa. Nunca me recordo de alguma vez de até ali haver estado em tal comunhão e intimidade com o Senhor Jesus como daquela vez. A sua presença inundou-me de tal forma que as lágrimas de alegria sem fim, amor e gratidão por aquela presença real, me rolaram pelo rosto. Foi nesse estado de espírito que tentei reclamar aquela alma da sua perdição. Mas assim que me pusera a fazer aquele pedido, foi como que se a minha boca fosse abruptamente fechada. Era-me impossível orar por ele. Deus parecia-me querer dizer: “não, não te ouvirei”. Uma angústia terrível apoderou-se de mim profundamente. Pensei antes de mais nada que se trataria duma tentação. Mas senti como que se a porta se fechasse violentamente na minha cara. Parecia-me ouvir Deus falar assim: “não falas mais nesse caso diante de mim!” Isso magoou-me imenso pela impressão que provocou em minha mente e alma. Não sabia o que pensar de tudo aquilo. Na manhã seguinte, vi aquele senhor uma vez mais. Descarreguei perante ele a urgência da sua submissão incondicional a Deus, ao que me respondeu da seguinte maneira: “Sr. Finney, não quero mais falar sobre esse assunto até que haja voltado da minha legislatura. Estou comprometido com meus amigos políticos para encetarmos certas medidas políticas, que de momento são incompatíveis com eu ser Cristão. Comprometi-me a não abordar mais essa questão até que haja voltado de Albany”. Foi a partir daquele momento triste que entendi tudo aquilo que se passara comigo na noite anterior. Não tinha mais qualquer indício de espírito de oração por ele. Assim que me falou logo entendi tudo. Tive ainda oportunidade de ver que toda a sua convicção de qualquer pecado o havia abandonado e que o Espírito Santo deixara de lutar dentro dele através das suas convicções, havendo-o abandonado. A partir dali, tornou-se cada dia mais endurecido e despreocupado com o seu estado de espírito. Assim ingressou naquela legislatura. Ao voltar na primavera seguinte, pareceu-me mais um Universalista enlouquecido que outra coisa. Digo enlouquecido apenas porque, em vez de haver formado as suas opiniões a partir de pressupostos genuínos e verdadeiros nas suas doutrinas, disse-me: “Cheguei a esta conclusão Universalista não porque a tenha obtido através da Bíblia, mas muito principalmente porque tudo isso se opõe a uma mente carnal. É uma doutrina tão rejeitada por tanta gente, que apenas prova que nada serve à mente carnal!” Isto grandemente me aterrorizou! Tudo o que consegui retirar dele foi este absurdo imensurávelmente e cruel. Permaneceu em seus pecados, por fim entrou num estado de decadência e morreu mais tarde, conforme me relataram, um homem defraudado e ainda na plenitude da sua fé universalista!

CAPÍTULO IV – EDUCAÇÃO DOUTRINÁRIA E OUTRAS EXPERIÊNCIAS EM ADAMS

Pouco tempo depois de me haver convertido, tive a oportunidade de ter uma longa conversa com o meu pastor sobre a questão da reconciliação. Ele era um gênero de estudante típico de Princeton e tinha uma visão muito limitada sobre essa grande questão. Dizia ele que tal coisa apenas seria possível para os que achava escolhidos. A nossa conversa durou cerca de meio-dia. Ele defendia que Cristo sofreu a penalidade literal da lei divina no lugar dos eleitos e escolhidos; que Ele sofreu apenas aquilo que seria justo e exigido pela justiça retributiva. Eu objetava que tal coisa seria um absurdo, porque se tal fosse justiça retributiva, ele haveria de sofrer eternamente e distributivamente pela quantidade de eleitos que existissem. Disse-me que era verdade. Ele disse-me que Cristo de fato pagara literalmente a dívida dos eleitos e supriu a exigência da justiça divina. Mas naquele tempo, meu parecer seria de que o sacrifício de Cristo apenas satisfazia justiça humana e que tal coisa seria a única que o governo moral de Deus exigiria.

Eu era uma criança na questão da teologia. Era novato na religião e no estudo da Bíblia. Mas acreditava que ele, o meu pastor, não substanciava a sua visão doutrinária naquilo que a Bíblia dizia, o que lhe transmiti frontalmente. Pessoalmente nunca havia lido nada sobre o assunto e toda a minha opinião baseava-se apenas naquilo que eu então entendia da leitura da Bíblia, do mesmo modo que entenderia os meus livros de direito penal. Eu cria piamente que ele se baseava numa teoria daquilo que uma certa corrente pensava e deduzia o que seria a reconciliação de Cristo. Eu nunca o ouvira pregar sobre aquelas posições que ali substanciou diante de mim. Estava surpreendido com as suas posições doutrinárias e oponha-me às mesmas o mais e melhor que podia.

Ele estava alarmado, ouso dizer, sobre aquilo que ele pensava ser uma obstinação e teimosia da minha parte, apenas. Eu pensava que a Bíblia me ensinava que a reconciliação do sacrifício de Cristo se relacionava com a humanidade inteira. Ele limitava a salvação a algumas pessoas escolhidas. Obviamente que não poderia nunca aceitar tais posições, pois via claramente que ele não tinha como substanciar tais coisas a partir da Bíblia. As suas muitas regras de interpretação de verdades colidiam com a minha visão das coisas. As posições dele eram muito menos inteligentes que a inteligência revelada naqueles livros de direito, nos quais depunha grande admiração. A todas as minhas objeções, ele não me apresentava coisas inteligíveis do ponto de vista Bíblico. Perguntei-lhe se a Bíblia não requeria que se ouvisse o evangelho antes de haver arrependimento, antes de haver qualquer fé, antes da salvação mesmo. Ele apenas dizia e afirmava que as pessoas só necessitavam crer para serem salvas, ao que eu argumentava que se alguém não ouvisse não tinha como vir a crer. Ele debateu todo o parecer dele entre as escolas novas e velhas de doutrina corrente da altura, sobre a reconciliação, tanto quanto meus estudos teológicos mais tarde me fizeram entender dele. Eu até ali nunca havia lido uma página, da qual me recorde, sobre esse assunto com exceção de tudo aquilo que lera da Bíblia. Também nunca ouvi um único sermão sobre esse assunto.

Mas, esta discussão, sobre estes assuntos, duraria pelo tempo de toda a minha formação teológica futura sob sua tutela. Ele mostrou receio de que estaria eminente da minha parte uma aceitação da fé ortodoxa. Creio realmente que ele tinha a plena certeza de que me havia convertido de fato, mas senti desde logo que o seu desejo seria manter-me dentro da sua escola típica da teologia de Princeton. Ele imprimiu que teria de vir a ser ministro formado, ou Deus nunca iria abençoar meus labores, que o Espírito Santo nunca iria derramar Sua bênção sobre obra minha, nem dar qualquer testemunho pela palavra de qualquer das minhas pregações, a menos que pregasse a verdade, mas como ministro. Também era essa a minha opinião pessoal. Mas os argumentos que ele usaria para me convencer a estudar teologia, não eram os mais apropriados. Ele informara-me nesta conversa que ele nunca havia sido usado como instrumento na conversão dum simples pecador a Deus. Nunca o havia ouvido pregar sobre arrependimento e reconciliação, ou a causar uma reconciliação entre Deus e homem. Achei que ele temia as pessoas, de os provocar ao zelo por Deus. Nem mesmo a sua igreja conhecia as suas posições limitadas que tinha sobre a reconciliação. Mesmo depois desse dia, tivemos ainda oportunidade de debater variadíssimas posições teológicas, as quais terei oportunidade de discutir e distinguir mais adiante.

Disse manifestamente que os membros da sua igreja começaram a decair em zelos pela causa de Jesus. Isto oprimiu-me em demasia, tal como o faria com outros recém-convertidos em Adams duma maneira geral. Recordo-me de haver lido um certo artigo num jornal intitulado “Um avivamento Reavivado”. A substância desse artigo seria que houve um avivamento num certo lugar, no Inverno anterior, o qual havia declinado durante a primavera; também que oração intensa para que o Espírito Santo descesse de novo sobre eles, havia sido o prato do dia e que assim este avivamento havia sido poderosamente restabelecido. Este artigo levou-me a chorar intensamente, rebentando em lágrimas incontroláveis. Na altura estava hospedado em casa do Sr. Gale e levei aquele artigo a ele. Estava de tal forma possesso de bondade divina ao haver visto e lido como a resposta a oração era tão segura, que Deus também nos ouviria sobre Sua obra ali em Adams que estaria morrendo também, que percorri toda a casa chorando em voz alta em busca do pastor para lhe revelar aquilo que se passava em meu coração relacionado com aquele artigo. Chorava como uma criança. Mas o Sr. Gale surpreendeu-se com aquele meu sentir, com a minha expressa confiança de que era possível e desejável que Deus de fato reavivasse Sua obra. O artigo, porém, não obteve o mesmo efeito nele que obteve em mim.

Logo na seguinte reunião de oração dos jovens propus a todos os presentes que deveríamos conseguir um concerto mútuo de oração a favor dum reavivamento da Sua Obra ali em Adams, que nos dedicássemos à oração específica de manhã, ao nascer do sol, ao meio-dia e ao fim da tarde, em nossos quartos e que assim continuássemos durante uma semana inteira. Quando nos tornássemos a reunir, deveríamos ver que progressos específicos havíamos obtido. Nenhuns outros meios estavam a ser usados para um avivamento da Obra de Deus. Mas mesmo assim, o espírito de oração foi intensamente derramado sobre nós e antes que terminasse aquela semana, muitos deles, quando entravam em seus quartos para orar, quase perdiam as suas forças sob aquela enorme responsabilidade de pedir o derramar do Espírito, de tal modo que muitos deles nem sequer se conseguiam ajoelhar nem permanecer de pé, senão prostrados com gemidos e em oração. Era uma coisa natural e assim se orava pelo derramamento do Espírito Santo sobre nós especificamente, pela obra de Deus. O espírito foi derramado mesmo antes de haver terminado a semana; muito interesse foi provocado na vila pela religião, tanto quanto era possível obter sob aquelas circunstâncias.

E aqui, dói-me dizer, um grande erro foi cometido, ou melhor, um pecado cometido por membros mais velhos da igreja que por fim resultou num grandioso mal. Conforme vim a saber mais tarde, muitos membros antigos resistiriam a esta nova movimentação dos jovens convertidos em prol da obra de Deus. Estavam com ciúmes e inveja. Eles não sabiam como se relacionar com todo aquele movimento puro e são, pois pensavam e admitiam que os jovens estavam a sair da estribeiras e que estariam a envolver-se com o que não deviam ao começarem a exortar os membros da igreja mais velhos com intrepidez e urgência. Este espírito de resistência por fim entristeceu o Espírito Santo de tal forma que alienações e divisionismos começaram a brotar entre os próprios membros antigos da igreja, o que resultou em ira contra as pessoas que resistiram este ultimo movimento de reavivamento. Os jovens, porém, mantiveram-se muito bem e eretos, tanto quanto pude ver, permaneceram universalmente puros, constituindo-se mesmo crentes firmes e eficientes.

Naquela primavera de 1822, pus-me sob tutela do Presbitério da igreja como candidato ao ministério do evangelho. Muitos pastores instigaram-me a ir-me inscrever em Princeton, para estudar teologia, mas recusei ir. Quando me perguntaram porquê, retorqui que os meus recursos financeiros não o permitiam. Era verdade, mas logo me disseram que me pagariam todas as despesas. Mesmo assim declinei. Logo me questionaram sobre as minhas verdadeiras razões daquela recusa em ir-me para Princeton. Assim pude confrontá-los abertamente que temia estar sob a mesma influencia a que eles sujeitaram suas almas; que de coração cria que eles não haviam obtido a melhor formação para uma obra tão importante como seria a obra de Deus; que eles não eram aqueles ministros da Sua palavra como o próprio Cristo o exigia deles e que temia vir a passar-se o mesmo comigo se fosse para lá. Falei-lhes com muitas reservas, pois não conseguia conter a honestidade dos meus motivos. Foi assim que resolveram então, colocar-me sob tutela do meu próprio pastor para me administrar a formação desejada, o qual me abriu as portas para toda a sua biblioteca de livros, assegurando que daria a atenção necessária à minha formação teológica até ao fim.

Mas os meus estudos, no tocante ao meu instrutor, nunca deixaram de ser transfigurados em controvérsia aberta. Ele mantinha invariavelmente aquela velha escola do pecado original que se manteria com as pessoas até à morte e que toda a constituição humana era moralmente depravada. Também mantinha seus pontos de vista intocáveis sobre a questão dos humanos nunca conseguirem ter como igualar todas as exigências do evangelho de Cristo, isto é, de crer, de poder conseguir fazer e cumprir tudo aquilo que Deus de nós pede para cumprir; que enquanto não estivessem livres de lidar com os pecados do dia a dia, nunca estariam nem livres nem achados de poder efetivar o bem neles mesmos; que Deus condenava os homens pela sua natureza depravada a qual nunca tinham como transformar e que por isso e pelas suas transgressões seriam réus daquele juízo eterno. Também permanecia na sua convicção de que as influências do Espírito eram meramente físicas, atuando apenas na alma sentimental dos homens; que os homens seriam agentes meramente passivos na intervenção da sua regeneração; resumindo, delas depreendia toda a sua vivência em conformidade e a partir daquele pressuposto que a natureza humana era deficiente e depravada por efeito e natureza e nunca por aprendizagem voluntária. Eu não teria como encaixar certas doutrinas que me pareciam absurdas demais, não conseguia aceitar os seus conceitos sobre a regeneração, sobre a reconciliação, arrependimento, fé, a escravatura da vontade do homem, nem mesmo as doutrinas com conseqüência direta nestas visões. Ele era tenaz e inabalável nos seus muitos pontos de vista, por vezes revelando-se muito impaciente porque eu não aceitava desde logo os seus pontos de vista sem questioná-los primeiro. O seu argumento principal era que, se questionasse as coisas relacionadas com as doutrinas, tornar-me-ia num infiel a Deus. Munia-se sempre de argumentos desses, de como alguns estudantes se haviam desviado por causa de questões do gênero, como se tal fosse uma recompensa natural de não aceitar a Profissão de Fé como ponto final de todas as coisas, como também o ensino dos doutorados de Princeton que muito haviam estudado, entrando pela via da discussão de coisas sobre as quais eu, mas não ele, achava essenciais desvendar como verdadeiras ou não. Também argumentou muito efusivamente que, se não abraçasse a verdade; e a verdade para ele seria apenas tudo aquilo de que nem ele próprio tinha a certeza; eu nunca seria um ministro da palavra.

Eu estava na inteira disposição de crer em tudo aquilo que ele se esforçava por me transmitir, caso essas coisas viessem expressas na Bíblia. Havia muitas discussões doutrinárias entre nós dois, que se protelavam por largos períodos. Não poucas vezes saia das suas aulas desanimado e inteiramente comprimido num calabouço. Dizia para mim mesmo em estado de grande depressão: “eu não posso abraçar estas doutrinas! Não posso crer que é isto que a Bíblia me ensina”. Cheguei ao ponto, por vezes, de querer abandonar tudo ali mesmo, de pensar que já não devia seguir o ministério com o qual me comprometera. Havia, porém, um único membro daquela igreja com quem eu me abria, relatando-lhe tudo aquilo que se passava na profundeza do meu coração. O presbítero H–, um homem muito piedoso, homem de intensa oração. Ele havia sido educado sob os pontos de vista de Princeton, mantendo a todo o custo as mais altas patentes do Calvinismo sem mácula. Mesmo assim, durante as longas conversas que mantínhamos, ele ficou satisfeito com o reconhecimento de que eu estaria certo e com a razão do meu lado. Ele chamava por mim para irmos orar juntos muitas vezes, pedindo a Deus que fosse fortalecido nos meus estudos e nas minhas muitas discussões com Sr. Gale, assegurando mesmo que, acontecesse o que acontecesse, nada me iria impedir de ser um bom ministro da Palavra de Deus.

Muitas vezes ele aparecia para estar comigo, prestando-me sério apoio quando me encontrava deprimido depois de haver estado no escritório do Sr. Gale, nas aulas. Nessas alturas ia comigo para o meu quarto e não poucas vezes permanecia lá até muito tarde clamando a Deus por luz e fortalecimento, também por fé em aceitar a Sua vontade perfeita. Ele vivia a mais de três milhas da nossa vila (cerca de quatro quilômetros e meio), mas mesmo assim permanecia ao meu lado até cerca das onze da noite com alguma freqüência. Depois partia a pé para casa. Que velhinho querido era ele! Tenho muitas razões para crer que ele orou por mim diariamente sem cessar, até ao dia da sua morte. Tempos depois de ter entrado no ministério, havendo e chovendo oposição contra a minha maneira de expor o evangelho, com alguma freqüência encontrava-me com o Presbítero H–; ele dizia-me: “A minha alma está tão sobrecarregada pelo seu ministério, que intercedo por si de dia e de noite. Mas tenho a plena certeza que Deus o ajudará. Continue sempre, irmão Finney, persista e resista que Deus lhe vai conceder a almejada redenção desses problemas!”

Uma certa tarde, eu e Sr. Gale estivemos a conversar durante um longo período de tempo sobre a questão da reconciliação enquanto se aproximava a hora de atender a uma certa conferência. Persistimos na nossa conversa até havermos entrado no local da conferência. Como chegamos muito cedo, havendo muito poucas pessoas lá presentes ainda, continuamos a falar sobre o assunto. As pessoas foram entrando e escutando com grande atenção toda aquela discussão. Discutíamos seriamente, mas tudo levado a cabo num sério espírito cristão, presumo. As pessoas tornaram-se cada vez mais interessadas naquilo que discutíamos e quando nos propusemos mutuamente parar com aquilo, para que a conferencia pudesse começar, pediram ali mesmo que continuássemos e que esta discussão fosse a conferencia. Assim procedemos, conforme nos havia sido solicitado, o que, creio haver trazido grande edificação a todos os presentes ali, quiçá permanente edificação.

Depois de haver estudado aquela teologia durante muitos meses a fio, o estado de saúde do Sr. Gale foi de tal ordem mau que nem podia pregar. Um ministro Universalista chegou para assumir a chefia daquele púlpito, semeando as suas doutrinas corrosivas por tudo quanto era canto. A parte impenitente da congregação parecia que gostava de o ouvir discursar, mas por fim, alguns ficaram tão interessados nos discursos do homem que acabaram por se desviar das sãs doutrinas Bíblicas por inteiro. Foi nesse estado de coisas que o Sr. Gale, depois de haver conferenciado com o conselhos da igreja, transmitiu o desejo que eu falasse à congregação sobre aquele assunto do Universalismo, caso eu pudesse contestar aqueles argumentos do pregador Universalista. O seu grande esforço era, como era óbvio, mostrar a todos como o salário do pecado nunca poderia ser castigo sem fim. Discursava contra a idéia dum castigo eterno como se fosse muito injusto, cruel e absurdo. Dizia que Deus era amor e como podia um Deus de amor fazer tal coisa?

Levantei-me uma noite numa das conferências de culto, dizendo o seguinte: “as doutrinas deste senhor Universalista são completamente novas para mim e creio mesmo que estas não serão muito Bíblicas. Mas irei debruçar-me sobre o assunto um pouco mais e caso eu não consiga provar que este homem está errado, eu próprio me comprometo a tornar-me um Universalista”. De seguida apontei um dia da semana seguinte para fornecer uma palestra de oposição àqueles pontos de vista doutrinários. Todos os crentes ficaram desde logo alarmados com a minha audácia em haver dito publicamente que me tornaria Universalista caso não conseguisse provar que as suas doutrinas eram erradas. No entanto, eu achava que podia contestar tudo aquilo. Chegando a noite da palestra agendada, a sala estava repleta. Peguei primeiro na questão da justiça do castigo eterno, discursando sobre aquele assunto nessa noite e passando para a noite seguinte. Havia uma satisfação geral nos que me ouviam, pois o caso foi defendido. O próprio Universalista estava plenamente convicto que todo o povo achava que ele estaria na posse do erro, indo pregar para outra freguesia logo de seguida. O Sr. Gale, em conjunto com sua escola de teologia, mantinha no entanto que o castigo recebido por Cristo na Cruz seria o tal castigo do pecado dos Seus eleitos, um sofrimento que eles mereciam mas que Cristo sofreu por eles. Daí que dizia que era baseado nessa justiça que todos os eleitos se baseavam na sua salvação. Dizia que Cristo cumprira assim todos os requisitos da lei de Deus com aquele sacrifício. O Universalista baseou sua defesa então nesse ponto de vista, assumindo claramente que essa era a questão relacionada com a reconciliação. A única coisa que ele necessitava de provar mais, seria que essa reconciliação havia sido feita para todos universalmente, mostrando assim que todos os homens na face de toda a terra estariam salvos baseados nesse sacrifício universalista. Porque o total da dívida do homem para com Deus, havia sido paga em Cristo, o Universalismo estaria fortemente baseado nesse princípio precário de justiça feita. Dizia que Deus não podia ser justo caso não aceitasse esse castigo na cruz por todos os homens.

Pude ver, tal como toda a congregação, que o Universalista havia posto o Sr. Gale entre a espada e a parede. Por esse caminho seria muito fácil mesmo, provar que a justiça havia sido feita pelo sacrifício de Cristo para todos os homens sem exceção. Caso a natureza da reconciliação fosse aquela que o Sr. Gale defendia, O Universalismo era apenas uma conseqüente verdade. Tudo isto levou as pessoas a espalharem-se para longe dos átrios da verdade, saindo da igreja. O Sr. Gale pediu-me que continuasse com as minhas palestras, mas, já que, em conformidade com a sua opinião própria, a questão da justiça da lei já haviam sido debatidas, que eu apresentasse os meus argumentos baseados na cor do “evangelho de Cristo”, isto é, sob seus pontos de vista. Logo lhe respondi: “Sr. Gale, não poderei fazer tal coisa sem contradizer os seus pontos de vista sobre esta questão, anulando-as mesmo por completo! Através das suas doutrinas sobre a reconciliação, este homem não pode vir a ser contestado sequer. Se a visão que o senhor tem sobre a reconciliação de Cristo estiver certa, as pessoas logo veriam que o Universalismo era adequado, pois é muito fácil a partir dos seus pontos de vista provar que o Universalismo está certo, que Cristo pagou a dívida de todos os homens na face da terra para sempre. Se você não me autorizar a dar uma varrida nos seus próprios pontos de vista sobre o assunto da reconciliação, não terei como contestar esta doutrina de erro”. “Então”, retorquiu, “como não posso permitir que as coisas continuem conforme estão, faço questão que se sinta em total liberdade de lhe dar a devida resposta à sua maneira. Se necessário for vir a pregar sobre a reconciliação, sentir-me-ei no dever de o contestar pessoalmente depois”. “Está bem, aceito”, respondi; “permita-me apenas e tão só expor os meus pontos de vista sobre o assunto, pois tenho como contestar o Universalista e depois o senhor pode encetar o rumo que achar que deve”.

Marquei então uma conferência para contestar o argumento do Universalismo baseando-me no evangelho. Falei duas vezes sobre a reconciliação. Consegui mostrar através das Escrituras que a reconciliação não era baseada na justiça do castigo da lei sobre o pecado, pagando assim a divida dos pecadores na sua totalidade para sempre, tal como o Universalista em questão defendia. Desvendei que o sacrifício de Cristo apenas abria as portas para a possibilidade de salvação para todos os homens, mas que nunca obrigava Deus a conceder salvação a qualquer ímpio. Disse que nunca seria verdade que Cristo havia sido justiçado em nosso lugar, que em nenhum lugar da Bíblia se podia chegar a uma conclusão desse tipo. Provei que o contrário seria verdade; que Cristo simplesmente morreu para remover o grande abismo e fosso que havia entre Deus e homem a nível de sacrifício do perdão apenas, para que assim fosse possível dar uma anistia naquela culpa dos verdadeiros culpados, desde que se arrependessem para que assim obtivessem acesso à fé que os levasse a aceitar uma salvação crendo em Cristo; que em vez de satisfazer aquela justiça que apenas os pecadores mereciam, o sacrifício de Cristo na Cruz do Calvário abria caminho a uma redenção e que Cristo apenas aplicou seu testemunho a uma justiça meramente humana. Cristo apenas tornara possível aquele perdão que forneceria honra à lei, perdoando todo e qualquer um que se arrependesse e convertesse de fato pela fé n’Ele. Mantive a posição de que Cristo fez apenas tudo aquilo que eram as condições para o perdão, o que não anulava a culpa do pecado efetivo pagando por quem ainda não tivesse como deixar o pecado de lado.

Isto respondeu ao universalista e parou desde logo com toda a azáfama em redor desde assunto. Mas aquilo que mais marcou estas palestras, foi a plena conversão daquela moça por quem eu havia intercedido diante de Deus em total agonia de espírito: havendo então obtido resposta, aqui se seguiu o resultado. Tudo aquilo deixou o Sr. Gale aturdido, pois detectou a bênção de Deus sobre todos os meus pontos de vista. Conversando com ele mais tarde, pude verificar que ele estava admirado que as coisas que eu pregava sobre a reconciliação pudessem vir a ser subscritas por Deus, havendo sido instrumentos abençoados no seu uso para a conversão da jovem em questão.

Foi assim que, depois de muitas discussões com Sr. Gale, o presbitério foi finalmente chamado a reunir para eu ser examinado com aquela finalidade de entrar no ministério. Se chegassem a consenso, teria a licença de poder pregar o evangelho. Isto foi em Março de 1824. Estava preparado para uma dura batalha num exame daquelas pessoas. Mas, admirado, descobri que estavam muito receptivos e transformados. Era manifesta e clara aquela bênção que se evidenciava nas minhas muitas conversas com pessoas, nas minhas palestras, nas conferências sobre a oração. Por causa desse sucesso, penso, eles aproximaram-se de mim para me examinar com cautelas acrescidas para não entrarem em controvérsia comigo. No decurso dos exames e interrogatórios, evitaram questionar-me sobre aqueles assuntos que sabiam iriam colidir com os meus pontos de vista. Depois de me haverem examinado, votaram unanimemente em licenciar-me para o ministério. Mas, do nada, um deles perguntou-me se eu aceitava a Confissão de Fé da igreja Presbiteriana. Eu, até ali, não a havia examinado em pormenor, isto é, o Catecismo e grande parte dos seus credos. Isso tudo não havia sido parte integrante dos meus estudos obrigatórios. Respondi calculadamente que a aceitava como substância doutrinária, tanto quanto eu a entendia. Mas respondi de tal modo que estava claramente implícito que não pretendia ter algo a haver com aqueles credos, mesmo não os conhecendo bem. Respondi, no entanto, na conformidade dos conhecimentos que tinhas deles. Eles haviam lido aqueles sermões que escrevi, sobre textos específicos que me haviam sido consignados pelo Presbitério para tais fins. Passaram por todos os sermões minuciosamente. Foi aqui neste conselhos do Presbitério que eu pela primeira vez vi o Rev. Daniel Nash, que era geralmente mais conhecido por Papai Nash. Ele era membro efetivo daquele presbitério. Uma grande multidão assentou-se a ouvir a minha examinação. Entrei um pouco tarde e vi um homem a pregar para aquela multidão, como supus ser o caso. Ele olhou para mim quando entrei e ao mesmo tempo olhava para os que passavam à sua frente. Mas assim que me sentei para ouvir, descobri que ele estava orando. Surpreendeu-me vê-lo a olhar para as pessoas ali presentes, como se estivesse falando com elas. Mas estava a orar a Deus. Claro está que nem parecia ser uma oração, mas encontrava-se então muito desviado e num estado lastimável de apostasia. Este era o Papai Nash, de quem terei muitas coisas para relatar mais adiante, no decurso desta escrita. No dia do Senhor seguinte, o Rev. Gale aproximou-se de mim e disse-me: “Sr. Finney, vou sentir uma enorme vergonha se alguém vier a saber que você estudou teologia sob minha tutela”. Era típico dele, tal como já vinha afirmando vezes sem conta. Nada respondi, baixei a minha cabeça e emudeci, saindo dali logo de seguida muito desanimado e envolto numa espessa nuvem de desencorajamento por causa daquela observação. Mais tarde ele veio a ver as coisas de forma muito distinta, pois dava graças a Deus que nunca havia conseguido influenciar-me com seus pontos de vista, que não havia exercido qualquer mudança nas coisas que eu pensava. Ele confessou abertamente mais tarde, o seu erro na maneira como lidou comigo naqueles anos. Chegou mesmo a dizer que, caso houvesse dado ouvidos àquilo que ele me transmitiu como verdade, teria arruinado todo o meu ministério.

O fato de maior realce foi que toda a sua educação tanto religiosa como ministerial, foi inteiramente deficiente. Ele embebeu uma série de opiniões defeituosas, tanto teológicas como práticas, as quais sempre operaram contra ele e serviam como um colete de forças que lhe prendiam todos os seus movimentos. Ele pouco ou mesmo nada teria conseguido alcançar, caso tivesse persistido sob o domínio de todos os seus princípios pretensiosos e alucinados. Usei a sua biblioteca pessoal, buscando ali tudo sobre a teologia que lá poderia achar com a finalidade expressa de apenas passar o exame de aprovação para o ministério. Mas quanto mais examinava aqueles livros, tanto mais angustiado me sentia. Eu estava muito familiarizado com aquela perspicácia dos Juízes de direito, tal como vinham nos nossos livros. Mas quando penetrei em sua biblioteca, nada ali teria como preencher a minha insatisfação. Tenho aquela certeza que não era por eu estar em desacordo com a Verdade, mas sim de acordo com ela. Eu estava insatisfeito porque todas aquelas posições teológicas eram precárias e carentes de saúde genuína, como também eram precariamente sustentadas. Muitas vezes me pareciam querer dizer uma coisa e provar outra. Continham nelas pouca lógica racional de verdade espiritual e nunca conseguiam provar nada argumentativamente. Um dia disse ao Sr. Gale o seguinte: “Se não houver nada melhor em favor da verdade na sua biblioteca, que sustentem as doutrinas da nossa igreja, corro o risco de me tornar ou traidor à Causa de Cristo ou um infiel à igreja”. E sempre acreditei que, caso O Senhor não me houvesse iluminado para ver de fato a falência daqueles argumentos sem nexo, também de experimentar a verdade em forma vivente a partir das Escrituras; caso não se houvesse manifestado e revelado a mim pessoalmente para que não tivesse como duvidar da essência da verdade cristã, haveria de ser forçado a tornar-me um sólido infiel.

Não sendo nenhum teólogo, de início toda a minha atitude racional era de total oposição e de negação às suas obsessões doutrinárias. Até me opunha com muita freqüência às suas posições positivas. Eu dizia-lhe: “as suas posições não estão comprovadas; carecem de prova concreta; há que provar tudo o que diz. Não posso aceitar que as doutrinas sejam algo que não possam vir a ser debatidas e confrontadas perante a luz da Bíblia”. Penso hoje da mesma forma que pensava então. Os seus argumentos de persuasão contínua seriam que eu não me podia opor ao pensamento de grandes e bons homens que, em sua opinião, depois de tantos pareceres, estudos e deliberações, haviam chegado a tais conclusões finais sobre aquelas matérias; que também não me competia a mim, como jovem, havendo-me instruído em direito apenas, não sabendo nada de teologia, opor-me às posições daquelas pessoas que ele muito admirava. Considerava-os grandes teólogos e tinha-os em alta estima; daí que as suas opiniões pudessem ser achadas na sua biblioteca particular. Ele persistiu que, caso eu quisesse ver a minha inteligência satisfeita sobre aquelas grandes questões através de argumentação, tornar-me-ia num infiel. Ele não admitia contestação e argumento sobre as questões da fé e da igreja e que todas aquelas posições da igreja deveriam merecer a maior ovação por um jovem como eu e que eu deveria era submeter o meu juízo das coisas ao daqueles homens que ele considerava, de superior sabedoria. Eu detectei um forçar daquelas coisas sobre minha pessoa e nunca pude aceitar doutrina sob pretexto autoritário; não como autoridade incontestável. Como dogmas, não podia aceitar tais doutrinas. Descobri que me partia e dividia na sinceridade e honestidade caso as aceitasse, o que me privaria de verdade íntima. Muitas vezes saia da presença do Sr. Gale e ia para meu quarto afundar-me nos meus joelhos com a minha Bíblia na mão e perto do meu peito. De fato, lia a minha Bíblia de joelhos, especialmente naqueles tempos turvados pelo conflito, clamando e suplicando ao Próprio que abrisse as palavras que se encontravam em Seu próprio coração em relação a tudo aquilo, sobre todas aquelas questões. Não tinha outra saída possível mas que não fosse em direção à Bíblia, às movimentações filosóficas da minha própria mente, tal com se revelavam e manifestariam à minha consciência pessoal. Todas as minhas posições e visões começaram a tomar um certo rumo desejável, pois creio que foi a partir destes conflitos com a doutrina que tive e consegui como chegar àquelas verdades do evangelho que salvam. Lentamente foram-se formatando e formando as bases sobre a verdade, o que gradualmente se constituiriam como posições sábias, mas de inteira oposição a quem me ensinava.

Aquelas posições de teologia não apenas incrementavam uma grande debilidade real à obra do Sr. Gale, como também lhe davam um misterioso abalo e ajuda em direção ao erro doutrinário. Era pouco usado por Deus em Sua Obra Santa porque era empurrado para o erro. Ele profetizou muito agnósticamente contra todas a minhas posições e todo o meu futuro. Assegurou-me que Deus nunca chegaria com Sua bênção e aval pessoal sobre o meu Labor. E caso eu discursasse aos muitos homens conforme lhe transmiti vir a ser o meu desejo real, que logo todos se ofenderiam e que a congregação sob minha tutela iria perecer e desvanecer em apostasia. Também me dizia que teria de me habituar a escrever todos os meus sermões, caso eu quisesse ter como deixar de ser interessante nos meus muitos discursos, não havendo outra maneira de vir a satisfazer pessoas inteligentes e não só. Logo dizia que a minha forma de estar no púlpito, pressionado por minhas posições, dariam em descalabro total, que iriam seguramente dividir qualquer congregação, em lugar de a habilitar. Descobri que tudo aquilo sucedeu mas em sentido inverso de todos os seus variadíssimos impropérios e prognósticos doutrinais. Eu pessoalmente achava que o meu dever como ministro de Cristo era divulgar a verdade de todos os fatos, principalmente no que toca a questões do foro prático e pessoal. Nunca me admirei sequer que a minha nova forma, para ele, de trazer o evangelho, chocavam com a sua maneira de ver as coisas reais, de ver o evangelho. Através de toda aquela educação, ele nunca poderia haver tomado outra posição. Ele refutava apenas devido às suas idéias doutrinárias muito precárias, as quais obtinham resultados quase nulos. Pela graça de Deus, persisti nas minhas posições, as quais Deus pessoalmente avalizou mais tarde, dando Sua bênção, contrariamente a tudo aquilo que o Sr. Gale predisse a meu respeito. Aqueles resultados sobre os quais ele se admirava, no futuro da minha obra, tal como aquela visível bênção de Deus derramada tão graciosamente em favor daquela verdade, primeiramente alienaram dele a totalidade da sua tranqüilidade e esperança como crente, o que mais tarde contribuiu para vir a ser um ministro real e efetivo de Cristo, como irei relatar em seu devido tempo e lugar. Havia uma deficiente carência grave nos seus erros doutrinários, a qual eu sempre calculei como sendo um fundamento prioritário na avaliação e na própria pregação da palavra também. Não se pode avaliar nem tão pouco avalizar a Palavra de Deus sem o próprio Deus em pessoa, sob um Batismo do Seu Espírito real e efetivo. Se ele era convertido até ali, naquela altura, falhou na unção. É essa unção que traz efeitos devastadores sobre o pecado a partir do púlpito e na sociedade.

Quando Cristo comissionou os Seus Apóstolos para irem pregar pelo mundo fora, comandou que permanecessem em Jerusalém até que houvessem sido revestidos do poder da santidade. Este poder, como todos sabemos, foi o Espírito Santo derramado sobre todos no dia de Pentecostes. Esta era a qualificação final, sem a qual ninguém deveria passar para o tentar obter aquele sucesso de qualquer ministério. Nunca supus ali e então, como também agora ainda estou plenamente convicto de tal coisa, que este poder tivesse apenas a haver com meros milagres. O poder de operar através dos milagres, tal como aquele sinal específico de línguas, atestaram como simples sinais de ocasião para o efeito do cumprimento da sua missão na altura. O Verdadeiro Batismo do qual falo e não abdico, é antes de mais purificador, provendo uma iluminação sobre a realidade da verdade e não só, enchendo-os da mais pura fé, amor sem igual pelos perdidos, paz sem fim e poder. Tal conseguiu que umas simples palavras deles, caso fossem inspiradas, se tornassem como setas e espadas agudas nos corações dos inimigos de Deus, rápidas e estrondosamente convincentes, tal como uma espada verdadeira de dois gumes. Esta é uma das poucas qualificações necessárias para se obter sucesso em qualquer ministério. Estou deveras surpreendido que mesmo nos dias de hoje, se dê pouco ênfase a esta qualificação ministerial de ir pregar Cristo a um mundo adverso e pecaminoso sem se ser vencedor de fato. Sem aquele sussurrar ensinador do Espírito Santo, nenhum homem pode ser um virtuoso ministro de Cristo. O fato é que, se alguém não tem como pregar o evangelho como uma experiência pessoal e personalizada de fato, baseada na própria pessoa de Cristo Emanuel, apresentar a religião às pessoas como coisa consciente e real, as suas especulações e muitas teorias sobre a verdade dos fatos de nada adiantarão. Isso nunca será pregar o evangelho sequer.

Mais tarde o Sr. Gale confessou que nunca se havia convertido de fato: que ele era um homem honesto na defesa dos seus muitos pontos de vista, não ponho em dúvida. Mas confesso que ele era muito deficiente na sua educação teológica, tanto filosoficamente como na sua efectividade pratica dali resultante. E tanto quanto me pude aperceber do seu estado espiritual real, ele não manifestava nele mesmo aquela paz que apenas o evangelho tem como conceder desde que verdadeiro e real, nem nele nem no efetuar do seu ministério. Não suponha o meu caro leitor que não amava o Sr. Gale e que não o tinha na maior respeitabilidade e estima. Ambas as coisas eu tinha para com ele, tanto amor como respeito imensurável. Permanecemos com uma amizade muito firmada, tanto quando sei, até ao dia da sua morte. Falo destas coisas apenas para as ter como me relacionar e contrapor às suas visões doutrinárias, porque creio de todo o meu coração, que será aquilo que se passa com muitos ministros por este mundo fora; ainda hoje. Creio que na sua maioria, a visão daqueles que se intitulam de ministros de Cristo, carecem desta unção como válida e selada, sejam quais forem as suas idéias teológicas. A sua degradação deve-se majoritariamente à falta desta unção específica. É uma carência radical no seu ministério, de fato. Não se trata de carência de cerimônias, nem digo isto como forma de censura, pois há muito que esta questão se encontra devidamente estabelecida em minha mente. São coisas sobre as quais tive ocasião de me lamentar profundamente muitas vezes. Quanto mais experiente e conhecedor me tornava através do ministério, aqui e além-mar, tanto mais persuadido fiquei que, no meio de toda a disciplina, educação, treino e estudo, existe um enorme fosso na questão prática no apresentar do evangelho na sua melhor forma, da maneira mais efetiva, adaptando os meios para alcançar todos os fins. Mas muito especialmente, na sua clara falta de poder específico.

Já falei extensivamente sobre as muitas controvérsias dilatadas com o Sr. Gale, o meu professor. Depois de refletir um pouco mais, penso ser apropriado manifestar algo mais sobre estas controvérsias e discussões. Eu não poderia nunca aceitar ficção teológica como mandamento supremo. Quero aqui relatar mais pormenorizadamente as suas posições relativas, nas quais ele muito insistia. Em primeiro lugar, ele afirmaria que aquela transgressão inicial de Adão se impunha sobre toda a raça descendente; que mereceriam o inferno apenas por serem descendência de Adão. Em segundo lugar, concebia que recebemos de Adão através da natureza, o pecado imputado, por essa razão, como hereditariedade, todos seriam moralmente corruptos de natureza, tanto física como espiritualmente, de maneira tal que nunca conseguiríamos qualquer coisa que chegasse a ser aceitável diante de Deus e que necessariamente havíamos de entrar em pecado continuadamente, pois a nossa natureza era transgressora da lei natural de Deus em todos os aspectos da nossa vida. Nestes pontos ele insistia, afirmando que devido a herança, pecávamos sem poder cessar. Que seria devido a esta natureza que todos os homens estariam sentenciados à condenação eterna. Em terceiro lugar, ele detinha que éramos considerados sempre culpados e condenáveis com eterna devastação pela devida transgressão da lei de Deus impossível de se poder evitar. O descendente de Adão estaria condenado a pecar. Não podendo evitar ser pecador, o homem estaria sobre esta tripla multiforme condenação eterna.

A segunda seqüência da ramificação natural destes pontos de vista admiráveis, seria que, os pecados dos eleitos, tanto pelo pecado original como o atual, isto é, a culpa de ser descendente de Adão e aquela culpa da sua natureza incriminatória atual, tal como as culpas das transgressões personalizadas, seriam naturalmente imputados sobre Cristo. Por essa razão majoritariamente, o despacho divino alcançou a sua sentença corporal de culpabilidade n’Ele, sendo Cristo tratado de acordo com aquilo que eles mereciam factualmente; que o Pai fez descansar a Sua ira sobre o corpo do Filho, atribuindo-Lhe a culpa daqueles que eram Lhe eleitos. Daí se deduzia uma inculpabilidade pessoal através daquele castigo sobre Cristo em pessoa. As pessoas seriam dessa forma, salvas através duma justiça execucionista, mas noutra pessoa.

A terceira ramificação dos seus pontos de vista teológicos, era: primeiro, que aquela obediência de Cristo à Lei de Deus era literalmente imputada aos seus eleitos e, mesmo não obedecendo seriam tidos como sempre obedientes. Em segundo lugar, que a Sua morte lhes seria naturalmente imputada, por haverem sido escolhidos. Assim se daria como conseqüente a Sua morte na cruz, pois n’Ele estaria pregado a culpabilidade do pecado de Adão em nós, a culpa da nossa natureza corrupta, como também a culpa das nossas transgressões. Em terceiro lugar, que pela Sua segurança, todos aqueles que Lhe eram eleitos seriam tidos como havido cumprido e obedecido a Lei de Deus e seriam tidos como se já houvessem sofrido a penalidade da transgressão de Adão, da sua e da perversidade da sua natureza, havendo a sua penalidade conseqüente sido já aplicada em Cristo. Dessa forma, eles haviam sofrido em Cristo essa acumulação de ira, que assegurava justiça divina na pessoa de Cristo, mesmo que não pudessem vir a ser tornados obedientes. Ele obedeceu no lugar deles, o que redundaria na sua obediência aparentemente, mas acupulada na de Cristo por eles. Deus veria os eleitos sob Cristo, mesmo que não fossem capazes de obedecer. Depois da lei haver sido preenchida nos seus requisitos normais e formalizados, os eleitos eram convidados a arrependerem-se como se nada deles fosse exigido, nem o arrependimento real. Em quarto lugar, havendo sido formalizada justiça divina, todos os eleitos seriam absolvidos sob essa tutela legisladora, sendo tal ato o tal ato de infinita graça para sempre. Daí se presumia e deduzia que todos os eleitos estavam salvaguardados pela satisfação divina baseado nesse princípios analógicos de justiça.

Segue-se então, que todos os eleitos e apenas estes, poderiam salvaguardar a sua absolvição contínua na tutela desse ato justo de Cristo. Não precisavam de invocar e pedir perdão e seria mesmo um erro doutrinário fazê-lo. Esta inerência gratuita, seria pessoal para todos os eleitos. Mas segue-se irreversivelmente debaixo daquilo que a Profissão de Fé afirmava, que os eleitos eram considerados salvos por inerência e analogia, pois a justiça divina e seus requisitos universais haviam sido preenchidos de justiça sem fim. Eu não podia senão discordar destas asserções, sobre estes pontos focalizados. Eu não poderia imputar toda esta questão como uma imputação analógica, pois me parecia mais ficção teológica. Tivemos constantes discussões em virtude destes múltiplos pontos de vista. Não me recordo de ter ouvido o Sr. Gale insistir que a Profissão de Fé imprimia estes princípios sobre seus ouvintes, mas lembro-me de comprovar que afirmava tudo isto quando a estudei minuciosamente. Eu não havia tomado consciência que as regras do Presbitério exigiam como pergunta chave aos candidatos ao ministério, se aceitavam a Profissão de Fé como formulário de Fé e conduta. Mas assim que revi e estudei todos os seus princípios ambíguos e absurdos, não hesitei nem por um momento em depor contra estes mesmos princípios em todas as circunstâncias mais adequadas para a finalidade. Passei a repudiá-los abertamente, expondo-os em público. Onde e quando achava que pecadores se pervertiam sob pretexto destes dogmas, que se escondiam por de trás deles, não hesitava nem por um momento em demoli-los até às cinzas, no melhor da minha capacidade de então.

Eu não preenchia estes requisitos das posições do Sr. Gale, mas falava deles com ele na mesma linguagem com que se dirigia a mim, isto é, quando eu as apresentava a ele em forma controversa. Ele não as impunha como coisas racionais, ou como algo que se pudesse discutir abertamente. Ele insistia como defesa que a minha irreverente discussão sobre essas questões, tornar-me-iam num infiel apóstata. Mas eu justificava que a nossa razão nos havia sido embutida por alguma razão especial, especialmente para nos vir a justificar nos próprios caminhos de Deus; e que nada de tal ficção pudesse ser imputado a quem viesse ser vivente de fato e conviver com verdade real. É claro que haveria muitos mais pontos de vista que mereciam a nossa discussão, sobre as quais sempre nos opusemos em forma controversa. Mas por muito que discutíssemos, toda a teima iria embocar nestes mesmos assuntos, inevitavelmente, pois eram as suas bases de podridão. Se o homem tinha uma natureza pecaminosa, então concluía-se que a regeneração teria de vir a ser uma transformação dessa mesma natureza. Se essa natureza era pecadora, a influência do Espírito Santo que a fosse regenerar havia que ser real e factual, não apenas de aceitação ficcionada e moral. Se o homem tiver essa natureza irregular e pecaminosa, não havia adaptação possível dela ao evangelho como forma de transformar a sua natureza, pois a fé é firmeza, é firme e conseqüentemente não haveria qualquer ligação entre meios, fins e finalidade.

Eram estas as posições que o Irmão Gale defendia com veemência. Por conseqüência, ele não esperava que as pessoas se convertessem mesmo que pregasse a favor do arrependimento, pois não apontava as suas palavras naquela direção em nenhum dos sermões que dele pude ouvir até então. Mas era um pregador muito hábil mesmo se avaliarmos pelos requisitos que se impunham a um pregador debaixo daqueles jugos e circunstâncias. O fato transparecia desde logo que estes dogmas serviam como um colete de forças sobre ele, por muito hábil que fosse como pregador. Se pregasse o arrependimento, ele teria que providenciar uma explicação de como lhes seria impossível arrependerem-se; Se os incitava à fé, logo lhes explicava como lhes seria impossível crer por eles até que a sua natureza houvesse sido mudada, pois qualquer fé lhes estaria vedada; era assim que a ortodoxia impunha uma perfeita armadilha e rede aos seus ouvintes, naquela questão do evangelho. Eu nunca pude aceitar tais coisas e procedimentos. Eu não entenderia assim a minha Bíblia; nem tinha como ver tal coisa ensinada na Bíblia sequer.

Assim que li a Profissão de Fé, olhando para as passagens que eram usadas para corroborar aquelas peculiares e seculares posições, eu envergonhei-me delas em demasia, bastante e de forma absoluta. Perdi todo o respeito por aquele documento que impunha sobre a totalidade da raça humana tais dogmas caricatos, sustidos na sua grande maioria por passagens que lhes eram inteiramente irrelevantes e desconectados. Num caso de tribunal, nunca tais passagens poderiam ser mantidas como defesa dum caso, quanto mais dum grande caso como o é o evangelho de Cristo. Mas todo o presbitério considerava aqueles pontos de vista conclusivos e sagrados, irredutíveis mesmo. Todos tinham um mesmo pensamento, deliberavam numa só voz controversa. Mais tarde todos estes mudaram as suas opiniões; cederam e Sr. Gale transformou-se e nunca mais ouvi ninguém do presbitério defender aqueles pontos de vista irracionais e sem qualquer nexo.

CAPÍTULO V – PREGANDO COMO MISSIONÁRIO

Não havendo tido qualquer tipo de treino para o ministério, propus em meu coração não desejar servir grandes congregações em grandes cidades, ou mesmo ministrar a congregações muito cultivadas e cultas. Pretendia ir para aquelas aldeias de colonos e pregar em escolas, celeiros e chácaras o melhor que sabia. Logo depois de me haver sido dada aquela licença para pregar, isto para que assegurasse a minha introdução no meio rural daquela região onde me propusera laborar, comissionado por seis meses através duma sociedade feminina localizada em Oneida County, cheguei e entrei na parte nortenha de Jefferson County e comecei o meu labor em Evans’Mills, na cidadela de Le Ray. Ali encontrei duas igrejas; uma Congregacional e pequena, mas sem Pastor; uma outra Baptista com Pastor. Apresentei as minhas credenciais aos diáconos da igreja. Ficaram muito felizes por haver chegado e desde logo pus as mãos no arado. Tinham duas salas de reuniões. Mas as duas igrejas, reuniam-se alternadamente numa escola grande feita em pedra, de tal forma que tinha a capacidade de acomodar lá, todas as crianças daquela colônia. Os Batistas ocupariam a sala num dia do Senhor, os Congregacionalistas na semana seguinte, alternadamente. Mas, durante as noites, eu poderia usar a sala quantas vezes desejasse. Assim, reparti os dias de culto (dia do Senhor) entre Evans’Mills e Antwerp, uma vila a cerca de dezoito milhas a norte.

Antes vou relatar as ocorrências em Evans’Mills, durante essa época e depois uma curta narrativa das ocorrências em Antwerp. Como pregava alternadamente nos dois locais, todas as ocorrências que vou relatar separadamente, davam-se ao mesmo tempo. Comecei por pregar na escola de pedra em Evans’Mills. As pessoas ficaram muito interessadas e faziam fila para me ouvir pregar. Eles exaltavam a minha maneira de pregar e aquela pequena igreja Congregacional interessou-me muito mesmo, vendo ali motivos de sobra para conseguirem edificar o seu templo e que assim houvesse um avivamento. Umas ou outras convicções de pecado ocorriam durante cada um dos sermões que ali realizava. Estava, no entanto, insatisfeito com o passar das coisas e passadas duas ou três sessões de pregações aos Domingos, também várias vezes durante a semana, uma noite confrontei a congregação no fim dum sermão. Disse-lhes que havia chegado ali com o intuito de assegurar a salvação das suas almas; que sabia que a minha maneira de pregar lhes era agradável, mas que eu não havia chegado ali para agradar aos seus ouvidos mas sim para que se arrependessem todos. Também lhes disse que, caso eles acabassem por rejeitar todos o meu Mestre, não me importava se os meus sermões lhes eram agradáveis ou não. Falei-lhes que sentia que algo de errado se passava ou comigo, ou com eles; que a benevolente aceitação das coisas que lhes transmitia, de nada lhes estaria a servir; e que não iria gastar mais o meu tempo com nenhum deles caso não aceitassem a minha mensagem de coração. Fiz uso daquelas palavras do servo de Abraão, dizendo-lhes assim: “Agora, pois, se vós haveis de usar de benevolência e de verdade para com o meu Senhor, declarai-mo; e se não, também mo declarai, para que eu vá ou para a direita ou para a esquerda”, Gen 24:49. Eu revirei aquela questão de cima para baixo e de baixo para cima até que me houvessem entendido muito bem, insistindo que haviam de me dar uma resposta para que eu tomasse rumo depois. Se eles não se propusessem salvar-se de uma vez por todas, alistando-se na causa do meu Senhor, eu quereria saber e ouvir deles, para que eu não trabalhasse em vão no seu meio. Disse-lhes: “Reconhecem que eu quero pregar o evangelho; vocês admitem crer nele; mas, agora, vão aceitá-lo ou rejeitá-lo? Por certo algo se passa em vossa mente acerca disto tudo. Assim, deduzo que estou no direito de aceitar de vós uma correspondência adequada, assegurando assim a vossa salvação, já que todos vós, admitiram até aqui sem exceção, que tudo aquilo que vos trouxe em mensagens, é a verdade. Acho-me no direito de pedir de vós que desde já se arranjem com Deus. Esta obrigatoriedade, não a podem contestar; irão então aceitar esta obrigação inevitável de se salvarem já, imediatamente? Irão vós rejeitá-la? É isso que eu gostaria de vir a saber de vós. Então digam-me, para que eu assim possa decidir qual o rumo que devo tomar daqui em diante, se vou para a esquerda se para a direita”.

Virando e revirando aquela questão diante deles, assegurando-me que me estariam todos a entender perfeitamente, eles pasmaram-se muito pela forma e irredutibilidade com que lhes coloquei a questão da sua decisão. Assim que me estavam a entender todos, disse-lhes mais: “Eu preciso saber o que se passa em vós, querendo saber se estão dispostos a ingressar na causa de Jesus Cristo. Assim poderão comprometer-se irredutivelmente em assegurar a vossa salvação, fazendo a paz com Deus de imediato, assim que saírem daqui. Assim, todos aqueles que se vão comprometer aqui e agora em assegurar a sua paz com Deus assim que saírem do culto, devem levantar-se para que vos veja e o assinale como sinal de resposta e correspondência da vossa parte; os outros que não querem ter a sua paz com Deus resolvida, permaneçam sentados”. Coloquei aquela questão de tal forma que todos haviam entendido muito bem o que pretendia desde logo. Assim terminei com as seguintes palavras: “aqueles que se querem comprometer com Cristo e desde logo irem fazer as pazes com Deus e consciência, por favor, levantem-se; os outros que me querem transmitir a mensagem que irão permanecer no vosso estado atual, não aceitando Cristo e Sua paz, todos os que assim decidirem, permaneçam sentados”. Começaram a olhar uns para os outros e para mim, muito quietos e surpresos. Todos permaneceram sentados, tal qual eu esperava que viesse a ocorrer.

Depois de olhar à minha volta e para eles diretamente nos olhos, eu disse: “Então aceito desde já que se comprometeram contra Deus e Sua causa. Tiveram a vossa oportunidade. Assumo que hão rejeitado Cristo e o Seu evangelho. E assumo também que todos vós fazeis bem o papel de testemunha desse fato uns pelos outros e que Deus, diante de vós posto como crucificado, também testifica contra. Todos vós se comprometeram e acometeram, contra aquela causa de Cristo e devem recordar-se enquanto forem vivos deste momento em que clamaram “não queremos este Homem Jesus Cristo a reinar em nós; fora com Ele”; esta foi a vossa atitude clara de rejeição”. Foram mais menos estas as palavras que recordo haver usado, para os urgir a tomarem posição ou a favor ou contra o evangelho. Quando os comecei a pressionar por uma decisão, algumas faces começaram a irar-se, levantaram-se todos em massa e acometeram-se para a porta! E, começando a movimentar-se em direção à rua, eu segurei o meu silêncio. Assim que eu parava de lhes dirigir aquelas palavras, eles paravam de sair para verem porque razão havia eu parado de rugir na sua consciência. Logo lhes disse: “Eu lamento por todos vós. Amanhã darei um último sermão, se Deus quiser”

Todos saíram com exceção do diácono McC–, o qual era o diácono da igreja Baptista local. Senti que todos os Congregacionalistas estavam aturdidos e confundidos. Estes eram poucos em numero e extremamente debilitados e fracos em fé real. Presumo mesmo, que todos aqueles membros de ambas as igrejas que ali estavam presentes, com a exceção do diácono McC–, foram lançados numa insegurança absoluta de que tudo estaria terminado para eles e que eu lhes havia anulado por inteiro toda e qualquer réstia de esperança em todos sem exceção e a seu ver, pela imprudência. Diácono McC–, o qual tinha uma opinião contrária, levantou-se com um sorriso largo e comunicativo, segurou na minha mão e dirigiu-me as seguintes palavras: “Irmão Finney, apanhou-os mesmo desprevenidos; eles não mais alcançarão descanso até que hajam obtido paz com Deus; não terão como descansar mais. Todos os irmãos se sentem desmotivados e abatidos de espírito. Mas eu não, pois creio de todo o coração que o senhor acabou fazendo a coisa mais certa, somente tudo aquilo que deveria ser feito e creio que em breve obteremos resultados muito concretos por causa disto que você fez”. Também era esse o meu pensamento, pois concordava com aquela asserção. Eu apenas os coloquei numa posição ingrata de terem que se decidir, depois de refletirem bem mediante aquilo que haviam decidido perante homens e Deus. Mas durante aquela noite e no dia seguinte, estariam muito irados. Eu e o diácono McC– concordamos ali mesmo passar todo o dia seguinte em oração e jejum, separadamente de manhã e juntos à tarde. Ouvi rumores durante o dia que as pessoas levantavam as vozes em ameaças contra a minha pessoa, de me irem colocar sobre os carris, de me darem um “papel de demissão”, para fazer uso de palavras suas. Um deles amaldiçoou-me dizendo que eu os obrigara a ajuramentarem-se contra Deus; que eu os levara publicamente a porem-se contratualmente contra Jesus. E assim por diante, mas nada mais do que aquilo que eu já esperava que fosse acontecer. À tarde, o diácono McC– e eu reunimo-nos num bosque e ali passamos toda aquela tarde em profunda e solene oração. Mas apenas para o fim da tarde é que Deus nos deu aquela liberdade de espírito e uma solene promessa de vitória firme. Ambos estávamos plenamente convencidos através do Espírito Santo, que havíamos prevalecido com Deus, diante do Seu Trono; e que nessa noite o poder de Deus se iria manifestar de viva voz.

Havendo chegado o tempo para a reunião, deixamos a mata e entramos naquela vila. As pessoas já estavam aos empurrões para entrarem no salão de culto. E aqueles que ainda não haviam ido para o local de culto, assim que nos viram chegar do pinhal, logo trataram de encerrar os seus negócios com a finalidade de se deslocarem para lá, outros deixaram no chão os seus tacos com que jogavam à bola num relvado da vila, enchendo a sala até à sua máxima capacidade. Eu nem sequer havia pensado ainda sobre aquilo que ia pregar. Era assim que as coisas funcionavam comigo durante esse tempo. O Espírito Santo estava sobre mim e dava-me aquela confiança que a palavra não me iria faltar no momento certo e que saberia sobre o que deveria pregar. Assim que a casa estava repleta de gente, de tal modo que ninguém mais cabia ali conosco, levantei-me e acho que mesmo sem orar antes da mensagem, logo lhes falei: ” Dizei aos justos que bem lhes irá; porque comerão do fruto das suas obras. Ai do ímpio! Mal lhe irá; pois se lhe fará o que as suas mãos fizeram” Is. 3:10,11. O espírito de Deus desceu sobre o local e mim, com tal poder, que eu parecia mais uma bateria a descarregar sobre eles as minhas munições. Durante mais de uma hora, talvez hora e meia, a palavra de Deus passou por mim em direção a eles de tal forma que podia observar como devastava tudo à sua frente, levando tudo o que encontrava. Era como fogo e martelo a quebrar rocha nos seus corações. A espada estava cortante e afiada, dividindo alma e espírito logo ali. Eu via uma convicção geral a alastrar-se sobre toda aquela congregação de gente. Muitos deles nem sequer conseguiam erguer as suas cabeças mais. Nessa noite não cedi perante eles, não lhes pedindo ali ainda uma reversão da decisão da noite anterior, nem sequer apontando ou fornecer pistas para um novo caminho. Eu assumi diante deles que eles estariam em desavença comprometida contra Deus, contra Ele diretamente. Lidei com eles como inimigos de Deus declarados e ajuramentados. Logo, marquei outra reunião e despedi a congregação.

Conforme as pessoas se iam retirando, apercebi-me duma senhora nos braços duns amigos seus, suportando-a, num canto da sala. Dirigi-me para lá tentando saber o que se passava, pois pensava que estaria a desmaiar por doença ou algo assim. Logo descobri que ela não estava prestes a desmaiar, mas que não conseguia falar uma palavra. Tinha uma expressão de uma enorme angústia refletida na sua face e fez-me entender gestualmente que não tinha como me falar mais. Aconselhei as senhoras a levarem-na para casa, orarem com ela a ver o que Deus faria. Logo trataram de me transmitir que ela era a Sra. G–, a irmã dum pregador muito conhecido como missionário e que ela seria um membro fiel daquela igreja, bem comportada. Naquela noite não fui para os meus aposentos, mas aceitei um convite para casa duma família com a qual nunca havia estado. Cedo, na manhã seguinte, fui informado que várias pessoas durante toda aquela noite mandaram e foram-me procurar onde morava, porque haveria muita gente muito perturbada de espírito e em busca de paz com Deus. Isto levou-me a passar tempo com pessoas por quem eu passava que estavam sob uma convicção de pecado madura, bastante alarmados com o estado pecaminoso da sua alma.

Depois de haver estado num estado completamente mudo durante dezesseis horas, a boca da Sra. G– abrira-se e uma nova canção lhe havia sido dada. Ela havia sido resgatada daquele lago de lama movediça e sido plantada na Rocha Firme. Muitos viram aquela ocorrência e temeram. Isso proporcionou um autêntico vendaval de busca interior entre todos os membros da igreja. Ela declarou publicamente que havia estado completamente enganada até então, que há oito anos era membro da igreja e que cria piamente que era crente. Mas durante aquele sermão da noite anterior viu como afinal nunca havia conhecido o verdadeiro Deus. E quando o verdadeiro caráter de Deus emergiu diante de seus olhos da forma que lhe havia sido apresentada, usando as suas próprias palavras, as suas “esperanças desvaneceram desde logo como fumo”. Ela disse que tal visão panorâmica da santidade de Deus lhe havia sido apresentada, que como uma nuvem grossa, envolveu-a ali onde se encontrava, para aniquilar tudo aquilo em que baseava as suas esperanças. Foi assim que ficou muda.

Descobri naquele local muitos homens e mulheres de boa reputação, considerados justos e em alta estima pela comunidade inteira. Um deles era um guarda num hotel da vila; outros eram homens respeitáveis, conhecidos por terem uma inteligência acima da média. Mas todos estes se juntaram em uníssono contra aquele avivamento. Assim que me certifiquei qual o terreno onde se agruparam, onde se fortaleciam suas resistências, preguei um sermão com a finalidade expressa de ir de encontro às suas necessidades. Sabia que no Domingo todos iriam assistir ao culto. Sustentei-me neste texto da Escritura: “Espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que ainda há razões a favor de Deus. De longe trarei o meu conhecimento, e ao meu criador atribuirei a justiça” Jó 36:2,3. Passei todo o seu terreno de segurança a pente fino, daquilo que entendia das suas posições estratégicas resistentes e Deus permitiu que conseguisse dar uma total limpeza nas suas muitas falsas esperanças. Assim que despedi a reunião, aquele guarda do hotel logo se aproximou de mim, sendo ele o principal líder dos opositores e de forma franca e honesta, pegou em minha mão e disse: “Sr. Finney, estou convencido. Você correspondeu a todas as minhas questões e dificuldades. Agora quero que venha comigo para minha casa, pois quero muito conversar consigo. Não mais ouvi falar da sua oposição e infidelidade e, se bem me recordo, toda aquela multidão de opositores se converteram rapidamente, ou quase todos.

Havia ali um homem velho, o qual não era um ímpio, mas sim um grande promotor da religião. Ele enfureceu-se extremamente contra o movimento de avivamento. Eu ouvia-o blasfemar e acometer-se de viva voz contra a obra de Deus, mas não tomei nota das suas crueldades. Ele recusava-se a participar numa singular reunião. Mas no meio da sua infidelidade brusca, quando aquele entusiasmo estava no auge, estando assentado na sua cadeira de manhã, ele caiu dela, entrando num estado de apoplexia. O médico foi desde logo chamado, o qual lhe deu a entender ali mesmo que pouco tempo de vida lhe restaria. Se tivesse algo a dizer, que usasse logo o tempo que lhe restava ainda. A única coisa que ele conseguiu ainda dizer foi: “Não deixem que o Finney ore sobre o meu cadáver!” Este foi o último fôlego de oposição naquele local.

Durante esse avivamento, a minha atenção havia mais tarde.

Enquanto estava naquele lugar, uma tarde, um irmão crente veio ter comigo com o pedido que fosse visitar a sua irmã, a qual estava perdida no consumo de álcool e era Universalista. Também o seu marido era Universalista e havia sido ele quem a levara a tal fé. Pediu-me que não a fosse visitar quando o marido lá estivesse, porque temia que ele fosse agressivo comigo. Ele estava determinado a que ninguém conseguisse perturbar a mente da sua esposa Universalista a não ser com a questão da salvação universal. Fui visitá-la e descobri que não descansava em conforto na sua esperança universalista. Apegou-se ao evangelho de imediato entregando-se a Cristo. Creio mesmo que permaneceu firme até ao fim da sua vida. À noite, seu marido chegando a casa, soube através dela mesmo o que se havia passado. Ele enfureceu-se em demasia clamando que “Vou matar o Finney!”. Ao que vim a saber, armou-se com uma pistola carregada e foi para o salão de culto com o intuito de me matar. Aquele salão de culto estava a abarrotar, quase que em sufoco para todos ali presentes. Eu preguei com todo o meu fulgor e poder. A meio da minha pregação notei que um homem forte, mais ou menos a meio do salão, caía da sua cadeira. Ele afundou-se de joelhos clamando e gritando que estava a cair no inferno. Repetiu tal coisa por várias vezes, sendo um estranho para mim, no entanto seria conhecido de todos por ali. Penso mesmo que nunca o havia visto antes.

Era de esperar que tudo aquilo criasse um certo grau de excitação pela sala toda. Aquela situação quebrou o meu falar e tão grande era a sua agonia visível que passamos o resto da noite orando por ele. Assim que aquela reunião foi desfeita, os seus amigos carregaram-no para casa. Na manhã seguinte perguntei sobre ele e vim a saber que passara uma noite sem dormir e sem descanso possível, que pela manhã saíra dali e ninguém sabia para onde. Só perto das dez horas da manhã é que se ouviu falar dele novamente. Eu estava passando pelo bosque e viu-o vir a uma certa distância da vila. Estava do outro lado da rua quando o vi pela primeira vez, vindo rapidamente em minha direção. Assim que me reconheceu saiu para me cumprimentar. Quando se aproximou o suficiente para que eu o pudesse ver melhor, havia um brilho de luz na sua cara. Disse-lhe: “Bom dia Sr. C–“. “Bom dia”, respondeu-me. “E como está o senhor hoje?”, perguntei-lhe. “Olhe, não sei bem o que se passa comigo”, respondeu-me. “Tive uma noite muito perturbada e como não podia orar ali dentro de casa, pensei que para estar só onde pudesse dar largas à minha alma e voz, devia ir para o bosque orar de manhã. Mas quando lá cheguei não conseguia orar uma palavra. Pensei que podia entregar-me a Deus ali, mas era-me impossível. Tentei várias vezes e cheguei ao desespero. Finalmente vi que de nada me valia continuar a tentar e retorqui ao Senhor que achava que estaria irremediavelmente perdido; que já não tinha como orar a Ele; não tinha coração para me arrepender; que me havia endurecido de tal forma que não conseguia mais entregar meu coração a Ele; assim deveria deixar tudo em Suas mãos, para que me dissesse o que fazer. Eu estava à Sua mercê e não podia mais objetar contra a Sua coerência para comigo, que fizesse como muito bem merecia e parecesse a Seus olhos, porque eu não tinha mais nenhum argumento a meu favor. Deixei que fosse Ele a decidir sobre a minha condenação ou salvação”. “Então, que aconteceu depois?” Ele prosseguiu: “Bem, eu descobri que havia perdido toda a minha convicção de pecado e tormento de consciência naquele momento. Levantei-me e vim-me embora e achei a minha mente tão serena que pensei que tivesse sido abandonado por completo pelo Espírito de Deus e que nunca mais chegaria à convicção do pecado que perdera. Mas quando vinha para cá, vi o senhor Finney e o meu coração começou a queimar como uma bola de fogo em mim e em vez de o evitar, senti-me instantaneamente compelido a vir ter consigo para lhe falar”. Devo dizer que quando este senhor veio ter comigo, ergueu-me do chão, rodou sobre si de alegria uma ou duas vezes comigo no ar, e depois de me colocar no chão de novo, falou comigo naquelas palavras. Depois de mais um dedo de conversa abandonei-o por ali. Pouco tempo depois entrou num estado de espírito de esperança sem fim, creio. Nunca mais se ouviu falar da sua oposição também.

Aqui neste lugar tornei a ver o Papai Nash, o homem que orava com os seus olhos abertos, que orou assim na reunião do Presbitério no dia que fui licenciado a pregar. Depois de haver lá estado, os seus olhos inflamaram-se de doença e durante muitas semanas a fio foi mantido num quarto escuro. Não conseguia nem ler nem escrever e conforme cheguei a saber, entregou-se inteiramente à oração. Ele experimentou uma total mudança em toda a sua vida evangélica. Algum tempo depois recuperou a sua vista, mas através dum duplo véu; vagueou num mundo perdido em busca de almas perdidas desde então. Assim que apareceu em Evans’Mills ele estava cheio do poder da oração. Era outro homem por inteiro, nada tinha da sua vida pastoral anterior. Descobri que levava com ele uma lista de pedidos de oração, como ele próprio a chamava, onde estavam escritos vários nomes de pessoas por quem se punha a orar várias vezes ao dia. Estando tanto a orar com ele, ou mesmo ouvi-lo orar apenas num culto ou reunião, logo desvendávamos o grande dom que este homem possuía, o tipo de fé que exultava, sendo quase miraculosa.

Havia um homem, dono duma taberna, de nome D–, numa das esquinas daquela vila, onde muitos homens ímpios se juntavam em assembléia como opositores do avivamento. Era local de blasfêmias predileto de todos os homens ímpios dali e este dono de taberna era o homem mais profano que se podia imaginar, abusivo e inculto. Ele esforçava-se em demasia para sair à rua com o intuito de se opor à obra de Deus reavivada, praguejava quando passava por um crente. Um dos convertidos jovens vivia quase de frente. Disse-me ele que pretendia mudar dali a sua habitação, porque sempre que saía e D– o via, ele também saía da sua taberna para praguejar contra ele, blasfemando mesmo, usando de tudo para ter como o ferir sentimentalmente. Penso que ele nunca até ali, havia estado em qualquer das nossas reuniões. Está claro que nada entendia das verdades do evangelho e desprezava por inteiro todo aquele empreendimento crente que ali se expandia fortemente. Papai Nash ouviu-nos dizer que este homem D–, era de fato osso duro de roer e incluiu-o desde logo na sua lista de oração. Permaneceu por ali mais um dia ou dois e seguiu o seu caminho tendo em vista outro campo missionário.

Não muitos dias depois, estando nós ocupados numa grande reunião de gente, sobrelotada, quem apareceria por ali senão o senhor D–? A sua entrada naquela sala provocou um movimento absurdo entre os presentes. As pessoas temiam que o homem viesse provocar e causar desacatos intermináveis. O aborrecimento da sua presença era palpável entre toda a gente que cria. Mal entrou, algumas pessoas ergueram-se e saíram. Eu conhecia-o de vista e ia mantendo um olho nele. Logo percebi que ele não viera ali para se opor, mas sim para ouvir, porque se achava em grande angústia de espírito. Sentou-se pesadamente em todo o seu assento e estava muito desconfortável diante das pessoas. Levantou-se e em tremedeira pediu-me para dar uma palavrinha a todos ali presentes. Consenti. Da sua boca saiu uma das maiores e mais quebrantadas confissões a que assisti em toda a minha vida. Toda a sua confissão abrangia o vasto terreno de todos os males que executou e perpetrou contra Deus, crentes e avivamento religioso e de tudo o que era bom, dizia. Esta cena quebrantou todos os corações ali presentes. Foi a melhor arma que Deus poderia ter usado naquele momento, para que a Sua obra se espalhasse com furor e poder. O senhor D–, logo de seguida veio professar uma esperança dentro de si, experimentando-a mesmo, destituiu toda a rebeldia e blasfêmia, e o seu estabelecimento e em vez de ser taberna, transformou-se em lugar para reuniões de oração todas as noites durante todo o tempo que lá estive presente.

CAPÍTULO VI – AVIVAMENTO EM EVANS’ MILLS E SEUS RESULTADOS ESPECÍFICOS

A uma pequena distância de Evans’Mills havia um colonato de alemães, onde havia uma pequena igreja com muitos presbíteros, muitos membros, mas sem pastor e conseqüentemente sem reuniões. Uma vez por ano tinham por hábito importar um ministro de Mohawk Valley para administrar as ordenanças do Batismo e Santa Ceia local. Este ministro fornecia também a catequese e recebia como membros da igreja aqueles que em seu entender estivessem aptos a ser aceites como tal. Era essa a maneira como as pessoas eram tornadas crentes, sem arrependimento. Era esperado apenas que preenchessem uns certos requisitos e conhecimentos sobre o catecismo, tivessem capacidade de responder a umas certas perguntas sobre doutrinas específicas e seriam assim admitidos como membros efetivos e comungantes da sua igreja. Depois de se tornarem membros da igreja, todos manifestavam em incerteza de esperança, uma grande libertinagem assumindo que estariam salvos, que tudo assim estaria muito bem com eles. Era esta a organização daquela igreja continuadamente.

Mas ao misturarem-se com os acontecimentos em Evans’Mills, logo me vieram requisitar para pregar ali também. Consenti e o primeiro sermão que entreguei foi sobre o texto Bíblico “sem a santificação ninguém verá Deus”. Aquele colonato encheu o salão da escola ao rubro da sua capacidade. Todos eles entendiam bem o inglês. Comecei por mostrar-lhes o que santidade não é. Sob este cabeçalho, peguei em tudo aquilo que eles pensavam e criam seria a religião, revelando que nada daquilo seria santidade. Em seguida mostrei aquilo que santidade é de fato, para depois o que significam as palavras “ver Deus”. Em seguimento lógico do meu discurso, logo lhes mostrei porque razão ninguém teria como ver o Senhor sem a santidade e sem todos os requisitos morais e verdadeiros exigidos por Ele, os quais eles não preenchiam e que por essa razão nenhum deles poderia sequer aspirar a vir a ser admitido em Sua presença real, nem tão poço serem aceites por Ele como estavam. Concluí então, fazendo uns apontamentos pessoais e práticos para aplicar diretamente a todos aquilo que ali estaria a ser discutido. E a mensagem penetrou de fato, corroborada pelo poder do Espírito Santo, encaixando-se e alojando-se profunda e efusivamente em seus corações enganados pela doutrina. A espada de Deus cortava-os e dilacerava-os da esquerda para a direita e da direita para a esquerda sem lhes dar opção de fuga possível.

Em poucos dias descobriu-se que todo o colonato estava sob uma forte convicção de pecado. Os presbíteros daquela igreja estavam inteiramente consternados, pressionados pela convicção que não tinham nada de santos neles. A pedido seu, foi promovido um culto especial de inquérito e resposta, para que inquiridores angustiados achassem oportunidade de questionar e obter respostas para o seu estado de espírito. Isto sucedeu mais ou menos na época das colheitas. Marquei aquela reunião para a uma da tarde e encontrei a casa lotada até não caber lá mais ninguém. Tomei lugar no centro da sala, pois não tinha outra forma andar pelo meio deles. Perguntei coisas e encorajei-os a fazerem o mesmo a mim. Notava-se um brilhante interesse em seus semblantes, o que os levou a terem uma grande liberdade tanto de inquérito como de resposta. Muito poucas vezes atendi uma reunião com tanta avidez de espírito como esta, nem mais proveitosa. Recolho da minha memória que uma senhora chegou tarde àquela reunião de esclarecimento, assentando-se à porta. Quando lhe dirigi a palavra disse-lhe: “A senhora não tem aspecto de estar de boa saúde”; ao que me respondeu: “É verdade, estou de fato doente e estava mesmo de cama até à hora da reunião. Mas eu não sei ler; queria tanto ouvir e saber da palavra de Deus que me levantei e vim ouvir”. “Como é que veio?” “Vim a pé até aqui”. “A que distancia vive daqui?” “Nós agora dizemos três milhas”. Sob inquérito descobri que estava sob convicção de pecado e que estaria muito preocupada com a sua posição e caráter desconfortável diante de Deus. Minha esposa havia-me dito que esta senhora era uma das pessoas de maior beleza na oração, citando muitas passagens das Escrituras quando orava, mais do que qualquer outra pessoa que sabia ler.

Logo de seguida, dirigi as minhas palavras para uma senhora de belo aspecto, alta, perguntando qual o seu estado de espírito. Respondeu-me muito rapidamente que havia entregue seu coração a Deus e que o próprio Deus a havia ensinado a ler assim que se convertera. Perguntei-lhe a que se referia, duvidosamente. Disse-nos que nunca aprendera a ler e que não sabia distinguir as letras do alfabeto. Mas assim que entregara seu coração a Deus, estava intensamente preocupada e atribulada que não sabia como ler as Escrituras para delas se instruir e alimentar sendo que pudesse vir a ser ensinada por Ele sobre a verdade. Disse mais: “Pensei que o Senhor Jesus teria como me ensinar a ler e pedi-Lhe se, por favor, não me podia ensinar a ler a Sua palavra”. Assim que Lhe fiz aquele pedido, tive a sensação de que sabia ler. As crianças tinham um Novo Testamento do qual liam e fui lá e peguei deles. Comecei a ler e fui perguntar à senhora professora se estava a ler direitinho. Ela me disse que sim. Desde então sei ler a Palavra de Deus. Agora posso ler a Palavra de Deus por mim mesmo”, exultou finalmente. Eu nada mais disse sobre o assunto, naquele momento. Pensei que algo de errado havia ali, mas como a senhora me falava dum modo sério e seguro, sendo uma mulher inteligente mesmo, fui mais tarde inquirir dos seus vizinhos sobre ela. Davam largas aos elogios sobre o seu caráter e finalmente me afirmaram que ela era muito conhecida por não saber ler uma palavra sequer até ao dia em que se converteu. Eu deixo aqui este assunto para que transmita a sua mensagem por ele mesmo. Não existem teorias de envolvimento aqui. Estes, tenho a plena certeza, foram os fatos por mim apurados. O avivamento entre este colonato alemão resultou na conversão integral de toda aquela igreja e na quase totalidade dos seus habitantes. Foi dos avivamentos mais interessantes que pude identificar e a que tive o privilégio de assistir.

Foi enquanto laborava neste avivamento que o Presbitério me chamou para ser ordenado, o que fizeram também. Ambas as igrejas haviam sido fortalecidas grandemente, de tal modo que logo de seguida construíram cada qual uma igreja em pedra por causa do grande número de pessoas que se iam convertendo quase sistematicamente. Creio mesmo que desde então obtiveram um considerável estado de espírito saudável e duradouro. Não permaneci ali por muitos anos. Fiz questão de narrar apenas alguns fatos substanciais destas santas ocorrências ligadas a estes avivamentos reais. Mas posso ainda esclarecer que um sadio espírito de oração prevaleceu entre os crentes de fibra, com uma grande unidade de sentimento entre eles. Aquela pequena igreja em Evans’Mills, recuperou depois daquele sermão da noite de conluio e de decisão contra suas almas, quando se comprometeram contra Deus. Eles haviam sido dispersos e jogados pela incoerência de suas consciências, achando-se desanimados e desmotivados, aturdidos em confusão mesmo. Mas pegaram nas rédeas de suas vidas o melhor que podiam e empreenderam grande labor. Duma quadrilha fútil e quebrantada, sem esperanças nem expectativas de maior, desenvolveram-se em conhecimento profundo do Senhor Jesus Cristo durante todo o tempo que o avivamento durou.

A Senhora alemã da qual falei, a que estava enferma à porta da reunião de esclarecimento, juntou-se à Igreja Congregacional. Eu estava presente quando foi admitida como membro efetivo da igreja. Um estranho efeito deu-se quando esta senhora relatou a sua experiência com Deus. Havia uma certa senhora idosa de Israel de nome S–, a qual pertencia àquela igreja. Era uma senhora muito piedosa. Estávamos assentados há muito, ouvindo a narração integral do seu testemunho pessoal, uma história atrás da outra. Foi uma daquelas narrativas mais simples, mais interessantes que eu ouvira até então, como criança o faria. Enquanto prosseguia na sua narrativa, observei como a Sra. S– se ergueu do seu lugar, estando aquela igreja repleta de gente, movimentou-se com alguma dificuldade em direção à senhora que expunha as suas experiências com Deus, enquanto esta falava. Eu supus que ela se iria dirigir para a porta, mas não. Estava tão ocupado no escutar daquela narração, que mal me apercebi da movimentação da Sra. S–. Assim que chegou perto da senhora alemã, a qual relatava a sua experiência ainda, atirou-se ao seu pescoço e envolveu-a num abraço carinhoso e rebentou em lágrimas e disse: “Que Deus a abençoe, minha querida irmã!” A senhora correspondeu com todo o seu coração. Tal cena deu-se tão naturalmente, tão infantilmente, tão inesperadamente, tão pouco premeditadamente, que toda a congregação se derreteu em lágrimas. Choraram efusivamente uns sobre os ombros dos outros. Foi uma cena tão ordeira, tão emocionante que me será impossível transcrevê-la aqui em palavras.

O Pastor da igreja Baptista local e a minha pessoa, raramente nos encontrávamos, mesmo quando assistíamos a um culto juntos. Ele pregava lá metade do tempo, eu a outra metade e por conseqüência quando ele pregava eu estaria ausente e vice-versa. Ele era um homem bondoso e trabalhou arduamente para contribuir para o avivamento. As doutrinas que eu pregava, eram aquelas que eu sempre preguei como o evangelho de Cristo. Insisti na depravação moral voluntária daqueles que estavam por regenerar ainda; numa mudança drástica, voluntariosa e radical de coração e comportamento geral ativado pelo Espírito Santo de forma real e característica pelas armas e meios indispensáveis de qualquer verdade. Coloquei bastante ênfase no fato de a oração absoluta e integra ser sempre uma condição indispensável para a promoção de Vida em avivamento contínuo. A doutrina da reconciliação de Jesus Cristo, a Sua divindade, a Sua missão divina, a Sua vida de perfeição, a Sua morte, ressurreição, arrependimento, fé, justificação pela fé, junto com outras tais doutrinas eram devidamente elaboradas, pregadas e logo de seguida aplicadas com singular destreza para que “chegassem a casa”, isto é, que chegasse e penetrasse tanto no coração como na vida individual das pessoas. Não deixava nenhuma verdade à solta no ar, pois todas eram devidamente aplicadas dirigidas e as pessoas eram devidamente confrontadas com a sua responsabilidade pessoal. Tudo era poderosamente confirmado na elaboração e poder do Espírito Santo.

Os métodos usados eram simplesmente pregar, oração intensa e conferências para interrogatório mútuo, muita oração individual e personalizada muito direcionada mesmo, muita conversa individual, como também reuniões para inquiridores angustiados. Nenhuns outros meios eram usados por mim. Não havia quaisquer sinais de fanatismo, espírito de confronto, intemperança, divisões, divisionismos. Nem houve ali, de tudo aquilo que tomei conhecimento, nada do que nos pudéssemos lamentar como resultado daquele avivamento e nenhuma das suas características tinha qualquer efeito questionável do ponto de vista racional, ético, controverso emocionalmente.

Já falei de casos concretos de oposição a este avivamento. Numa circunstancia específica, descobri que haviam-se preparado pessoas especificamente para uma oposição e que estavam grandemente amargurados. Havia ali uma vasta área daquele condado, a que se chamaria de “distrito queimado”, para usar terminologia local. Uns anos antes havia-se dado ali algo parecido com um avivamento, mas que provou ser apenas algo a que chamaram de avivamento religioso mas que nunca havia sido. Era coisa esporádica e ouvi mesmo relatos de haver-se tornado extravagante de caráter de exibição e excitação. Não tenho como relatar a não ser pela boca de outros. Foi divulgado como resultado de avivamento real, mas que por fim deixou no ar a idéia a pairar de que a religião era uma ilusão mentirosa. Muita gente defendia esse ponto de vista, estando mesmo plenamente convictos de tal mentira pela extravagância evidenciada. Tomando para eles como opinião do que um avivamento se tratava, muitos sentiam-se no dever de contrapor a tudo o que se intitulasse de “avivamento”, justificadamente.

Descobri entre crentes locais algumas práticas ofensivas e imorais, mais propensas a serem ridicularizadas por pessoas inteligentes, do que serem aceites como algo da envergadura e seriedade daquela Verdade que tem como salvar de fato. Como exemplo, vou citar um caso caricato de perversão. Todo aquele que professava a religião sentia um dever nele imprimido e uma obrigação peculiar de “testificar de Cristo”. Todos tinham de “carregar a sua cruz” e testemunhar em todas as reuniões onde se encontrassem. Levantava-se um para dizer: “tenho aquele dever de fazer aquilo que ninguém pode fazer por mim; tenho de confessar que a religião é boa e eu não; assim testifico diante de todos que não a aprecio ainda neste presente momento; Nada tenho mais a dizer a não pedir que orem por mim”. Esta cena dava-se e uma outra pessoa levantava-se dizia também que “a religião é coisa boa; não consigo ter prazer nela; não tenho mais nada para dizer; cumpro o meu dever em dizer isto; espero que todos orem por mim”. Seria assim que consumiam todo o tempo de culto e nada acima deste tipo de comentário e “suspense” estariam inerentes neles. Claro está que os ímpios tinham como desporto ridicularizar quem fosse crente. Mas, na mentalidade pública espalhou-se a certeza de que haveria que ser assim e nunca de outra maneira que se deveria encetar qualquer reunião de oração ou culto mesmo. Era de fato algo repulsivo. Todos se sentiam no dever de “testemunhar”, sempre que qualquer oportunidade surgisse. Assim, senti-me no dever e obrigação de acabar com aquilo.

Comecei por acabar com aquelas reuniões cheias de seqüelas. Marquei reuniões de culto apenas onde fosse apenas pregada a palavra de Deus. Quando nos reuníamos, cantávamos um hino, eu faria uma oração, para logo de seguida chamar duas ou mesmo três pessoas a orar para que suas consciências não os impedissem de ver a verdade. Nomeava-os especificamente. Lia um texto das Escrituras e falava durante algum tempo. Assim que via que as minhas palavras houvessem atingido alguém, eu parava para lhes criar a impressão que tinham de orar sobre aquilo especificamente para que seu coração pudesse assimilar e associar-se à verdade pelo Espírito Santo. Prosseguia com a minha palestra para depois de pouco tempo parar para que mais um ou dois tivessem oportunidade de orar. Assim, desse jeito, prosseguia com a reunião não dando abertura aqueles irmãos para participarem da reunião em si. Assim, oravam sem estarem cativos em suas inapropriadas congestões de consciência torturada e triturada. Sentiam que assim não estariam a pecar por estarem a ser participativos no decorrer do culto. Por essa razão, muitas das nossas reuniões não eram tabeladas de “reunião de oração”. Como tais reuniões eram tidas como especificas para sermões, matava aquela expectativa de que todos tinham de se levantar para participarem. Foi assim que através da sabedoria de Deus pudemos nos sobrepor e vencer aquele estado de coisas ridículas. Um avivamento poderoso assegurou-se nesta localidade também e assim toda a oposição dos ímpios se detonou. Passei aqui em Antwerp cerca de seis meses, labutando em dois locais distintos ao mesmo tempo. No fim do tempo nada mais se ouvia de oposição ao avivamento.

Mencionei já o tipo de pregação doutrinária que ali usufruía. Devo aqui acrescentar ainda que muito esforço foi gasto em instruir inquiridores ansiosos. A prática corrente era, creio mesmo, universal, pondo os “ansiosos” a pedir e suplicar por um coração novo não usando meios distintos para a sua conversão específica. A convicção generalizada e conceituada era que queriam ser crentes e que se esforçavam em convencer Deus a transformá-los. Tentei apenas insistir na verdade que era Deus quem estava a usar aqueles meios sobre eles e não eles sobre Deus; que Ele estaria sempre na disposição de os converter ali e já e que seriam eles quem resistia e não Deus; que Deus estava pronto e fortemente preparado e que eles não. De forma resumida, tentava resumir o evangelho a uma fé real e em tempo presente, também uma submissão radical à vontade de Deus integral em tempo presente, uma instantaneidade na aceitação de Cristo e Seu evangelho para que fossem fazer a sua paz com Deus através de Jesus e que essa paz fosse real. Pressionava aquela questão de que qualquer atraso na sua conversão, seria apenas mais uma evasiva de sua parte para não se submeterem à vontade de Cristo; que toda a oração ainda por um coração novo, era um realce daquele fato inquestionável de estarem ainda a fugir à responsabilidade pessoal da questão da sua própria salvação, colocando aquela responsabilidade sobre Deus e que todos os seus esforços em prol do dever sem uma conversão efetiva e efetivada seriam formas incoerentes de hipocrisia da sua parte, iludidos pelo dever e culpabilizando Deus porque tentavam cumprir por eles.

Durante aqueles seis meses, andei de cavalo dum lado para o outro, de cidade em cidade, de vila em vila em todas as direções possíveis, pregando em todas aquelas ocasiões que se me proporcionavam. Quando abandonei Adams, o meu estado de saúde havia-se degradado muito. Tossia bastante, cuspia sangue e estava, na opinião de muitos amigos meus, prestes a morrer. O Sr. Gale censurou-me quando saí de Adams porque pregava muito mais que uma vez por semana e sempre mais do que aquela meia hora de cada vez conforme me aconselhara. Mas em vez disso, eu visitava casas sem conta, atendia e promovia reuniões de oração, pregava diariamente tanto de noite como de dia durante toda aquela época. Mas, ao contrário de todas aquelas expectativas, antes mesmo que terminassem aqueles seis meses, o meu estado de saúde foi restabelecido por inteiro, meus pulmões revigoraram e podia mesmo pregar duas horas seguidas ou mais ainda, sem sentir qualquer fatiga ou cansaço, nem interior nem físico. Penso que todos os meus sermões teriam uma média de duas horas, duas horas e meia cada. Pregava na rua, em celeiros, nos salões das escolas e um glorioso avivamento rejubilou e despontou em toda aquela vasta região, mesmo recebendo muitos piropos pouco elogiosos de ministros do evangelho durante esta fase inicial do meu ministério, pois não se reviam na minha maneira peculiar de expor as verdades como eu as entendia do evangelho. Já mencionei que o Sr. Gale me disse como se envergonhava de vir a ser tido como um pupilo seu. O fato era que toda a sua formação era deficientemente, muito distinta da minha e por essa razão não aprovavam a minha maneira de participar ativamente na salvação das pessoas. Eu fazia muitas referências como parábolas às coisas comuns do dia a dia do homem comum, daqueles que me envolviam num dado momento e tal era continuamente a minha prática coerente da maneira como entedia devia ser aplicado o evangelho ao coração duro dos homens. Entre fazendeiros e granadeiros, mecânicos e outras classes sócias, eu tomava emprestado cenas do seu dia a dia, a partir da sua vida comum, dos seus afazeres normais e diários, para ter como ilustrar verdades reais e coerentes a eles. Fazia uso duma linguagem comum que todos entendiam. Concluía tudo através de muito poucas palavras, é verdade, mas em palavras de comum uso e usufruto com imediata aplicação responsabilizável.

Antes mesmo de me haver convertido, eu tinha em mim uma tendência distinta desta. Eu aprendia a escrever e falar com linguagem muito ornamentada. Mas quando comecei por pregar o evangelho de Cristo, a minha mente apoderou-se duma certa ansiedade em ser entendido por todos os que me tivessem como ouvir. Era urgente e expediente ser bem entendido. Estudei vigorosamente para encontrar e descobrir meios de persuasão que não fossem nem vulgares nem vulgarizados, mas também os quais fossem bem assimilados e que explanassem todos os meus pensamentos com a maior das simplicidades de linguagem, pois o alvo era ser entendido, salvar e não aceite pela opinião publica. Esta maneira de ser e estar no púlpito era opostamente agressiva à idéia comum entre o meio ministerial e as noções da altura, pois não aceitavam esta nova maneira de empreender e viver as verdades. A respeito das muitas ilustrações das quais fazia uso, muitos me perguntariam: “Porque não ilustra as coisas através dos eventos histórico-sociais duma maneira mais dignificante?” Ao que eu respondia sempre que quando trazia uma ilustração que ocupava as mentes das pessoas, então elas nunca davam nem a devida atenção, nem a importância à verdade que essas ilustrações pretendiam encerar e implantar nos corações e nas vidas pessoais de cada um que me ouvia. Eu não tinha como objetivo que se lembrassem da ilustração nem de mim, mas sim da verdade da ilustração contida em si e em mim.

A respeito da simplicidade daquela linguagem da qual eu fazia uso inquestionavelmente, apenas me defenderia instigando que o meu objetivo não seria cultivar um certo estilo oratório que trovejasse acima das cabeças das pessoas, mas, acima de tudo, que fosse bem entendido; fazia assim uso de todo o gênero de linguagem que melhor se adequasse às circunstancias e alvos a atingir, o que nunca se tornou banal nem vulgar, mas demonstrou ser muito sábio. Foi mais ou menos pela altura em que estava saindo de Evans’Mills que o nosso Presbitério se reuniu e eu compareci naquela reunião. Deixei nas mãos de irmãos todo o trabalho do avivamento, a pedido seu, e fui integrar-me nos trabalhos do Presbitério. Todos os irmãos do Presbitério estariam já muito bem informados do meu modo característico de trazer a mensagem de Cristo à população, mas mais aqueles que já me haviam ouvido falar. A reunião começou pela manhã, houve um intervalo para almoço e quando nos reunimos pela tarde, uma multidão de gente reuniu-se e encheu a casa. Eu não tinha a menor idéia daquilo que os meus irmãos do Presbitério me haviam preparado. Por essa razão assentei-me no meio da multidão e esperei até que a reunião fosse reiniciada.

Mas logo que aquela assembléia parecia estar repleta, um daqueles irmãos levantou-se dizendo: “As pessoas reuniram-se aqui seguramente para ouvirem a pregação da palavra. Peço e faço questão que o Sr. Finney nos dirija a palavra”. Aquele pedido foi secundado e foi unanimemente aceite. Reparei por um momento que era a intenção dos meus irmãos do Presbitério porem-me à prova, para ver se de fato eu teria a audácia de fazer o que me pediam de acordo com aquilo que de mim há muito haviam ouvido. Ergui-me sem qualquer preparação prévia, não fiz qualquer comentário, qualquer apologia, qualquer objeção nem qualquer sinal de que os ia agradar ou não cumprir o seu pedido. O meu coração estava cheio e queria pregar a palavra. Tomei o meu lugar mas não atrás do púlpito, pequeno mas alto, pregado na parede. Andei dum lado para o outro no corredor abaixo do púlpito, um pouco acima da multidão. Nomeei o texto: “Sem santidade (santificação) ninguém verá Deus. O Senhor assistiu a Palavra pessoalmente. As pessoas estavam manifestamente interessadas e mostraram um grande interesse em tudo o que dizia. Eles foram imensamente tocados.

Mas, depois daquela reunião, um dos irmãos saiu da multidão, veio ter comigo e disse: “Irmão Finney, se o senhor por acaso passar pela nossa área, gostaria muito que o senhor pregasse em algumas das escolas dos nossos distritos. Não gostaria muito que o senhor pregasse numa igreja. Mas que o fizesse nas escolas e salões sociais fora das vilas nas escolas do distrito. Gostava que o senhor pregasse por ali”. Estou apenas a mencionar este fato para fazer passar a idéia daquilo que pensavam sobre a minha forma de pregar. Mas como estavam nas trevas sobre este assunto os meus irmãos! Eles queixavam-se que eu abatia aquela dignidade do púlpito; que era uma desgraça e desonra para o meio ministerial; que eu falava às pessoas como um advogado na barra do tribunal; que eu era homem que falava de forma como se faria em colóquios; que eu usava muito a palavra referindo a primeira pessoa, isto é, “Você” em vez de “eles” como todos faziam quando mencionavam o pecado e o estado do pecador; que usava a palavra inferno de um jeito que fazia estremecer todos os que me ouviam; também ainda que insistia de tal modo a que as pessoas se convertessem logo ali, como se não tivessem mais um momento de vida à sua frente; ou também que eu “batia” nas pessoas. Um doutor religioso uma vez disse-me que se sentia mais propenso a chorar do púlpito com as pessoas do que a acusá-las assim tão diretamente como eu o “fazia”. Eu retorqui apenas que discordava por inteiro, pois nada me admirava que ele assim procedesse devido ao tipo de doutrina a que ele se apegou; que se ele cria que as pessoas tinham a tal natureza hereditária e que o pecado não os deixaria nunca, que nada podiam fazer em relação à santidade e assim não seria nada estranho que sugerisse pregar daquele jeito entregue à mediocridade, pois cria que a culpa do pecador era de Deus e que os homens iam para o inferno por culpa de Deus.

Mas depois de haver já estado a pregar durante um considerável tempo, havendo o Senhor dado tanto o Seu aval como a Sua bênção visível e inquestionável ao Labor em Seu Nome, tendo muitos trunfos para apresentar a meu favor, dizia aos outros homens do ministério os quais contendiam comigo sobre a minha forma agressiva de estar por trás do púlpito e queriam a todo o custo que eu antes adotasse os seus métodos, que se me mostrassem o fruto do seu labor, eu de bom grado os aceitaria. Se me conseguissem manifestar que aquele fruto do seu labor excedia o meu, não hesitaria em assumir que estava errado. “Mostrem um caminho mais excelente! Mostrem-me o fruto a exceder ou igualar a bênção de Deus no meu labor; se me mostrarem que os vossos métodos excedem em fruto aos meus, se o vosso jeito de pregar frutifica acima dos meus, adotarei desde logo qualquer um. Mas como podem esperar que abandone os meus métodos e práticas que aprendi do Senhor, quando nenhum de vós pode apontar o erro em mim através do fruto da bênção manifesta, da quantidade de convertidos reais, de qualquer erro em que eu haja tropeçado, qualquer imperfeição a que me haja entregue, no meu pregar, na minha mensagem ou em qualquer outra coisa que me possam apontar distintamente? Como poderão esperar de mim mudar aquilo que frutifica por aquilo que não frutifica? A minha intenção é melhorar e aperfeiçoar tanto quanto puder. Mas não poderei adotar a vossa maneira de trazer o evangelho, pois não trazem fruto e não revelam claramente nem onde está o meu erro nem onde está o vosso fundamento”.

Muitas vezes houve queixumes que eu me repetia muitas vezes quando pregava porque eu agarrava num mesmo pensamento e virava-o de várias maneiras, de cima para baixo e da direita para a esquerda, de baixo para cima para que as coisas ficassem claras e aplicáveis. Bastava assim ao ouvinte estender a sua mão às verdades ali mesmo diante deles, aplicando-as ao seu coração voluntariamente. Ilustrava tudo quanto enchia meu coração, de várias maneiras, com vários parâmetros e histórias da vida real. Assegurei que assim procedia para que fosse entendido e que os tesouros da verdade fossem postos a descoberto com a finalidade de que a mão de quem os desejasse se estendesse de imediato para eles. Também lhes transmiti que não tinha porque abdicar dos meus métodos, visto estes trazerem bastante fruto e sossego de espírito. Eles respondiam que aquilo que eu dizia da maneira que falava, nunca iria interessar uma Congregação culta e cultivada. Mas, todos os fatos acabaram por silenciar todos aqueles que se me oponham. Descobriam e viam que uma enorme classe de advogados, de juízes e outros homens educados se convertiam às centenas. Mas sob seus métodos, nenhuma conversão se dava.

CAPÍTULO VII – APONTAMENTOS ESPECÍFICOS SOBRE EDUCAÇÃO MINISTERIAL

Tudo o que os meus irmãos possam vir a pensar das minhas intenções sobre aquilo que agora vou escrever, que seja em conformidade com a verdade, que é pura benevolência naquilo que toca ao seu maior proveito na seara de Deus. Sempre recebi critica, bondosamente, não dando nada mais a não ser crédito a tudo aquilo que ouvia dizer sobre meu ministério. Agora sou um homem velho, meu labor frutificou, os resultados de toda a minha maneira de trabalhar estão visíveis e são sobejamente conhecidos de todo o público. Agora é que chegou a minha hora de falar a todos livremente sobre o meu ministério. Várias vezes falei que um dia um juiz do Supremo tribunal se aproximou de mim dizendo: “Os ministros do evangelho não fazem uso do bom senso comum para endereçar mensagens às pessoas, pois temem repetir-se. Usam sempre uma linguagem que não é conhecida nem entendida da grande parte do público que os escuta ainda. O alvo das suas mensagens não captam as águas que derramam e distribuem. Escrevem num estilo elaborado demais, que se lê sem repetição, o que nunca é percebido pelo povo em geral. Se os advogados fizessem uso desta forma de expor seus casos na barra do tribunal, todos se arruinariam na defesa de seus casos. Quando eu ainda exercia o meu ofício de advogado, acreditava que tinha de me repetir quantas vezes quantas pessoas estivessem na posição assumida de me ouvir na constituição do jurado ali presente. Descobri que se não o fizesse assim, tudo muito bem ilustrado e repetido, acima de bem elaborado, se não volvesse todos os meus pontos de vista de cima para baixo e de baixo para cima, de todos os ângulos prováveis, de todos as aproximações da lei e evidência aceitáveis, perdia sempre a minha causa na barra do tribunal. O nosso maior objetivo é sempre assegurar as mentes de quem é jurado antes que deixem a sua tribuna para irem decidir sobre a justiça dum caso específico. Se não fizermos uso duma linguagem acertada, que seja realmente compreendida e apreendida por todos mas nunca apenas parcialmente, se nunca evitarmos ilustrações acima da compreensão para provocarmos que se arregalem os olhos a nosso respeito, se o nosso falar se limitar a um oratório mal entendido, se todos os jurados abandonarem assim a sala da barra, nunca ganharemos uma causa em tribunal de justiça. A nossa única intenção é obter um veredicto. Por essa razão, se por acaso um dos jurados sair dali duvidando se está a cumprir a lei de fato, nunca terá liberdade de espírito de decidir a nosso favor. Resumindo, se esperamos alcançar um qualquer veredicto que nos possa vir a ser favorável, logo e ali mesmo, de imediato, antes de abandonarem a sala, temos de ser bem entendidos por eles. Se saírem dali convencidos, se nossos argumentos forem bem explícitos, dificilmente perderemos uma causa desde que justa. Se todos os apontamentos singrarem em suas mentes, se nossos pensamentos forem donos da razão, porque se estragará tudo através da eloqüência? Qual a finalidade de tudo aquilo então, ganhar ou perder uma causa, ser bem visto pelas palavras que elaboramos e mal vistos por havermos perdido a causa em questão, ou bem vistos por que ganhamos a causa pela verdade e justiça em tribunal? Temos de os convencer profundamente, pois sermos detentores da verdade não explicada não basta. Temos de nos sobrepor às suas dúvidas. Temos de vencer e contrapor à sua ignorância das coisas. Teremos de vencer necessariamente o seu interesse contra nosso cliente; se todos os ministros bíblicos fizessem isto tudo, os efeitos de toda a sua pregação seria muito distinta daquilo que vemos hoje. Eles entram nos seus escritórios e escrevem um certo sermão, vão para o seu púlpito lê-lo, com palavras que poucos na audiência entendem. Muitas das suas palavras nem sequer são entendidas pela grande maioria das pessoas, até que vão para casa consultar um dicionário. Eles não manifestam claro interesse em converter e convencer ninguém; apenas em se tornarem eloqüentes diante das pessoas. Não esperam alcançar logo ali um veredicto a favor do Senhor Jesus Cristo, sem mais demoras! Nada disso é o seu objetivo! Querem produzir-se para que pareçam bons oradores de palavreado que ninguém entende. Todo o tipo de ornamento na linguagem os torna fúteis e sem nada para argumentar a favor de Cristo em pessoa!” É claro que aqui não poderei estar a transcrever literalmente todas as palavras daquele juiz, mas a substancia de tudo o que me disse foi esta, integralmente.

Eu nunca tratei nenhum de todos os meus irmãos com a rudeza com que me trataram inúmeras vezes em variadíssimas circunstâncias. Sabia que todos eles estavam ansiosos demais para me fazer aquilo que pensavam ser o bem. Queriam que eu fosse pender para o lado das suas opiniões. Mas Deus me guiou por outros caminhos. Sou diferente em opinião. Poderia ilustrar muitos fatos relevantes consoante a quantidade de ministros que existem por este mundo fora. Quando pregava em Filadélfia, um Dr–, aquele Professor temperamental de Connecticut, veio-me ouvir pregar. Ficou indignado pela maneira como assumi todo o púlpito. Indignou-se porque, dizia ele, não dignificava nem de longe o meu posto. Falou majoritariamente com o Sr. Petterson, um homem que me apoiava na lavoura. Insistiu que nunca mais deveriam entregar-me nenhum púlpito até que houvesse recebido uma melhor educação ministerial; que deveria parar de pregar por uns tempos e ir para Princeton estudar teologia, colhendo ali melhores visões de dignificar o Evangelho.

Que nada deixe a impressão pairar no ar que reconheço que apenas os meus métodos serão perfeitos, pois não será essa a intenção. Eu tenho plena consciência que eu era pouco mais que uma criança em busca de maneiras de aplicar distintamente qualquer verdade com efeitos práticos. Nunca tive qualquer privilégio duma educação superior à deles. Tenho falta das tais qualificações que me tornariam aceitáveis do ponto de vista do mundo ministerial e creio que duma grande parte daqueles que me ouvem. Por essa razão não ambicionava nada mais que entrar e penetrar nos acampamentos dos colonos por onde passava. Até eu mesmo me surpreendi com aqueles resultados de aceitação e conversão das classes mais educadas da população em geral. Isso foi mais do que aquilo que esperava viesse a acontecer. Em tudo aquilo onde eu achasse erro na maneira de levar o evangelho, eu próprio me corrigia incessantemente. Mas quanto mais eu pregava, tanto menos razões me comprovavam que a direção para onde me movimentava estaria errada. Não me congratulo que sejam os meus irmãos ministros quem estejam errados. Quanto mais experiência alcançava, tanto mais o fruto dos resultados eram aparentes e manifestos. Quantas mais classes de pessoas comigo conversavam, mais me convencia que seria assim que se deveria falar com as pessoas, pois por detrás duma pessoa educada existe alguém que é pessoa também. Quantas mais classes de pessoas confrontava com a sua responsabilidade diante de Deus, tanto mais eu acreditava que de fato era Deus quem me guiava em metodologia simplista e simples. Digo que foi Deus quem me guiou porque de fato assim foi. Nunca obtive qualquer destas noções de qualquer homem. Não poucas vezes pude exclamar como Paulo o fazia, que não consultei nem carne nem sangue, mas apenas aquele Espírito de Cristo. Fui ensinado continuadamente pelo Senhor em inúmeras circunstancias peculiares a adotar certa metodologia que era variável apenas nas circunstâncias aplicáveis de Verdade; nunca da Verdade em si. Tenho estas coisas para vos transmitir meus irmãos, pois há muito que necessito esclarecer as mesmas para muitos. Falo disto como um dever de obrigação. Persisto naquela convicção com que comecei, que as escolas teológicas são os locais onde todos os ministros se degradam e onde aprendem muito do que não devem. Os ministros nos dias de hoje têm deveras muitas facilidades em preencher requisitos teóricos de estudo, devido à abundância de informação disponível. Eles são estudados demais, eloqüentes demais, no que toca a estudos históricos, teológicos e Bíblicos, talvez mais do que nunca, mais do que em toda a era evangélica e não só. Contudo, com toda a sua experiência, não sabem como usar os seus conhecimentos em prol da salvação, senão em deterioração através da busca de benefícios advindos da sua eloqüência. Nenhum homem tem como aprender a pregar senão pregando da maneira certa, para salvar. Se salvar, alcançou o seu principal objetivo.

Mas algo que muitos ministros necessitam deveras e urgentemente, é um olho singular, preciso e apto a ver através daquela luz de cima. Se têm preenchido a reputação de nutrir a aparência humana perante as pessoas que os ouvem, tal será o tipo de convertidos que alcançarão. Poucos efeitos práticos se alcançarão em termos de eternidade. Muitos anos atrás, um pastor muito amado que conhecia, adoeceu e deixou a seu púlpito nas mãos enquanto esteve ausente. Este jovem escrevia e relatava sermões esplendorosos do ponto de vista humano. Houve necessidade por parte daquele Pastor de lhe dizer: “Você prega acima das cabeças de toda a gente. Eles nada entendem da sua linguagem, da linguagem das suas muitas ilustrações. Você serve muito dos seus muitos estudos do púlpito; as pessoas não são estudantes, mas sim pecadores perdidos no seu mundo”. Aquele jovem respondeu que era um jovem pastor à procura dum estilo de pregação! “Quero cultivar um certo estilo que me faça ocupar de pleno direito todo o púlpito duma congregação educada. Eu não posso dar-me ao luxo de condescender mediante as pessoas que compõem a sua congregação. Almejo um certo estilo de pregação!” Mantenho um olho sobre toda a carreira ministerial deste jovem desde então. Ainda não morreu, mas seu ministério ainda não foi falado até ao dia de hoje. Não se ouve falar do seu nome conectado com qualquer labor de relevância ministerial sequer. Nenhum avivamento está ligado ao nome deste jovem eloqüente em palavreado falso. Também nunca esperei que um dia viesse a estar ligado a uma qualquer obra abençoada por Deus. Se este jovem não for radicalmente mudado, nada de bom irá produzir em termos de vida real. Posso mencionar muitos ministros por nome que ainda se encontram vivos, homens já velhos como eu o sou, que quando comecei a pregar se envergonhavam de mim por causa do dito celeuma de eu não “dignificar” o púlpito, de usar linguagem “vulgarizada”, de me expressar para com as pessoas com tanta precisão e tão diretamente, não apontando para o ornamento da palavra mas sim para a personalização individual da mesma e por não sustentar a exigência de dignificação do púlpito mas sim a salvação integral de todas as pessoas.

Queridos irmãos eram estes. Sempre me senti estarrecido para com eles, com o maior dos carinhos e nem por um momento me senti indignado ou irado contra eles, contra tudo aquilo que de mim diziam sem fundamento. Logo desde o início estava consciente de que me esperariam oposições e tribulação; mas existiu sempre um golfo, um abismo, entre nossos pontos de vista, os que eram prática corrente entre nós respectivamente. Muito poucas vezes me senti como pertencendo ao mesmo grupo de trabalho, ou que estes me consideravam igual a eles na sua confraternização. Eu nasci na advocacia. Saí da barra do tribunal, diretamente dum escritório para tomar posse do púlpito para o qual Deus me destinou. Assim aprendi a dirigir-me às pessoas como o faria com um Jurado em tribunal judicial.

Era muito comum e vulgar entre ministros do meu tempo e época, naquela fase inicial do ministério que Deus me deu, comentarem que se eu obtive o sucesso no ministério, logo todas as escolas cairiam em má reputação diante de todos; e que nenhum homem se dignaria sustentar com fundos essas mesmas instituições se os ministros tivessem uma formação brilhante fora desses baús doutrinários. Nunca obtive uma formação teológica seminarista, é óbvio, mas também nunca me manifestei contra a existência dessas mesmas escolas, mas sim contra o manifesto desinteresse pela Verdade Vivente nelas existente. Creio mesmo ainda hoje, que toda a sua formação é precária, subdesenvolvida e não fornecem formação adequada a quem tem de salvar gente acima de ser dignificado. Estas escolas não encorajam que se fale às pessoas diretamente, encorajando mesmo que se nunca se fale improvisada e espontaneamente para as grandes populações. Nenhum homem aprende a pregar por meio de estudos sem uma prática usual do uso personalizado e pessoalmente dirigido da Verdade desde qualquer púlpito. Os estudantes deveriam ser encorajados a provar todas as coisas para que retenham o bem, a exercitar seus dons como prenda responsabilizável perante Deus, a dignificar quem os chamou mais do que quem é chamado, a penetrarem onde o pecado impera com a Verdade e com aquela Luz que salva, a fazerem-se entender através de palestras sérias e individualmente direcionadas. Devem por isso aprender a pregar sem rodeios. Mas em vez de tudo isso, todos os estudantes são encorajados a escrever os seus sermões, apresentando-os mesmo para serem avaliados e criticados. Cultiva-se assim um espírito que Deus não inspira, não sustém, não suporta na Palavra. Assim, lêem os sermões que deveriam sair fogosos e direcionáveis dos seus lábios, os quais deveriam, por sua vez, estarem puros. É assim que brincam aos sermões, simulando com a seriedade da verdade, jogando com vidas de muitas pessoas. Estes ditos sermões irão sofrer modificações sob critica, sempre e sem exceção, tornando-se em composições artísticas, em redações sumarias, degenerando assim em mentira sob vigilância continua. As pessoas não respeitarão tal procedimento ambíguo. Ninguém achará que um sermão serve para salvar apenas e tão só. Lêem elegantemente as suas composições que buscam a conivência e o apreço dos homens e mulheres que os ouvem por motivos torpes de ganância estranha. Gratificam tão só o gosto literário e nunca serão edificantes para um mundo em clara decomposição e decadência. Não vai de encontro com as necessidades da alma. Não está claramente direcionada e calculada a promover aquilo que Cristo quis que se fizesse: a salvação espontânea de todo o tipo de homem. Os estudantes são ensinados e sobejamente encorajados a cultivarem antes um estilo fino e requintado de palavras que nada significam tendo significado, a escreverem sobre a verdade como se de arte e desenho se tratasse. Mas no meio de toda essa eloqüência, perde-se invariavelmente toda a fogosidade duma verdade que queima dentro de qualquer coração limpo e sem medo do homem. Em vez dum oratório plenamente persuasivo e eficaz no manejo correto de toda a Verdade, tendo a alma apenas cultivada a nunca se corromper pelo temor e busca carente de aprovação do homem, satisfazem os seus engodos e concupiscências pessoais fazendo uso da própria Bíblia para tais procedimentos tanto malignos como maléficos. Nada encontramos daquele espírito que queima e arde em verdade que nunca se esgota, que voa alto mas nunca se cansa. Nenhuma escola promove tal procedimento real.

Qualquer mente que aprende a refletir verdade, sentir-se-á fora do contexto atual de todos os púlpitos, pois aspiram a salvar almas que nunca podem morrer, estando à beira duma morte sem fim à vista em vez de se tornarem retóricos e ornamentados para o belo ouvir. Sabem de antemão que ninguém aplicará tal tipo de discurso medíocre onde se lida com algo de séria envergadura. Um capitão de bombeiros, quando uma cidade está debaixo de fogo e chamas, não lê as instruções de forma retórica, mas grita com um à-vontade tal que nem sequer se dá ao trabalho de pesquisar posteriormente se gritou, se falou ou discursou bem perante quem teria de o entender perfeitamente e de forma rápida e urgente. De fato, tudo é urgente, o mundo se perde enquanto muitos se tentam enquadrar em oratórios que a ninguém convencem senão o próprio. Em vez de ser entendido, o estudante busca aceitação. Busca seriamente a aceitação dum mundo pecaminoso e irreverente, como se quisesse apenas ser grande e aceite dentro do mesmo pelo mesmo. Aceita a sua critica e rejeita o conselho de Deus, esquecendo que refletem a espuma da sua inimizade natural contra seu Criador.

Mas quão distinto será qualquer discurso, qualquer forma de expressão quando as pessoas são seriamente afetadas pela verdade dos fatos. Toda a sua linguagem em vez de escolhida é direcionada, levando tudo à frente sem nunca buscar a aceitação de ninguém, mas de Deus, assegurando fruto apenas. Os seus pontos de vista nunca são calculados, as suas palavras curtas e diretas. A sua seriedade abrasadoramente real, apelando a que se reaja de imediato. Por essa razão, muitos anos antes, os ignorantes pregadores metodistas e os sérios pregadores batistas obtinham resultados que suplantam qualquer um dos muitos estudados homens da teologia e do muito estudo atual. Os estudiosos querem ser tratados como divindades; os salvadores querem salvar. O desinteressado e urgente apelo dum ser que exorta espontaneamente em conformidade com a gravidade da situação, levará qualquer congregação para além da fronteira subjacente dum discurso limitado pela elegância retórica. Grandes discursos levam os ouvintes ao rubro do louvor ao pregador. Um sermão convincente e seriamente dirigido, tende apenas a promover o louvor de Quem os chamou.

As nossas muitas escolas teológicas seriam de muito maior uso em termos reais, se fossem escolas práticas e praticantes. Um dia ouvi um sermão lido por alguém sobre a importância da pregação extemporânea ou espontânea. Todos os seus pontos de vistas estavam corretos; mas toda a sua praticabilidade comprometiam tudo o que dizia. Pareceu-me haver estudado bem o objeto do seu discurso e nada mais. A parte prática desmentia tudo aquilo que dizia. Estudou todos os aspectos práticos, mas ignorou por completo a sua devida aplicação em corações endurecidos pelo ouvir. Nunca vi um único dos muitos estudantes seus adotar qualquer um dos seus pontos de vista. Disseram-me que este homem concluiu que se tivesse de começar de novo como orador e pregador, aceitaria de bom grado aquilo que agora se tornaram os seus pontos de vistas atuais, isto é, praticando e atuando sobre a verdade prática das coisas. Hoje lamenta que toda a sua formação haja sido e saído deficiente, anulando por inteiro todo o seu discurso que se queria prático. Mesmo na nossa escola em Oberlin, os nossos estudantes são encorajados a escrever todos os seus discursos, embora não por mim como seu professor, permitam-me dizer. Apenas muito poucos me deram ouvidos, obtendo a coragem de se lançarem para fora dum tentador discurso espontâneo, estudado e premeditado. Dizem-lhes e ensinam-lhes vezes sem conta que “não devem ser como o Finney; nem todos podem ser Finneys!”

Nenhum ministro tem por preferência falar retamente com seus ouvintes, pois almeja pouco. Não fazem o melhor que podem e sabem e caem sempre naquela tentação de se porem a discursar e conversar amigavelmente com pessoas que estão sob ameaça de perigo eterno, eminente e contínuo. Eles têm de pregar porque são ministros, é o que sentem. Mas porque serão então levados a não fazer a coisa mais certa possível? Têm de pregar e se tem de escrever para falar, logo irão escrever coisas que dignificam apenas quem escreve. De acordo com esse ponto de vista, presume-se desde logo que eu nuca preguei então! Muitas vezes vêm-me perguntar: “Porque é que o senhor Finney não prega? Porque fala diretamente com as pessoas?” Um certo homem uma vez em Londres, deixou nossas reuniões debaixo duma convicção profunda de pecado. Ele era um céptico. Sua esposa ao vê-lo naquele estado de espírito e excitação, disse-lhe: “Meu querido, foste lá ouvir o Finney a pregar?” Ao que ele respondeu: “Não, eu fui a uma das suas reuniões, pois ele não prega! Ele apenas explica tudo aquilo que os outros todos pregam”. Isto, em forma resumida, foi o que sempre ouvi com muita freqüência. “Mas, qualquer pessoa pode pregar como o senhor o faz! Nada de mais têm os seus sermões! Se sabem falar, podem pregar como você. Mais parece que se encontra na sala de estar da sua casa do que atrás dum púlpito!” Outros ainda diziam mesmo: “Bem isto não é pregação sequer! Mais parece que ele me olhava profundamente nos olhos, pegava-me no colarinho e falava comigo pessoalmente!”

Os ministros por regra denunciam uma recusa em pregar para as pessoas que os ouvem, receiam que os seus ouvintes achem que se estão a dirigir a eles, quando é a eles que se devem dirigir mesmo. De forma geral referem-se a outras pessoas também quando estão a ser ouvidos, falando dos muitos pecados dos outros quando os únicos que interessam são aqueles ali presentes. Em vez de apontar pecados de estranhos à reunião, um bom pregador deve ser capacitado a dizer inequivocamente “vós sois culpados destes e destes pecados; o Senhor exige de vós resposta positiva contra vós mesmos, contra vossos muitos pecados pessoais”. Vezes sem conta pregam sobre o evangelho quando têm de pregar o evangelho. Se pregam o evangelho é sobre pessoas e não a pessoas, sobre pecadores e nunca a pecadores diretamente. Estudam meios de evitar endereçar mensagens diretamente a quem de direito, com amor, pensando e calculando que amor é evitar falar daquilo que destrói todo o amor; querem apenas criar a impressão nos homens de que não se referem a quem os ouve, quando Jesus diz mais precisamente “aquele que tem ouvidos que ouça”! Eu pensei que seria meu dever perseguir outro rumo, outros meios de persuasão, outra conduta. Sempre segui outro caminho. Sempre que preguei disse: “não pensem que me refiro a outras pessoas, mas a si, a vós pessoalmente, a si, a si e a si também!”.

Também me diziam os ministros que as pessoas nunca suportariam tal tipo de discurso por muito tempo e que se iriam embora dali, fartos de me ouvir, num instante. Nunca mais voltariam para me ouvirem. Mas é pura mentira. Tudo depende com que espírito endereçamos as mensagens, se com honestidade e sinceridade palpável, se acusadoramente. Se as pessoas receberem o meu amor palpável, logo que não consigam contradizer nem negar tudo aquilo que lhes transmito, que apenas falo toda, mas toda a seu respeito, a verdade com todo a amor e preocupação santa em relação às suas almas, se estas mensagens são direcionadas para o coração, medidas para o foro pessoal e individual personalizado, poucos se ressentirão disso. Todo o ressentimento logo desvanece. Se alguma vez se sentirem apontados e repreendidos, logo vem a convicção que mereciam e necessitavam daquilo mesmo e que tudo aquilo vem para seu bem. Sempre me dirigi às pessoas quando via que estavam magoados e ofendidos com minhas palavras direcionadas a eles: “agora vós estais ressentidos com tudo aquilo que vos disse e vão sair daqui clamando que nunca mais me irão ouvir; mas virão por certo. As vossas próprias convicções me dão razão, lutam convosco a meu favor; a vossa consciência está do meu lado, assiste-me. Sabem que aquilo que vos digo é verdade, sabem que assim é de fato e que vos digo isto para vosso bem. Por essa razão não permanecerão ofendidos por muito tempo”.

A minha experiência é de que, mesmo a nível de popularidade pessoal, a honestidade no confronto personalizado é sempre a melhor de todos os módulos aplicáveis a favor de quem prega. Se quem prega quer assegurar a confiança, o respeito, a afeição, o amor e o carinho de qualquer pessoa, deve manter-se fiel à pura salvação real e realçada de toda a alma. Todas as pessoas devem ver nitidamente que ele não está fazendo a corte à sua estima, que não busca popularidade, mas que apenas está tentando salvar e assegurar suas almas na verdade. Os homens nunca são tolos demais para se aperceberem destas coisas. Nunca manterão seu sólido respeito por alguém que sobe ao púlpito para ser doce e carinhoso na bajulação e mostrar desprezo incoerente pelo valor real de suas almas. Eles cordial e escondidamente desprezam a sua língua lisonjeira. Que ninguém pense almejar o respeito de outro ser como ele e isto como embaixador de Cristo, se nunca lidar com aquele valor de sua alma dentro dos seus parâmetros reais. As pessoas apenas crêem em tudo aquilo que vêm.

O grande argumento contra a minha maneira direcionada de pregar e atingir pessoalmente com a verdade quem me ouve, era que não devia fornecer tantas diretrizes instrutivas às pessoas e caso escrevesse os meus sermões não explicava tanto assim. Diziam que eu não estudava e que por conseqüência, mesmo que obtivesse algum sucesso como Evangelista e depois de trabalhar durante um certo tempo em algum local do mundo dos perdidos, não haveria pastor para permanecer e assim cuidar do rebanho dentro dos mesmos parâmetros de pregação extemporânea e harmoniosamente personalizada. Tenho no entanto a alegar que são nítidas e claras muitas razões que me levam a crer que quem escreve e relata seus sermões, não dão assim tanta instrução quanta acham que dão. Ninguém se lembra dos seus sermões. Há inúmeras pessoas honestas que logo se referem ao fato que não têm como levar para casa nada daquilo que saiu da boca do púlpito. Centenas de vezes ouvi comentários como: “nós sempre nos recordamos de tudo aquilo que nos transmitiu, Sr. Finney. Lembro-me do texto, dos pormenores, da maneira como nos transmitiu a mensagem, mas sermões lidos do púlpito não consigo registrar e manter em memória viva”.

Sou pastor consagrado Há muitas décadas, desde 1832; nunca recebi qualquer queixume de que não instruía as pessoas. Não creio que as pessoas não estejam tão mal instruídas assim, no que toca à percepção da maneira como as mensagens nos chegam do púlpito, no que toca à percepção e obediência à própria mensagem desde que inspirada. Mas as que estão sob estatuto de sermão lido, aqueles que auferem sermões lisonjeiros, concebidos para agradar homens, permanecem irremediavelmente naquele erro grosseiro de falta de instrução e de pensarem que, como as mensagens não lhes tocam, estarão em perfeita harmonia com toda a verdade. É verdade que alguém pode escrever muitos sermões com pouco estudo. Mas é verdade que ninguém prega extemporaneamente sem um grande e vasto conhecimento de todas as verdades. Nenhum sermão planeado manifesta pensamento profundo e conhecedor a nível pessoal de todas as verdades. Tenho por hábito estudar o evangelho a fundo, mas também a sua melhor aplicação circunstancial, aplicável no momento. Nunca me retiro para estudos aprofundados para poder escrever sermões. Descubro que toda a minha mente se dedica por inteiro na maneira peculiar de salvar alguém logo. Entro na vida de todas as pessoas, descubro quais as suas necessidades reais, quais os cativeiros mesmo quando nem eles próprios reconhecem, quanto mais dizerem quais são! Logo de seguida busco toda a luz possível a partir do Espírito Santo para sair também logo de maneira a aplicar tudo aquilo de forma substancial e personalizada, indo de encontro àquilo que precisam e nem sempre desejam. Penso nisso com muita intensidade, oro muito sobre tudo aquilo durante o dia antes de pregar. Encho minha mente na totalidade com toda a verdade, deixo que esta inunde meu ser por completo para logo descarregar todo o meu sermão pessoal neles, de forma a que nada importante fique por transmitir e personalizar ali mesmo. O grande mal dum sermão escrito, é que, sem exceção levam quem os escreve a pensar pouco mais nele depois de os haver escrito por inteiro. Conseqüentemente, ora pouco sobre tudo aquilo, sobre as necessidades reais das pessoas. Talvez chegue a ler o sermão uma vez mais antes da sua entrega, mas deixa de sentir aquela necessidade de ser poderosamente ungido para que sua boca destile argumentos tais que nada mais que a verdade prevaleça mas apenas dum coração fogoso e cheio de verdade liquida. Alguém assim está sempre acomodado. Apenas tem olhos e boca, não tem espírito nem coração. Basta a tal pessoa inócua ler e descansar no erro de que as pessoas se converterão assim mesmo, no devido tempo. Talvez até seja lido um sermão escrito há anos atrás pela preguiça de se escrever outro. Talvez seja um sermão escrito recentemente, no próprio dia. Mas na hora de entregá-lo, é maná apodrecido, não será comida fresca e saborosa. Não pode ser recebida como uma mensagem ungida, poderosa e aplicável ao coração diretamente, vindo do coração em direção a outro coração. Não é linguagem de coração para coração.

Posso mesmo afirmar muito solenemente que penso haver estudado muito mais por nunca haver escrito e lido sermões. Fui sempre obrigado a pregar sobre aqueles assuntos que eram familiares aos meus pensamentos, enchendo minha mente com os mesmos e assim partir para os tornar conhecidos da melhor forma possível aonde deveria pregar. Muitas vezes fazia apenas um rascunho rápido dos assuntos dos quais ia tratar da maneira mais curta possível, numa linguagem menos acessível. Apenas punha em ordem os assuntos e os pontos que queria focar, trazia-os solenemente com efeitos práticos. Havia apenas uma certa ordem de palavras que seguia rigidamente, propostas e petições que pretendia fazer. Em resumo, apenas umas linhas gerais muito pequenas. Logo de seguida tinha certos pontos de conclusão de todo o sermão.

Mas se os ministros não tiverem aquela intenção de se dirigir diretamente a quem os ouve, o melhor que sabem, mantendo seus corações em aquecimento continuo antes da dura prova de fogo, cheios de verdade e fogo, do Espírito Santo, nunca conseguirão tornar-se pregadores espontâneos e verdadeiros. Creio mesmo que uma simples meia hora de palavra de coração para coração com as maiores das seriedades, uma vez por semana, produzem mais em seus efeitos que muitos sermões escritos e lidos todos os dias, desde que em meia hora se possa falar em paladar franco e honesto, que seja direcionado perturbadoramente, seja lógico, pronto e instrutivo, provoque à prontidão. Qualquer pessoa mais facilmente se recordará desse sermão de meia hora do que muitos estudos aprofundados com a intenção de promover coisas bem elaboradas mas que muito pouco falam logo e ali. Qualquer sermão muito ponderado, perde toda a sua espontaneidade natural, privando-se assim do pleno condicionalismo a que Deus opere em quem ouve por quem fala.

Já mencionei a metodologia usada em meu labor dos últimos anos, dos anos mais recentes. Mas quando comecei a pregar, principalmente nos meus primeiros doze anos de trabalho intensivo, nem uma palavra sequer escrevia. Era sempre levado por caminhos onde havia de pregar quase sem preparação prévia, com exceção de quando me punha em oração antes de qualquer sermão. Vezes sem conta subia ao púlpito mesmo sem saber qual o assunto que iria usar para converter ou as palavras que iria usar. Dependia inteiramente do Espírito Santo para tal fim, pois Ele sempre me sugeria tanto o texto como abriria todo aquele assunto à minha mente. Posso garantir que em nenhuma ocasião preguei com tanto poder e lógica fluida, como nessas ocasiões onde laborava de manhã à noite continuamente, com cerca de dois ou mais sermões diários. Eu mesmo me surpreendia com aquelas revelações. Parecia que podia ver através de mais que intuição bastante nítida e clara, tudo o que havia de dizer, quando havia de dizer, como havia de aplicar e expressar. Todas as palavras, ilustrações vinham-me tão rápido quanto as podia entregar a quem se destinava e não a outros. Sempre que fazia rascunhos sobre aquilo que pregava, fazia-os depois de pregar e quase nunca antes. Assim preservava as linhas gerais daqueles assuntos que entregava naqueles momentos de clara nitidez. Descobri que quando o Espírito Santo descia com Sua bênção oportuna ou serôdia, fornecendo-me uma clara alusão dos assuntos a tratar, nunca tinha como não entregá-los fielmente, mas também nunca conseguia mantê-los em memória viva. Era por essa razão que escrevia os tópicos depois de qualquer sermão. Mas mesmo depois desses tempos nunca fui capaz de fazer uso de sermões elaborados com antecedência. Também nunca consegui fazer qualquer uso de tópicos anteriores e antigos em ocasiões futuras sem os remodelar e adaptar para que tivessem uma lufada de ar fresco neles mesmos, por interferência do próprio Espírito Santo. Por norma recebo os meus sermões nos meus joelhos, em oração, sob uma impressionante revelação dos assuntos em questão, muitas vezes de forma tal que me faziam estremecer profundamente com temor e tremor. Apenas com grande dificuldade tinha como escrever tais assuntos que me eram assim entregues oportunamente. Passava como fogo por mim, como uma seta pontiaguda atravessando-me corpo e alma. Apenas fazia um papel com os ditos tópicos para que mais tarde os pudesse lembrar nitidamente durante a entrega dos mesmos. Eram sermões de efeitos devastadores sobre quem os ouvia e presenciava.

Muitos dos sermões que preguei em Oberlin, recebi-os assim que tocava o sinete para a hora dos cultos. Eu sentia-me na obrigação de ir descarregá-los sobre quem me ouvia de coração cheio, sem que fizesse mais que um simples rascunho daquilo que ia dizer e mesmo assim nunca tal rascunho cobria tudo o que transmitia, nem pela metade. Não digo isto ensoberbecido, mas porque são fatos e ocorrências genuínas, para dar toda a glória a Deus por nada disto haver sido talento meu; de algum modo! Que ninguém pense que qualquer um dos sermões que são tidos como poderosos, alguma vez foram produto da minha mente e pensar, pois nunca foi o caso. Nunca foram de minha autoria, eram-me sempre entregues a tempo e horas pelo Espírito de Deus. E que nenhum homem clame contra mim, dizendo que penso ser mais inspirado que os outros ministros, ou mais merecedor que eles. Eu creio de coração que todo e qualquer ministro devidamente chamado por Cristo para pregar o evangelho deve e tem de estar num estado de inspiração genuína continuamente, para que seja envolto pelo próprio poder de Deus, senão nunca se poderá considerar um servo d’Ele. Que mais quis Cristo dizer quando disse “Ide, fazei discípulos de todas as nações. Eis que estou convosco até ao fim dos tempos”? Que mais quis Ele dizer quando disse, falando do Espírito Santo, “Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras”? João 16:13. Que mais quereria Ele nos transmitir com “Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva. Ora, isto disse Ele a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado”? João 7:38,39. Todos ministros devem e podem ser ungidos, tão cheios do Espírito que todos aqueles que os ouvem, saiam tão impressionados sob convicção profunda que é Deus deveras quem está neles e com eles.

CAPÍTULO VIII – AVIVAMENTO EM ANTWERP

Vou agora fazer um pequeno relato dos acontecimentos resultantes dos meus labores em Antwerp, uma vila a norte de Evans’Mills. Cheguei lá pela primeira vez em Abril e descobri que não havia lá nenhum culto religioso. Toda a terra da vila pertencia a um senhor P–, um homem rico de Ogdenburgh. Para fortalecimento da própria vila, este homem mandou construir ali uma casa de reuniões em tijolo. Mas ninguém entre a população tinha qualquer intenção de celebrar qualquer encontro religioso e por conseqüência, a sala de reuniões encontrava-se encerrada e as chaves na posse dum Sr. C–, o qual mantinha o hotel local.

Logo soube que havia ali uma igreja Presbiteriana que tinha alguns membros. Tentaram que anos antes houvesse cultos ao Domingo. Mas o presbítero que asseguraria as reuniões morava a mais de cinco milhas dali e para entrar na vila era obrigatório passar por um acampamento Universalista. Os Universalistas interromperam as reuniões de culto em toda a vila porque não permitiam que Deacon R–, assim se chamava, passasse pelo acampamento para efetuar qualquer reunião. Arrancavam as rodas da sua carroça e acabaram mesmo por conseguir que nunca mais pudesse atender aos seus compromissos de Domingo. E assim, todas as reuniões de culto dentro da vila haviam sido preteridas e extinguidas.

Encontrei por ali uma senhora C–, dona de terras, mas uma piedosa mulher. Havia também duas outras senhoras piedosas, A Sra. H–, esposa dum negociante local e a Sra. R–, a esposa dum médico. Penso que foi numa sexta-feira a primeira vez que lá cheguei. Convoquei aquelas mulheres piedosas e perguntei-lhes se queriam ter uma reunião. Disseram logo que sim, mas não sabiam se iria ser possível. A Sra. H– concordou desde logo oferecer a sua sala para acomodar a reunião caso eu conseguisse que alguém atendesse. Saí a endereçar convites por dentro da vila e assegurei a presença de treze pessoas. Preguei para eles e disse-lhes que caso conseguisse assegurar as chaves da sala de reuniões poderia ali pregar no Domingo. Obtive o pleno consentimento de quem de direito e circulou a notícia que haveria ali um culto no dia seguinte de manhã.

Andando pela vila observei um vasto leque de coisas profanas. Pensei nunca ter ouvido tanto palavrão e tanto profano a falar duma só vez! Parecia-me mais que todos ali estariam sempre a praguejar nos relvados onde brincavam e jogavam, pela vila toda e em todos os estabelecimentos onde entrei com a expressa finalidade de me familiarizar com as realidades locais. Parecia que se praguejavam mutuamente como se quisessem amaldiçoar uns aos outros. Senti como se estivesse mesmo na fronteira do inferno. Recordo-me que havia em mim um espírito benevolente avivado, mas que ao passar por dentro daquela vila naquele dia, mais parecia que passava por meio de veneno mortífero! Um gênero de terror apoderou-se de todo o meu ser, como se estivesse à porta do inferno!

Entreguei-me à oração no Sábado e insisti com a minha petição até que veio resposta: “Não temas, mas fala e não te cales; porque eu estou contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade”. Estas palavras desde logo trouxeram alívio ao meu temer. Descobri que, por ali, os crentes locais temiam que algo de grave se viesse a dar em breve, caso as reuniões se efetivassem na vila de novo. Mesmo tendo passado muito tempo em profunda suplica e oração, também usei aquele Sábado para passar pela vila e deu para perceber que aquela marcação duma reunião no dia seguinte provocou um certo alvoroço e uma certa ansiedade mesmo para que chegasse a hora marcada. No Domingo de manhã deixei os meus aposentos e dirigi-me para o bosque onde podia dar largas à minha voz em oração, a uma certa distância da vila. Permaneci ali algum tempo em oração diante de Deus. Mas não obtinha qualquer alívio espiritual. Voltei lá uma segunda vez, mas em vez de me sentir aliviado, a carga aumentou sobre mim. Voltei lá uma terceira vez e assim chegou a resposta. Logo descobri que havia chegado a hora da reunião e dirigi-me desde logo para a sala na escola. Estava lotada até ao máximo das suas capacidades reais de acomodação. Tirei a minha pequena Bíblia do bolso e li este versículo: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. João 3:16. Não consigo recordar muito daquilo que disse. Mas a minha mente focalizou o tratamento que eles davam a Deus em troca daquele amor. O assunto afetou-me sobremaneira. Derramei tanto o meu sermão com o meu coração e lágrimas perante eles todos. Vi no dia anterior uns quantos homens na maior das práticas profanas a que eu jamais assistira, os quais estavam ali presentes de frente para mim. Apontei-lhes o dedo diretamente, dizendo diante das pessoas o que haviam feito. Mencionei como eles até usavam o nome de Deus para se amaldiçoarem uns aos outros. Dei rédeas a todo o meu coração, a tudo aquilo que sentia dentro de mim em relação à maneira como Deus era tratado por ali. Disse-lhes que mais me parecia um antro de blasfêmia do que uma vila, que me parecia haver entrado nas portas do inferno mesmo! Todos sabiam que aquilo que lhes dizia era pura verdade e todos sucumbiram perante a minha sincera demonstração e manifestação pública de todos os seus muitos pecados. Nenhum deles se ofendeu com aquelas observações, mas as pessoas todas ali começaram a chorar tanto quanto eu próprio o fazia! Penso mesmo que não havia ali ninguém com o seu rosto seco.

O Sr. C–, havia-se recusado a abrir a sala de culto, mas assim que aquela pregação terminou, ofereceu-se para abri-la pela tarde. As pessoas dispersaram e levaram a notícia do culto da tarde em todas as direções e à noite a sala de reuniões estava tão repleta quanto estaria a sala da escola pela manhã. Toda a vila estava presente. E o Senhor proporcionou-me que desancasse sobre eles todo o meu espírito de forma admirável. Toda a minha forma de lhes expor a verdade era uma total novidade para todos. De fato, parecia a mim mesmo que eu descarregava sobre eles tanto amor líquido como granizo feroz e selvagem, tudo misturado, isto é, derramava granizo feroz em amor sobre suas cabeças. Parecia que tinha um amor tal por Deus em mim posto em confronto direto com o tratamento abusivo e corrupto com que pagavam a Deus. Este estado de coisas aguçou toda a minha maneira de pregar, toda minha mente se abriu, mas em intensa agonia. Sentia uma grande necessidade de os repreender abertamente de todo o meu coração, mas ao mesmo tempo, com compaixão tal que eles nunca me poderiam interpretar mal sequer. Nunca ouvi falar de alguém posteriormente ou acusar de severidade, havendo sido muito, mas muito severo com eles, talvez como nunca em toda a minha vida.

Os labores deste dia conseguiram uma impressionante convicção de pecado sobre todos naquela vila. A partir daquele dia, apontasse eu uma singular reunião a qualquer hora em qualquer lugar, as pessoas faziam fila para me darem ouvidos. Logo de imediato toda aquela obra começou a surtir efeitos reais em vidas pecaminosas com grande poder. Pregava duas vezes no Domingo de manhã nas instalações de culto, fazia uma interrupção à qual me dedicava à oração e às cinco da tarde, pregava nas instalações da escola. No terceiro Domingo de pregações, um certo velhinho veio ter comigo quando subia para o púlpito e perguntou-me se não podia pregar na sua vila também, a umas três milhas dali. Disse-me que nunca haviam tido qualquer reunião por lá. Pediu-me para ir lá o mais depressa que podia. Marquei para lá ir no dia a seguir, na segunda-feira, às cinco da tarde. Era um dia quente. Deixei o meu cavalo na vila e pensei andar até lá para que não tivesse qualquer problema em chamar as pessoas para a pregação enquanto passava por elas. Contudo, antes de chegar ao lugar, havendo trabalhado imensamente durante o Domingo, estava completamente exausto e sentei-me por um pouco à beira do caminho, pois não podia proceder por exaustão. Comecei a censurar-me por não haver trazido meu cavalo.

Cheguei lá e a sala da escola estava lotada. Consegui arranjar um lugarzinho perto da porta, a partir de onde podia pregar. Li um Hino, pois não posso chamar cantar aquilo que ouvi. Parecia que nunca haviam tido qualquer música sagrada por ali. Mesmo assim tentaram cantar. Mas parecia que cada um cantava com a sua nota, cada qual como queria. Meu ouvir havia sido cultivado por música sagrada, a qual eu ensinava. Aquela discórdia musical pareceu-me um horror, perturbou-me de tal maneira inicialmente que pensei em sair dali de imediato! Coloquei ambas as minhas mãos sobre meus ouvidos em sinal de desagrado e tapei-os com toda a força. Mas aquelas notas horríveis não deixavam de me atormentar, entrando não sei por onde! Agüentei até que houvessem terminado. Assim que terminaram, caí de joelhos diante deles quase num estado de desespero total e comecei a orar. Os céus abriram-se e o Senhor derramou sobre mim um espírito de oração oportuno e pude derramar todo o meu pesar perante Ele.

Não estava preparado com nenhum texto sobre o qual iria pregar. Esperei para ver o que aconteceria à congregação. Mas assim que acabei de orar, levantei-me e disse: “Tira-os para fora deste lugar; porque nós vamos destruir este lugar, porquanto o seu clamor se tem avolumado diante do Senhor”, Gen 19:12,13. Disse-lhes que não iria precisar onde este texto se podia achar, mas indiquei-lhes mais ou menos onde. Logo comecei a falar sobre ele, contando a História de Sodoma e Gomorra. Expliquei-lhes que havia um homem de nome Abraão e quem era; também lhes falei de seu sobrinho Ló; as relações entre eles, como se separaram por causa de desentendimentos entre os seus pastores; como Abraão escolheu a parte pouco fértil da terra que habitavam e como Ló se foi instalar no vale de Sodoma. Falei-lhes então de como Sodoma era vil e perversa e quais os atos abomináveis que ali se praticavam. Contei-lhes como o Senhor dissera a Abraão que ia destruir aquele vale por completo e como Abraão intercedeu para que caso Deus achasse por ali uns quantos justos os poupasse; e que Deus prometeu que pouparia a cidade caso fossem achados; contei como Abraão foi reduzindo o numero de justos que se havia de achar como condicionalismo para ser poupada a cidade perversa e foi reduzindo até às dez pessoas, ao que Deus respondeu que caso achasse lá dez pessoas justas, logo pouparia toda aquela cidade. Abraão parou por ali, confiando que haveria por lá dez justos. Mas Deus encontrou por lá um justo apenas, Ló, sobrinho de Abraão. Logo terminei com as palavras: “Então disseram os homens a Ló: Tens mais alguém aqui? Teu genro, e teus filhos, e tuas filhas, e todos quantos tens na cidade, tira-os para fora deste lugar; porque nós vamos destruir este lugar, porquanto o seu clamor se tem avolumado diante do Senhor”

Enquanto relatava esta história, observei que as pessoas começaram a refletir uma ira estranha nas suas faces. Havia lá homens de manga curta, olhando uns para os outros e para mim como se estivessem preparados para se acometerem a mim, agredindo-me logo ali. Eu via aquela aparência irada deles, mas não conseguia decifrar a razão, pois estava a relatar uma mera passagem da Bíblia e não via porque motivo estariam eles tão indignados, nem o que havia dito que os ofendera assim tanto. A sua ira subia de tom de palavra em palavra, mas resolvi continuar a narração como se nada de anormal estivesse ocorrendo. No entanto, assim que terminei, enfrentei-os dizendo que assumia que nunca haviam tido qualquer serviço religioso por ali e que me achava no direito de assumir que eram ímpios diante de Deus e conseqüentemente deveriam arrepender-se logo e dar glória a Deus. Falei com muita veemência e pressionei aquela questão com toda a força do meu peito e coração. Falei-lhes durante algum tempo, mas quinze minutos depois de estar a falar sobre a sua responsabilidade pessoal diante de Deus, constrangendo-os ao arrependimento, de repente uma seriedade abismal apoderou-se daqueles rostos antes irados, uma solenidade fora do vulgar. Logo de seguida todas as pessoas começaram a cair nos seus joelhos, em todas as direções como que caindo dos seus assentos, clamando por misericórdia a Deus. Caso tivesse uma espada em minha mão, nada de igual havia de conseguir com efeitos parecidos e tão devastadores. Parecia que toda a congregação estava ou de joelhos, ou prostrados com o nariz no chão gritando por misericórdia logo ali. Numa questão de dois minutos toda aquela congregação estaria de joelhos a clamar. Cada um orava por si próprio, aqueles que tinham como falar.

É obvio que tive de parar com a pregação, já que ninguém me prestava mais atenção. Eu olhei e vi aquele velhinho que me endereçou o convite para pregar ali, sentado a meio da sala, olhando à sua volta muito perplexo, muito atônito com tudo aquilo. Levantei a minha voz muito alto, quase gritando, para que me ouvisse e perguntei-lhe se sabia orar. Ele de imediato caiu de joelhos e implorou por aquelas almas em agonia, entre a vida eterna e a morte. A sua voz era forte e todo o seu coração estava sendo derramado diante do Criador do mundo. Ninguém o ouvia, ninguém ali prestava qualquer atenção às suas palavras. Logo comecei a falar com algumas pessoas que clamavam assustadamente a Deus, para que me ouvissem e prestassem atenção. Eu dizia: “Olhem, ainda não estão no inferno! Deixem-me assinalar-vos o caminho para Cristo!” Por alguns instantes eu queria trazer-lhes o evangelho, mas não conseguia a sua atenção sequer. Todo o meu coração palpitava e exultava de tal modo que me controlei com muito custo para não gritar de alegria por toda aquela visão celestial, dando glória a Deus. Assim que tive como controlar meus sentimentos, debrucei-me diante dum jovem que estava ali perto e muito atarefado a orar por ele mesmo. Pus minha mão suavemente em seu ombro, atraindo a sua atenção e pregando-lhe Jesus ao ouvido em sussurro. Assim que captei a flecti a sua atenção para a cruz de Cristo, ele creu, acalmou-se, aquietando-se estranhamente pensativo durante um minuto ou dois, para logo de seguida irromper numa oração dedicada por todos aqueles aflitos, ali mesmo. Fiz o mesmo com um e outro com os mesmos resultados. Depois mais um e mais outro até que chegou a hora em que eu haveria de sair dali para cumprir com um outro compromisso na vila. Disse-lhes que tinha outra reunião para administrar e pedi ao velhinho que tomasse conta daquela ali. Assim fez. Mas havia tanto interesse em serem salvos, tantas almas feridas profundamente pela espada de Deus, que não havia maneira de desmanchar a reunião mandando aquelas pessoas para casa. Permaneceram ali toda aquela noite até ao dia seguinte. Pela manhã, ninguém queria sair dali e foram levados para um outro local no acampamento, para que a sala da escola ficasse vaga, pois era segunda-feira e as aulas haviam de dar-se. À tarde mandaram chamar-me porque ainda ninguém conseguira dissolver aquela assembléia de gente profundamente aturdida em convicção de pecado.

Quando desci pela segunda vez, recebi uma explicação porque as pessoas se haviam irado tanto contra mim. o lugar chamava-se Sodoma, algo que eu desconhecia por inteiro. Também que lá havia apenas um homem piedoso, aquele velhinho que me convidou e que seu nome era Ló. As pessoas estariam a pensar que toda aquela história era propositada, que eu havia escolhido aquele tema para atingi-los diretamente, porque eram de fato ímpios e havia ali apenas um único homem justo. Chamavam o acampamento de Sodoma precisamente devido ao fato de serem muito maus. Isto foi apenas uma grande coincidência, meramente acidental.

Durante anos nunca mais visitei aquele lugar. Uns poucos anos depois desta ocorrência genuína, estando a trabalhar na Obra de Deus em Syracuse, no estado de Nova York, dois senhores chamaram-me à parte um dia. Um deles teria cerca de cinqüenta anos de idade. O outro jovem que estava com ele apresentou-me o senhor mais velho como sendo o Diácono W–, que era um ancião da sua igreja. Chamou-me para me dar cem dólares para o Colégio de Oberlin. O senhor mais velho, por sua vez, apresentou o mais jovem, dizendo: “este é o Rev. Mr.Cross. Ele converteu-se sob seu ministério”. Logo o Sr. Cross me dirigiu a palavra dizendo: “recorda-se haver pregado em Antwerp há algum tempo atrás, na escola, numa tarde e num lugar de nome Sodoma onde as pessoas caíram a suplicar por misericórdia?” Respondi que me lembrava perfeitamente, pois seria impossível esquecer algo assim enquanto a memória me fosse um dom. Disse: “Bem, eu na altura era apenas um jovem ali. Converti-me nessa reunião”. Ele, durante anos a fio, depois disso, foi um ministro de grande sucesso. Vários dos seus filhos espirituais obtiveram a sua educação aqui em Oberlin. Olhando para aqueles acontecimentos, havendo aquele avivamento sendo tão repentino, foi de um tal poder que todos os seus convertidos se mantiveram firmes e obviamente sãos e aquela obra permaneceu firme e genuína. Nunca ouvi falar de distúrbios por ali, nem de facções, nem de emotividade.

Falei dos Universalistas que presenteavam o Diácono R com oposição para que não conseguisse trazer as mensagens aos domingos naquela zona da vila de Antwerp, tirando-lhe as rodas da carroça. Mas assim que o avivamento estava na sua maior força, o Diácono R desejava que eu fosse pregar lá. Marquei a reunião para uma certa tarde, no salão social da escola. Assim que lá cheguei, o dito salão estava repleto de gente com o Diácono R perto duma das janelas, encostado num dos pilares com a Bíblia e um hinário na sua mão. Sentei-me a seu lado enquanto ele punha a congregação a cantar, o que fizeram dum jeito muito peculiar. Ali entrei em oração imediata obtendo mesmo graça e acesso ao trono de Deus. Levantei-me e peguei no texto que diz “Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?” Mt. 23:33. Reparei como o Diácono R ficou perturbado. Logo se levantou e dirigiu-se para a porta que estava aberta. Havia uns rapazes perto da porta e eu pensei que ele se dirigia para lá para que os fizesse calar. Mais tarde vim a saber que ele estava com medo e que por essa razão foi para mais perto da porta, para que, caso se atirassem a mim ele estivesse perto da porta de saída para escapar para a rua. Ele concluiu, a partir do texto, que eu iria ser bastante franco com todos ali. Ele já estava nervoso por causa de toda aquela oposição contra a obra que ele tentara promover por ali e queria estar apenas longe de ser apanhado também. Procedi de acordo com aquilo que estava em meu coração e descarreguei sobre eles com todo o poder. Quando terminei, havia transtornado todas aquelas mesas de doutrinas Universalistas, creio mesmo. O que se passou foi uma cena em tudo idêntica à de Sodoma, à qual fiz referencia. Assim aquele avivamento expandiu-se poderosamente e perpetrou-se por toda aquela região e todas as cidades circunvizinhas partilharam da sua bênção também. A Obra foi de valor incalculável ali em Antwerp.

Mas quando foi de receber os membros na igreja, depois de examinar uns quantos, descobri que muitos deles tinham uma educação Baptista, jovens que haviam crescido em famílias Batistas. Perguntei-lhes se preferiam o batismo por imersão. Logo disseram que para eles lhes seria indiferente, mas que seus pais prefeririam que fossem Batizados por imersão. Disse-lhes que eu também não tinha qualquer objeção a fazer contra ou a favor e que por isso, se tal os agradasse tanto a eles como a seus amigos, não me importaria de virar Baptista por eles. Chegou o Domingo e organizei tudo para batizá-los por imersão durante o intervalo dos cultos. Fui para um riacho ali perto e batizei perto duma dúzia deles, ou mais. Quando chegou a hora do culto da noite, fomos para o salão. Ali batizei muitos tomando água em minha mão e aplicando-a à sua testa. Assim, as ordenanças de ambas igrejas havia sido rigorosamente cumpridas e tanto uma maneira como outra haviam sido fortemente abençoadas por Deus. Deus manifestou a todos ali presentes pela bênção manifesta que ambos os módulos de caprichos doutrinários eram aceitáveis para Ele desde que arrependidos de fato.

Entre os amigos de muitos convertidos havia também muitos Metodistas. No Sábado ouvi dizer que eles diziam que eu era Presbiteriano e que eu cria naquela doutrina de eleição e de predestinação e que ainda não a havia pregado ali por enquanto. Diziam que eu não me atreveria a pregar sobre aquilo por receio de que os recém convertidos não se unissem à igreja. Isto fez com que eu decidisse pregar sobre o assunto no Domingo antecedente à sua integração. Peguei num texto e expliquei o que a eleição não seria; depois o que seria a eleição; em terceiro lugar que era uma doutrina Bíblica; em quarto lugar, que era uma doutrina de raciocínio; em quinto lugar, que negando o poder de Deus em eleger, seria negar algumas das características de Deus; em sexto lugar, que isso nunca se opunha à plena salvação dos não eleitos; em sétimo lugar, que todos os homens podem vir a ser salvos desde que o queiram ser; e por último, que apenas havia essa esperança para que as pessoas algum dia viessem a ser salvas, já que nunca queriam. Concluí depois com alguns apontamentos como de costume.

O Senhor havia tornado todo aquele assunto perfeitamente claro à minha mente durante aquele tempo ali e tão claro para quem me ouvia, que até os Metodistas cederam perante aquela argumentação plausível. Nunca mais se ouviu palavra de dissensão sobre aquele assunto de ali em diante. Enquanto pregava, reparei numa senhora Metodista que eu já tivera oportunidade de vir a conhecer anteriormente e a quem eu tinha como um exemplo de crente. Ela estava chorando intensamente. Dirigi-me à senhora e disse: “Querida irmã, espero não haver magoado os seus sentimentos”. Ela respondeu-me e disse-me: “Não, não me magoou, não, Sr. Finney. Mas eu cometi um pecado. Ontem à noite eu e meu marido havíamos discutido esta doutrina, sendo ele um homem impenitente ainda. Eu mantinha que a doutrina de eleição era falsa o melhor que sabia, chegando mesmo a resistir-lhe afirmando que não existia. E agora o senhor convenceu-me que ela é verdadeira. Mas em vez de culpabilizar o meu marido ou alguém mais, reconheço que essa será a única maneira de tornar possível a sua salvação”. Não houve mais objeções sobre toda aquela questão de doutrinas.

Havia muitas conversões peculiares e interessantes neste local. Houve mesmo relatos de recuperação de insanidade mental instantânea neste avivamento. Quando fui para o local de culto num Domingo, vi várias senhoras em amotinação à volta duma senhora vestida de negro que me parecia estar em grande agonia interior. Em parte, estariam a segurá-la, para que não saísse. Entrei e uma daquelas senhoras logo tratou de me dizer que ela era louca e que antes havia sido Metodista, mas supunha que havia decaído e saído da graça. Isso a levara ao desespero e por fim à insanidade mental. O marido era um homem temperamental e vivia a uma certa distância da vila. Fora ele que a trouxera e deixara ali e depois encaminhou-se para uma taberna ali próximo. Falei-lhe, mas ela apenas respondia que tinha de se ir embora dali. Dizia que não suportava ouvir uma oração, nem pregação sobre a palavra, cânticos ou algo do gênero; que havia desperdiçado a sua porção, que o inferno seria a sua herança predileta e que não suportava ouvir mencionar o céu. Pedi às senhoras que continuassem a segurá-la, que não a deixassem sair e que a levassem para se sentar numa cadeira sem perturbar a reunião caso lhes fosse possível. Subi para o púlpito e li um hino. Logo se começou a cantar e a senhora de negro começou a estrebuchar para sair dali. Mas as outras senhoras obstruíram-lhe a passagem e com persistência preveniram que saísse. Uns momentos depois ela acabou por se acalmar, mas parecia estar a evitar ouvir ou a cantar o hino. Logo orei. Durante algum tempo mais, ouvia como ela lutava para sair dali; mas antes de terminar aquela oração, já ela se havia acalmado e a congregação sossegou. O Senhor havia-me concedido um profundo espírito de oração e um certo texto de onde pregar, pois não havia ainda decidido sobre o que pregar. Peguei no texto em Hebreus: “Cheguemo-nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno”, Hb. 4:16.

Todo o meu objetivo seria provocar alguma fé na senhora em questão e também em nós por ela. Quando comecei a orar, ela esforçou-se muito para sair dali logo. Mas como aquelas senhoras lhe barraram todas as saídas, ela encontrava-se calma e sossegada a partir dali, mas com a sua cabeça baixa como que recusando-se a ouvir qualquer palavra mais. Mas prossegui e ela começou gradualmente a levantar a sua cabeça, olhando para mim e fitando-me intensamente por baixo do seu chapéu, muito séria. Impulsionei e exortei a quem me ouvia para que fossem audazes na sua fé e que se lançassem para os braços do Senhor e se entregassem a Ele com o maior dos à-vontades e confiança, devido ao sacrifício do nosso Sumo-Sacerdote Eleito. Logo ali ela deu um grito estridente e toda a congregação se pasmou. Ela quase se atirou do seu assento, mantinha sua cabeça baixa e tremia efusivamente. As outras senhoras continuavam de volta dela, parcialmente segurando-a, parcialmente olhando com compaixão intercessora para com ela. Persisti e passado um pouco mais já ela me escutava de novo e de repente sentou-se ereta na cadeira com todo o seu semblante maravilhosamente transformado, indicando um claro triunfo pela paz de espírito lúcido que refletia, o qual fazia brilhar seu rosto. Poucas vezes mais vi um tal brilho santo num rosto, como ali vi naquele dia. A alegria da senhora era tanta que dificilmente se conteve até que houvesse terminado aquela reunião. Logo se levantou e disse a todos que havia sido liberta do seu cativeiro pelo Senhor. Ela começou a magnificar Deus com um admirável triunfo estampado no seu rosto, pulando de alegria. Dois anos depois encontrei-a de novo e expressava a mesma alegria e paz de espírito contínuo e eterno.

Um outro caso de recuperação de insanidade mental foi um outro duma certa senhora que também estava em total desespero e que entrara num estado de insanidade mental estranho. Eu não estava presente quando a sua saúde foi restaurada. Mas relataram-me que foi quase instantânea também através dum poderoso batismo do Espírito Santo. Por norma, os facciosos acusam os avivamentos de tornarem as pessoas tresloucadas. Mas os fatos são que, os homens é que são naturalmente e particularmente loucos no que toca o assunto da religião. Os avivamentos restauram-nos.

Durante este avivamento, ouviu-se falar duma grande oposição a ele a partir de Gouverneur, uma cidadela doze milhas a norte dali. Ouvimos dizer que os ímpios ameaçavam descerem a Antwerp para nos espancarem e desancarem, com a finalidade de interromper todas as nossas reuniões. É óbvio que não prestamos qualquer atenção àquelas ameaças e estou aqui a mencionar isto apenas porque pretendo mais adiante, descrever um poderoso avivamento por ali também. Havendo recebido todos os recém convertidos na comunhão da igreja e havendo laborado tanto em Antwerp como em Evans’Mills até ao Outono do ano seguinte, mandei que se buscasse um jovem Pastor de nome Denning, a quem entreguei a guarita daquelas almas. Foi assim que parei o meu labor ali em Antwerp.

CAPÍTULO IX – RETORNO A EVANS’ MILLS

Por esta altura estava sendo pressionado a continuar em Evans’ Mills e acabei por ceder e dizer-lhes que permaneceria por ali, no mínimo por mais um ano. Estava noivo e prestes a casar e por essa razão desloquei-me a Whitestown, Oneida county em Outubro de 1824. Minha esposa fez preparações para uma casa; um ou dois dias depois de nosso casamento tive de partir para Evans’ Mills e assim providenciar algum transporte para as coisas que minha esposa juntara. Disse-lhe para me esperar dentro duma semana.

O Outono antecedente a este, preguei por algumas vezes, à noite, num local chamado Perch River, a cerca de doze milhas a noroeste de Evans’ Mills. Passei um Domingo em Evans’ Mills e minha intenção lógica era voltar à minha esposa pelo meio da semana. Mas chegou alguém de Perch River com uma mensagem nesse Domingo, afirmando que um avivamento estaria lentamente em curso desde que pregara lá. Logo suplicou-me que lá fosse pregar de novo, no mínimo uma vez mais. Apontei para terça-feira à noite. Mas por fim desisti de voltar à minha esposa durante essa semana e continuei pregando por ali todo aquele tempo.

Logo de seguida este reavivamento se espalhou por Brownville, uma vila a uma considerável distancia dali, penso que para sul. Por fim, sob pressão do ministro de Brownville, acabei por passar lá todo o inverno na igreja de Brownville, escrevendo à minha esposa sobre as circunstancias da obra de Deus e que iria ter com ela assim que fosse da vontade de Deus, quando Ele assim proporcionasse.

Em Brownville sucedeu-se um trabalho de grande interesse, mas mesmo assim parecia difícil tarefa pô-los a trabalhar. Não conseguia desvendar alguém com santidade sóbria no meio de toda aquela gente e a política do seu ministro era tal que simplesmente proibia o desenrolar normal do reavivamento, a sua fluidez categórica. Laborei por ali sob grande dor e com muitos obstáculos pela frente. Descobria que muitas vezes o ministro e sua esposa se ausentavam das reuniões para freqüentarem festas.

Eu era hospede dum Senhor B-, um dos presbíteros daquela igreja e um amigo muito intimo desse ministro. Um dia, porém, quando descia do meu quarto e pretendia sair para satisfazer alguns inquiridores angustiados, encontrei o senhor B- na sala, o qual me perguntou assim: “Sr. Finney, o que pensa será o problema quando alguém ora pedindo o Espírito Santo semana após semana e nada obtém de Deus?” Retorqui-lhe que acharia que ele estaria pedindo isso a Deus pelos motivos errados! “Mas que motivos então? Porque razão devo eu pedir a Deus Seu Espírito Santo? Se eu quero ser tornada numa pessoa feliz, isso está errado de minha parte?” Respondi-lhe que até Satanás poderia ter um motivo igual ao dele e citei as palavras do Salmista: “sustém-me com um espírito voluntário. (13) Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e pecadores se converterão a ti. Sal. 51:12-13. “Como vê, este Salmista não pedia o Espírito Santo para ser feliz, mas sim para que fosse útil na conversão dos transgressores a Deus”. Havendo-lhe dito isto, virei-me e saí de pronto enquanto ele saia para seu próprio quarto também, mas muito chocado comigo.

Permaneci fora de casa até à hora do jantar e quando voltei ele encontrou-se comigo e se abriu logo com uma confissão. “Sr. Finney, devo-lhe um pedido de desculpas, quero que me perdoe. Eu irei-me consigo e devo admitir mesmo que minha esperança e desejo era nunca mais tornar a vê-lo sequer. Aquilo que você me disse fez-me entender que nunca me havia convertido e que nunca havia buscado a Deus a não ser para ser feliz apenas. Tive tal convicção dum egoísmo profundo que saí logo dali abruptamente. Quando o senhor saiu de minha casa, apenas orava que Deus levasse minha vida, pois nunca iria suportar a vergonha de saberem que sempre havia sido um homem enganado. Eu sou amigo íntimo de nosso pastor, viajei com ele para todo lugar, mais do que qualquer outro membro de nossa igreja. Mesmo assim descobri que era um dos maiores hipócritas de sempre na face da terra. Essa revelação era algo difícil de suportar e por essa razão desejava morrer e orei a Deus para que me tirasse a vida”. Mas o que se deu desde ali, foi que se transfigurou num novo homem a partir de então.

Esta conversão trouxe com ela grandes benefícios para toda a obra de Deus. Poderia mesmo citar muitos casos adjacentes a este avivamento, mas como teria de mencionar muita coisa que me causariam dor pelo comportamento leviano de seu ministro e especialmente de sua esposa, prefiro nada divulgar sobre ele.

Cedo, na primavera de 1825, saí de Brownville a com meu cavalo em busca de minha esposa. Estive ausente dela por cerca de seis meses após nosso casamento. Também nunca tivemos oportunidade de trocar muita correspondência por motivos óbvios. Saí e as estradas estavam escorregadias e descobri que tinha de parar para mudar as ferraduras do meu cavalo e parei em Le Rayville, uma vila a cerca de três milhas de Evans’ Mills. Enquanto meu cavalo era tratado, as pessoas descobriram que estava por ali e todos acorreram como um homem suplicando para lhes pregar à uma da tarde na sala da escola, pois não possuíam local de culto.

À uma hora a sala estava repleta, compactada mesmo. Enquanto pregava o Espírito de Deus desceu sobre eles com grande poder. Era tão grandioso e tão evidente o derramamento do Espírito ali que acedi a seus clamores para que permanecesse por lá ainda e resolvi passar ali a noite apenas, pregando de novo para eles essa noite. Mas a obra aumentou em proporção e à noite apontei para um outro culto no dia a seguir. Logo descobri que não poderia seguir no encalço de minha esposa. Pedi a um irmão que fosse buscá-la por mim, para que eu tivesse como ficar por ali. Ele assim fez e continuei com as pregações dia após dia, noite após noite e um enorme avivamento irrompeu ali.

Devo mencionar que enquanto estava Brownville, Deus me havia manifestado duma forma muito admirável que iria derramar de Seu Espírito em Gouverneur e que me haveria de deslocar lá para ali pregar. Nada sabia daquela localidade, com exceção de que havia bastante oposição ao reavivamento em Antwerp, no ano anterior a este. Nunca poderei dizer porque Deus me revelou e manifestou o que se iria suceder ali em Gouverneur, mas sei agora tal como sabia então que tal havia sido mesmo uma revelação de Deus. Nem sequer pensava no local, tanto quanto me recorde, mas veio até mim esta revelação clara como a luz do dia que me deveria deslocar lá para pregar e que Deus derramaria Seu Espírito ali também.

Pouco depois, descobri um dos membros da igreja de Gouverneur, o qual passara por Brownville. Relatei-lhe o que Deus me havia transmitido e ele achou que eu havia enlouquecido. Mas exortei-o a que fosse para casa e que transmitisse isso mesmo aos irmãos locais e que se preparassem para a minha vinda e para a vinda do Espírito do Senhor. A partir dele descobri que não tinham ministro, que havia lá duas igrejas na cidade, uma perto da outra e que a igreja Baptista tinha pastor e a Presbiteriana não tinha. Também que um certo ministro muito avançado em idade havia-lhes ministrado a palavra antes e que havia sido demitido; por essa razão não tinham ninguém que lhes trouxesse a palavra de Deus com a regularidade necessária. A partir do que consegui saber dele, desvendei que a obra de Deus estaria em muito mau estado ali em Gouverneur. Senti também que este homem que me relatou tudo aquilo era tão frio de coração como seria um iceberg.

Mas por enquanto voltara aos meus labores em Le Rayville. Após labutar por ali durante umas quantas semanas, uma grande multidão local se havia convertido. Entre estas pessoas estava um Juiz de nome C-, um homem de grande influência ali, o qual estava muito acima da média de toda aquela gente. Minha esposa havia chegado entretanto, dias depois de haver mandatado sua busca. Aceitamos a oferta deste Juiz para sermos seus hóspedes. Mas uns dias depois a população urgia-me a que fosse pregar numa certa igreja Baptista numa cidadela de nome Rutland, onde Rutland se unia a Le Ray. Apontei ir pregar lá uma tarde. O tempo estava ameno e por essa razão andei cerca de três milhas até seu local de culto, atravessando uma floresta de pinhal. Cheguei cedo e descobri o local aberto mas sem ninguém lá dentro. Estava cheio de calor por haver andado até ali e entrei, assentando-me encostado a um pilar no centro do salão de culto. De seguida começaram a chegar as pessoas, espalhando-se pela sala toda. Logo foi aumentando a quantidade de gente que entrava e presumi que ninguém me conhecia e por essa razão não se haviam apercebido de minha presença ali. Permaneci quieto e ninguém que eu conhecesse havia entrado até então.

Entrou então uma jovem senhora como umas plumas em seu chapéu e vestida de certa forma alegre. Ela era alta, esbelta, manifestava alguma dignidade e movia graciosamente suas plumas. Ela entrou como que navegando e mostrando suas plumas a toda a gente, verificando que impressão causava a todos os presentes. Este caso atraiu toda a minha atenção porque era algo raro de se ver e mexeu muito comigo mesmo. Ela entrou e sentou-se atrás de mim, quando ainda não havia ninguém ali. Estávamos perto um do outro, mas ocupando lugares diferentes na mesma carreira de bancos. Virei-me e olhei para ela dos pés à cabeça, de alto a baixo. Ela notou que eu a estaria observando atentamente e olhou para o solo envergonhada. Perguntei-lhe levemente, com suavidade mas com muita seriedade se ela havia entrado ali para dividir a adoração com Deus e para que as pessoas a adorassem também, pois ela estava desviando a atenção das pessoas da adoração a Deus. Perguntei baixinho, mas de forma a que só ela me ouvisse perfeitamente, se queria ser adorada a par com Deus. Ela soltou um certo grunhido de mal-estar. Prossegui falando até que sucumbiu sob a repreensão e não mais pode erguer sua cabeça. Começou a tremer e quando já havia dito o bastante para que ela assegurasse toda a sua atenção sobre sua vaidade e leviandade de espírito, ergui-me e coloquei-me por detrás do púlpito. Assim que ela se apercebeu que era eu o ministro o qual iria trazer a mensagem, sua agitação alargou-se a olhos vistos, de tal forma que começou a ser notada por todos à sua volta também. A casa logo se encheu de gente e peguei num texto das Escrituras a partir do qual comecei a falar.

O Espírito do senhor foi sobejamente derramado sobre toda aquela congregação. No final do sermão, fiz algo que acho nunca haver feito antes: chamei a que entregassem seus corações a Deus e que quem quisesse se entregar a Deus, viesse e ocupasse os lugares da frente da sala de culto. Não sei porque o fiz, mas assim que falei, aquela jovem senhora foi a primeira a erguer-se. Ela saiu disparada de seu banco em manifesto desespero e tratou de tomar um lugar na frente. Ela quase que correu atropelando pessoas, sem se importar com ninguém mas consciente apenas da presença de Deus. Ela sucumbia em agonia de alma. Também muita outra gente se ergueu e ocupou os lugares da frente. Todos se resolveram ir viver para Deus e esta senhora na frente de todos. Descobri então que ela seria a vaidade em pessoa, considerada por muitos como a beldade local, vestindo-se muito vaidosamente no entanto.

Alguns anos mais tarde, encontrei-me com um certo homem o qual atraíra minha atenção nesse dia também. Inquiri sobre o estado daquela senhora e disse-me que a conhecia muito bem mesmo e que ainda vivia no mesmo local, casara entretanto e tornou-se numa pessoa bastante útil e numa crente seriamente comprometida desde então.

Preguei mais umas quantas vezes nesse mesmo local e surgiu então, de novo, a questão de Gouverneur diante de mim. Deus parecia querer-me dizer “Vai agora para Gouverneur, chegou seu tempo”. O irmão Daniel Nash chegara uns dias antes desta ocorrência e passou algum tempo ali comigo. Quando se deu este último chamamento para me deslocar a Gouverneur, tinha alguns compromissos assumidos na zona de Rutland. Disse ao irmão Nash: “Acho que o senhor deveria se deslocar a Gouverneur, ver tudo o que se passa por lá e se possível trazer-me um relatório pormenorizado.

Ele fez isso mesmo logo pela manhã seguinte e depois de se haver ausentado por dois ou mesmo três dias, voltou dizendo que achara por lá muitos que professavam religião, mas sob forte convicção do Espírito e que pressentia que Deus se instalara no meio das pessoas. Mas também me informou que achava que as pessoas ainda não se tinham apercebido de que era Deus quem operava neles. Logo de seguida informei as pessoas que me ia deslocar a Gouverneur para pregar lá e que já não teria como cumprir os compromissos antes assumidos de pregar em suas igrejas. Pedi ao Pai Nash para voltar logo para informar as pessoas que me deveriam esperar num certo dia marcado daquela mesma semana.

CAPÍTULO X – REAVIVAMENTO EM GOUVERNEUR

O irmão Nash, de acordo com tudo aquilo que combinamos, voltou no dia seguinte para Gouverneur.

Desloquei-me, creio que cerca de trinta milhas para chegar ao local. Chovia torrencialmente logo pela manhã, mas assim que parou, tive como chegar a Antwerp. Mas mal comecei a almoçar, a chuva voltara de novo até quase ao fim da tarde. Desde a manhã que me parecia ser impossível alcançar o local de culto e a tarde apenas me dizia o mesmo. Mas logo a chuva parou por algum tempo e pus-me a caminho de Gouverneur. Descobri mais tarde que as pessoas haviam desistido de me esperar, devido à chuva intensa que se fez sentir.

Antes mesmo de ter alcançado a vila, um certo senhor S-, um dos principais membros daquela igreja, já voltava para sua casa a qual eu já havia passado. Ele parou sua carruagem e perguntou-me se eu era o Finney. Respondi-lhe que sim e então ele acrescentou: “Olhe, por favor, volte para traz até minha casa, pois faço questão que seja meu hóspede. O senhor deve estar fatigado por causa da longa jornada até aqui nestas estradas lamacentas e intransitáveis; volte, pois acho mesmo que não deve haver qualquer reunião hoje”. Respondi-lhe que eu iria a qualquer custo cumprir com o compromisso assumido e perguntei se ainda lá havia alguém na igreja. Disse-me que quando saíra de lá, as pessoas ainda lá estavam, mas achava que me seria de todo impossível alcançar o local antes de se haverem dispersado.

Cavalguei rapidamente, apeei-me à porta do salão de culto e apressei-me a entrar. O irmão Nash estava por traz do púlpito e acabava de se erguer para mandar as pessoas para suas casas. Mas mal me viu, levantou suas mãos e esperou até que houvesse chegado ao púlpito e abraçou-me efusivamente, erguendo-me no ar. Depois da sua cerimônia de boas-vindas, apresentou-me de seguida à congregação. Em poucas palavras dirigi-me às pessoas informando que havia vindo cumprir o que havia sido estipulado e que querendo Deus eu iria pregar a uma certa hora, a qual marquei logo ali.

Quando chegou a hora, a casa estava lotada de gente. As pessoas haviam ouvido tanta coisa, tanto a favor quanto contra mim, que sua curiosidade não lhes permitia ficar sem vir ouvir-me. O Senhor deu-me um texto do qual preguei e derramei todo o conteúdo do meu coração sobre eles. A Palavra teve um efeito tremendo sobre eles. Isso era plenamente manifesto e bastante visível em todos ali presentes, creio mesmo. Terminei aquela reunião e só então pude ir descansar.

O hotel da vila era dirigido por um Dr.S-, um Universalista convicto. Na manhã seguinte, saí como me era habitual, para falar com as pessoas e inquirir deles sobre o verdadeiro estado de suas almas. Maravilhei-me pois toda a vila fervilhava de entusiasmo. Depois de haver entrevistado e conversado com algumas pessoas, entrei na loja dum alfaiate e descobri que as pessoas estavam a discutir todo o sermão do dia anterior.

O Dr. S-, que eu ainda não conhecia, estava entre essas mesmas pessoas, defendendo seus sentimentos Universalistas. Mal entrei, os argumentos e os apontamentos que havia feito serviram de tema de conversa e o Dr. S- deu um passo em frente, apoiado pelos demais que ali se achavam, desabafando e disputando seus pontos de vista, declarando-me suas doutrinas de salvação universalista. Alguém o apresentou a mim eu disse-lhe de seguida: “Dr., teria muito gosto em discutir consigo suas opiniões, mas para que tenhamos essa mesma conversa teremos que acordar a maneira da discussão antes de tudo”. Eu estava já habituadíssimo a discutir as opiniões com universalistas e nunca esperava que algo de bom saísse dessas mesmas discussões, a menos que certa disciplina fosse imposta sobre o desenrolar de tal tempo de discussão. Propus-lhe, por essa razão, que deveríamos discutir apenas um ponto de cada vez e fazendo-o até que esse mesmo ponto estivesse devidamente esgotado, para que assim tivéssemos como pegar num e depois noutro assunto. Então poderíamos e haveríamos de discutir apenas o ponto de vista presente sem vaguearmos nem divagarmos dele. Também ficou assente que nunca nos interromperíamos um ao outro em debate e que cada um tivesse a liberdade de atestar seus pontos de vista livre e efusivamente. Em terceiro lugar que não poderia haver discussão e desprezo um pelo outro, mas que se pudesse manter o pleno respeito um pelo outro, dando o devido peso a cada argumento, de um e de outro lado. Sabia de antemão que eles argumentavam todos num sentido apenas e que facilmente se uniam em defesa uns dos outros e que essa manhã estava destinada a que tal coisa sucedesse também.

Tendo estabelecido os preliminares, começamos com os argumentos. Não demorou muito até que todos os pontos de vista deste senhor estivessem por terra, demolidos, pois ele sabia muito pouco acerca de toda a Bíblia. Tinha uma maneira peculiar de dispor de certas passagens bíblicas à sua maneira, conforme as recordava apenas. Tudo o que se recordava da Bíblia, servia apenas como algo que se sujeitava e apoiava seus pontos de vista. Mas tal como é peculiar de todos os Universalistas, ele demorou mais tempo em argumentar acerca daquilo que acham que é a injustiça do castigo eterno.

Logo lhe pude mostrar, tal como aos demais ali presentes, que tinha muito pouco terreno onde se firmar conclusivamente, no que toca a Bíblia. Logo tomou posição que, dissesse a Bíblia o que dissesse, castigo eterno seria algo sempre injusto e que por essa razão a Bíblia não tinha porque ser verdade nem verdadeira, pois ameaçava com um castigo eterno. Mas havia sido concluído o argumento quanto ao que a Bíblia dizia sobre todos os seus argumentos. De fato, pude sentir que no fundo todos eles eram apenas cépticos e descrentes, não cedendo apenas porque a Bíblia contradizia frontalmente todos os seus pontos de referência. Foi assim que conclui com aquela questão sobre o castigo eterno. Pude notar que todos os seus amigos estariam em profunda agitação interior, pois suas bases de segurança lhes havia sido retirada. Muito pouco tempo depois um deles saiu dali disparado. Conforme continuei, mais um saiu e acabaram todos por o deixar só em seus argumentos: foi abandonado pelos seus. Todos eles se haviam apercebido que estaria errado sem qualquer sombra de dúvida.

Ele era quem consideravam seu líder. E Foi assim que Deus me permitiu desterrar todos os seus argumentos diante de seus próprios seguidores. Assim que notou que não tinha mais nada para argumentar, instiguei sua atenção para aquela necessidade de salvação imediata e absoluta e muito amigavelmente lhe desejei um bom dia para e fui-me embora, tendo aquela convicção de que em breve algo mais surgiria daquela conversação novamente.

A esposa deste médico era crente, membro da igreja local. Ele narrou-me um ou dois dias depois disso, que seu marido chegara a casa muito agitado, sem saber por onde havia andado. Ele entrara em seu quarto, sentou-se, mas logo se levantaria por não conseguir permanecer sentado por muito tempo. Ela notou que ele estava em grande agitação pelo semblante carregado que manifestava. Perguntou-lhe o que se passava. Ele respondeu: “Nada!”. No entanto, toda a sua agitação aumentou de tom. Perguntou de novo se algo se passava com ele. Ela começou levemente a suspeitar que ele havia estado comigo. Então perguntou-lhe: “esteve com o Sr. Finney esta manhã?” Isso colocou uma paragem em toda a sua agitação, exclamando: “Sim! E ele fez com que todas as minhas próprias armas agora estejam apontadas à minha própria cabeça!” Sua agonia intensificou-se e assim que parou de resistir, havendo sido aberto caminho a que se pudesse expressar, entregou-se àquilo que o atormentava e desde logo começou a experimentar esperança. Seus seguidores entraram, havendo sido trazidos, até que um avivamento genuíno limpou toda aquela eira.

Disse que havia por ali uma igreja Baptista e também uma Presbiteriana, cada qual tendo o seu salão de culto perto um do outro. Esta igreja Baptista tinha Pastor e a Presbiteriana não tinha. Mas assim que o avivamento irrompeu, os irmãos da igreja Baptista começaram a opor-se a ele. Falavam contra a obra de Deus e usavam mesmo meios pouco recomendáveis para lhes servir de arma de oposição. Isto encorajou uns certos jovens a unirem-se e a estabelecerem-se mutuamente contra todo aquele avivamento. A igreja Baptista detinha muita influência naquele local e majoritariamente por essa razão, sentiram-se devidamente encorajados a oporem-se. Havia uma certa amargura no ar, muito forte em seus apetrechos. Estes jovens formaram uma frente unida e pareciam uma catapulta a impedir qualquer progresso da Obra.

Mediante este estado de coisas e circunstâncias, eu e o irmão Nash decidimos que seria uma barreira a ser vencida pela oração, pois não nos era possível destronar tudo aquilo de outra forma sequer. Nós nos retiramos para o bosque os dois e nos entregamos à oração sobre todo aquele assunto até que houvéssemos sentido que havíamos prevalecido diante de Deus quanto àqueles jovens. Sentimos mesmo que nenhum poder nesta terra teria mais como impedir que a poderosa mão de Deus se interpusesse e destronasse todo aquele breve impedimento ao avivamento.

No domingo a seguir, depois de haver pregado de manhã e pela tarde; fui eu quem pregou sempre, pois o irmão Nash entregara-se por inteiro à oração; combinamos encontrarmo-nos pelas cinco da tarde na igreja, para uma certa reunião de oração. A casa estava lotada de gente. Perto do fim da reunião o irmão Nash levantou-se do seu banco e direcionou seu discurso para os jovens oposicionistas da igreja Baptista. Creio mesmo que todos eles estavam ali presentes dando mãos enfrentando o Espírito de Deus. Era um caso tão solene contra eles, que seria ridícula demais não confrontá-los pela forma como desprezavam toda aquela avalanche da obra de Deus em curso. Sua dureza sentia-se no ar, era palpável para todos ali presentes.

O Irmão Nash falou diretamente para eles, apontando o verdadeiro perigo em que incorriam. Para o fim de todo seu discurso, aqueceu seu tom e disse-lhes assim: “Agora ouçam bem, jovens! Deus quebrará vossas trincheiras num tempo limite duma semana, ou convertendo-vos, ou mandando alguns de vós para o inferno. Ele fará isso mesmo, tão certo quanto Ele é o meu Deus!” Ele movimentava seus braços e desferiu um golpe casual sobre o púlpito, fazendo um grande ruído. Ele baixou-se logo, agarrou em sua mão, cheio de dor.

Toda a sala emudeceu em silêncio absoluto e as pessoas na sua maioria, baixaram suas cabeças levemente. Tive oportunidade de observar que aqueles jovens estariam se agitando. Quanto a mim, lamentei-me que o Irmão Nash houvesse ido tão longe quanto foi. Ele se comprometeu, que Deus ou tiraria a vida daqueles jovens, colocando-os no inferno, ou os converteria numa semana. Contudo, na Terça-feira dessa mesma semana, o líder desse movimento oposicionista, deflagrou vindo até mim em grande agonia de espírito. Ele estava disposto a submeter-se. Assim que o pressionei levemente, quebrantou-se diante de mim como o faria uma criança. Confessou tudo e entregou sua vida a Cristo para logo de seguida me perguntar: “Sr. Finney, que devo fazer agora?” Respondi-lhe de seguida assim: “Vá buscar seus jovens companheiros, ore com eles e exorte-os a submeterem e entregarem-se a Deus de imediato. Assim fez prontamente. E antes mesmo que a semana houvesse passado, senão todos, no mínimo quase todos detinham uma esperança real em Cristo.

Havia um comerciante que vivia naquela vila, um certo senhor S-. Era um homem muito amável, um cavalheiro, mas descrente. Sua esposa era filha dum pastor Presbiteriano e era sua segunda esposa. Sua primeira esposa também havia sido filha dum pastor da mesma denominação. Ele se havia casado com duas famílias de ministros Presbiterianos. Ambos os seus sogros esforçaram-se grandemente para o converter a Cristo, mas em vão. Era um homem de leitura e de reflexão. Ambos os seus sogros pertenciam à antiga escola Presbiteriana e colocaram em suas mãos livros que apresentavam seus pontos de vista incondicionalmente. Era o que o fazia tropeçar, pois quanto mais ele lia aqueles livros, mais ele se convencia que a Bíblia era falível.

Sua esposa urgiu-me a que viesse ter uma conversa com ele. Informou-me sobre todos os seus pontos de vista e de todos os esforços antecedentes que haviam sido feitos para assegurar sua conversão. Mas afirmou mesmo que ele estaria irredutível e assegurava que nenhuma conversação teria como demovê-lo de todos os seus princípios básicos. Mesmo assim comprometi-me a ir falar com ele e assim fiz oportunamente. Sua loja estava mesmo em frente ao edifício de sua casa. Ela entrou na loja e pediu-lhe que entrasse. Ele declinou, argumentando que de nada serviria e que já havia conversado o quanto bastasse com ministros; que sabia precisamente o que eu lhe iria transmitir e que por essa razão iria apenas perder seu tempo para nada. Disse também que, para além do mais, era algo repulsivo a seu sentimento. Ela respondeu: “Mas, Sr. S-, nunca o vi tratar ministros que lhe tenham pedido uma audiência para falar consigo, desse jeito assim. Eu convidei o Sr. Finney para ter uma conversação sobre este assunto da religião e sentir-me-ei muito magoada e ferida caso o senhor se recuse a recebê-lo!”

Ela detinha um grande respeito e amor para com sua própria esposa e ela era uma mulher de raça e fibra. Para ter porque agradá-la, consentiu entrar na loja. A senhora S- apresentou-o a mim e saiu do local. Então dirigi-me a ele dizendo: “Sr. S-, entrei aqui sem qualquer intenção de ter um argumento consigo, mas caso me conceda alguma atenção, poderei certamente ajudá-lo a sobrepor-se aos problemas que tem com a religião evangélica, pois sou alguém que os tinha em mim mesmo de igual modo”. Falei com ele no mais meigo tom de voz e de imediato ele se sentiu à-vontade diante de mim, sentou-se ao meu lado e disse-me assim: “Sr. Finney, não existe necessidade de nos alongarmos em conversas sobre este mesmo assunto. Ambos estamos bem familiarizados com todos os argumentos de ambos os lados e posso desde logo adiantar quais os pontos principais dos meus pontos de vista, por causa dos quais nunca consegui parar de questionar. Suponho desde já que o senhor me responderá a todos e que todos os seus muitos argumentos serão futilmente inúteis. Mas caso me queira ouvir, posso relatar os meus pontos de vista todos”.

Pedi-lhe encarecidamente que o fizesse. Começou então a dispor de argumentos como este, que acho que posso recordar desta forma: “Tanto o senhor com eu concordamos na existência de Deus”. “Sim”. “Ambos de estamos de acordo a que Ele seja poderoso, muito sábio e muito bom”. “Sim”. “Nós concordamos que somos ambos criados por Ele e que através dessa criação distinta deu-nos certas convicções irrefutáveis no que toca ao bem e ao mal, justiça e injustiça”. “Sim”. “Assim concordamos também que tudo aquilo que possa ir contra essas mesmas convicções internas nunca tenha como vir de Deus, pois nada disso nem é sábio, nem bom”. “Sim, estamos de acordo quanto a essas questões”. “Sendo assim”, continuou, “a própria Bíblia nos exorta a viver em pleno acordo com a leis de Deus que estão pré-estabelecidas desde há muito, do qual Deus é o próprio autor; também nos deu uma natureza pecaminosa que nunca terá como viver dentro desses padrões. Logo Deus exige de nós uma obediência naquilo que nunca teremos como obedecer. Temos de ser bons, o que nunca podemos, sendo-nos tal coisa de todo impossível. Logo, nos condena a uma eternidade de sofrimento por que nunca cumprimos tudo aquilo que não temos como cumprir”.

Respondi-lhe: “Sr. S., o senhor tem alguma Bíblia? Pode-me mostrar onde se encontra a passagem que ensina isso assim?” “Mas porque razão? Não há necessidade disso! Até o senhor admite que é assim, que é isso mesmo que a Bíblia ensina de fato” “Não, eu refuto tudo isso por inteiro”. “Então”, continuou, “a Bíblia afirma que Deus nos imputou todo o pecado desde Adão em toda a sua posteridade; que todos nós herdamos essa natureza pecaminosa e que estaremos sujeitos a uma condenação eterna apenas porque temos pecado que nos vem desde Adão; assim, eu não me importo quem ensina tal coisa, ou qual o livro que diz isso, apenas sei que tal argumento nunca poderia ter sua origem em Deus. Isso contradiz diretamente todo o sentido de justiça que habita em mim desde nascença!” “Sim, tal como contradiz os meus também. Mas, diga-me, onde na Bíblia, está isso escrito?”

Ele começou a citar a catecismo, conforme já o havia feito antes. Respondi-lhe que esse era um argumento inerente ao catecismo e nunca à Bíblia. “Mas, porquê? O senhor não é ministro Presbiteriano? Assumi que o catecismos serviam de autoridade e exerciam-na sobre si!” “Não”, respondi, “estamos a falar sobre a Bíblia; se aquilo que a BÍBLIA afirma é verdade ou não. Tem o senhor como afirmar que esses argumentos retratam fielmente as doutrinas bíblicas?” “Mas, se o senhor nega que isto vem escrito na Bíblia, porque toma tais atitudes que eu nunca vi serem tomadas por nenhum ministro Presbiteriano?” Logo procedeu em atestar que todos os homens teriam necessariamente de se arrepender e que era algo que afirmava ser impossível ao ser humano. Pedia deles uma fé e uma obediência que lhes era de todo impossível. Eu apenas voltei ao meu argumento de lhe pedir que atestasse onde se dizia isso na Bíblia! Ele citava o catecismo e eu voltava a perguntar-lhe onde na Bíblia.

Prosseguiu dizendo também que a Bíblia atestava que Cristo havia morrido apenas para os que eram eleitos e que mesmo assim mandava a que todos os homens em todo lado se arrependessem de seus pecados, eleitos e não-eleitos, sob pena duma condenação eterna. Dizia ele: “O fato é que em todos os mandamentos e preceitos contradiz meus melhores sentidos de justiça, implantados em mim desde minha criação. A cada passo existe uma contradição e eu nunca poderei aceitar que isso seja assim”. Ele estava acalorado e positivo em seus argumentos. Mas logo lhe respondi: “Caro Sr. S-, existe algo de errado em tudo isto. Esses ensinamentos não são os que vêm na Bíblia; refletem apenas tradições humanas criadas em doutrinas à semelhança do desejo humano, mais do que ser um reflexo fiel da verdade da Bíblia em si”. “Sendo assim, diga-me Sr. Finney em que crê o senhor então?” Ele disse isto com um enorme grau de impaciência. “Caso o senhor tenha como me ouvir por uns momentos, poderei explicar as coisas em que creio”. Logo comecei por lhe explicar quais os meus pontos de vista quanto à Lei e ao próprio Evangelho. Ele era muito inteligente, o suficiente para me entender fácil e rapidamente. Penso que, durante cerca duma hora, levei-o a passear por todos os terrenos de suas objeções e contestações. Tornou-se muito interessado e pude notar que tudo quando lhe dizia era intensamente novo para ele.

Mas assim que cheguei à grande questão da reconciliação, mostrando através das Escrituras que se destinava a todo o homem na face da terra, qual a natureza dessa mesma reconciliação, seu alcance e medidas para alcançar esse mesmo fim, sua extensão, a liberdade de salvação que existia apenas em Cristo, pude verificar que seus sentimentos subiam de tom, colocou suas mãos em toda sua face, os cotovelos em seus joelhos e tremia de emoção! Vi como seu sangue lhe subia à cabeça para logo de seguida seus olhos começarem a derramar lágrimas de contentamento, livremente. Levantei-me de imediato e deixei aquele quarto, sem haver dito uma palavra mais. Pude ver que uma seta de amor havia trespassado seu peito e eu esperava sua conversão a qualquer momento. Sucedeu que aquele homem se converteu antes de haver saído dali.

Logo de seguida tocavam os sinos para a reunião de oração e para a conferência que estava agendada para aquela hora. Entrei e logo de seguida entraram também a senhora e o senhor S-. Seu semblante revelava que havia sido muito tocado. Todas as pessoas entreolhavam-se admiradas de ver o Sr. S- por ali, naquela reunião. Ele sempre atendia os cultos de domingo, creio, mas vê-lo ali numa reunião de oração, sendo esta de dia ainda, era algo estranho para todos. Por essa razão fiz certos apontamentos e levei o meu tempo expondo minuciosamente as coisas e ele prestou toda a atenção a tudo o que se dizia.

Sua esposa me disse mais tarde, que quando ele chegou a casa depois daquela reunião, virou-se para ela e dissera-lhe: “Minha querida esposa, onde está toda a minha infidelidade? Onde se meteu ela? Não consigo distinguir o que se passou dentro de mim, mas também não me consigo rever mais nela. Por muito que eu a chame de volta, ela não existe mais. Não me resta nem um pouco dela mais, nem um sentir leve da mesma. Parece-me mesmo que era uma autêntica futilidade da minha parte. Como pude eu haver defendido meus pontos de vista daquele jeito cruel? Não posso sequer imaginar que eu tenha respeitado aqueles pontos de vista. Parece-me que fui convidado a inspecionar um templo magnífico, do qual inspecionei apenas uma esquina de toda a sua estrutura e me desgostou tanto que acabei abandonando o local sem o inspecionar em maior detalhe. Acabei condenando todo o edifício sem uma avaliação justa, em toda a sua proporção dimensional. Foi assim tolamente que tratei todo o governo moral de Deus, insensatamente”. Ela me disse mais que ele sempre fora uma pessoa particularmente amargurado contra a doutrina de castigo eterno, mas que quando abandonavam o local de culto, ele afirmava que pela maneira como havia tratado e lidado com Deus até então, ele reconhecia que merecia esse eterno castigo sem dúvida.

A conversão deste homem foi bem clara e evidente. Ele acalorou desde então toda a causa de Cristo na Terra e alistou-se na promoção de todo aquele avivamento. Juntou-se à igreja e pouco tempo depois tornou-se diácono da mesma. Relataram-me que foi muito usado e muito eficiente até ao dia da sua morte.

Depois desta conversão do Sr. S-, também após a conversão daqueles jovens os quais destaquei, pensei que já era tempo de terminar com aquela oposição que enfrentávamos da igreja Baptista e do seu ministro. Tive um encontro, em primeiro lugar, com um dos diáconos daquela igreja, o qual estava numa amargura terrível, em oposição. Disse-lhe assim: “Penso que os senhores já se excederam em toda a vossa oposição. Terão de se dar por satisfeitos que se trata duma obra de Deus em pessoa. Nunca mencionei algo sobre essa oposição vossa em público e também não desejo fazê-lo, nem mesmo dar a entender que exista tal coisa da vossa parte. Mas sinto-me agora no dever de, caso não parem com essas questões fúteis duma vez, expor toda forma ridícula a que se entregaram, a partir do púlpito”. As coisas estavam num estado avançado tal, que sentia que tanto Deus como o publico em geral me estariam apoiando nessa mesma medida que tomara posse de meu coração ali.

Ele confessou sua oposição e disse-me que lamentava tudo aquilo; saiu prometendo que não mais se oporia à obra de Deus, confessando que estava errado, que haviam cometido um erro e que estaria enganado acerca de tudo aquilo. Não apenas isso, mas que ele próprio considerava que toda aquela questão havia sido uma coisa da maior impiedade possível e que seus sentimentos sectários de segregação haviam ido longe demais. Ele esperava que eu o perdoasse e orou para que Deus o perdoasse também. Retorqui que nunca mais mencionaria nada sobre toda aquela oposição caso parassem com aquilo desde logo. Foi algo a que se comprometeram desde ali.

Logo de seguida disse-lhe que “um grande número de jovens com pais Batistas, os quais pertencem à vossa igreja, têm-se convertido durante as reuniões” (Tanto quanto posso recordar, penso que eram perto de quarenta jovens convertidos nesse avivamento). “Caso os senhores se queiram entregar a sentimentos segregacionistas e prosélitos, provocando uma certa avalanche de sentimentos sectários entre igrejas, isso será muito mais catastrófico que qualquer oposição das que foram promovidas até aqui. Mesmo contra a vossa oposição, a obra de Deus tem prosperado a olhos vistos. Todos os irmãos Presbiterianos estão limpos desse sentimento sectário e em todos eles abunda um espírito de oração relevante. Mas temo que caso os senhores entrem por um caminho em busca de prosélitos e sectário, todo esse espírito de oração corre enormes riscos de se vir a perder. Temo que o avivamento morra por ali. É tão grave quanto isso”. Ele afirmou que sabia que seria assim mesmo e que por essa razão nada teria a dizer sobre a recolha e aceitação dos novos convertidos e que até aquele avivamento haver terminado, não abririam as portas para recolher esses mesmos recém-convertidos e que, sem se tornarem sectários prosélitos, receberiam mais tarde esses mesmos jovens convertidos, caso assim desejassem fazê-lo.

Era uma sexta-feira. O Sábado a seguir era o grande dia da sua convenção mensal. Mas, ao reunirem-se, em vez de haverem guardado sua palavra, eles chamaram aqueles jovens à frente para contarem suas experiências com Cristo para assim virem a ser admitidos na igreja. Tantos quantos foram convencidos a fazê-lo, contaram suas experiências. No dia seguinte houve uma grande parada de Batismos. O ministro deles, chamou para esse dia um dos ministros mais sectários que eu conheci na questão do batismo, o qual começou a pregar sobre o assunto.

Buscaram minuciosamente a cidade inteira na busca de novos convertidos, em todas as direções. E sempre que achavam alguém que se juntasse a eles, faziam um alarido em marcha com cânticos até à água onde os batizariam de seguida. Isto desde logo magoou os sentimentos de toda a igreja Presbiteriana e todo o espírito de oração e intercessão sumiu no ar. Toda a Obra de Deus morreu por ali. Nas seis semanas seguintes não houve uma singular conversão. Todos, tanto santos como ímpios estavam apenas discutindo a questão do batismo.

Havia ali um numero considerável de homens, alguns deles de proeminência mesmo, na vila, que estavam sob convicção de pecado intensa, estando bem perto de se converterem, os quais se desviaram na discussão do batismo. E, de fato, foi algo universal, um mal geral mesmo. Todos se apercebiam que o avivamento estava estagnado e morto. E os Batistas, mesmo havendo estado em oposição contra o avivamento, esforçavam-se imenso em conseguir para eles uma parte dos convertidos. As pessoas que se haviam convertido, na sua maioria, recusaram o batismo por imersão, mesmo sem nunca lhes haver dito palavra sobre esse assunto.

Por fim, num Domingo, disse a todos do púlpito assim: “É visível que Deus se desagradou com toda esta situação e que nunca mais houve uma conversão desde que a questão do Batismo passou a ser discutida. Há cerca de seis semanas que ninguém se converte. Todos vós sabeis qual a razão disto estar a acontecer”. Não mencionei o fato do ministro Baptista se haver comprometido em nunca encetar por aquela via de distorção, violando sua palavra até, nem sequer aludi ao caso. Sabia de antemão que isso nunca traria qualquer bem, apenas mais dor ainda, caso divulgasse que o pastor era o único responsável por toda aquela situação. Mas tratei de lhes transmitir que “Não quero usar o culto de domingo para pregar sobre este assunto, mas falarei sobre ele na quarta-feira à uma da tarde. Peço que tragam as vossas Bíblias convosco, lápis para marcarem as passagens e vos entregarei todas as passagens na Bíblia que aludam ao modo de batismo. Também vos darei, tão bem quanto as entendo, as posições da igreja Baptista sobre essas passagens e de seguida vos darei a minha opinião sobre as mesmas. Podereis assim ver por vós mesmos onde reside a verdade e a mentira”.

Assim que se fez quarta-feira, a sala estava repleta de gente. Vi que estariam ali muitos dos irmãos da igreja Baptista presentes. Comecei a ler, primeiro no Antigo Testamento e depois no Novo, todas as passagens que faziam referencia ao modo de se batizar, tanto quanto as conhecia. Dei as impressões Batistas sobre aquele assunto e as razões que substanciavam para pensarem conforme pensavam. De seguida dei as minhas visões sobre esse mesmo assunto e as minhas razões também. Pude notar que causara boa impressão a todos presentes e que nenhum espírito malicioso se insurgiu devido a tudo quanto disse. As pessoas presentes estavam todas satisfeitas quanto ao modo e à fórmula de batismo. Até mesmo os irmãos Batistas estavam plenamente satisfeitos com tudo o que havia dito, pois coloquei seus pontos de vistas de forma minuciosa, coerente, firme, defendendo-as melhor do que qualquer um deles o faria. Também coloquei perante eles todas as suas razões para pensarem conforme pensam. Antes de despedir a reunião, disse: “Se puderem vir amanhã de novo, à mesma hora, pela uma hora, lerei da Bíblia também todas as passagens da Bíblia que relatam não o modo, mas o batismo em si, seguindo o mesmo critério que assumi aqui hoje perante todos vós”.

Também no dia a seguir a casa estava lotada, talvez ainda mais que no dia anterior. Muitos dos irmãos Batistas estavam ali presentes de novo. Pude observar que um Presbítero, provavelmente um dos maiores responsáveis pela busca de prosélitos, estava ali sentado também. Depois de haver terminado a parte introdutória do culto, comecei a ler as passagens. Nesse mesmo instante, o dito presbítero ergueu-se e interrompeu a leitura dizendo: “Sr. Finney, tenho um compromisso para atender e não poderei ficar para ouvir a sua leitura dessas passagens. Mas gostaria muito de lhe poder responder. Como poderei saber qual o curso que tomou em sua exposição?” Respondi-lhe respeitosamente: “Sr. Presbítero, eu tenho diante de mim um papel com um esqueleto daquilo que vou dizer, onde estão as passagens que vou ler na ordem que tenciono discuti-las. O senhor pode ficar com ele e caso possa, pode responder mediante esse esquema, lendo-o”. Ele então saiu dali e eu pensei mesmo que se tivesse ido embora, para atender ao dito compromisso.

Peguei então no pacto que Deus fez com Abraão, relacionando tudo aquilo que dizia respeito à família em si, diretamente sobre a questão de pais e filhos. Dei as opiniões batistas sobre essas mesmas passagens, passando de seguida a fornecer meus próprios pontos de vista sobre o assunto, vendo e colocando a questão a partir dos dois lados. Toda a gente se emocionou e liquidificaram-se em ternura. As lágrimas correram livremente quando assumi o pacto que Deus fez e que também ainda se mantém dentro dum lar que lhe é fiel. Toda a assembléia ficou sensibilizada e derreteu-se mediante a exposição.

Antes mesmo de haver terminado, um diácono da igreja Presbiteriana saiu com uma criança na sua mão, a qual estivera com ele durante a longa reunião. Contou-me que saíra para os sanitários da igreja e viu por lá aquele presbítero que sairia para atender ao compromisso, sentado a ouvir tudo aquilo que transmitia, chorando e com sua face lavada em lágrimas.

Assim que terminei, as pessoas aglomeraram-se à minha volta de todos os cantos e com lágrimas em seus olhos agradeciam-me pela forma satisfatória da exibição dos pontos de vista sobre aquele assunto. Posso dizer que a reunião não só foi atendida por membros de ambas as igrejas, mas por toda a comunidade em massa. A questão foi debelada de forma inteligente e poucos dias depois cessou a discussão sobre qualquer batismo. Todo o avivamento renovou-se, renascendo das cinzas e o pujante poder de Deus manifestou-se de novo. Pouco tempo depois disso, as ordenanças da igreja acabaram por ser aplicadas sem que o Espírito Santo se melindrasse e muitos convertidos chegaram a ser admitidos na igreja.

Já havia mencionado que me hospedava com o Sr. S-. Ele tinha uma família muito interessante. Ele e sua esposa, a quem todos chamavam de tia Lucy, não tinham filhos, mas de tempos em tempos, pelo imenso desejo de seus corações, iam adotado crianças, uma depois da outra, até haverem chegado ao número de dez. Na altura sua família era composta, então, de sua esposa, a Tia Lucy e dez jovens, creio que metade moças e a outra metade masculina, todos parcialmente da mesma idade. Todos eles estariam convertidos pouco tempo depois. Suas conversões eram deveras muito tocantes e relevantes. Tornaram-se em virtuosos convertidos, muito inteligentes. Família mais feliz que aquela nunca vi, principalmente quando já todos se haviam convertido.

A Tia Lucy, porém, havia sido convertida sob circunstâncias anteriores ao avivamento. Ela nunca havia provado a frescura, a força, o refrigério e a alegria dos convertidos num avivamento. A alegria que evidenciavam diante dela, a paz de espírito que manifestavam, seriam um sério tropeço para ela. Começou por pensar que nunca se havia convertido de fato, embora se houvesse entregue de todo coração à promoção daquela obra de Deus. Mesmo a meio da obra ela entrou num estado de desespero tal que nem sequer queria ver que havia sido útil na obra de Deus. Acabou concluindo que nunca se havia convertido e que sua conversão nunca fora real.

Isto acabou por introduzir um certo mal-estar em forma de tristeza no seio daquela família. Seu esposo pensava que ela havia enlouquecido. Os jovens que a consideravam muito, como sua própria mãe mesmo, estavam apreensivos quanto a ela. Na realidade, todo aquele lar foi levado ao pranto e lamentações por ela. O Sr. S- dedicou muito do seu tempo orando e conversando com ela, tentando reavivar sua esperança. Tive várias conversas oportunas com ela, mas quando se regalava com aquela vista surpreendente e deslumbrante dos novos convertidos, relatos dos quais ela escutava quase diariamente, começou a pensar que ou que nunca se havia convertido, ou nunca se converteria.

O estado das coisas foram-se degradando de dia para dia, até eu próprio haver começado a pensar que ela era um caso de insanidade mental. A rua onde estava situada sua casa era densamente povoada, praticamente uma vila em si, com cerca de três milhas de extensão. A obra de Deus propagou-se de tal forma que em toda aquela extensão, havia apenas uma pessoa ainda por converter. Era um homem jovem, de nome B- H-. Ele opunha-se quase que freneticamente contra a Obra. Quase toda a vila se entregou em súplicas ardentes pela conversão daquele jovem e o seu caso era falado e comentado por toda a gente em redor.

Um dia entrei em casa e estava a Tia Lucy a falar sobre o caso também. Ela dizia: “Ó que pena! Que será do destino deste jovem? Ele vai perder sua alma, seguramente! Que será dele?” Ela parecia estar em grande espírito de agonia sobre o fim daquele homem, porque poderia perder sua alma. Ouvi atentamente o que ela dizia acerca do jovem por uns momentos e de forma grave e sublime disse-lhe: “Tia Lucy, quando você e aquele jovem morrerem, Deus terá de vos dar quartos separados no inferno, para que a senhora esteja só e separada dele”. Ela arregalou seus grandes olhos azuis e perguntou: “Mas porquê, Sr. Finney?”. Tornei a falar-lhe: “Acha que Deus se tornaria culpável por colocar a senhora num mesmo lugar que aquele homem? Ele anda aí a blasfemar e a irar-se contra Deus em pessoa, a senhora está se sentido muito mal por ele se estar a perder devido ao abuso que ele revela e manifesta contra Deus abertamente. A senhora teme pela vida dele. Como poderão duas pessoas assim tão diferentes, como dois estados de espírito tão distintos serem colocados num mesmo lugar de condenação?” Ela riu-se. “Claro que não podemos ir para o mesmo lugar!” A partir daquele momento, todo o seu desespero de alma sobre seu estado espiritual desvaneceu para sempre. Logo se tornou num caso distinto em tudo semelhante ao daqueles jovens, joviais e recém-convertidos. Pouco tempo depois o Sr. B- H- converteu-se de seus males e submeteu-se a Deus também.

A cerca de três quarto de milha de onde vivia o Sr. S-, vivia um certo Sr. M-, o qual era um Universalista obstinado e que durante muito tempo se manteve afastado de todas as reuniões de culto. Uma manhã, porem, O Pai Nash, que por essa altura estava habitando comigo em casa do Sr. S-, levantou-se muito cedo, como de costume, indo para um pinhal a uma certa distância da estrada, para assim experimentar uns momentos em oração a sós com Deus. Ele saiu antes do sol nascer. E como lhe era peculiar, ele travava verdadeiras batalhas de parto e de espírito em oração continua. Era uma daquelas manhãs silenciosas, nas quais se podiam ouvir sons a grandes distancias. O Sr. M- levantou-se também e saiu de sua casa muito cedo e ouviu aquela voz em oração. Ele ouvia e ouvia e pôde mesmo distinguir que era a voz de Pai Nash. Sabia que era uma oração também, declarou-nos mais tarde. Mesmo não tendo como distinguir o que dizia agonizando, sabia que ele orava e distinguia quem orava mesmo. Aquele episódio acertou-lhe em cheio como uma seta em seu coração. Ele relatou-nos que tudo aquilo lhe trouxe um certo sentido da realidade da religião em si, tal qual ele nunca antes se houvera apercebido. Aquela seta entrou fundo e ele nunca mais conseguiu sentir qualquer alívio até se haver entregue a Jesus pela fé.

Não sei ao certo quantas pessoas se converteram neste avivamento real. Era uma cidade grande, habitada por gente do campo, agricultores na sua maioria. Creio que quase todos se converteram a Cristo.

Nunca mais visitei aquele local durante variadíssimos anos. Mas ouvia com muita freqüência relatos vindos de lá. Pude confirmar que se deu ali algo saudável e de salutar do ponto de vista espiritual e que nunca mais houve uma singular discussão sobre a questão do batismo dali em diante. Não houve desvios de qualquer ordem e eram sãos do ponto de vista de saúde espiritual.

As doutrinas usadas para promoção deste avivamento, eram as mesmas que sempre usei em lugares distintos daquele: a da depravação total, voluntária de todos os pecadores; a necessidade incondicional duma transformação real de coração tendo com agente cooperante o Espírito Santo; a divindade e a humanidade total do senhor Jesus Cristo; a Sua distinta reconciliação a qual abrangia todos os homens e todas as suas possíveis necessidades; o dom incontornável do Espírito Santo, Sua divindade, Sua agencia e consolação nas questões de arrependimento, fé, justificação, santificação pela fé, persistência em santidade e como condição inabalável, incontornável na salvação de todo homem. Com efeito, todas aquelas doutrinas adjacentes a uma distinta pregação do evangelho acabaram por ser explicadas e entendidas com clareza e evidencia suficientes, tanto quanto nos era possível dentro das circunstâncias. Um enorme e vasto espírito de oração irrompeu e depois daquela discussão sobre o batismo, sobreveio um espírito de unidade tal entre irmãos, de amor fraternal e comunhão entre crentes, que era de realçar. Nunca tive a oportunidade de confrontar aquela oposição dos irmãos Batistas do púlpito. A partir daquilo que pude ler e aprender sobre a questão do batismo, o Senhor concedeu-me conseguir-me manter num espírito inalterável, fora de questões controversas e promíscuas, pelo que a controvérsia desabitou aquele local. Toda aquela discussão produziu um efeito surpreendente e sadio e nenhum espírito de controvérsia ou de maldade, tanto quanto tive oportunidade de verificar, prevaleceu. Tudo quanto Deus fez, foi bom.

CAPÍTULO XI – AVIVAMENTO EM KALB

Depois de Gouverneur fui para De Kalb, outra vila um pouco mais para norte a cerca de dezesseis milhas dali, creio. Ali havia uma igreja Presbiteriana, esta com pastor, mas era muito pequena e o seu ministro parecia não ter um pulso suficiente sobre suas ovelhas. Mesmo assim, creio que era um homem de certa forma piedoso. Comecei as reuniões em De Kalb, em lugares distintos da vila. Era uma pequena vila e as pessoas encontravam-se dispersas e longe umas das outras. Esta terra era nova e as estradas também e ruins de se andar nelas. Mas um pequeno avivamento irrompeu logo e propagou-se com grande poder, isto se levarmos em linha de conta que era lugar onde as pessoas se encontravam afastadas umas das outras.

Uns anos antes, houve por ali um avivamento sob os labores dos metodistas. Foi seguido duma grande dose de entusiasmo e alvoroço e muitos casos ocorreram onde as pessoas, usando palavras metodistas “caíram sob o poder de Deus”. Isto os Presbiterianos resistiam veementemente e teve por conseqüência um mal estar dentro de toda a comunidade entre Metodistas e Presbiterianos. Os Metodistas acusavam os Presbiterianos de resistirem ao avivamento por recusarem aceitar estes casos de pretensa queda sob poder do Espírito. Tanto quanto tive oportunidade de apurar, existia uma certa veracidade nestas ocorrências.

Não havia estado a pregar durante muito tempo quando, numa noite, mesmo no final dum certo sermão, observei que um certo homem caia do seu banco perto da porta de entrada. As pessoas aglomeraram-se à volta dele para cuidarem de seu estado. Pelo que tive oportunidade de verificar, apercebi-me que era um dos ditos casos onde as pessoas desfalecem pelo manifesto realce duma manifestação visível de Deus. Supondo tratar-se dum Metodista, temi que tal ocorrência pudesse criar um estado de divisionismos entre a população do gênero daquele que já ali prevalecia desde há muito. Mas depois de inquirir melhor, pude comprovar que se tratava dum dos principais homens do clero Presbiteriano. E foi de realçar neste avivamento que ocorreram vários destes casos entre Presbiterianos apenas e nenhum entre Metodistas. Isto levou a tais confissões entre pessoas de diferentes denominações que asseguraram desde logo uma certa cordialidade entre membros de diferentes padrões e conceitos religiosos. Um sentimento agradável imperou desde logo entre eles.

Mas enquanto laborava em De Kalb, tive oportunidade de ficar a conhecer um certo Sr. F-, de Ogdensburgh. Ele ouviu rumores sobre este avivamento e veio de Ogdensburgh passando alguns dias comigo para ver de perto esse avivamento. Ele era um homem abastado e benevolente veio desde cerca de dezesseis milhas de distância para ouvir a palavra de Deus. Ofereceu-se para me pagar um salário como missionário para pregar o evangelho por toda aquela região. Eu declinei logo, pois admiti diante dele que não me podia comprometer a limitar os meus labores a uma região específica e humanamente delineada.

Este Sr. F- passou uma série de dias comigo, visitando de casa em casa e atendendo às reuniões. Ele recebera sua educação em Filadélfia, numa escola Presbiteriana Antiga e era ele próprio um presbítero na igreja de Ogdensburgh. Ao partir dali, deixou atrás de si uma carta contendo nela três notas de dez dólares. Uns dias mais tarde voltou de novo, passando mais dois ou três dias em minha presença. Atendia nossas reuniões e ficou muito interessado em nossa obra. Quando partiu deixou nova carta com o mesmo conteúdo de três notas de dez dólares. Assim, me achei com sessenta dólares, o que me proporcionou a excelente oportunidade de comprar uma carruagem, pois até ali, embora possuísse um cavalo, eu e minha esposa tínhamos de nos deslocar a pé a grandes distâncias entre reuniões.

O avivamento cilindrou o mal e apoderou-se fortemente de toda a congregação local. Um certo presbítero daquela igreja, de nome B-, foi visivelmente quebrantado e quebrado, tornando-se desde logo num novo homem e a impressão do avivamento se aprofundava na opinião geral de dia para dia.

Num Sábado, um pouco antes de anoitecer, um certo alfaiate alemão, de Ogdensburgh, apareceu por ali e informou-me que havia sido mandatado por Squire F- para me tirar as medidas para fazer conjunto de roupas para mim. Eu começara a ter necessidade de roupas e por uma vez, não muito tempo antes, havia me dirigido ao Senhor Jesus sobre o assunto, que minhas roupas já se encontravam bastante degradas. Mas não me havia apercebido que o Sr. F- houvesse notado isso e foi por essa razão que enviara ali aquele homem. Este alfaiate era Católico. Perguntei-lhe se não poderia permanecer por ali até Domingo, pois poderia assim assistir ao culto e tirar as medidas apenas na segunda pela manhã. Mas disse-me prontamente que não, que tinha de se ir embora no mesmo dia. Eu disse-lhe então: “é muito tarde para o senhor se ir hoje; e se eu permitir que me tire as medidas hoje, o senhor por certo se irá daqui amanhã”. Ele admitiu que sim, que seria esse o caso. Então respondi-lhe que não me iria medir de jeito nenhum. “Caso o senhor não tenha como permanecer aqui até segunda de manhã, não permitirei de jeito algum que me tire essas medidas!”. Foi assim que ele ali permaneceu então até segunda.

Nessa mesma tarde, outros avivamentos irromperam em Ogdensburgh; e entre estes havia um certo homem, o Presbítero S-, o qual era um membro da mesma igreja da qual era o Sr. F- também. O filho do Sr. S-, que era um homem que ainda não se havia convertido, veio com ele.

O Presbítero S- atendeu à reunião pela manhã e foi convidado no intervalo pelo Presbítero B-, homem cheio do Espírito Santo, a deslocar-se a sua casa tomar algo refrescante. A caminho de casa pregou para este Presbítero que era muito frio e insensível a Deus. O Presbítero S- ficou muito compenetrado com as suas palavras.

Assim que chegaram a casa, a mesa havia sido posta e foram prontamente convidados a sentarem-se e tomarem algo. Ao se reunirem de volta da mesa, o Presbítero S- perguntou de Presbítero B- “como recebeu o senhor esta bênção do Espírito Santo?” Ao que respondeu, “Parei de mentir a Deus. Toda a minha vida era pretensiosa e cheia de calúnias para com Deus, pedindo-lhe sempre coisas que, na verdade, eu nunca estaria na disposição de nelas permanecer por muito tempo. Eu orava como outras pessoas também o faziam, notando a minha evidente falta de sinceridade em tudo aquilo que pedia. No fundo mentia a Deus. Mas assim que determinei para comigo mesmo nunca mais dizer ou pedir algo de Deus que eu não tivesse mesmo intenção e desejo real por ela dentro de mi mesmo; Deus me atendeu prontamente. O Espírito Santo desceu sobre mim e fui cheio d’Ele ali mesmo”.

Naquele dado momento, o Sr. S- afastou sua cadeira para trás e colocou-se de joelhos orando e confessando como sempre havia mentido a Deus também e como havia brincado aos hipócritas em todas as suas muitas orações, tal como em todo o resto de sua vida. O Espírito Santo descendeu sobre ele de imediato e encheu sua alma de tal forma que não se continha na sua alegria efusiva e calma.

Pela tarde reunimo-nos para adoração e eu estava à frente do púlpito lendo um hino. Ouvi alguém falando muito alto, aproximando-se da porta, estando tanto esta como as janelas abertas. Entraram dois homens de imediato. Um deles era o Presbítero B-, o qual conhecia pessoalmente. O outro homem era-me desconhecido. Mal entrou, colocou seus olhos em cheio sobre mim, aproximou-se de imediato da mesa onde me encontrava, levantou-me no ar, dizendo bem alto: “Que Deus o abençoe muito! Que Deus o abençoe mesmo!” De seguida, começou por relatar tanto a mim como à congregação por inteiro tudo quanto o Senhor Jesus havia feito por sua alma também.

Seu semblante brilhava como a de um anjo e todo seu aspecto se transfigurou. Todos quantos o conheciam dali, ficaram surpreendidos com a mudança operada naquele homem. Seu filho nada sabia do tudo quanto se havia passado com seu pai, mas assim que o viu e ouviu, levantou-se saindo prontamente da igreja. Seu pai gritou: “Não saias desta sala, meu filho, pois quero te confessar que nunca te amei de verdade afinal”. Continuou falando e todo o poder que emanava através de suas palavras eram de fato algo notório de se ver. Toda a gente se derreteu pelos quatro cantos daquela sala, quase que imediatamente.

Logo de seguida o alfaiate Católico levantou-se e confessou: “Tenho de dizer tudo o que o senhor Jesus fez por minha própria alma também. Eu cresci como Católico e nunca me atrevi a ler a Bíblia. Sempre me havia sido dito que, se a lesse, o diabo me carregaria vivo. Muitas vezes quando me atrevia a olhar para ela, parecia mesmo que ouvia o diabo falando por cima do meu ombro sussurrando que me levaria dali. Mas, agora vejo que era tudo um simples engano ilusionista”. E prosseguiu falando sobre sua experiência, a qual ocorrera ali mesmo onde se encontrava sentado. Deus lhe havia explanado todo o plano para sua própria salvação ali mesmo. Ficou patente diante de todos ali presentes que este homem havia sido de fato convertido.

Esta cena causou um grande impacto em toda a congregação. Eu não podia nem sequer pregar. Todo o decorrer daquela reunião foi inteiramente da autoria do Espírito Santo, pois o Senhor liderou-a toda. Sentei quieto no meu canto observando a salvação operada pela Próprio em cada um ali presente. Em toda essa tarde, múltiplas conversões se deram umas atrás das outras por toda a congregação. Um se levantava após o outro, relatando suas experiências reais. Conforme se iam erguendo e relatando todas obras operadas em si, em suas almas, de verdade, a impressão causada em cada um subia de tom. Tão espontâneo e tão real foi aquele movimento entre toda aquela gente, pecadores convencendo pecadores dos próprios pecados, como nunca vira até então.

No dia seguinte, este Presbítero S- voltou então para Ogdensburgh. Mas, como pude ser informado, pelo caminho visitou muita gente, falando e orando por vezes com famílias inteiras. E foi assim que este avivamento se estendeu até Ogdensburgh também.

No início de Outubro, o sínodo da igreja ao qual eu pertencia, reuniu-se em Utica. Levei comigo minha esposa e visitamos sua família, a qual vivia muito perto dali.

O Sr. Gale, meu professor de teologia, saiu de Adams não muito tempo depois de eu haver saído de lá também. Ele foi para uma fazenda a leste de Oneida County, onde se resumiu a tentar recuperar seu estado de saúde. Ali estava envolvido no ensino a alguns jovens, os quais tinham como propósito irem pregar o evangelho. Passei alguns dias em Utica nas reuniões do Sínodo da igreja e propus-me voltar ao meu local de labor, em St. Lawrence County.

Não chegamos a andar mais do que umas curtas milhas e encontramos o Sr. Gale em pessoa, em sua carruagem. Ele saltou de seu assento clamando: “Que Deus o abençoe, irmão Finney! Eu ia a caminho do sínodo para ir procurá-lo! Você tem de vir comigo para minha casa. Não me poderá recusar isto. Eu não acredito que alguma vez tenha sido um homem convertido de fato. Escrevi no outro dia uma carta para Adams, tentando saber como o poderia achar, pois queria abrir minha mente e coração consigo”. Ele importunou-me de tal forma, que desde logo só podia consentir em ir com ele. Deslocamo-nos de imediato para Western.

Refletindo agora em tudo quanto disse sobre os avivamentos em Jefferson and St. Lawrence, acho que não dei o devido ênfase na total operação e agencia do próprio Espírito Santo, não tanto quanto devia, em todo caso. Desejo ser bem entendido quanto a esse fato, em todos os relatos que possa dar sobre estes avivamentos, os quais presenciei de perto e de longe, que sempre tive em mente muito bem impressionado e sempre presente mesmo, quanto a essa verdade imutável, que todo este trabalho foi de total autoria do Espírito Santo de Deus sempre presente. Sempre fui diligente em proclamá-lo e afirmá-lo distintamente, que tanto a eficácia, como os meios recebidos para o efeito, nunca se tornariam possíveis caso Deus não fosse interveniente direto e ativo em tudo quanto ali se passou.

Sempre disse e aludi ao fato, vezes sem conta mesmo, que o próprio espírito de oração que inundou esses avivamentos foi peculiar e de inteira autoria do Espírito Santo também. Era comum e freqüente achar crentes jovens inteiramente exercitados em oração invulgar. Em certos casos chegavam mesmo a perder suas forças em intercessão continuada. Permaneciam em vigílias noites inteiras, tanto assim era que se tornavam exaustos no interceder por almas perdidas em pecado à sua volta. Havia sempre grande pressão e sentido de urgência a partir do próprio Espírito Santo quanto a isso mesmo. Pareciam carregar sobre seus próprios ombros todo o peso de almas imortais em vias de perecerem. Manifestavam e revelavam a mais solene carga sobre si mesmos, a mais vigilante oração, vigiando sempre e continuadamente para que ninguém mais perecesse à sua volta. Era comum e muito freqüente mesmo encontrar crentes orando nas ruas, onde quer que se encontravam, nunca se importunando quanto ao local onde paravam para orar, os quais em vez de se interligarem em conversações, caíam de preferência sobre seus joelhos onde se achassem e expandiam todo peso que lhes fustigava a alma, muito solenemente.

Não apenas havia reuniões de oração espontâneas por todo lado, compactamente repletas de gente em espírito de agonia pelos que se perdiam, mas havia uma enorme dosagem de espírito de oração a nível individual também. Os crentes quando juntos oravam bastante mesmo, mas muitos destes passavam grande parte de seu tempo em solene oração privada também, em sua grande maioria mesmo. Era freqüente verificar que se agarravam com todo afinco àquela promessa que, onde dois ou três se reunissem em Seu Nome, pedindo, O Pai nos Céus os ouviria por certo. Seria sempre assim que tornariam pessoas atrás de pessoas seus objetos e objetivos distintos em todas as suas orações. Ninguém tinha qualquer duvida sobre o fato de que era Deus quem respondia e atendia tão solenemente em conformidade com suas inumeráveis e memoráveis orações, as quais despendiam todas as suas forças em real intercessão, não apenas diariamente, mas de hora a hora mesmo.

Caso algo se insurgisse que ameaçasse ser obstáculo contra toda a obra de Deus, qualquer raiz de amargura, qualquer tendência de fanatismo, qualquer desordem ou tentativa de desordenamento real, qualquer profilaxia, todos os crentes tocavam o alarme em uníssono e clamavam aos céus espontaneamente, para que fosse Deus a comandar e a direcionar devida e pessoalmente todas as coisas a prosseguir em perfeita ordem e progresso. E era deveras surpreendente ver tanto a que extensão real e com que meios, Deus se manifestava em atender suas muitas orações. Ele saia atendendo virtualmente.

No tocante a minha experiência pessoal, eu diria mesmo que enquanto não estivesse pessoalmente subjugado neste espírito de oração pessoalmente, nada tinha como alcançar mesmo. Caso acontecesse que por um dia ou durante uma hora que fosse, eu chegasse a perder esse espírito de intercessão contínuo, via em mim mesmo uma manifesta falta, tanto de poder como de sabedoria e mecanismos de pregação que tivessem como levar pessoas a uma rendição total aos pés de Cristo. Também senti que era inútil na conversação com indivíduos. A esse respeito, sempre foi esta a minha experiência pessoal.

Semanas antes de haver deixado Kalb, para me deslocar à assembléia sinodal, eu estive imensamente exercitado em oração intervencionada diretamente e direcionada pelo próprio Espírito Santo, obtendo mesmo uma experiência que me era total novidade até então. Achei-me de tal forma exercitado pela salvação das pessoas à minha volta, abatido por um enorme pesar em mim próprio, sentindo sua perdição incomparável, que fui constrangido a orar sem cessar. Algumas de minhas muitas experiências, na verdade alarmavam-me enormemente. Um espírito que importuna fazia-me clamar a Deus manifestando meu desagrado no que toca as Suas promessas, as quais eu me recusava abandonar sem que visse total cumprimento sobre elas, manifestamente. Achava mesmo que nunca teria como e porque ser recusado. Estava tão seguro de que seria prontamente atendido, que a fidelidade a tudo quanto prometeu, a tudo aquilo que Ele era pessoalmente, que me ouvia a mim mesmo dizendo com freqüência “Senhor, espero que não aches que eu possa ser negado quanto a estes pedidos. Eu tenho na minha própria mão um aval de Tuas promessas e de Tua total fiabilidade. Nunca terei porque não sair daqui atendido por Ti pessoalmente!” Nunca terei como descrever o quão absurdo e quão obsoleto era a incredulidade para mim pessoalmente e como seriam seguríssimas, em toda a minha mente e que Deus me ouviria, pois eram orações que eu fazia subir diariamente, de hora em hora mesmo em total fé agonizante. Eu não tinha a menor idéia de como Deus atenderia a minhas muitas súplicas, ou de que forma viria a resposta cabal e integralmente minuciosa, nem o tempo preciso em que veria tal resposta sair do seio de Deus. A impressão total seria de que a resposta estaria mesmo ali à porta. E sentia-me fortalecido em toda minha vida espiritual imatura, quando sentia a destreza e peculiaridade daquela luta em lugares celestiais contra poderes do mal obscuros e terríveis. Por essa razão esperava sempre ver uma maior manifestação real do poder de Deus, em toda aquela região onde despendia minhas forças em labores infinitos.

Extraído do site The GOSPEL TRUTH