Durante anos os israelitas almejaram ser governados por um rei humano. E finalmente, Deus permitiu-o. Ele disse ao profeta Samuel para ungir Saul para governar sobre Israel. Então o profeta encontrou-se com Saul, verteu uma vasilha de óleo sobre sua cabeça, e beijou-o. Depois disse a Saul, “Porventura te não tem ungido o Senhor por capitão sobre a sua herdade?” (I Samuel 10:1).
A nenhum ser humano poderia ser dado tamanho elogio. Basicamente, Samuel disse, “Saul, Deus é contigo. Tu és um vaso escolhido; selecionado com cuidado por Deus.” Além disso, Deus abençoou Saul imediatamente com um coração disposto a cumprir o seu chamado: “Deus lhe mudou (a Saul) o coração em outro…e o espírito do Senhor se apoderou dele (Saul), e profetizou” (versículos 9-10).
Contudo, Saul não se vangloriava; não ostentava a sua unção ou condição. De facto, a Bíblia diz que ele próprio se viu pequeno (ver I Sam. 15:17). Vemos um exemplo da humildade de Saul quando este regressou à casa após o encontro com Samuel. O seu tio interpelou-o, curioso sobre o que se passara. Este tio tinha consciência de que Samuel tinha a reputação de falar apenas com um grande propósito em mente. Então implorou a seu sobrinho, “Por favor Saul, diz-me – o que é que Samuel te disse?”
Mas, as escrituras dizem, “Porém o negócio do reino, de que Samuel falara, (Saul) lhe não declarou” (10:16). Saul dispunha de notícias incríveis – no entanto não proferiu palavra alguma sobre isso. Pergunto-lhe: quantas pessoas você conhece que guardariam uma coisa destas para si?
Pouco depois Samuel reuniu o povo em Mizpá. O profeta tinha dois propósitos: primeiro, queria corrigir o povo por renunciar a Deus e desejar um rei humano. Segundo, queria apresentar-lhes Saul como o rei escolhido por Deus. Porém, quando chegou a hora de Saul ser apresentado, não o encontraram. Samuel enviou uma delegação a procurá-lo – e finalmente localizaram Saul escondido entre bagagens.
Quando Saul foi apresentado perante a multidão, tinha tudo o que eles desejavam num rei. Era alto e formoso, “mais alto do que todo o povo do ombro para cima” (10:23). Samuel disse, “em todo o povo não há nenhum semelhante a ele” (versículo 24). E Israel gritou em aprovação “Viva o rei” (mesmo versículo).
Nos dois primeiros anos, Saul provou ser um líder forte e piedoso. Quando ouviu que os amonitas tinham invadido Jebes-Gileade, “O espírito de Deus se apoderou de Saul” (11:6). Saul depressa recrutou uma milícia de 330.000 homens, e essa mistura heterogénea, um exército mal armado, derrotou os amonitas. Depois, Saul deu toda a glória a Deus (vide versículo 15). E em pouco tempo o piedoso rei conduziu Israel à vitória sobre todas as nações que os saquearam – Moabe, Amom, Edom, Ameleque, e até sobre os poderosos filisteus (vide 14:47-48).
Quem não gostaria de ter um homem assim para rei? Saul era humilde, corajoso, esplêndido de aparência, ajudado por Deus, movia-se poderosamente no Espírito, era atento à direcção do santo profeta. Saul era o modelo do líder fiel.
Porém, incrivelmente, este mesmo homem ungido iria morrer em total rebeldia. Pouco depois das suas vitórias incríveis, Saul perdeu a unção e foi-lhe retirado o reino. Foi abandonado por Deus, tornou-se incapaz de ouvir a voz do Espírito, e finalmente foi possuído por um espírito maligno. Acabou por matar inocentes. Ordenou a morte de sacerdotes indicados por Deus. E, na véspera da sua morte, procurou a orientação de uma feiticeira. O rei que uma vez conduzira Israel ao triunfo sobre os inimigos, acabou seus dias como um insano enraivecido.
Que triste fim para um, outrora, ungido servo de Deus. O que aconteceu a Saul? O que levou este homem humilde a descer à loucura e destruição? Teria havido algum ponto de viragem na vida de Saul, quando ele começou a se desgovernar?
O Momento Chave Na Vida de Saul Ocorreu em I Samuel 13.
Saul passou por um momento chave que todo o crente deverá com o tempo passar. É uma ocasião crucial de crise, quando somos forçados a decidir se vamos esperar em Deus pela fé, ou ficar impacientes e resolver o assunto com as próprias mãos.
O momento chave de Saul surgiu quando ameaçadoras nuvens de guerra se concentravam sobre Israel. Os filisteus tinham juntado um exército enorme de 6.000 cavaleiros, 30.000 carros, e legiões de soldados equipados com as armas mais recentes. Para Israel o número deles parecia “como a areia que está à borda do mar” (I Samuel 13:5). Em contraste, os israelitas tinham apenas 2 espadas no seu exército – uma para Saul, outra para seu filho, Jônatas. Todos os restantes tinham de utilizar armas alternativas como lanças de madeira ou rudes ferramentas agrícolas.
Agora, à medida que os israelitas viam os poderosos filisteus a aproximarem-se, entraram em pânico. “O povo se escondeu pelas cavernas, pelos espinhais, e pelos penhascos, e pelas fortificações e pelas covas” (13:6). Outros fugiam para outros países, para evitarem ser recrutados no exército de Saul. Outros desertaram em completa covardia. De repente o exército de 330.000 homens que derrotou os amonitas ficara reduzido a 600. E mesmo esses que ficaram, tremiam de medo (vide 13:7). A situação de Israel parecia desesperadora
Uma semana antes, Samuel advertira Saul que esperasse por si em Gilgal antes de ir para a batalha. O profeta disse-lhe que chegaria 7 dias depois para fazer os sacrifícios próprios para o Senhor. Não conhecemos o significado desta espera de 7 dias; talvez Samuel soubesse que viria de algum sítio distante onde a sua presença era necessária. Porém é mais provável que esta semana de espera tivesse o intuito de testar a fé de Saul.
Quando o sétimo dia chegou e Samuel não tinha chegado, os soldados de Saul começaram a se dispersar. Pior, o rei não tinha a direcção de Deus para a batalha. Agora, coloque-se na posição de Saul durante um momento. Veja o assustador exército filisteu a marchar na sua direcção. Sinta o poderoso retumbar dos carros. E quando olha para o que resta do seu exército, vê que eles estão a tremer com as suas armas insignificantes. Está tudo fora do controle. O que é que você vai fazer?
Você poderá perguntar, “Será que Saul tinha de ficar sentado ali sem fazer nada?” Sim – era exactamente isso que ele tinha de fazer. Esperar e orar. De facto, isto estava implícito quando Samuel apresentou Saul como rei. O profeta disse a Israel, “Se temerdes ao Senhor, e o servirdes, e deres ouvidos à sua voz, e não fordes rebeldes ao dito do Senhor, assim vós, como o rei (Saul) que reina sobre vós, seguireis ao Senhor vosso Deus. Mas se não derdes ouvidos à voz do Senhor, mas antes fordes rebeldes ao dito do Senhor, a mão do Senhor será contra vós” (12:14-15).
Samuel explicou, “O Senhor quer receber toda a glória pelo que Ele faz através do nosso rei. Ele quer que o mundo saiba que a vitória não vem pelas estratégias, pelas armas ou números – mas sacrificando a Deus através de oração fervorosa e confiança Nele.”
Então, que atitude tomou Saul? Será que ficou firme e declarou, “Não quero saber se Samuel leva oito dias a chegar. Vou ficar firme na palavra de Deus para mim. Quer viva quer morra, obedecerei à Sua voz”? Não – Saul entrou em pânico. Deixou-se intimidar pelas circunstâncias. Acabou por manipular a situação torneando a palavra de Deus. Ordenou ao sacerdote presente, Abija, que sacrificasse sem a presença de Samuel.
Quando Samuel finalmente regressou, ficou horrorizado. Cheirou-lhe a carne queimada vinda do altar. Então perguntou a Saul, “Que fizeste?” (13:11). A pergunta do profeta sugere-nos que Saul não fazia a mínima idéia da gravidade do seu pecado. Samuel estava-lhe a perguntar, “Apercebeste-te do que fizeste? Dei-te uma ordem simples e clara. Não deverias fazer nada até eu chegar. Não estavas em perigo, mas tomaste o assunto nas tuas mãos. Agiste por medo, não em fé. Cometeste um pecado gravíssimo perante o Senhor.”
Esta é a explicação de Saul: “Porquanto via que o povo se espalhava de mim, e tu não vinhas nos dias aprazados, e os filisteus já se tinham ajuntado em Micmás” (13:11). Note-se a acusação de Saul nas suas palavras: “Não regressaste a tempo Samuel.” Ele estava a falar com o profeta, mas sua acusação estava, na verdade, a dirigir-se a Deus. Saul estava a dizer, “Tinha de fazer algo – estavam todos a desertar. Seguramente o Senhor não esperava que eu agüentasse mais tempo.”
Não – Deus nunca se atrasa. O tempo todo, o Senhor conhecia cada passo que Samuel estava a tomar em direcção a Gilgal. Colocou o profeta numa rota de navegação celestial, planejando a cada segundo a sua chegada. Samuel estaria lá no sétimo dia, nem que fosse um minuto antes da meia noite. Podemos crer que Deus não enganou Saul neste aspecto; como vemos, Samuel chegou na hora.
À primeira vista, a reacção de Deus para com a desobediência de Saul parece severa. Samuel disse: “Obraste nesciamente, e não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou; porque agora o Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre. Porém agora não subsistirá o teu reino: já tem buscado o Senhor para si um homem segundo o seu coração, e já lhe tem ordenado o Senhor, que seja chefe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o Senhor te ordenou” (versos 13-14).
Poderá perguntar-se: “Porque é que Deus não abriu uma excepção para Saul, aqui? Este homem estava numa situação terrível. Além disso, ele apenas queria conquistar uma vitória para o Senhor. Porque é que a obediência de Saul era tão importante aqui?” Resposta: Deus queria que todos os poderes do inferno soubessem que a batalha é do Senhor – e é ganha por pessoas escolhidas, pessoas de fé que confiam e esperam Nele.
O Que é Que Isto Nos Ensina Hoje?
Deus não mudou com os tempos. Ele continua preocupado se o Seu povo obedece ou não ao Seu mandamento: “derdes ouvidos à sua voz, e não fordes rebeldes ao dito do Senhor” (I Samuel 12:15). Não importa se a sua vida está fora do controle – temos de caminhar em total confiança no Senhor. Mesmo quando parece que não há esperança, não ajamos em medo. Antes, deveremos esperar pacientemente que o Senhor nos livre, como nos promete a Sua Palavra.
O facto é que Deus ficou ao lado de Saul enquanto o exército filisteu o pressionava. O Senhor viu os carros retumbantes, e viu as armas afiadas a brilhar. Conhecia a crise em que Saul estava, com seus soldados amedrontados. Os Seus olhos estavam em cada detalhe.
Igualmente, o nosso Deus vê cada detalhe da sua crise. Ele vê todos os problemas da vida a pressioná-lo. E Ele está totalmente consciente que a sua situação piora de dia para dia. Os que oram e esperam Nele calmamente e com fé nunca estão em perigo real. Mais, ele conhece seus pensamentos de pânico: “Não vejo como pagar esta dívida… Não tenho esperanças para o meu casamento… Não sei como manter meu emprego.” No entanto o seu mandamento continua fiel: “Não entres em pânico, nem te adiantes a Mim. Não faças nada, só tens de orar – e descansar em Mim. Eu honro todos os que confiam em Mim.”
Relembre estas palavras dadas por Deus à igreja: “Sem fé é impossível agradar-Lhe” (Hebreus 11:6). “Confiai nele, ó povo, em todos os tempos; derramai perante Ele vosso coração. Deus é o nosso refúgio.” (Salmo 62:8). “Vós, os que temeis ao Senhor, confiai no Senhor: ele é seu auxílio e seu escudo” (Salmo 115:11). “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio conhecimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.” (Provérbios 3:5-6).
O Senhor é muito paciente conosco. Na realidade, Ele convida-nos, “trazei vossas firmes razões”, ou “apresentai a vossa demanda” (Isaías 41:21). Ele sabe que os nossos antepassados passaram por momentos de dúvida, desde Abraão até os santos do Novo Testamento. Tempos houve, em que quiseram morrer, chorando, “Não suporto mais.” Até Jesus teve um momento de dúvida, perguntando, “Porque me abandonaste?”
O nosso Deus sente cada golpe de dor, temor e pânico que vem sobre nós. Podemos receber repentinamente más notícias – um ente amado faleceu, um filho ou filha está-se a divorciar, o cônjuge teve um relacionamento extraconjugal. Nesses momentos Deus envia o Espírito Santo para nos consolar, acalmar a nossa dor e repousar nossos corações.
No entanto Saul permaneceu com medo e em pânico durante sete dias inteiros. E durante todo esse tempo, o Espírito Santo pedia-lhe que tomasse uma decisão: “Sim Saul, parece que não há esperança. Mas não tinhas exército anteriormente contra os amonitas, e Deus te salvou na época. Então, que vais fazer hoje? Obedecerás a palavra de Deus, não importa o que te aconteça ou ao reino? Dirás como Jó, ‘Ainda que pereça, Nele confiarei’?”
Sabemos que Deus conhece o coração de cada pessoa. E sabia que a decisão que Saul tomasse decidiria o rumo da sua vida dali em diante. Afinal de contas, ele teria de enfrentar muitas situações semelhantes. Ganhamos um pouco de visão da decisão de Saul nas suas palavras para Samuel: “Violentei-me, e ofereci holocausto” (I Samuel 13:12). A raiz da palavra “violentar-me”, neste contexto significa “impedir-se”. Com isto Saul queria dizer, “Tentei ser obediente. Impedi-me de ser desobediente o máximo possível. Mas finalmente tive de agir por minha conta e risco.”
Como resultado, Deus deixou Saul e revogou sua nomeação como rei. Por que? Porque o Senhor sabia que a partir deste dia, Saul oferecer-Lhe-ia uma fé morta. Ele sabia que Saul não agüentaria outro teste de obediência. Em vez disso, acabaria produzindo maquinações e manipulações.
A incredulidade é mortal, as suas conseqüências são trágicas. E enfrentaremos conseqüências terríveis se tentarmos superar as provas por nós mesmos, em vez de confiarmos em Deus para as superar. Isto é explícito com a vida de Saul. Desde o momento em que Saul tomou a decisão fatídica de tomar as rédeas nas mãos, a sua vida desmoronou-se rapidamente. A sua descrença abriu as portas para todo o tipo de mal no seu coração.
De facto, a vida de Saul ilustra os degraus para a ruína causados pela descrença:
1. Saul Tornou-se um Legalista da Pior Espécie.
Após ter pecado, a alma de Saul tornou-se rígida e legalista. Este espírito legalista quase provocou a morte do seu amado filho Jônatas.
Jônatas e seu escudeiro decidiram realizar um ataque surpresa à guarnição filistéia. A emboscada causou tal confusão no campo filisteu que eles começaram a lutar entre si, matando-se uns aos outros. O estrondo era de tal ordem que: “e até a terra se alvoroçou” (I Samuel 14:15).
Quando Saul viu os filisteus em fuga, lançou um ataque total. Ordenou às suas tropas para lutar durante todo o dia sem parar. Ao anoitecer, os israelitas estavam tão fatigados que quase entravam em colapso. Mas Saul fez um voto tolo: se alguém parasse para comer antes de a batalha ter terminado, seria amaldiçoado.
Jônatas não conhecia o voto, pois estava a lutar numa área distante. Então fez uma breve pausa na luta. Como tal, aproveitou e comeu um pouco de mel de uma colmeia para se refrescar para a batalha.
Nessa noite, os soldados de Saul não agüentaram mais. Correram com avidez sobre os despojos do que tinham ganho e começaram a assar animais e a comê-los. Ora, a lei judaica estabelecia que qualquer animal deveria ser sangrado antes que pudesse ser comido. Então, quando Saul viu tal coisa, encheu-se de raiva. Replicou: “Vocês não respeitam a lei de Deus”. “Eis que o povo peca contra o Senhor, comendo com sangue” (I Samuel 14:33).
Saul tinha se tornado legalista, nomeando-se a si próprio como policial da santidade divina. Sem dúvida, os sacerdotes que ali estavam aplaudiram-no, dizendo: “Graças a Deus Saul está assumindo posição em favor da santidade.” Mas, de fato, Saul era o maior pecador em campo: estava em total desobediência, caminhando em estrondosa descrença. No entanto pôde declarar sem reflectir: “Que Deus tenha misericórdia do soldado faminto que quebrar um til da lei, comendo carne sangrante.”
Nessa noite, Saul tomou outra decisão tola: decidiu que o exército ficaria toda a noite acordado para continuar em batalha. Entretanto, os sacerdotes protestaram, insistindo para que consultasse primeiro o Senhor. Porém quando oraram, Deus não respondeu. E aí Saul ficou indignado novamente. Declarou, “Deus não responde porque alguém pecou. Quem é o culpado?” Disse: “Porque vive o Senhor… ainda que seja o meu filho Jônatas, certamente morrerá” (I Samuel 14:39)
Este tipo de autodisciplina é verificado em todos os legalistas. Não confiam em Deus para lhes conceder essa rectidão, então tentam criar uma justiça sua. E acabam por criar um sistema que não tem em conta os seus próprios pecados e, contudo sublinha as falhas dos outros.
Saul decidiu lançar a sorte para descobrir quem tinha pecado. A sorte final caiu sobre si e sobre seu filho Jônatas. Imediatamente, Saul culpabilizou o filho dizendo: “Eu sei que não estou em pecado. Tem de ser tu.” Jônatas admitiu que tinha comido o mel mas disse que nada sabia sobre o juramento. Não obstante Saul tinha agora entrado numa cruzada moral, empenhando-se para parecer santo. Se Deus não interviesse através do povo, Saul teria morto o próprio filho – apenas para provar o seu zelo sagrado.
Em minha opinião, incredulidade é a raiz de todo o legalismo. Como? Porque ela se recusa a aceitar as promessas de aliança vindas de Deus; as de que Seu Espírito subjuga os nossos pecados, nos dá poder para obedecer, instila o Seu temor em nós, leva-nos a andar em rectidão, dá-nos um ódio santo pelo pecado. Quando nos apartamos da verdade da aliança de Deus, deixando de confiar e esperar que Ele faça o trabalho, tornamo-nos legalistas. Criamos o nosso próprio conjunto de regras rígidas, destituídas do poder do Espírito.
2. Saul Perdeu Todo Discernimento Espiritual.
A descrença de Saul cauterizou sua consciência, tornando-o distraído quanto ao pecado. Repentinamente, o pecado perde sua “pecaminosidade” aos olhos daquele que, outrora, fora um homem de Deus.
Vemos um exemplo disto quando Samuel ordena a Saul que aniquilasse os amalequitas. O profeta deu a Saul instruções claras para destruir tudo o que dissesse respeito a Ameleque – suas famílias, seu gado, tudo. Não deveria poupar nada nem ninguém.
Contudo, quando a batalha terminou, Saul manteve o rei Agague como troféu vivo. Também guardou alguns dos despojos – o melhor do gado, das roupas e pertences amalequitas. Saul teve até a audácia de erguer um monumento a si próprio, em memória da sua vitória. Uma vez mais demonstrou seu acintoso desrespeito para com a palavra de Deus.
Quando Samuel chegou, não acreditou no que via. O campo de batalha tornara-se numa grande feira. As pessoas comercializavam gado, experimentavam roupas, assavam animais. Porém, o maior dos cúmulos é que lá estava o rei Agague em meio à cena.
Samuel dirigiu-se a Saul e perguntou: “Saul, que algazarra é esta que eu ouço?” Saul respondeu mentindo descaradamente: “Ah, o povo está a separar algum gado para que possam sacrificar ao Senhor por esta grande vitória Mas destruí todo o resto. Acatei fielmente o mandamento do Senhor. Vamos ter um grande reavivamento.”
Samuel chorou alto. Perguntou a Saul, “Porque, pois, não atentaste à voz do Senhor, mas te lançaste ao despojo e fizeste o que era mal aos olhos do Senhor?” (I Samuel 15:19). Saul respondeu, “Antes, dei ouvidos à voz do Senhor…e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e os amalequitas destruí totalmente” (verso 20)
Como pôde Saul ser tão cego? Mentiu diante de claras evidências de que desobedecera. Porém, tragicamente, Saul acreditou na própria mentira. Perdera todo o discernimento.
Alguns cristãos hoje em dia são exatamente como Saul. Entregam-se à toda espécie de desobediência, depois vão directamente para a igreja orar: “Senhor, dei-te o meu melhor. Toma – aceita o meu sacrifício de louvor.” Estes crentes são como a mulher descrita em Provérbios: “Tal é o caminho da mulher adúltera: ela come, limpa sua boca e diz não cometi maldade.” (Provérbios 30:20).
Como é que os cristãos chegam à uma situação destas? Começa quando recusam aceitar a justiça de Deus pela fé. Tentam estabelecer sua própria justiça tornando-se em legalistas e julgando os outros. Vacilam na fé, não esperando em Deus pela direcção – e fazem as coisas à sua maneira. Com o decorrer do tempo, perdem o discernimento, as suas consciências tornam-se totalmente cauterizadas. Finalmente, tornam-se partidários do próprio pecado.
De acordo com as Escrituras, é aqui que as sementes do ocultismo ganham raízes. Aos olhos de Deus, a desobediência em se crer na Sua palavra eqüivale à feitiçaria. Como Samuel disse a Saul nesta ocasião: “Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria.” (I Samuel 15:23).
3. Quando o Discernimento É Perdido e a Consciência Cauterizada,
Não Há Defesa Possível Contra o Espírito de Inveja
“E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau, da parte do Senhor”. (I Samuel 16:14). Bem, Deus não enviou, literalmente, um espírito maligno sobre Saul. Apenas permitiu que o inevitável sucedesse. Veja, quando uma pessoa que é regida pela descrença chega a este ponto – tornando-se legalista, perdendo o discernimento e cauterizando a consciência – não há defesas contra a invasão dos espíritos de ciúme e inveja. E estes espíritos gémeos atemorizam toda a alma em que entram.
Por esta altura, Saul começa a ter espasmos demoníacos, vociferando e irando-se com todos. Os seus servos ficaram tão atemorizados, que chamaram Davi para tocar sua harpa e cantar salmos para Saul, tentando acalmar seu espírito. Claro, Davi era um homem que confiava totalmente no Senhor – e sua música ungida trouxe paz à alma de Saul.
O rei ficou tão grato que fez Davi capitão do exército. Porém quando este mostrou coragem e habilidade em batalha, Saul encheu-se de insana inveja contra ele. A inveja torna crentes em pessoas abomináveis. Todo aquele que não confia em Deus não confia nos outros tampouco. E pessoas invejosas ou ciumentas acusam os outros dos pecados mais evidentes neles próprios. Mais ainda, vêem-se como vítimas. Estão convencidas de que os outros estão sempre com inveja delas, constantemente a falar delas, constantemente a persegui-las. A inveja não é apenas uma fase que as pessoas atravessam – é um espírito vindo do inferno. Tira do povo de Deus todo o propósito celestial. Faz com que se concentrem em suas batalhas pequenas e carnais.
Pergunta-se de onde é que o seu espírito de ciúme vem? Insisto em que você olhe para trás, para os seus tempos de provação, e pergunte a si mesmo como é que reagiu. Comprometeu-se a confiar em Deus, aconteça o que acontecer? Ou abrigou o pensamento de que Deus não chegou a tempo para si?.
Considere o final trágico da alma incrédula de Saul. A sua última consulta antes de partir para a eternidade foi com uma bruxa. Escute as palavras finais de Saul: “Deus se tem desviado de mim, e não me responde mais” (I Samuel 28:15).
Porém há boas novas para todo o crente nesta era da Nova Aliança. Cristo pagou a penalidade da nossa rebelião. (Claro está que a graça de Deus e o Seu perdão estavam disponíveis para Saul, mas o seu coração manteve-se teimoso – e um coração obstinado nunca deseja misericórdia).
Jesus veio para quebrar o feitiço da descrença – para quebrar as correntes do legalismo e livrar-nos das algemas da inveja. Mas primeiro temos de admitir o nosso pecado. Temos de confessar a nossa incredulidade – e depois lançar o nosso futuro, a nossa liberdade e nosso livramento totalmente aos cuidados de Jesus. Ele chegará a tempo. O nosso papel é não fazer nada – apenas confiar Nele.
Temos que perceber que estamos sendo testados. E Deus assegura que todo o que persevera em fé e crê Nele, não importa quão desesperadora pareça a situação, será honrado. “Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa que o ouro, que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra e glória, na revelação de Jesus Cristo” (I Pedro 1:7).
fonte: https://www.tscpulpitseries.org/portuguese.html