Saul e a Feiticeira

INTRODUÇÃO

“Quem veio?”, “Subiu Samuel?”, “Permitiu Deus que isso acontecesse?”, “Por que utilizar uma feiticeira?”, “Foi um demô­nio?”, “Quem foi que apareceu?”, são perguntas que constantemente aparecem em cartas que temos rece­bido em nosso ministério radiofôni­co, e que também surgem freqüente­mente nos estudos bíblicos nas igre­jas, nos institutos bíblicos e nas Convenções.

Sobre isso, a posição generaliza­da é ambígua: “Talvez…”, “Creio que sim…”, “Quem sabe?…”, “Eu duvido…”, “Dificilmente..”, “Pro­vavelmente. ..”, “É provável…” Durante muitos anos, essa foi a minha posição, mas, intimamente, isso não me satisfazia, pois sentia que deveria ter uma posição defini­da: Foi ou não foi Samuel. Há cerca de oito anos, estudando minuciosa­mente á Palavra de Deus sobre o as­sunto, pude chegar a uma conclusão bíblica.

Considerando que tais perguntas surgem cada vez com maior freqüên­cia, porque vivemos no auge do ocul­tismo no mundo, decidi escrever e publicar este assunto sobre tão inte­ressante tema.

Rogo a Deus que a leitura deste opúsculo sirva de bênção e de orien­tação para os leitores.

O Autor

1 – Israel – uma Teocracia

No mundo em que vivemos, têm existido várias formas de governo humano: teocracia, monarquia, au­tocracia, ditadura, democracia, etc.

Israel, no princípio, foi uma teo­cracia. Esta palavra é composta de duas outras gregas: “Theos” que significa Deus; e “Kratein” que quer dizer reinar, governar. É o governo cuja autoridade promana de Deus, e é exercida por ministros por Ele escolhidos. Mal ou bem, a teo­cracia em Israel durou aproximada­mente quatrocentos anos; desde o Êxodo, e das tábuas da Lei, até Samuel, que foi o último juiz de Is­rael. No tempo desse profeta, o povo rejeitou a Deus e a Samuel e pediu um rei.

O regime teocrático voltará a ser implantado em Israel e em todo o mundo, por ocasião da Segunda Vin­da de Cristo, e será exercido durante o Milênio, quando Cristo governará o mundo como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Depois, o governo de Deus continuará por toda a eterni­dade na nova terra.

2 – Samuel – o último mensageiro do regime teocrático

Samuel é considerado como um dos maiores personagens da Bíblia. Seu nascimento, vida exemplar e ministério frutífero, registram-se no Primeiro e Segundo livros de Sa­muel, no Antigo Testamento.

Ele exerceu simultaneamente três grandes ofícios junto ao povo de Israel: Profeta, Sacerdote e Juiz, sempre com correção, dignidade e temor de Deus.

Quase no final de sua vida, Sa­muel convocou o povo e fez um desafio público, perguntando se alguma vez enganara qualquer pessoa, então o povo respondeu: “Nunca!”

O salmista destacou Samuel como um homem de íntima comu­nhão com Deus, e de grande confian­ça dele: “E Samuel entre os que in­vocam o seu nome”, SI 99.6.

O próprio Deus testemunhou que muito honrava Samuel: “Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, meu coração não se inclina­ria para este povo”, Jr 15.1.

Samuel ministrou aproximada­mente quarenta e sete anos, e tinha cerca de oitenta e oito anos quando morreu.

3 – Israel pede um rei

Samuel havia envelhecido e por isso, designara seus filhos Joel e Abias como juízes sobre Israel. Porém, seus filhos não andaram no ca­minho de seu pai, antes se inclina­ram à avareza, aceitaram subornos, e perverteram o direito, l Sm 8.3.

A velhice de Samuel e a perver­são de seus filhos foram os pretextos usados pelos anciãos de Israel para pedirem um rei. Disseram a Samuel: “Constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que nos governe como o têm todas as nações”. Foi um pretexto porque Deus podia resolver a situação na própria teocracia. O pedido do povo não agradou a Sa­muel, que se sentiu rejeitado. Deus disse a Samuel: “Eles não rejeita­ram a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre eles”.

Instruído divinamente, Samuel explicou ao povo o que significava rejeitar o reinado de Deus – a teocra­cia – pelo reinado do homem – a mo­narquia. “Porém o povo não quis ou­vir a voz de Samuel e disse: Não, mas teremos um rei sobre nós… e se­remos como todas as nações”. Sa­muel repetiu perante o Senhor todas as palavras do povo, e o Senhor disse a Samuel: “Atende a sua voz e esta­belece-lhes um rei”.

Rejeitaram o governo de Deus pelo governo do homem, a teocracia pela monarquia!

4 – Saul é escolhido rei de Israel

“Havia um homem de Benja­mim, cujo nome era Quis… Tinha ele um filho, cujo nome era Saul, moço e tão belo que, entre os filhos de Israel, não havia outro mais belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaía a todo o povo. Ex­traviaram-se as jumentas de Quis, pai de Saul. Disse Quis a Saul, seu filho: Toma agora contigo um dos moços, dispõe-te, e vai procurar as jumentas”, l Sm 9.1-3.

Saul partiu com seu companhei­ro pela região montanhosa de Efraim; atravessou a terra de Salisa, a terra de Saalim, a terra de Benja­mim, a terra de Zufe, mas as jumen­tas não apareceram.

O moço sugeriu a Saul que fos­sem a Samuel, o profeta, para saber o paradeiro das jumentas, “porque tudo quanto ele diz, sucede” Então, eles foram a Samuel.

“Ora, o Senhor, um dia antes de Saul chegar, havia revelado aos ou­vidos de Samuel, dizendo: Amanhã, a estas horas, te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe pobre o meu povo Is­rael”. Depois da chegada de Saul, “tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e o bei­jou e disse: Não te ungiu porventura, o Senhor por príncipe sobre a sua he­rança, o povo de Israel?” “Então, o povo gritou de alegria dizendo: Viva o rei!” Assim Saul foi em busca de algumas jumentas e encontrou um reino.

5 – Os primeiros passos de Saul

Quando Samuel disse a Saul que Deus o havia escolhido por príncipe, Saul humildemente respondeu: “Porventura não sou benjamita, da menor das tribos de Israel? Por que, pois, me falas com tais palavras?” l Sm 9.21. E, ao ser apresentado por Samuel ao povo como rei, escondeu-se. Seus primeiros passos foram da­dos em humildade e na dependência de Deus e de Samuel.

Saul obteve uma grande vitória contra os amonitas, favorecendo o povo de Jabes-Gileade. O segredo dessa grande vitória foi que “o Espírito de Deus, veio sobre ele com poder”, l Sm 11.6. Antes dessa batalha havia pessoas no meio do povo que não queriam reconhecer Saul como rei, mas depois todo o povo o aceitou como soberano, l Sm 11.15. Samuel, na sua velhice, lembrou as grandes vitórias e as bênçãos que o Senhor Jeová dera a Israel, quando Deus era o seu Rei. “Também advertiu o povo de que, se temesse ao Senhor e o servisse como seu Rei, bem lhe seria; porém se perseverasse em fazer o mal, pereceria o povo e o rei”, l Sm 12.14,25.

Porém a humildade de Saul e a sua obediência a Deus durou, ape­nas, dois anos.

6 – O primeiro erro de Saul

Após dois anos de reinado, Saul cometeu seu primeiro grave erro. Desde o primeiro encontro com ele, Samuel falou-lhe que ele (Saul) ha­via sido escolhido como príncipe do povo de Deus, e ordenou-lhe: “Logo descerás diante de mim a Gilgal; então eu descerei a ti para oferecer holocaustos e sacrificar ofertas de paz. Espera sete dias até que eu vá a ti, e te mostres o que hás de fazer”! I Sm. 10.8.

No segundo ano do reinado de Saul chegou esse momento. Os filisteus ocupavam parte do território de Israel, e Jônatas, filho de Saul, à frente de mil homens, atacou uma guarnição deles. Saul, que estava em Gilgal com dois mil homens, defla­grou a guerra. “Então os filisteus se juntaram para pelejar contra Israel: trinta mil carros, seis mil homens a cavalo e povo em multidão como a areia que está à borda do mar”, l Sm 13.5.

Quando os homens de Israel viram o numeroso exército tão bem equipado, “esconderam-se em caver­nas, pelos espinhais, penhascos, fortificações e covas. Outros ainda cru­zaram o Jordão… Saul permanecia em Gilgal… e o povo ia atrás, tre­mendo”, l Sm 13.6,7.

Saul esperou sete dias, conforme o prazo que Samuel havia marcado, mas Samuel não chegava a Gilgal, e o povo se espalhava. Então disse Sa­ul: “Trazei-me holocausto e ofertas de paz. E ofereceu o holocausto. Eis que lhe chega Samuel, e Saul saiu-lhe ao encontro para recebê-lo e sau­dá-lo”, l Sm 13.8-10.

O mais importante não era exa­tamente os sete dias que devia esperar. Aguardar a chegada de Samuel isto sim, era o mais importante. O profeta-sacerdote havia dito: “espe­ra… até que eu venha a ti e te diga o que hás de fazer”.

Quando Samuel chegou, e per­guntou a Saul o que ele havia feito, em vez de sentir-se arrependido, co­meçou a apresentar desculpas, acu­sando Samuel pela tardança, l Sm 13.11,12.

A resposta de Samuel foi decisiva e constituiu uma censura em quatro expressões:

1. Procedeste nesciamente.

2. Não guardaste o manda­mento que o Senhor teu Deus te or­denou.

3. Não subsistirá o teu reino.

4. O Senhor buscou para si um ho­mem que lhe agrada.

Samuel levantou-se e partiu. Quanto a Saul, procedeu como se não tivesse acontecido nada: contou o povo que se achava com ele, uns seiscentos varões.

No começo, Saul saiu para bus­car alguns jumentos para seu pai e nisso gastou muitos dias, mas em compensação encontrou um reino e foi ungido por Samuel. Mas agora, por não esperar algumas horas, promove a perda do reino que ganhara. Dois anos antes, achara muito importante procurar jumentas. Agora lhe era indiferente perder um reino. Como mudara o seu caráter!

7 – Mais erros

Saul cometeu seu segundo erro por não reconhecer o seu primeiro er­ro, e por não arrepender-se dele. Isso contribuiu para uma sucessão de er­ros. A Bíblia diz: “um abismo cha­ma outro abismo”, Sl 42.7; “Depois, havendo a concupiscência concebi­do, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte”, Tg 1.15.

Os filisteus enviaram três esqua­drões em direções diferentes. Israel estava desarmado: não possuía espa­das, nem lanças, nem armas de fer­ro. Apesar disso, Jônatas, o filho de Saul, resolveu atacar uma guarnição de filisteus armados, porque ele cria que “para Jeová não era difícil livrar com muitos ou com poucos”, l Sm 14.6.

Uma das desculpas de Saul, de oferecer o holocausto sem esperar por Samuel, foi porque o povo se es­palhava: temeu ficar sem seus ho­mens de guerra. Jônatas, porém, creu, testificou da sua fé e demons­trou o que dissera: “para Jeová não é difícil livrar com muitos ou com poucos”.

Jônatas, confiando em Deus e es­perando a proteção divina, infiltrou-se no acampamento dos filisteus e, junto com seu pagem, matou vinte inimigos com uma rapidez sobrena­tural; então “houve pânico no acam­pamento e pelo campo… e a terra tremeu… e eis que a espada dum era contra o outro, e havia grande confu­são… Assim livrou o Senhor a Israel naquela noite”, l Sm 14.13-15,20,23. Houve vitória porque Jônatas con­fiou no Senhor e obedeceu a Ele.

Enquanto Jônatas e seu ajudante lutavam e arriscavam suas vidas, Saul demonstrava seu desequilíbrio, dando ordens absurdas. Disse ao sa­cerdote Aias: “Traze aqui a arca de Deus”. Ao mesmo tempo deu-lhe uma contra ordem: “Retira a tua mão”. Tudo indica que Saul queria controlar o sacerdote Aias e as coisas pertinentes ao sacerdócio, como ha­via tentado fazer com Samuel. Deu ainda outra ordem insensata: Decla­rou maldito o homem que comesse pão antes da tarde, mas “estavam os homens de Israel já exaustos naquele dia… pelo que todo o povo se absteve de provar pão”, l Sm 14.24.

Jônatas, a quem Deus honrou, e que, em termos humanos, foi o herói da vitória, não sabia da ordem de seu pai e, “estendeu a ponta da vara que tinha na mão, e a molhou no favo de mel; e, tornando a mão à bo­ca, aclararam-se os seus olhos”, l Sm 14.27. Foi aí que, uma das pes­soas do povo avisou a Jônatas a proi­bição de Saul.

Jônatas reconheceu o grave erro de seu pai, e disse: “Meu pai tem tur­bado a terra; ora vede como se me aclararam os olhos por ter provado um pouco deste mel. Quanto mais se o povo hoje livremente tivesse comi­do do despojo que achou de seus ini­migos! Porém agora não foi tão gran­de o estrago dos filisteus”, l Sm 14.29,30.

Outro erro de Saul foi ter, depois de todo um dia de guerra, com o povo cansado, dito: “Desçamos de noite atrás dos filisteus, e despoje­mo-los, e os saqueemos até que ama­nheça a luz”.

O sacerdote, vendo que Saul fa­zia como bem lhe parecia, sugeriu que consultassem ao Senhor se deve­riam perseguir os filisteus. O sacer­dote disse: “Cheguemo-nos aqui a Deus… então consultou Saul a Deus, porém naquele dia o Senhor não lhe respondeu”, l Sm 14.36,37. Deus já começava a negar a resposta a Saul!

Ainda outro grave erro foi ter Saul condenado Jônatas à morte, quando este admitiu que havia co­mido um pouco de mel por ignorar a proibição. Mas em Jônatas não ha­via rebelião nem desobediência. Saul disse a Jônatas: “Assim me faça Deus, e outro tanto, que com certeza morrerás, Jônatas”. O povo então falou a Saul sobre a vida exemplar, os fatos heróicos e a salvação, que Deus havia dado ao povo, por intermédio de Jônatas, “assim o povo livrou a Jônatas, para que não morresse.”

Evidentemente, Saul tinha pou­ca confiança em Deus, e a pouca que tinha era para que o Senhor o defen­desse de seus inimigos, pois, “a to­dos os homens valentes e valorosos que via os agregava a si”, l Sm 14.52.

É certo o que diz a Escritura: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as con­fessa e deixa alcançará misericór­dia”, Pv 28.13.

8 – O erro decisivo

Algum tempo depois, Saul rece­beu outra oportunidade de se arre­pender. Deus enviou-lhe Samuel, a quem não via desde o incidente em Gilgal, para entregar-lhe uma men­sagem e uma ordem. Por causa da crueldade demonstrada pelos amalequitas no tempo da peregrinação do povo de Israel, Saul deveria destruir esse povo e tudo o que lhe pertences­se: “Vai, pois, agora e fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo o que tiver; nada lhe poupes, porém matarás homem e mulher; meninos e crianças de peito; bois e ovelhas; camelos e jumentos”, l Sm 15.1-3; Êx 17.14-16. Samuel deixou bem claro a Saul que estas eram as pala­vras do Senhor e que ele deveria obe­decer literalmente à ordem recebida, l Sm 15.1,2.

E, na verdade, Saul derrotou os amalequitas … Mas, “tomou vivo a Agague, rei de Amaleque… E Saul e o povo perdoaram a Agague, e ao melhor das ovelhas e das vacas, e às da segunda sorte, e aos cordeiros, e ao melhor que havia, e não os quise­ram destruir”, l Sm 15.7-9.

Saul não fez o que lhe fora ordenado. Apenas cumpriu parcialmente a ordem. Mas obediência parcial é desobediência! Saul trouxe vivo a Agague como troféu de guerra.

Mais uma vez mostrou descaso pelo mandato de Deus. Na mesma noite Deus falou a Samuel: “Arre­pendo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não executou as minhas palavras”. l Sm 15.11.

Samuel madrugou para encon­trar-se com Saul e, quando o encon­trou pela manhã, Saul já havia erigi­do um monumento em sua própria honra pela vitória contra os amalequitas, e tinha consciência de haver desobedecido a Deus.

Ao encontrar-se com Samuel, Saul lhe disse: “Executei a palavra do Senhor”. Isso era falso. Samuel apontou como evidência da rebel­dia de Saul o “balido das ovelhas e o mugido das vacas” que se ouvia.

Saul escusou-se alegando “o povo perdoou ao melhor das ovelhas e das vacas, para oferecer ao Senhor teu Deus”, l Sm 15.15. Mas Samuel condenou com veemência: “Não destes ouvidos à voz do Senhor… fi­zeste o que parecia mal aos olhos do Senhor!

Saul, no seu orgulho de rei, não se humilhou, antes respondeu com arrogância: “Dei ouvidos à voz do Senhor… e trouxe a Agague rei de Amaleque… mas o povo tomou do despojo ovelhas e vacas, o melhor do anátema”. Cada vez que se desculpava, culpava-se mais, pois não considerava errado ter trazido o rei Aga­gue vivo, bem como o despojo maldi­to.

Samuel tornava-se cada vez mias firme em seus pronunciamentos, que eram de Deus. Ele retrucou: “Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Se­nhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, me­lhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria e o porfiar como iniqüidade e idolatria. I Sm 15:22,23

Quando a pessoa errada é adver­tida e, apesar da advertência conti­nua no erro, está sendo rebelde. Pecado não arrependido nem confessado produz aflições e falta de paz.

9 – Saul é rejeitado

Diante da gravidade do pecado de Saul, de sua obstinação e do en­durecimento de seu coração, a sen­tença divina só poderia ser: “Por­quanto tu rejeitaste a palavra do Se­nhor, ele também te rejeitou a ti para que não sejas rei”. l Sm 15.23.

Saul é acusado de desobediência, de obstinação e de rebeldia contra Deus. Isto equivale aos pecados de adivinhação e de idolatria. Por isso foi rejeitado pela segunda vez e de forma definitiva.

Diante da censura e condenação de Samuel, Saul admite parcialmente seu pecado, quando diz: “por­que temi ao povo e dei ouvidos à sua voz”, mas transfere o pecado para o povo. Isto não é arrependimento. Ainda mais: foi ele que começou a desobedecer, quando permitiu a Agague viver. Em vez de pedir per­dão a Deus, pede a Samuel, como se tivesse pecado contra Samuel; como se Samuel pudesse perdoar-lhe.

O que realmente preocupava Saul não era haver quebrado a pala­vra de Deus, mas ter afetado seu prestígio e a sua posição diante do povo. Por isso pede a Samuel que volte com ele, para que o povo o pu­desse ver junto com o varão de Deus, pois Samuel gozava de grande con­ceito e distinção entre o povo. Mas Samuel negou-se a ir com Saul, e re­petiu “porque rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre o povo de Israel”.

E virando-se Samuel para ir, Saul “pegou pela borda da capa, e a rasgou”, num gesto de desespero, mas não de amor, Saul queria forçar Samuel a honrá-lo. Não sentia acu­sação na consciência e nem arrependimento por desobedecer a Deus! O que o agoniava era perder sua posi­ção, seu reino.

Então Samuel, que era profeta, tomou o pedaço da capa rasgada como um sinal, e disse: “O Senhor tem rasgado de ti o reino de Israel, e o tem dado ao teu próximo, melhor do que tu”. l Sm 15.28.

Saul novamente suplicou a Sa­muel que o honrasse diante dos anciãos de Israel. Samuel pesaroso, concordou, mas não sem terminar a tarefa de que Saul fora encarregado: “E Samuel despedaçou a Agague pe­rante o Senhor em Gilgal”, l Sm 15.33b.

Samuel foi a Rama, mas Saul foi a Gibeá: “E nunca mais viu Samuel a Saul até o dia da sua morte, por­que Samuel teve dó de Saul. E o Se­nhor se arrependeu de haver consti­tuído Saul rei sobre Israel”, l Sm 15.35.

10 – O Espírito de Deus retira-se de Saul

Quando Deus ordenou a Samuel que fosse à casa de Jessé, o belemita, para ungir outro rei, sabendo que Saul estava descontrolado, temeu Samuel por sua própria vida e disse: “Se Saul souber, me matará”. Mas era uma ordem de Deus e ele cum­priu. Davi foi ungido rei, e “desde aquele dia o Espírito do Senhor se apoderou de Davi”, l Sm 16.13. Que maravilha!

Por outro lado, vemos que: “O Espírito do Senhor se retirou de Saul, e o atormentava um espírito mau da parte do Senhor”, l Sm 16.14. Ao retirar-se o Espírito de Deus, forçosamente teria de vir um espírito mau: era (e é) a conseqüên­cia natural.

Os criados de Saul reconheceram que um espírito mau o atormentava e sugeriram-lhe que buscasse al­guém que soubesse tocar harpa. Des­ta maneira, Davi veio ao palácio do rei, e, quando tocava a harpa, o espí­rito mau se retirava de Saul.

Por causa desse espírito mau que o atormentava e o dominava, Saul andava nervoso, ciumento, descon­fiado, apavorado, irado. Ele só sen­tia alívio quando Davi tocava a har­pa, pois o espírito mau se retirava dele, l Sm 16.23. O próprio Saul pro­vocara o mal que sofria: era uma na­tural conseqüência da sua atividade sem Deus.

11 – Um rei sem glória

Os anos passaram e Saul conti­nuava caído, rejeitado, atormenta­do, sem paz e sem glória. Veio então outra guerra com os filisteus.

Desta vez os filisteus apresenta­ram um novo tipo de guerra: Havia um gigante entre eles chamado Golias, com mais de três metros de al­tura. Era ele portador de uma arma­dura que pesava mais do que cento e cinqüenta quilos. Proclamavam os filisteus que um homem de Israel de­veria lutar contra o gigante. E quem fosse vitorioso traria a vitória ao seu povo. O povo do perdedor, porém, seria escravizado.

Por quarenta dias, duas vezes ao dia, esse filisteu desafiava Saul e dele escarnecia, zombando também de Israel e de Deus. “Ouvindo então Saul e todo Israel essas palavras do filisteu, espantaram-se e temeram muito”, l Sm 17.11. E não esqueça­mos de que Saul era um semi-gigante, porém estava rejeitado e sem gló­ria: o pecado não lhe permitia ter paz nem valor.

Ninguém se atrevia a ir lutar com o gigante. Davi, porém, ao ser inteirado de tudo, candidatou-se a isso, mas não queriam permitir-lhe lutar, porque era um menino. Mas a confiança de Davi estava em Jeová. Ele disse a Saul: “O Senhor me li­vrou da mão do leão, e da do urso: ele me livrará da mão deste filisteu”, l Sm 17.37.

“E olhando o filisteu, e vendo a Davi, o desprezou, porque era um mancebo… e disse-lhe: Sou eu al­gum cão, para tu vires a mim com paus?” Davi respondeu: “Tu vens a mim com espada, com lança e com escudo, mas eu venho a ti em nome do Senhor dos Exércitos a quem tens afrontado”, l Sm 17.45. “Davi lan­çou sua pequena pedra com a funda, e feriu o filisteu na testa… e caiu ele sobre o seu rosto, em terra. E correu Davi e tomou a sua espada e cortou com ela a cabeça do gigante. Vendo então os filisteus que o seu campeão era morto, fugiram”, l Sm 17.46-51. Deus deu outra vitória a Israel, porém foi por intermédio de Davi e não de Saul, pois o rei estava caído e sem glória!

12 – Ciúme, inveja e homicídio

Depois de sua grande vitória con­tra os filisteus, ficou Davi no palácio real. E entre ele e Jônatas, filho de Saul, começou uma sincera amiza­de. Como a vitória de Davi significa a vitória de Saul e de todo o Israel, as mulheres cantavam: “Saul matou milhares; Davi, porém, matou deze­nas de milhares”. Saul não se con­formou com o refrão e aborreceu-se sobremaneira. Reclamou despeita­do: “Dez milhares deram a Davi e a mim somente milhares! nada mais lhe falta, a não ser o reino”, l Sm 18.8. “Desde aquele dia Saul não olhava Davi com bons olhos. No ou­tro dia o mau espírito apoderou-se de Saul, e ele variava no meio da ca­sa, l Sm 18.10.

Observe-se que o espírito mau que atormentava Saul estava nele agora: havia-se apoderado dele. Saul estava endemoninhado. É altamente importante que na versão da Bíblia em inglês, de King James, na versão aramaica, na versão em português, e em outras, a palavra “variar” é tra­duzida por “profetizar”. Em outras palavras, pelo poder do demônio, Saul começou a profetizar. O propó­sito do demônio era tentar cobrir com capa religiosa o procedimento de Saul. Na Bíblia existem muitos outros casos de demônios usando pessoas para profetizar. Isso tam­bém existe muito em nossos dias!

Enquanto Davi tocava a harpa, Saul, possuído do demônio, profeti­zava, mas “atirou com a lança, di­zendo: encravarei a Davi na parede”, l Sm 18.11. Mais uma vez afirma a Escritura: “O Senhor era com Davi e se tinha retirado de Saul”, l Sm 18.12. Imediatamente seguiu-se uma caçada implacável por parte de Saul, para matar Davi. Isso era uma manobra de Satanás para impedir o advento do Filho de Davi, nosso Se­nhor Jesus Cristo.

Saul estava tão endemoninhado, que intentou vinte e uma vezes as­sassinar Davi, e com a agravante de premeditação. Saul matou oitenta e cinco sacerdotes porque um deles deu alimento a Davi, e atirou a lança tentando matar seu próprio filho Jônatas, porque era amigo de Davi. Saul tornou-se um consumado as­sassino, um louco, um esquizofrêni­co, mas também um endemoninha­do.

13 – Saul rejeita reconciliar-se com Davi

Durante as perseguições de Saul a Davi, o filho de Jessé poderia ter matado Saul, pelo menos em duas ocasiões, mas não o fez; pelo contrá­rio, despertou-o, chamando-o à re­conciliação.

Em En-Gedi, Davi cortou um pe­daço do manto real de Saul, e guar­dando uma certa distância, mas com todo o respeito bradou-lhe: “Rei, meu senhor!” E disse-lhe boas pala­vras de reconciliação mostrando também que lhe poupara a vida.

E como Saul tinha aversão à fal­ta de glória, disse a Davi: “Eis que bem sei que certamente hás de rei­nar, e que o reino de Israel há de ser firme em tua mão, portanto, agora, jura-me pelo Senhor que não desarraigarás a minha semente depois de mim nem desfarás o meu nome da casa de meu pai”, l Sm 24.20,21.

A outra ocasião foi no deserto de Zife, no outeiro de Haquila. En­quanto Saul e os seus dormiam, Davi aproximou-se e levou a lança e a bilha de água de Saul. Poderia ma­tá-lo, mas não o fez. Depois de falar a Saul palavras de paz, perguntou-lhe: “Por que persegue o meu senhor assim o servo? Que fiz eu? E que maldade se acha em minhas mãos?”, l Sm 26.18.

Para evitar a caçada de Saul, Davi foi ao território dos filisteus: “para que Saul perca a esperança de mim e cesse de me buscar por todos os termos de Israel; e assim escapa­rei de sua mão. E sendo Saul avisado de que Davi tinha fugido para Gate, não cuidou mais de buscá-lo”, l Sm 27.1-4. Davi habitou entre os filis­teus um ano e quatro meses, l Sm 27.7.

14 – O pecado de adivinhação e de necromancia

Adivinhação é a prática ocultista para conhecer o futuro. A prática da adivinhação estava e está proibida por Deus: “Não sereis agoureiros e nem adivinhos”, Lv 19.26; “Não seja achado no meio de ti quem pratique adivinhação, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro”, Dt 18.10; “Não vos virareis para os adivinhadores, e encantadores; não os busqueis, contaminando-vos com eles”, Lv 19.31; “E não deis ouvidos aos vossos adivinhadores, nem aos vossos sonhadores, nem aos vossos agoureiros, nem aos vossos encanta­dores…”. Jr 27.9,10.

A razão da proibição é ser isso abominação ao Senhor. Abominável significa detestável, aborrecível, odioso, condenável, maldito: “Quando entrares na terra que o Se­nhor teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações da­quelas nações… pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Se­nhor, e por estas abominações o Se­nhor teu Deus as lança fora de dian­te dele… porque estas nações ouvem os agoureiros e os adivinhadores; po­rém a ti, o Senhor não permitiu tal coisa”, Dt 18.9-14. Adivinhação é obra satânica!

A prática da adivinhação, por ser obra do Diabo, era castigada com a morte: “A feiticeira não deixarás vi­ver”, Êx 22.18. “Quando, pois algum homem ou mulher em si tiver algum espírito adivinho, certamente morrerão: Serão apedrejados”, Lv 20.27. O adivinhador era do Diabo e traba­lhava visando o lucro, 2 Cr 18.4-26; Ez 13.15; Jr 6.13; At 8.9,16. O méto­do de Deus é a profecia e não a adivinhação. O instrumento de Deus é o profeta e não o adivinhador. A obra de Deus é a revelação bíblica, não o ocultismo tenebroso. O que agrada a Deus é a fé sincera, não a supersti­ção.

Necromancia é a evocação de espíritos que dizem ser de mortos. A necromancia era e é igualmente proibida por Deus, e também era castigada com a morte: “O homem ou a mulher que evocar espíritos de mortos ou se entregar à adivinhação há de morrer: serão apedrejados”, Lv 20.27; “Não se ache no meio de ti, nem quem consulte os mortos”, Dt 18.10,11; “Quando vos disserem: Consultai os que têm espíritos fami­liares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram entre os dentes, não re­correrá um povo ao seu Deus? a fa­vor dos vivos interrogar-se-ão os mortos?”, Is 8.19.

O rico disse a Abraão: “Rogo-te, pois, ó Pai, que o mandes (o espírito de Lázaro) à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não ve­nham também para’ este lugar de tormento”, Lc 16.19-31. A resposta foi negativa, ainda que o rico insis­tisse. Diante do exposto, podemos concluir que a adivinhação e a invo­cação dos mortos é antibíblica.

15 – Saul e a feiticeira de Endor

Era triste a condição de Saul: o Espírito do Senhor se havia retirado dele e ele estava possuído de demô­nios, e novamente os filisteus “reu­niram suas forças para lutar contra Israel”, l Sm 28.1. Israel estava cer­cado! Samuel, o profeta, por quem o povo consultava a Deus, falecera há dois anos! Davi, o herói nacional, es­tava fora do país, por causa da per­seguição de Saul! Jônatas, o guer­reiro valente, estava entristeci­do por causa da situação de seu pai! E Saul estava apavorado e conturba­do! Então, “vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu, e estremeceu muito o seu coração”, l Sm 28.5.

Quem está em paz com Deus não tem medo nem se perturba: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim”, Jo 14.1. A Saul faltava-lhe a paz de espírito para planejar: “os ímpios, diz o meu Deus, não têm paz”, Is 52.21.   Nessa condição espiritual, Saul quis imitar a Samuel, Saul quis consultar a Deus, mas “O Senhor não lhe respondeu, nem por sonho, nem por Urim, nem por profetas”, l Sm 28.5. O Senhor não podia res­ponder por que “Deus não ouve a pe­cadores”, Jo 9.31. Saul não era te­mente a Deus, e nem fazia a vontade divina. Era um rebelde que fazia a sua própria vontade.

Em vez de humilhar-se diante de Deus, permaneceu endurecido. Não tendo obtido resposta divina, deveria humilhar-se, arrepender-se e buscar o perdão do Senhor, para, então, ser ouvido. Mas Saul não fez isso; antes, em novo ato de rebelião, mandou buscar uma pitonisa, uma feiticeira, uma adivinhadora para, contra tudo o que aprendera na mocidade, e con­tra tudo que ensinava a Palavra de Deus, consultá-la: “Buscai-me uma mulher que tenha o espírito de feiti­ceira, para que vá a ela e a consul­te”, l Sm 28.7.

Ele sabia muito bem que isto es­tava terminantemente proibido por Deus, e sabia que a razão da proibi­ção era porque estes “espíritos de adivinhação” eram espíritos maus, demônios. Por esta razão, ele mes­mo, “tinha desterrado os adivinhos e os encantadores”, l Sm 28.3,9.

Mas Saul havia desobedecido tanto, e rejeitou tantas vezes a Deus, que a isso já estava acostumado. Saul distanciara-se tanto de Deus, que não mais podia retornar a Ele. Saul sabia que, ao consultar uma feiticeira, estava agindo contra a vontade de Deus. Ele sabia que esta­va consultando demônios. No seu or­gulho deve ter falado assim: “Se Deus não me ouve nem me responde, então procuro o Diabo”. De fato, ainda há pessoas assim em nossos dias: Isso está em moda. Existem pessoas que odeiam a Deus e amam o Diabo. Que desobedecem a Deus conscientemente, e obedecem ao Diabo. Existem até “igrejas” que adoram o Diabo.

16 – Saul procura a feiticeira

Saul disfarçou-se e foi de noite à casa da feiticeira. Nunca descera tanto. É horrível notar como o Diabo humilha suas vítimas! Saul disse à mulher: “Peço-te que me adivinhes, pelo espírito de feitiçaria, e me faças subir a quem eu te disser”, l Sm 28.8.

A feiticeira alegou: “Eis aqui, tu sabes o que Saul fez como tem des­truído da terra os adivinhos e os en­cantadores; por que, pois, me armas um laço à minha vida, para me fazer matar?”, l Sm 28.9.”Então Saul lhe jurou pelo Senhor dizendo: Vive o Senhor, que nenhum mal te sobrevi­rá por isso”, l Sm 28.10. Tal era o es­tado espiritual de Saul que não teve escrúpulo de jurar pelo Senhor, pe­rante uma feiticeira.

A feiticeira disse: “A quem te fa­rei subir?” As feiticeiras, as pitonisas, as bruxas, os médiuns, procu­ram satisfazer os fregueses, por quem são pagos. Mas Deus dá ao ho­mem, não o que o homem gosta, mas o que o homem necessita.

“Faze-me subir a Samuel!” Era uma pretensão atrevida, pois Saul havia desobedecido a Samuel, quan­do este ainda vivia. Ademais, pela rebelião de Saul contra o Senhor, Samuel afastou-se de Saul e não mais quis vê-lo nem encontrar-se com ele, l Sm 15.35.

Enquanto Samuel vivia em Ra­ma, que não ficava muito longe de Gibeá, Saul nunca mostrou interesse de consultá-lo, de pedir-lhe conse­lhos. E agora queria comunicar-se com Samuel através de um espírito de feiticeira, por meio de uma abominação, através de um demônio!

“Vendo, pois, a mulher a Sa­muel”, l Sm 28.12. (Devemos enten­der que a Bíblia faz o relato do que dizia a feiticeira.)

17 – A feiticeira faz o seu jogo

Saul queria era ver Samuel e a feiticeira só poderia dizer que o espí­rito era de Samuel: ela precisava agradar o consulente, ou antes, ela precisava guardar a sua própria vi­da, pois já desconfiava que tivesse Saul diante de si. Ela provavelmen­te o reconhecera quando chegou, pois ele era de elevada estatura, mais que todos do povo: era um semi-gigante. Ela logo lhe diria: “Tu mesmo és Saul”. E antes contara a ele o que Saul havia feito com os adivinhadores e do castigo a que estavam sujeitos. Quando o visitante lhe garantira que nada sofreria, a pitonisa sabia que tinha a garantia do pró­prio Saul.

Assim Samuel subiu, mas, ape­nas na fala da pitonisa. Até o fim ela teria de fazer o seu jogo, para evi­tar que Saul desconfiasse.

Se a bruxa houvesse acreditado que o “aparecido” era realmente Sa­muel, ela é que teria medo, pois o profeta era intransigente no que con­cernia às feiticeiras.

“Que é que vês?”, perguntou Saul. Notemos que ele não via nada. A feiticeira é que via ou dizia ver. “Vejo deuses que sobem da terra”. Deuses (espíritos). Note-se que eram muitos. O pedido foi que viesse um, e vieram muitos. Se, por uma exceção Deus tivesse deixado sair o espírito de Samuel, permitiria que saíssem muitos?

Saul perguntou à feiticeira como era a figura do espírito. Ela respon­deu “Vem subindo um homem an­cião, e está envolto numa capa”. É lógico que sabendo ser Saul o seu consulente, a pitonisa deduziu que­rer ele falar a Samuel e, assim, descreveu-lhe a popular figura de Sa­muel. Apesar de sabermos que os de­mônios assumem a forma de seres humanos que morreram não se pode afirmar se a pitonisa via realmente uma figura que parecia Samuel ou se apenas dizia que via para contentar Saul. “Saul entendeu, então que era Samuel”, mas Saul nada viu. Ele se firmava no que dizia a pitonisa!

Acreditar que foi realmente o espírito de Samuel que apareceu se­ria crer no absurdo, isto é, seria acre­ditar que Deus se tenha negado a responder a Saul por meios bíblicos: sonho, Urim, profeta, para respon­der-lhe por meio de uma feiticeira. Deus não pode violar a sua própria palavra. Se Deus não lhe respondeu por estes meios legítimos e bíblicos, muito menos, podia responder por um meio abominável e condenável pelo próprio Deus tantas vezes nas Escrituras. Deus não pode violar a sua própria palavra. Se não respon­deu a Saul, através do Espírito San­to, como poderia responder através do Diabo?

18 – Ninguém pode inquietar o descanso dos santos

Está claro na Bíblia que o desejo de Saul era falar com “um espírito de adivinhação”, ou seja, com um demônio. Se ele queria um demônio, teria Deus lhe enviado um santo?! Isso seria um absurdo.

“E inclinando o rosto em terra, fez grande reverência.” O Saul so­berbo, rebelde, endemoninhado e as­sassino nunca prostrou seu rosto em terra, diante de Deus nem de Sa­muel quando este vivia; agora se prostra diante de um espírito que ele imaginava ser Samuel! “E Samuel disse: Por que me desinquietaste, fa­zendo-me subir?” A voz que Saul ouvia, tinha a tonalidade da de Sa­muel, mas era imitada pelo espírito de adivinhação, através das cordas vocais da médium.

“Fazendo-me subir”. Se quando Samuel vivia, Saul não conseguiu submetê-lo aos seus caprichos, como poderia fazê-lo subir depois de mor­to? Ademais, permitiria Deus fosse interrompido o repouso do espírito de um de seus mais dignos e ilustres santos, para que viesse falar através dos lábios de uma bruxa instrumen­to de demônios, e para um ímpio, re­belde, assassino e impenitente como era Saul?!

Não, Deus não poderia permitir isso. Ninguém pode inquietar os san­tos do Senhor que descansam. Nin­guém pode fazer vir a este mundo os espíritos dos que partem para a eter­nidade, estejam onde estiverem. Je­sus citou as palavras de Abraão: “Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos… Se não ouvem a Moisés e os profetas (as Escrituras e aos pregadores), tampouco acreditarão ainda que algum dos mortos ressuscite”, Lc 16.19-31. Ainda que alguém se le­vantasse dos mortos com um corpo ressuscitado, tangível, visível, como se levantou e ressuscitou o Senhor Jesus Cristo, e como ressuscitarão as duas testemunhas (Ap 11.9-12), não acreditarão; muito menos, have­rão de crer ou se arrepender, se o que lhes fala é um espírito invisível.

“E Samuel disse a Saul”. Do modo como está no texto pensam al­guns que talvez tivesse sido Samuel mesmo que apareceu. Porém, como já temos dito a Bíblia não dá teste­munho, nem afirma que foi Samuel. O papel da Bíblia neste caso é referir o incidente, fazendo o relato confor­me a feiticeira descrevia a Saul, que o aceitava totalmente.

O que Saul procurou foi “um espírito de feiticeira ou de adivinha­ção” e exatamente isso ele teve. Era um espírito que falava através da médium e, através de médiuns fa­lam os demônios ainda hoje, imitan­do a voz das pessoas falecidas.

Saul disse ao que se dizia Samuel e estava incorporado à bruxa: “Deus se afastou de mim, e não me responde mais, nem por meio de profetas nem por sonhos”.

Se Deus não respondia a Saul por meios lícitos, claro que não estava respondendo por esse meio sacrílego. É lógico, pois, que aquilo não era de Deus, nem era Samuel que falava.

“Chamei a ti”. Saul pretendia colocar Samuel acima de Deus. Queria ter acesso a Samuel para marginalizar a Deus; esperava estabelecer um conflito entre Deus e Samuel como se Samuel se submetesse a isso. A verdade é que ninguém poderia, e Deus não faria, o espírito de Samuel aparecer numa sessão espírita.

19- Samuel não apareceu a Saul

Logicamente, biblicamente e doutrinariamente, não poderia “su­bir” o espírito de Samuel, por um ridículo chamado de uma feiticeira. Isso seria a negação de tudo que a Bíblia ensina de Gênesis a Apocalip­se. Seria tirar o poder de Deus reter junto a si os espíritos dos salvos, e dar um poder divino às pitonisas. Seria, sim, passar um atestado de ratificação às doutrinas espíritas. Crer nesse absurdo de ter sido Sa­muel deslocado de junto a glória por determinação de uma feiticeira é, na verdade, ofender a Deus.

Mas, como Saul queria Samuel de qualquer maneira, mesmo atra­vés de “um espírito de feiticeira”, o Diabo lhe produziu um “Samuel”, o Samuel da feiticeira. As palavras do Samuel incorporado na bruxa desti­navam-se a desesperar Saul, a per­turbá-lo mais ainda, a conduzi-lo a decisões fatais. O Diabo primeiro age como tentador e, quando conse­gue dominar sua vítima, então se converte em atormentador. Ade­mais, tudo o que o espírito de adivi­nhação falou, com respeito a Saul e ao reino, Deus já havia falado. De novidade o espírito de feiticeira disse que Israel perderia a guerra com os filisteus. Mas isto era óbvio. A desor­ganização de Israel era total, e ameaçava o reino. Os filisteus sa­biam muito bem da condição emo­cional, desordenada e enlouquecida de Saul, e sabiam também que o grande herói Davi não se encontrava em Israel. Por tudo isso estavam cer­tos da vitória. Nem mesmo a pitonisa ignorava a próxima derrota de Saul, e podia muito bem descrevê-la como fez. Também a frase: “Ama­nhã tu estarás comigo”, foi uma re­ferência à morte de Saul, que era bem provável, porque no dia seguin­te começaria a guerra e o demônio sabia disso.

Ao dizer “estarás comigo” o espí­rito de feitiçaria estava revelando o destino de Saul. Samuel mesmo não teria dito a Saul: “estarás comigo”, pois Saul era rebelde e ímpio. O espírito de Samuel estava no lugar dos justos, e o espírito de Saul lá não poderia entrar. Jesus disse que há um grande abismo entre esses dois lugares.

20 – Para que acreditem na mentira

Em 2 Tessalonicenses 2.10-12, le­mos: “E com todo o engano da injus­tiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam na mentira, para que sejam julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade”.

Estes versículos nos ensinam que aqueles que não querem receber a verdade para se salvarem são aco­metidos de espíritos maus com todo engano da injustiça para os que pe­recem; esse Deus permite que se­jam enganados. Este era o triste e la­mentável estado de Saul! Rejeitou tanto a verdade, desobedeceu tanto, fez tanto a sua própria vontade, que Deus teve de abandoná-lo. Abando­nado de Deus, o Diabo passou a diri­gir-lhe a vida.

Cento e cinqüenta e cinco anos depois, aconteceu o mesmo ao rei Acabe de Israel l Rs 22.1-39. Ele não queria escutar as profecias de Elias e de Miquéias, servos de Deus, nem deixar-se guiar por elas. Antes tinha quatrocentos profetas de Baal a quem consultava. Acabe rejeitara a verdade e crera na mentira! Por causa da sua rebeldia, Deus permi­tiu que um espírito de mentira falas­se pela boca de todos os seus profe­tas. Devemos notar, porém, que es­ses  espíritos  diabólicos  falam  em nome de Deus: “Então o rei de Israel reuniu os profetas, cerca de quatro­centos homens, aos quais interrogou: “Irei à guerra contra Ramote de Gileade ou não irei? Eles disseram: Sobe porque o Senhor a entregará na mão do rei… Assim diz o Senhor; com estes ferir ás os sírios, até de todo os consumires. E “todos os profetas assim disseram: Sobe a Ramote de Gileade, e prosperarás, porque o Senhor a entregará na mão do rei.” Esta mensagem agradou muito a Acabe, porque esses profetas profeti­zavam em nome do Senhor, embora só falassem mentiras. Miquéias só queria falar a verdade e disse: “Vive o Senhor que o que o Senhor me dis­ser isso falarei: Vi a todo Israel dis­perso pelos montes, como ovelhas que não têm pastor: e disse o Se­nhor; estes não têm pastor: torne cada um em paz para sua casa. Isso queria dizer que não fossem à guer­ra.”

Acabe ficou aborrecido com esta mensagem, porque quatrocentos profetas profetizavam o que ele gos­tava. Miquéias o advertiu de que ha­via “um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas”, mas Aca­be não fez caso disso. Acabe encarce­rou Miquéias e partiu para a guerra contra Ramote de Gileade, mas foi logo ferido e morreu. Visto que rejei­tara a verdade continuamente, e cre­ra na mentira dos quatrocentos falsos profetas, pereceu como acontece­ra a Saul. Acabe recebeu a recom­pensa que ele próprio buscara, e que bem merecia.

21 – A morte de Saul

“O homem que muitas vezes re­preendido endurece a cerviz, será quebrantado de repente, sem que haja cura”, Pv 29.1. Eis aqui o triste fim de um homem que endureceu sua cerviz contra a Palavra de Deus: “Os filisteus, pois, pelejaram contra Israel; e os homens de Israel fugiram de diante dos filisteus, e caíram atravessados na montanha de Gilboa; e os filisteus mataram a Jônatas, e a Abinadabe e a Malquisua, fi­lhos de Saul. E a peleja se agravou contra Saul, e os flecheiros o alcançaram; e muito temeu por causa dos flecheiros. Então disse Saul ao seu pajem de armas: Arranca a tua espa­da, e atravessa-me com ela, para que porventura não venham estes incircuncisos, e me atravessem e escarne­çam de mim. Porém o seu pagem de armas, e também todos os seus ho­mens morreram juntamente naquele dia… E cortaram-lhe a cabeça, e o despojaram das suas armas… e o seu corpo o afixaram no muro, l Sm 31.1-4,6,9,10!

Saul suicidou-se; morreu tal qual viveu: violando a Palavra de Deus. Estava escrito: “Não matarás!”

Eis a explicação da Palavra de Deus: “Assim morreu Saul por causa da sua transgressão com que trans­grediu contra o Senhor, por causa da palavra do Senhor, a qual não havia guardado; e também porque buscou a adivinhadora para consultá-la. E não buscou ao Senhor, pelo que o matou, e transferiu o reino a Davi, filho de Jessé”.

Observe-se a expressão: “Deus o matou”! Observe também a causa pela qual o matou: “porque consul­tou uma adivinhadora”.

Observe-se, finalmente, que não se diz haver Saul consultado Sa­muel, o que se teria de afirmar se, realmente, tivesse sido Samuel o personagem que apareceu a Saul.

Não se pode crer que Deus tives­se permitido que o desejo de Saul de consultar Samuel fosse satisfeito (Saul queria realmente consultar Samuel, pois disse à pitonisa: “Faze-me subir a Samuel”), para depois afirmar na sua palavra que matou Saul por ter este consultado uma adivinhadora”.

Examinando minuciosamente todo o registro bíblico concernente a Saul, como temos feito, e conforme a abundante evidência bíblica expos­ta podemos concluir que não foi o espírito de Samuel que falou por in­termédio da pitonisa, mas sim, “um espírito de adivinhação”.

2 thoughts on “Saul e a Feiticeira

  1. concordo com o que foi dito e fico admirado de pessoas que se dizem evangelicas com um total desconhecimento da palavra ou por uma má interpretaçao .( nao quero julgar.a ninguem) tentarem validar a tese de que Samuel falou com Saul.Estes mesmos entao terao que validar o espiritismo como sendo algo de Deus e aceitarem as sessoes espiritas como canal de comunicaçao de Deus com os homens e colocarem a Bíblia como mentirosa e confusa. E é isso que o Diabo quer mesmo a confusao no meio do povo de Deus. Mas a Palavra de Deus nao volta vazia e Deus náo é Deus de confusâo..E conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará, a Verdade do Deus da Bíblia

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