Cristo No Antigo Testamento

Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são das mesmas que testificam de mim. João 5:39

A arca, Imagem da Cruz de Cristo – Gênesis 6:13 a 7:24 – “Então, disse Deus a Noé: O fim de toda carne é vindo perante a mi­nha face… faze para ti uma arca de madeira de Gofer” (Gn 6:13). Aqui estava a ruína do homem e o remédio de Deus. O homem tinha sido autorizado a prosseguir na sua carreira até o máximo limite, até que os seus princípios e caminhos atingissem a maturidade. O fermento tinha levedado a massa. O mal havia atingido o seu auge. “Toda a carne” tinha só tornado tão má que já não podia ser pior; pelo que nada restava a não ser que Deus destruísse totalmente e, ao mesmo tempo, salvasse, aqueles que foram achados segundo os Seus desígnios eternos, ligados ao oitavo homem (Noé) – o único justo que ainda existia.

Este episódio nos mostra a doutrina da cruz de modo intenso. Vimos ali, imediatamente, o juízo de Deus abrangendo, na sua sentença a natureza e seu pecado; e, ao mesmo tempo, a revelação da Sua graça salvadora, em toda a sua amplitude e adaptação perfeita àqueles que, segundo o juízo de Deus, têm chegado ao ponto mais baixo da sua condição moral. “Com que o Oriente do alto nos visitou” (Lucas 1:78). Onde? Precisamente onde estamos, como pecadores. Deus desceu até às profundezas da nossa ruína. Não existe nenhum ponto em todo o estado do pecador onde a luz deste bendito sol do Oriente do alto não tenha penetrado; porém, se assim tem penetrado, deve, em virtude do que é, revelar o nosso verdadeiro caráter.

A luz deve julgar todas as coisas que lhe são expostas; contudo, ao mesmo tempo que assim o faz, dá também “conhecimento da salvação na remissão dos pecados”. A cruz, do mesmo modo que revela o juízo de Deus contra “toda a carne”, mostra a Sua salvação para o pecador perdido e culpado. O pecado é perfeitamente julgado – o pecador perfeitamente salvo – e Deus é perfeitamente revelado e inteiramente glorificado na cruz.

Se o leitor consultar, por um momento, a 1° Epístola de Pedro, encontrará muita luz lançada sobre este assunto. No terceiro capítulo, versículos 18 a 22, lemos: Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados,o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; no qual (Espírito) também foi e pregou (por Noé) aos espíritos (agora) em prisão; os quais em outro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água, que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, pelo batismo, não do despojamento, da imundície da carne, mas da indignação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo; o qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu, havendo-se-Ihe sujeitado os anjos e as autoridades e as potências.

Esta passagem é muito importante. A doutrina da arca e a sua ligação com a morte de Cristo é claramente apresentada a nós. Como no dilúvio, também na morte de Cristo, todas as vagas e ondas do julgamento divino passaram por cima daquele que, em si, era sem pecado, A criação foi sepultada debaixo do dilúvio da justa ira do Senhor; e o Espírito de Cristo exclama: “…todas as tuas ondas e vagas têm passado sobre mim”(Salmos 42:7). Aqui está uma verdade profunda para o coração e consciência do crente. ‘Todas as ondas e vagas” de Deus passaram sobre a imaculada Pessoa do Senhor Jesus quando Ele foi crucificado na cruz; e, como bendita conseqüência, nenhuma delas ficou para passar sobre a pessoa do crente.

No calvário vemos, em boa verdade, romperem-se todas as fontes do grande abismo, a as janelas do céu abrirem-se. “Um abismo chama outro abismo, ao ruído das catadupas.” (SI 42:7). Cristo bebeu o cálix e suportou a ira. Pôs-se a Si Próprio, judicialmente, sob o peso de todas as responsabilidades do Seu povo, e rasgou-as gloriosamente. O conhecimento deste fato dá paz duradoura à alma. Se o Senhor Jesus enfrentou tudo o que era contra nós, se retirou do caminho todo o obstáculo, se tirou o pecado, se Ele esgotou o cálix da ira e julgamento por nós, se afastou toda possibilidade de nuvens, não devemos nós gozar de paz duradoura? Indubitavelmente. Paz é a nossa porção inalienável. A nós pertence a bem-aventurança santa e incontável que o amor pode nos dar sobre a base da obra consumada de Cristo.

Havia uma porta e uma janela na arca. O Senhor fechou a porta com a Sua mão onipotente, e deixou a janela aberta para que Noé pudesse olhar para o lugar de onde tinha emana do todo o julgamento e ver que não restava julgamento para si. A família salva só podia olhar para cima, porque a janela era “em cima” (capítulo 6:16). Nenhum deles podia ver as águas do julgamento, nem a morte e desolação que essas águas haviam causado. A salvação de Deus — a “madeira de Gofer” – estava entre eles e todas estas coisas. Por isso só tinham que contemplar um céu sem nuvens, o lugar eterno de habitação Daquele que tinha condenado o mundo, e os tinha salvado.

Nada pode ilustrar melhor a segurança perfeita do crente em Cristo do que essas palavras “e o Senhor o fechou por fora”. Quem pode abrir o que Deus fecha? Ninguém. A família de Noé estava tão segura quanto Deus podia torná-la. Não havendo poder, angélico, humano ou diabólico, que pudesse abrir de par em par a porta da arca e deixar entrar a  água. Essa porta tinha sido fechada pela mesmíssima mão que tinha aberto as janelas do céu, e rompido as fontes do abismo. Assim fala-se de Cristo como Aquele que “tem a chave de Davi; que abre e ninguém fecha, fecha e ninguém abre” (Ap. 37), Ele tem em sua mão “as chaves da morte e do inferno” (Ap. 1:18). Ninguém pode entrar os portais da sepultura, nem sair dali, sem contar com Ele. Ele tem “todo o poder no céu e na terra” (Mt. 28:18). Foi constituído “sobre todas as coisas como cabeça da igreja” (Ef. 1:22) e Nele o crente está perfeitamente seguro.

Por isso, estando a porta da nos­sa arca segura pela mão do Próprio Deus, nada nos resta senão olhar pela janela; ou, por outras palavras, andar em feliz e santa comunhão com Aquele que nos salvou da ira futura e nos fez herdeiros da glória vindoura, Pedro fala daqueles cegos: “nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados” (2 Pé 1:9). Esta é uma condição lamentável para todo aquele que nela se encontrar, que é resultado de não se cultivar comunhão diligente, intercessória com Aquele que nos fechou eternamente em Cristo.

Por: Maurício G. G. Cid

Extraído do Livro Gênesis de C.H. Mackintosh – Editora: Depósito de Literatura Cristã

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