Como Andar em Comunhão

Não sei de outra coisa pela qual tanto anseie o coração humano como comunhão. Nós somos feitos para isto. Eis porque so­lidão e isolamento são tão terríveis e porque no mundo todo o povo anseia por amor. É por isso que o Evangelho deveria sempre trazer os homens a comunhão. Nós somos salvos formando o Corpo de Cristo.

Precisamos entender que “comunhão cristã” é algo diferente de mera associação ou amizade numa base natural. Pa­rece que muito poucos per­cebem isto. Comunhão é a Vida Comum do Espírito Santo em homens e mulheres regenerados. Não é apenas amizade, cama­radagem, sociabilidade, doçura natural ou interesse mútuo em alguma atividade comum. Estas coisas podem constituir um esqueleto, mas não podem ser substituto para a comunhão mesma. Comunhão é Cristo vi­vendo naqueles que estão salvos. É a nova natureza da família cristã em sua coesão e ação con­junta. É a expressão de sua vida espiritual. O mundo nada conhe­ce disto em sua experiência.

Na comunhão, portanto, não pode haver seleção, a não ser a de salvos e não salvos. A amizade especial, que põe de parte e une apenas duas pessoas, não é “comunhão”, embora muitas pessoas gostem de imaginar que o é. A associação seletiva, que se move apenas num certo nível de classe, cor ou cultura, não é comunhão. A Escritura tala distintamente contra isto, e se apenas considerarmos bem o assunto, veremos que de fato é assim.

Como podemos conhecer e expressar verdadeira comunhão? Bem, por certo precisamos ficar livres das coisas que prejudicam. A mulher que está sempre fa­lando sobre si mesma, o homem que se tem como alguma coisa, o jovem que está sempre cri­ticando os outros, a pessoa que se fecha em si mesma, são todos culpados de estar prejudicando a própria comunhão que desejam. Precisam, pois, arrepender-se destas coisas e deixá-las de lado. Todos nós precisamos. Então, Cristo mesmo precisa ser o cen­tro da vida. Quando estamos em ordem com o Senhor, logo se torna fácil amarmos a nosso irmão, mesmo quando às vezes não “gostamos” dele. Tu podes não gostar de um irmão pelo que ele é, e aprender a amá-lo de tal forma em Cristo, que este último suplantará completamente o primeiro. Isto é verdade. Expe­rimenta-o. Cristo está em todos nós, os salvos, mas nós podemos impedi-lo de Se derramar de nós para os outros. Nós podemos até mesmo dividi-lO, por assim dizer, pela nossa dureza e espírito faccioso. Em vez de deixar que a vida mútua e o amor de Jesus se derrame entre nós, podemos fechá-lO num canto de nossa vida, por assim dizer, de modo que nos chocamos ou raspamos uns com os outros todo o tempo, ou ficamos procurancjo outro grupo com que nos associarmos. Mas onde Jesus é Senhor, comunhão acha todas as ave­nidas de expressão. Há, por exemplo, aquele gozo, confiança e liberdade, sempre que nos encontramos uns com os outros. Não há olhadelas de lado ou olhares de gelo! Tu conheces o que seja este espontâneo amor, ou és frio, desconfiado e teme­roso? Há também, quando nos reunimos com outros crentes, aquele sentimento de suavidade e unidade. É uma coisa extraor­dinária, uma coisa divinamente preciosa. Há também aquela atração conjunta a oração, amor da Palavra de Deus e louvor. Há aquela experiência gostosa de trabalhar em conjunto como grupo, em evangelização, teste­munho ou outra qualquer coisa. Há aquele gracioso cuidar de uns para com os outros nas alegrias e tristezas e nas mútuas experiências da vida. Comunhão atinge cada esfera da vida. E por certo que é assim, pois é o Amor de Jesus em nós e por nós todos.

Comunhão precisa ser uma coisa permanente e crescente. Algumas pessoas entram e saem de comunhão umas com as ou­tras, como crianças. Alguns têm comunhão com o pastor da igreja nos primeiros dois ou cinco anos de seu ministério, depois esfriam e começam a achar defeitos nele! Estas coisas são tristes e entristecem ao Senhor, que é fiel e nos ama tão constantemente. Alguém disse: “Um homem deve conservar suas amizades em constante reparo.” Se é assim, quanto mais devemos nós conservar a comunhão do santo Corpo de Cristo, a Igreja, em constante reparo. Se tu ou eu descobrimos que o nosso amor e comunhão estão esfriando, de uns para com os outros, então devemos chegar-nos e renová-los. ‘Volta ao teu primeiro amor’ é uma palavra para todos nós.

Concluindo — O secretário de uma igreja viu nascer seu pri­meiro filho com a abóbada palatina fendida. Um grupo de irmãos imediatamente juntaram a importância requerida para a necessária operação e man­daram-lha pelo correio anonima­mente. Que beleza, não é? De outra feita um africano foi le­vado a uma grande convenção em Uganda, e aceitou o evan­gelho, não, porém, através das mensagens que ouviu, mas porque viu a Rainha dos’ Bugandas, o povo mais orgu­lhoso do Leste da África, co­mendo e tendo comunhão com crentes pigmeus — os mais des­prezados do país. Disse ele: “Se Jesus pode fazer isto, então Ele deve mesmo ser o Salvador do mundo — e meu Salvador.” Não foi isto exatamente que Ele disse em João 17?

Conheces tu esta comunhão? Se não, por que não? Se conhe­ces, em que medida? Jesus morreu para trazer-nos a co­munhão com o Pai e o Filho, e uns com os outros no Espírito Santo. Uma igreja sem comunhão não é uma igreja viva, nem uma igreja eficiente. E é de se du­vidar que seja uma igreja, afinal. Mas comunhão é um dom de Deus, é a base de Deus. É nossa herança e direito, e é a necessi­dade dos homens.

Que Deus nos leve a nos aprofundarmos nesta comunhão, ou antes, nEle mesmo, que é a nossa Vida.

Fonte: REAVIVAMENTO — Janeiro de 1962

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