Exposição sobre Efésios 1:13 – Selados com o Espírito Santo

“Em quem também confiastes, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa.” Efésios 1:13

Nestas palavras nos vemos face a face com mais outro acréscimo a esta série de extraordinárias declarações que o apóstolo vem fazendo com respeito à nossa posição e à nossa herança no Senhor e Salvador Jesus Cristo. Já observamos como a sua fórmula para a introdução de alguma bênção adicional é a expressão Em quem também vós. Ele dissera no versículo 7. Em quem temos a redenção. Depois no versículo 11, continue dizendo: Em quem também obtivemos uma herança (VA). Mas agora temos algo que nos leva ainda mais longe. Em quem também, depois que crestes, fostes selados com o Espírito Santo da promessa (VA). E espantosa a maneira pela qual nesta grande declaração que, como vimos, vai do início da versículo 3 ao fim do versículo 14, o apóstolo parece estar empilhando uma glória sobre outra à medida que nos desvenda as bênçãos que são nossas como frutos das riquezas da graça de Deus. Deus ele, fato as tornou abundantes para conosco. Aquele algo mais que o apóstolo quer apresentar-nos é, depois que crestes, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. Aqui ele nos apresenta de maneira explícita, pela primeira vez neste capítulo, o Espírito Santo. Evidentemente, como notamos, o Espírito estava envolvido em tudo o que encontramos até aqui. Não podemos estar cientes da nossa necessidade de redenção, sem o Espírito Santo; na verdade, não podemos crer, sem a operação do Espírito Santo. Mas aqui Ele é mencionado explicitamente, o Seu nome propriamente dito é introduzido. E somos postos face a face com certos aspectos vitais do ensino do Novo Testamento concernente ao Espírito Santo e Sua obra. É, pois, um acréscimo importante, e é lamentável que, quando esta carta foi dividida em versículos, não foi iniciado um novo versículo neste ponto: pois este é um novo assunto, e isso deveria ser salientado daquela maneira.

Esta declaração adicional é particularmente importante do içado de vista experimental O apóstolo nos estivera lembrando tudo o que é verdadeiro com relação ao evangelho, e tudo o que nos é dado nele. Aqui, porém, ele nos faz plenamente conscientes da verdade e nos faz lembrar a maneira pela qual podemos certificar-nos destas coisas e usufruir algo da sua glória e da sua grandeza, mesmo enquanto ainda estamos neste mundo limitado pelo tempo.

Estou cada vez mais persuadido de que é o nosso malogro quanto a entendermos esta precisa declaração que explica tanta letargia entre nós cristãos na hora presente. Pelo menos chego a afirmar que o cristão que não esteja experimentando a alegria da salvação acha-se nessas condições em grande parte por não compreender a verdade ensinada neste versículo particular das Escrituras, pois nele nos vemos face a face com a maneira pela qual podemos penetrar na plenitude que deveríamos estar experimentando em Cristo. Regozijai-vos no Senhor, e regozijar-nos sempre, é uma parte essencial do propósito de Deus quanto a nós em Cristo. O: nosso Senhor, no fim da Sua vida terrena, não somente disse; .A minha paz vos dou, disse também; o meu gozo (ou “a minha alegria) (João 15:11). Essa é a herança do cristão. O. povo cristão deveria estar cheio de alegria, paz e felicidade. Não somente isso, mas também, se sentimos que somos ineficientes como cristãos e que a nossa utilidade não é muito evidente, então opino que, de novo, deve-se isso ao mesmo fato, a saber; a nossa incapacidade de compreender o que se quer dizer com o selo de Deus aplicado aos Seus pelo Espírito Santo da promessa. Além disso; esta é uma das doutrinas mais vitais do Novo Testamento com respeito ao avivamento e ao despertamento dentro da Igreja Cristã.

O selo é um assunto que tem causado muita controvérsia; Não é um assunto fácil, portanto, não obstante; devemos enfrentá-la. E o melhor modo de fazê-la é adotar o nosso método anterior e examinar os termos que o apóstolo emprega: Em quem também, depois que crestes, fostes selados com o Espírito Santo da promessa.

Tornemos primeiro o termo selo em seu sentido comum; em seu uso habitual entre os homens. O termo tem três sentidos principais. Primeiro, o selo autentica ou veicula autoridade. Dois homens fazem um acordo; pode ser a venda de uma casa ou o acerto de um negócio, ou alguma outra coisa nessa área. Concordaram nos termos a serem lavrados; mas, como sabemos, esse documento não será realmente válido, e nem um nem outro ficarão satisfeitos com ele, enquanto não for assinado e selado. Mesmo à assinatura é preciso acrescentar o selo. Isso torna o acordo mais autêntico, mais absoluto – assinado e selado. Portanto, um selo é aquilo que transmite autoridade, ou estabelece a autenticidade, a validade, e veracidade de um documento ou de uma declaração.

Outro sentido ligado ao selo é que ele é um sinal de propriedade. Usa-se frequentemente no caso de animais; o proprietário ou o homem que compra os animais põe a sua marca ou o seu selo neles para indicar que lhe pertencem. A mesma coisa se faz com a posse de propriedades, ou, de novo, com documentos. Isso indica que uma coisa, seja qual for, pertence por direito de propriedade à pessoa que faz uso desse selo particular. O selo tem uma imagem especial que pertence unicamente a uma pessoa, e, portanto, quando você vê aquele selo ou aquela imagem nalguma coisa, você sabe que é propriedade ou posse de uma determinada pessoa.

Além disso, o selo também é utilizado com fins de segurança. Se você deseja que uma encomenda chegue bem ao seu destino, pelo correio ou pelo trem, você não somente a embala e amarra bem, mas também lacra e carimba os nós com um selo. Se de algum modo o selo for rompido ou estragado, quer dizer que alguém violou a encomenda. Há um exemplo disso no Novo Testamento. Quando nosso Senhor foi sepultado, as autoridades romanas e os judeus ficaram preocupados com o que os Seus seguidores poderiam fazer com Seu corpo, pelo que rolaram uma pedra sobre a boca do sepulcro e depois o selaram, por segurança.

Vemos, pois, que há três principais sentidos do termo selo – autenticidade e autoridade; propriedade; e garantia e segurança – e estes significados nos ajudarão a entender o que quer dizer selados com o Espírito Santo da promessa.

Faremos bem em prestar atenção no uso escriturístico de selo, pois termos dessa espécie geralmente têm o mesmo sentido e a mesma conotação em todas as partes da Palavra. Observemos dois importantes exemplos de selo. No capítulo 3 do Evangelho Segundo João, lemos: Aquele que aceitou o seu testemunho colocou o seu selo de que Deus é verdadeiro (versículo 33,VA). Esta é simplesmente outra maneira de dizer que quando um homem crê no evangelho e o aceita, ele está, por assim dizer, expressando o seu acordo e autenticando que este é realmente a verdade de Deus, e que o que Deus diz é verdadeiro. É uma declaração ousadia, uma figura ousada, mas aí está! Seu oposto (embora a palavra selo não seja empregada concretamente) acha-se na Primeira Epístola de João: Quem a Deus não crê mentiroso o fez: porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu (5:10). Crer no evangelho é colocar o seu selo nele e dizer que ele é verdadeiro; não crer é virtualmente dizer que Deus é mentiroso.

Mas há um uso ainda mais importante de selo, e este se acha no capítulo 6 do Evangelho Segundo João, onde nos é oferecida uma narrativa que mostra o nosso Senhor alimentando os cinco mil. Feito isso, Ele colocou os Seus discípulos num barco e lhes disse que atravessassem o mar; quanto a Ele, subiu a um monte para orar. Mais tarde, à noite, juntou-Se a eles, e chegaram do outro lado do lago. Muitas outras pessoas também tinham tomado barcos e cruzado, e seguiam o nosso Senhor, que Se voltou para elas e disse: Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, selou (versículo 27). Nessa passagem o nosso Senhor estava dizendo às pessoas que elas deviam ouvi-Lo porque o Pai O havia selado. Não entenderam essas palavras e perguntaram ao Senhor que obras de Deus elas deviam praticar. Respondeu-lhes o Senhor, dizendo: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou. Replicaram Seus ouvintes: Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos e creiamos em ti? Que operas tu? Que provas nos dás de que és o Filho de Deus, o Salvador, o Messias.? E acrescentaram: Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: deu-lhes a comer o pão do céu. Quando Moisés estava conduzindo o nosso povo no deserto, deu aos nossos antepassados maná do céu como um sinal; que sinal nos dás? Em certo sentido, o nosso Senhor já tinha respondido essas perguntas quando disse que Ele tinha sido selado, isto é, autenticado por Deus Efetivamente Ele diz: Deus mostrou claramente que Eu Sou o Seu Filho, que Eu, o Filho do homem, sou o Filho de Deus; isso Ele mostrou selando-Me, dando-Me autoridade, autenticando as Minhas reivindicações, estabelecendo o Meu ministério e ungindo-Me como o Messias.

De que modo Deus tinha selado o Senhor Jesus vê-se em toda parte nos Evangelhos. Deus O tinha selado por ocasião do Seu batismo, enviando sobre Ele o Espírito Santo em forma de pomba. O Evangelho Segundo João diz-nos que não lhe dá Deus o Espírito por medida (3:34). O Espírito foi enviado sobre Ele em toda a Sua plenitude. Embora continuando a ser o Filho de Deus; eterno e igual ao Pai, Ele Se havia limitado a Si próprio, tinha vindo na forma de servo; e para poder realizar a Sua obra como o Salvador. Necessitava do poder do Espírito Santo. Por isso o Espírito Lhe foi dado, não por medida, mas em toda a Sua plenitude. Foi desse modo que Deus pôs Nele o Seu selo.

Além disso, eis que uma voz do céu dizia: este é o meu Filho amado, em quem me comprazo (Mateus 3:17). Ouviu-se essa voz: em três ocasiões, autenticando-O, selando-O, proclamando que ele é o Filho de Deus, o Messias, o Libertador. Foi devido Ele ser revestido de poder por Deus, mediante o Espírito Santo, que o nosso bendito Senhor pôde falar e realizar Suas obras poderosas. Disse Ele: As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas: o Pai, que está em mim, é quem faz as obras (João 14:10).

Portanto, no que se refere às obras, Ele afirma que está realizando as obras que o Pai Lhe confiara para realizar. Essa foi a Sua autenticação, e essa se manifestou em Sua capacidade de expor as Escrituras, embora nunca tenha recebido instrução para isso. Pessoas que O ouviram disseram Nunca homem algum falou assim como este homem (João 7:46), pois Ele falava na plenitude do poder do Espírito. A mesma verdade aplica-se às Suas obras. Ele pôde dizer: Se não credes em mim, crede nas obras (João 10:3’8:), As obras eram Sua autenticação. Foi esse o argumento que Ele uso no caso de João Batista, que tinha ficado na incerteza quanto a Ele: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho (Lucas 7:22). São essas as coisas que os profetas haviam dito que o Messias faria, portanto, o fato de que Ele as estava fazendo é o selo de que Ele era o Messias.

O bispo Westcott resume muito bem o aquele que o Pai selou dizendo que significa solenemente separado para a incumbência de (uma) responsabilidade, e autenticado por sinais inteligíveis. O Pai autenticara o Filho mediante sinais inteligíveis – os milagres, as obras, as palavras, tudo quanto Lhe diz respeitei‘: Tendo recebido o Espírito Santo em toda a Sua plenitude, Ele fará selado, fora autenticado.

Vimos, pois, o sentido do termo como se vê no uso comum e também nas Escrituras; e vimos que em ambos os casos coincide. Quanto ao nosso Senhor, é-nos dito que foi feita uma declaração dizendo: Este é o meu Filho amado, e que essa foi confirmada por Suas obras e por Suas palavras. O que quer que os homens Lhe façam, Ele está credenciado, autenticado como o Filho de Deus e como o Salvador, e ainda que o inferno seja solto contra Ele, o propósito de Deus será levado a efeito Nele e por meio Dele. A este o Pai, Deus, o selou.

Isso certamente é de grande utilidade quando passamos a considerar o sentido desse termo com relação a nós. Obviamente deve significar para nós o que significou para o Senhor. Significa que podemos ser autenticados, que pode ser estabelecido por sinais inteligíveis que realmente somos filhos de Deus, herdeiros de Deus e co-herdeiros com o nosso bendito Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Pois bem, para chegarmos ao significado do termo selo com ainda maior clareza, consideremos quando se dá a aplicação do selo. Onde é que a selagem entra na vida e na experiência do cristão. Tem-se visto que essa é uma questão interessante e, na verdade para alguns, um problema. A Versão Autorizada inglesa diz: E quem também vós, depois que crestes, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. A Versão Revista inglesa (ERV) diz: Em quem tendo também crido…; e a Versão Padrão Revista (RSV) também vós, que crestes nele.  Portanto, a questão que se levanta é qual tradução está correta. Quando ocorre esta selagem com Espírito Santo ? Será no momento em que a pessoa passa a crer, ou depois? A Versão Autorizada, que não é só tradução mas também exposição, claramente indica que se trata de algo que se segue a crer, que é diferente, separado e distinto do crer, e que não faz parte do crer. Somos, pois, confrontados pela questão: este selo do Espírito Santo é uma experiência distinta e separada na vida cristã, ai é algo que acontece inevitavelmente com todos os cristãos, de maneira que não se pode ser cristão sem este selo ?

O ensino comum que prevalece atualmente, em especial no círculos evangélicos, é que a segunda alternativa é a correta. Segundo esse ensino, a selagem com o Espírito é algo que acontece imediata e inevitável e inexoravelmente com todos os que crêem. Mas eu não posso aceitar isso, e para consubstanciar a minha opinião, menciono o ensino do puritano do século dezessete, Thomas Goodwin, e, menos extensamente, a do seu contemporâneo John Owen; também o ensino de Charles Simeon, de Cambridge, há dois séculos, e de Charles Hodge, de Princeton, E.U.A, em seu comentário desta Epístola em fins do século dezenove. Esses mestres traçam aguda distinção entre crer (o ato de fé) e a selagem com o Espírito Santo. Eles asseveram que as Escrituras ensinam que, conquanto seja verdade que ninguém pode crer sem a influência do Espírito Santo, não obstante, não é a mesma coisa que ser selado com o Espírito, e que o ser selado com o Espírito nem sempre acontece imediatamente quando a pessoa crê. Eles ensinam que pode haver um grande intervalo, que é possível a pessoa crer, e, portanto, ter o Espírito Santo, e ainda não conhecer o selo com o Espírito. E certamente óbvio que os piedosos homens que nos legaram a Versão Autorizada sustentavam essa idéia, porque introduziram deliberadamente a palavra depois.

Geralmente se concorda que a Epístola não diz, Em quem também vós, crendo, estais selados com o Espírito Santo. O verbo está no passado; não é como crieis ou recuando crieis, é no mínimo, tendo crido. A Versão Revista (RV) sugere o passado, tendo também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa, minha opinião é que mesmo a frase tendo crido sugere que estas duas coisas não são idênticas e que o selo não acompanha imediatamente o ato de crer. O que torna isso tão importante é que se supõe que o selo com o Espírito, ou o batismo com o Espírito, é algo que todos os cristãos têm que ter necessariamente experimentado. Sustenta-se, pois que não é algo que ocorre na esfera da consciência ou na esfera da experiência, e sim, algo que acontece com todos os cristãos inconscientemente. Daí não o buscam. E a conseqüência de não o buscarem é que nunca o experimentam; e, em conseqüência, vivem num estado de fideismo ou credeismo, dizendo a si mesmos que eles têm que ter recebido isso, e portanto, o têm. E assim continuam a viver sem jamais experimentar o que foi experimentado pelos cristãos do Novo Testamento e também por muitos outros cristãos na subseqüente história da Igreja Cristã.

Por isso eu afirmo que este “selados com o Espírito é algo subseqüente ao crer, algo adicional ao crer, e dou suporte à minha alegação lembrando-lhes algumas declarações das Escrituras. Primeiro vou ao capítulo 14 do Evangelho Segundo João. Ali o nosso Senhor Se dirige aos Seus discípulos crentes. Ele traça aguda distinção entre eles e o mundo, e lhes diz que o Espírito Santo lhes será dado como outro Consolador porque eles pertencem a Deus. Diz Ele que o mundo não pode recebê-Lo, mas que eles estão prestes a recebê-Lo. A distinção é entre crentes e não crentes. No capítulo 16 Ele acrescenta: Digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu nau for, o Consolador não virá a vós. Sua vinda é uma grande bênção, à qual deverão estar aguardando. Deveriam alegrar-se, diz Ele, que Ele vá ao Pai, porque assim esta bênção lhes virá. Ele está falando com crentes; mas lhes diz que eles vão receber uma bênção adicional. Passando aos dois primeiros capítulos do livro de Atos, vemos, que o ensino é ainda mais claro. O nosso Senhor está falando com homens sobre os quais Ele já tinha soprado o Espírito Santo, e aos quais Ele dissera: Recebei o Espírito Santo (João 20.22); todavia, lemos em Atos. Capítulo primeiro, E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse Ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias (versículos 4 e 5). Eles já criam Nele plenamente; Ele já tinha soprado o Espírito sobre eles, contudo, diz a eles que esperem. Eles tinham necessidade de mais alguma coisa. E no capítulo 2 de Atos temos uma narrativa de como veio a bênção; exatamente o que o nosso Senhor tinha prometido aconteceu dez dias depois. É evidente que os discípulos já eram crentes Nele antes disso. É absurdo sugerir que eles não eram crentes antes do dia de Pentecoste. Eram plenamente crentes no Senhor Jesus Cristo. Ele lhes expusera a doutrina da expiação e eles a entenderam após a Sua ressurreição. Ele soprara sobre eles o Espírito. Eles sabiam que ele era o Filho de Deus. Tomé fizera a sua confissão Senhor meu, e Deus meu”. Contudo, eles ainda não tinham recebido o Espírito Santo. No Pentecoste é que eles foram selados ; foi ali que lhes foi dada a autenticação; e foi ali que começou o glorioso ministério deles.

No capítulo 8 do livro de Atos dos Apóstolos vemos que Filipe evangelizou os samaritanos, resultando daí que muitos samaritanos creram no evangelho. É-nos dito explicitamente que, tendo ouvido esta mensagem, eles creram: Mas, como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus, e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres (versículo 12). Eles creram no Senhor Jesus Cristo, e Filipe ficou satisfeito com o que tiveram, pelo que os batizou. Todavia no versículo 16 lemos. Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido (o Espírito Santo); mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus. Depois Pedro e João desceram de Jerusalém a Samaria e, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo. (Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus). Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo. Já eram crentes, já tinham crido no Senhor Jesus Cristo. Não poderiam tê-lo feito se o Espírito Santo não operasse neles e não lhes abrisse os corações e mentes. Mas o selo ainda não lhes tinha sido dado. Houve um intervalo. Como é errôneo dizer que a pessoa crê e imediatamente é selada pelo Espírito ! Certamente não foi o que aconteceu com estes samaritanos, como tampouco acontecera com os apóstolos.

No capítulo 9 do livro de Atos dos Apóstolos temos o relato da conversão de Saulo de Tarso. Ele creu no Senhor Jesus Cristo como resultado do que lhe aconteceu no caminho de Damasco; contudo não foi senão três dias depois que ele recebeu o Espírito Santo e Dele foi cheio, graças ao ministério de Ananias.

No capítulo 15 do livro de Atos temos um acontecimento similar. O apóstolo Pedro está se defendendo por ter recebido Cornélio e sua família na Igreja Cristã e por batizar gentios. Diz o registro E havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: varões irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho, e cressem. E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho (autenticou-os) dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós. Deus lhes tinha dado testemunho, Deus estabelecera o fato de que eles tinham crido e verdadeiramente eram Seus dando-lhes o Espírito Santo. Ele “selou-os.

Outro exemplo deste selo vê-se no capítulo 19 do livros de Atos. Paulo chegou a Éfeso, e achando alguns discípulos, disse-lhes – segundo a Versão Autorizada (inglesa) – “Recebestes o Espírito desde quando crestes? (versículo 2). Mas a Versão Revista (RV) e a Versão Padrão Revista (“RSV) oferecem uma tradução que diz: Recebestes o Espírito Santo quando crestes? (semelhante ao que diz Almeida). Não pode haver dúvida de que esta última é a tradução correta. Muitos acham que isso estabelece e prova que crer e receber o Espírito Santo são atos sincrônicos. Eles lamentam que a Versão Autorizada tem levado muitos a pensarem que é possível alguém crer e não receber o Espírito Santo senão mais tarde.

No entanto, isso não resolve o nosso problema, de fato eu afirmo que, longe de apoiar a idéia de que o recebimento do Espírito Santo sempre acompanha imediatamente o ato de crer, esta correta tradução de Atos capítulo 19, versículo 2 faz exatamente o oposto. Confesso que uma vez caí em erro nesta questão. O opúsculo que traz o meu nome intitulado Cristo, a nossa santificação (“Christ our sanctification), inclui o argumento segundo o qual, se tão-somente seguirmos a Versão Revista, e não a Versão Autorizada, veremos que não há intervalo algum entre o crer e o selar. Confesso meu erro de antes. Realmente caí nesse erro porque estava preocupado em mostrar que a santificação não é uma experiência que se recebe após a justificação. Isso eu ainda afirmo. Mas naquele tempo eu estava enganado quanto ao selo, como passo a demonstrar.

Quando o apóstolo perguntou aos discípulos, Recebestes o Espírito Santo quando crestes?, a implicação certamente é óbvia. É que os homens podem crer sem receberem o Espírito Santo. Se as duas coisas acontecessem inevitavelmente juntas, seria uma pergunta desnecessária, e o apóstolo simplesmente perguntaria se eles eram crentes. Entretanto não é isso que o apóstolo lhes pergunta. Sua pergunta é: Recebestes o Espírito Santo quando crestes? Noutras palavras, quando ele falou com aqueles homens, logo viu que eles não tinham o selo do Espírito Santo, que eles não tinham recebido o Espírito Santo. Por isso lhes diz efetivamente: olhem, vocês se dizem crentes, mas receberam o Espírito Santo quando creram? Receberam-No, vocês que se dizem crentes? Meu parecer, pois, é que a tradução correta de fato indica claramente que há distinção entre as duas coisas. Cremos, e, naturalmente, só podemos crer graças à operação do Espírito, mas pode ser que ainda não tenhamos recebido o selo do Espírito.

Os eventos subseqüentes nesta narrativa acerca de Paulo e os discípulos de Éfeso esclarecem ainda mais o assunto. O apóstolo começa a examiná-los, e indaga: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João. Mas Paulo disse: certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus (versículos 4-5). Paulo jamais os teria batizado, se eles não tivessem crido. Eles creram e aceitaram o que Paulo disse, e assim foram batizados. O que quer que tenham sido antes, agora evidentemente eram crentes, Mas então lemos E impondo-lhes as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas e profetizavam (versículo 6). Eles tinham crido, porém ainda lhes faltava o selo do Espírito. Só foram selados quando Paulo lhes impôs as mãos. Certamente este incidente prova que os homens que nos legaram a Versão Autorizada estavam interpretando Efésios capítulo 1, versículo 13 corretamente. Eles estavam teologicamente certos ao dizerem: Em quem também vós, depois que crestes, fostes selados com o Espírito Santo da promessa . Houve um intervalo entre o seu ato de crer e o ato de serem selados, como foi no caso do próprio Paulo e de todos os apóstolos, como foi no caso dos samaritanos, como foi no caso dos discípulos de Éfeso.

Contudo, deixemos claro que, embora eu esteja acentuando que há uma distinção entre estas duas coisas, e que sempre há um intervalo – que o ser selado não acontece imediata e automaticamente no ato de crer – eu não gostaria que entendessem que estou dizendo que sempre tem que haver um longo intervalo entre ambos. Pode ser um intervalo muito curto, tão curto que pode fazer parecer que crer e ser selado são simultâneos; mas há sempre um intervalo. Primeiro o crer, depois o selo. Unicamente os crentes são selados, e você pode ser um crente e não ter sido selado, as duas coisas não são idênticas. Crer é que nos toma filhos de Deus, que nos une a Cristo, ser selado com o Espírito Santo é que autentica esse fato. O selo não nos faz cristãos, porém autentica o fato, como faz o selo em geral.

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